As Gajas, Oh pá, Essas Cabras



Sentados à mesa ao lado da minha, separada por uma divisória em vidro fosco, estavam dois machos, colegas ou amigos, nunca deu para perceber, comemorando a dor de corno de um deles.
Um queixava-se, o outro concordava em monossílabos ou repetindo a frase tema da última lufada de desabafos.

“Aquela gaja fez-me sair de casa dos meus pais e levou-me a viver com ela por pura manipulação. Ah, nunca me encostou à parede, nã, é muita’esperta... Queres cá ficar a dormir hoje? Isto dia sim dia também, ‘tás-a-ver? Dá cá a tua roupa que eu vou fazer uma máquina... E eu a ir.”

“A gaja é tão cabra que nunca me pediu um tusto, néria. Uma vez fui ao supermercado comprar umas coisas que gosto de ter no frigorífico: queijos, patés, cerveja, essas merdas. Quando lá cheguei diz a gaja toda dengosa – isso já dá uma ajudinha prá conta do gás e da água... – É que a malta às vezes estava muito tempo no duche, ‘tás-a-ver? A gaja queria era guardá-las para mas mandar a cara. É muita’esperta.”

“Oh pá é isso que me irrita nas gajas, tens de estar sempre em guarda pá; estão sempre a ver de que lado é que nos põem a anilha. Ah pois! Mas se fosse com ela a gaja também não gostava. "

"A semana passada ficou toda eriçada porque eu cheguei a casa e ela estava com um gajo na sala, de perninha estendida no sofá a beberem copos. Oh pá isto eram p’rá-í umas onze e tal da noite, já tinha acabado o futebol há que tempos... E a gaja julgou que eu ia ficar ali a fazer sala com eles. ‘Tás mesmo a ver-me... O gajo também não esteve lá mais dez minutos, percebeu muito bem que eu não sou parvo. E a gaja toda eriçada que eu tinha sido malcriado e que já conhece o gajo há duzentos anos e blá-blá-blá. Ficou foi lixada porque já não contava que eu aparecesse, é o que é."

"Foi quando a gaja se mostrou... puxou dos galões e disse não queria mandar em ninguém mas que ningém mandava nela, que não precisava destas cenas p’ra nada e quem não está bem muda-se. Oh pá, estava toda convencida que me tinha na mão, a cabrona...”

“Vieste-te embora... Oh pá eu fazia o mesmo, o que não falta aí são gajas à solta”, dizia o outro, não para consolar mas para se solidarizar com aquele acto heróico...
“Não pá, deixei-a dormir sozinha pr’ácalmar e fiquei a ver televisão no sofá."

"Andou dois dias de trombas mas na sexta-feira já estava porreira, ou fez que estava. Depois no sábado disse-me que ia almoçar com a Gisela. Eu estava a ler o semanário e deixei-me ficar. Depois a gaja estava ao telemóvel, na casa de banho, percebes, a combinar ir aquele italiano de Oeiras. Oh pá, dei-lhe meia hora e fui tirar as teimas. E lá estava a gaja com a Gisela numa galhofa até que apareceu um gajo todo sorrisos e beijinhos nas meninas, daqueles gajos que só de olhar já tresandam a perfume, todo loiro, todo ginásio... Eu já o tinha topado porque o gajo parou um BM mesmo ao pé do meu carro. Oh pá passei-me! (...)Estive dois dias sem lhe aparecer, oh pá a pensar. Eu não sou gajo de bater em gajas mas palavra que só me apetecia pregar-lhe um estalo. A gaja nem o telefone me atende.”

“Ontem voltei para falar com a gaja. Oh pá, eu sei que a gaja estava em casa mas armou-se em mula. A cabrona mudou a fechadura, e pôs um papel A4 na porta a dizer – Podes ir buscar as tuas coisas a casa do Miguel , VAI MORRER LONGE.”

E diz o amigo – “Ouve lá, essa Gisela é aquela magrinha de olhos grandes que tem os putos no Manel Bernardes?"

“É, é essa cabra que faz de chaperon ao fim de semana, a gaja que era toda querida comigo... Por quê?”

“Oh pá, esse gajo loiro, assim todo atleta, que tem um BM azul é o marido da Gisela; costumo encontrar o gajo quando vou buscar a Joana ao colégio...”

Pediram a conta.


Oh pá, não há pachorra! Gajos.

POR FALAR EM EUROVISÃO

Não sei se foi a melhor, mas é, talvez, a minha favorita, a que não esqueci embora pouco mais a tenha voltado a ouvir

Pena que não tenha uma boa orquestração, a voz merecia, a canção também.

Jacques Zegers representava a Belgica em 1984 e ficou em 5º lugar
.




Avanti, avanti la vie, traverse la mémoire des hommes
Du cœur et des poings, avanti, peut-être referas-tu Rome
Avanti, avanti la vie, sois un oiseau sans barreaux, va
Des ailes et du bec, avanti, mais vole plus haut que les chats

Le train des jours roule dans ta tête
Tant de détours souvent te guettent

Avanti, avanti la vie, n'écoute pas toutes les lois
Tu en crèverais, avanti, toutes les libertés grondent en toi

(Avanti, avanti la vie) Ni valet, ni roi
(sois poète sans bourreaux, va) Chante aussi fort que tu pourras
(De l'encre et des mots, avanti) Avanti ta vie
(ecris le fou du fond de toi)

Le train du temps parfois s'arrête
Profites-en, change de tête

Avanti, avanti la vie, aide-toi, le ciel t'aidera
Lève-toi et marche, avanti, un autre l'a dit avant moi

(Avanti, avanti la vie) Avanti ta vie
(traverse la mémoire des hommes)
Du cœur et des poings, avanti (Du cœur et des poings, avanti)
Peut-être referas-tu Rome

Jacques Zegers - Henri Seroka

PARA A CIRANDA



Não ganhei o rebuçado e, para me desculpar por uma informação errada aqui fica a rectificação:
É GUIMARÃES; lá está após o primeiro minuto do filme que te deixo, aí abaixo .

Falta o cavalo...


Quanto a ESTREMOZ, deixo as fotos que consegui;
de facto nada tem de semelhante, os arcos são assentes em colunetas.
(Tenho uma foto, tirada aí, pendurada no meu quarto, mesmo frente aos olhinhos, mesmo assim... Baralhações de noites em que resisto a ir dormir por saber que não vou conseguir )
.

Não resisti...tive de enviar


Sempre actual...será vai acontecer?
Os combustíveis aumentam, vergonhosamente
A comida aumenta, preocupantemente
O Sócrates mantém-se, impunemente





Na China espera-se pelos filhos, pelos pais, pelos amigos e vizinhos
Espera-se que sejam desenterrados… Vivos?
E agora já não há espera, só perda e dor
“Ficar sem nada” tem uma dimensão desumanamente real



Burma tornou-se num verdadeiro cenário dantesco
Destruição, fome, doença, dor…
O indescritível, o inimaginável
E ainda a prepotência de quem acredita que tem o direito de recusar a entrada de ajuda humanitária nos terrenos do inferno.


E isto são apenas as “notícias de abertura”, as de “primeira página”…
Não tenho escrito nada no Blog… Pois não, não me apetece
Estou deprimida


E NÃO DIGO MAIS NADA PORQUE NÃO BATO EM DERROTADOS

E assim continua o Tibete...



Foto de militares chineses preparando-se para trocar os seus uniformes por vestes de bonzos tibetanos
(De uma Agência de Comunicação da Grã-Bretanha)

Eis os 'monges' que têm sido responsáveis pela violência, em Lassa! A difundir!

Nota: Os monges de Lassa declararam que, estando detidos, não poderiam estar presentes nas manifestações; esperemos que esta imagem seja dada a conhecer ao maior número possível de pessoas.
HOJE É DIA DA MÃE



Almocei com a minha Mãe e com o meu filho, sou uma mullher de sorte.


Depois...


Fui jogar futebol com o meu filho, num campo de raguebi todinho só para nós...

Aquilo é muito maior do que eu julgava...

(Se amanhã derem pela minha falta procurem-me nos cuidados intensivos...)
SOBRE A AMIZADE,
OU
A QUEM SERVIR A CARAPUÇA...

Não me venham cá falar de amor, pensando que de amor romântico ou de paixão se faz a nossa vida afectiva porque a paixão não se cimenta no amor, nem em coisa alguma: é areia, mais ou menos molhada, mais ou menos vidrada, ou, para utilizar uma imagem mais comum, é fogo de palha, com mais ou menos palha subjacente.
Por vezes existe, mesmo, aquela profunda ligação entre as pessoas, entre as almas, que designamos por Amor – a que os leitores de Alberoni, e de outros “estilistas” das emoções sentimentais, convencionaram chamar “amor romântico”. A verdade é os amigos também se amam (é essa a parte lixada) – para o melhor e o pior – e, ao contrário do casamento, às vezes nem a morte, do dito, os separa, sendo o "divórcio" entre Amigos legalmente menos burocrático mas emocionalmente tão ou mais complicado... é como um funeral sem corpo: o fantasma permanece em torno da nossa vida ao longo de muito tempo, muito tempo.

Mas isto dos amigos é lixado!

Quando começo a pensar no que distingue os Amigos daqueles que não se podem considerar como tal, esbarro sempre com o meu racionalismo. De facto, racionalmente, não consigo sistematizar uma classificação que me sirva, como um livro tão ecléctico que parece não ter lugar adequado em qualquer das prateleiras da biblioteca.

Vem isto a propósito de um dilema que me tem acompanhado ao longo da vida adulta e que agora, sabe Deus (e sei eu) por quê, me volta a assaltar: O que devemos ou não perdoar, ou talvez melhor dizendo, tolerar aos Amigos?

Se são Amigos têm um estatuto especial que lhes permite atitudes, erros, deslizes que não admitiríamos a um qualquer comum mortal afectivo e, naturalmente, usaremos de maior tolerância, de alguma condescendência se necessário, de toda a compreensão. Sim, está certo.

Mas há um reverso desta face...
Se são amigos, e porque o são, exige-se mais... bilateralmente, de nós e deles.

Se são amigos têm um estatuto especial e há coisas que não podem ser toleradas, com as quais não pode ser usada a mesma condescendência que se poderia aplicar a um qualquer mortal afectivo, que não são compreensíveis à luz de uma relação de amizade séria, verdadeira.

Parece-me que a resposta reside numa interiorização, a tempo inteiro, a corpo inteiro, e de todo o coração, da noção de Respeito. Um respeito profundo, enraizado, que faça parte indissociável de uma relação de amizade, sempre, a todas as horas, sob todos os ângulos, ignorando todos os pretextos, desculpas ou conveniências. Não é, nem se prende com, a presença; É mais, é mais difícil, é mais raro e valioso, é mais reconfortante. É a única espada com vitória garantida sobre a hipocrisia e a mentira, é o único cálice de confiança sempre disponível e renovada.

Não pretendo inferir que a Amizade é feita de respeito, apenas defendo que sem este, consciente, profundo e permanente, a amizade perde a maiúscula, é superficial e quebradiça, é transitória. Até pode ter graça mas é potencialmente perigosa, sobretudo para quem nela se apoiar. Todas as outras variáveis que a vão construindo – como a empatia, a confiança, a vivência, os comuns interesses, a compreensão, a generosidade, a lealdade, a cumplicidade, etc., etc. – assim como o tempo que esta leva a construir e, sobretudo, a revelar-se, estarão sempre em equilíbrio instável entre a rocha e o abismo. Sem respeito, a afectividade é nervosa, frequentemente enrolada em cinismo, gera fraqueza mental e emocional, gera impaciência e descrédito, noites brancas e pensamentos negros.


Voltando ao meu dilema, ainda não consegui estabelecer uma fronteira, talvez nunca consiga, é uma linha difícil de traçar com rectidão e justeza. Implica o julgamento de outros, de situações e circunstâncias. Implica construir uma escala de qualidades e prioridades de aspectos que não são quantificáveis.
É urgente que o faça? Não, de todo – o solúvel dilui-se... Mas sei que, mais tarde ou mais cedo, um dia acordarei virada para um lado diferente e já não me importará estabelecer qualquer fronteira, nem de que lado da linha deve ficar a tolerância, será indiferente. Eu sei, já passei por lá... Mais de uma vez.