CONTRASTES LUSOS

Os portugueses têm alguns defeitos gritantes. É verdade. Um dos que mais me choca é a tendência para puxarem a brasa à sua sardinha doa a quem doer, ao melhor estilo "E quem vier atrás de mim que feche a porta".

Há tempos circulou pelos e-mails nacionais o relato de um português que foi à Suécia visitar uma fábrica da Volvo. Um sueco foi busca-lo ao hotel e deu-lhe boleia pela manhã. Chegaram à fábrica cedo, antes da hora de entrada ao trabalho. O bom sueco estacionou o seu carro longe da entrada do edifício. O bom português perguntou se os lugares junto à entrada se destinavam à administração. Nada disso, respondeu o sueco, deixa-se os lugares perto da entrada para quem chega mais tarde e com mais pressa, nós temos tempo para andar com calma até ao edifício. Óbvio.
Óbvio para sueco... Para português é óbvio que quem chega cedo "tem direito" aos melhores lugares, ou "viessem mais cedo".

Contrastante com esta mentalidade profundamente enraizada no português há porém uma generosidade e uma capacidade de ser solidário que, mesmo nos dias que vão correndo, não deixa de ser uma caracteristica do povo português.

Este fim de semana último decorreu mais uma recolha de alimentos para o Banco Alimentar Contra A Fome.
Já todos sentimos que as contas de super-mercado subiram, subiram e não foi só um bocadinho, subiram mesmo, a cada vez que chegamos à caixa constatamos que subiram.
Seria de esperar que as contribuições de produtos alimentares descessem consideravelmente este ano; era esperado pela organização dos peditórios. Pois, mas não foi assim.
As pessoas, os portugueses, têm sentido que os alimentos custam mais euros; e se custam mais euros custam mais a todos, e chegam menos àqueles que não têm euros para os adquirir. Doi a todos e a uns doi mais do que a outros, sobretudo àqueles que estão "no fundo da cadeia alimentar", os que recebem o que lhes dão e ponto final.

«O Banco Alimentar contra a Fome angariou quase três mil toneladas de alimentos na campanha que decorreu, no fi m-de-semana, em supermercados de todo o país. O resultado foi semelhante ao do ano passado, o que superou as expectativas, dada a redução do poder de compra dos portugueses.
“O balanço é muito positivo. Foram recolhidas 2.950 toneladas de alimentos nos 19 bancos em actividade e houve uma adesão muito entusiástica entre os voluntários: houve muito mais pessoas que acorreram para ajudar. E muitas pessoas tinham comentários do
género ‘não posso dar tanto, mas não posso deixar de dar e colaborar convosco no armazém’, o que fez com que não houvesse um decréscimo tão substancial como eu previa”, disse à Renascença a presidente da Federação de Bancos Alimentares, Isabel Jonet.

Mais de duas mil instituições de solidariedade social vão receber os alimentos recolhidos para os entregar a mais de 300 mil pessoas com carências alimentares.
A contribuição dos portugueses pode ainda ser feita “até dia 4 de Dezembro, através de um vale nos supermercados ou online, onde têm ainda a possibilidade de doar um cesto de produtos básicos”»
In "Página 1", 28/11/11


Eu gosto dos portugueses. Em questões de cidadania e urbanidade tiram-me do sério, tocam as raias do desrespeito com a maior das facilidades mas têm qualidades de um enorme humanismo e essas são de facto as fundamentais. Antes assim.

"ELE QUE VEIO DO NADA"

«O fado é Património Imaterial da Humanidade,

segundo decisão hoje tomada durante o VI Comité Intergovernamental da Organização da ONU para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO).

A candidatura portuguesa foi considerada como exemplar pelos peritos da UNESCO.
Esta candidatura foi apresentada ao Presidente da República a 28 de Junho de 2010e formalizada junto da Comissão Nacional da UNESCO. Em Agosto desse ano, deu entrada na sede da organização, em Paris.»
In "Sol", 27 /11/11



A UNESCO presenteou, e bem, a humanidade ao reconhecer o nosso Fado como cidadão do mundo.



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A OUTRA FACE

Independentemente do que penso sobre as greves que têm vindo a ser agendadas durante este mês de Novembro, e que já AQUI expus dia 8 último por ocasião da greve dos transportes, face ao agradável mas oneroso dia que se viveu ontem em Lisboa (e Portugal não é Lisboa) vem-me à veia dizer o seguinte:

A GREVE É UM DIREITO DOS TRABALHADORES,
e enquanto tal deve ser respeitado.
Ok.

E QUEM NÃO QUER ADERIR A UMA GREVE, TEM O DIREITO DE TRABALHAR?
Tem.
Tem?
Alguns piquetes de greve tiveram ontem, 24/11, atitudes e actuações lamentáveis de um absoluto desrespeito pelos seus colegas que quiseram trabalhar.

Não comentando já a inconsciência (?) daqueles que propositadamente criaram desacatos, que poderiam ter acabado muito mal, na frente da manifestação frente à Assembleia da República.

Não comentando já os ataques de vandalismo que foram feitos contra três repartições de finanças em Lisboa. Com que intuito? Que raio de "moda" pretendem lançar? O que se segue, caixotes de lixo a arder e automóveis destruídos?

Se não fazes greve a bem fazes a mal?
Boa! Viva a democracia e o respeito pelos trabalhadores

Felizmente Portugal não é Lisboa.

E a raiva de Carvalho da Silva por a polícia ter retirado um a um os bloqueadores de piquete de greve à porta da carris? "Não compete à polícia decidir o que podem fazer os piquetes de greve", diz ele. Pois é, Carvalho da Silva, saíram autocarros conduzidos por quem quis trabalhar. Podes enfurecer-te mas és uma besta.
Apesar de tudo prefiro a besta Carvalho da Silva à ave trepadora que é João Proença; gajo, não convences... Claro que tens direito ao teu descanso mas não convences enquanto defensor dos direitos dos trabalhadores. Agarra-te Proença, agarra-te que isto anda mal de empregos e a claque dos "boys" já não é o que era.

foto semanário "Sol"


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VIDA A SÉRIO, PESSOAS A SÉRIO

Fui passar o último fim de semana de Outubro até ao feriado de 1 de Novembro para o centro interior do país, ali mesmo ao pé de Pedrogão Grande.

Os fins de semana são sempre curtos e os que conseguimos prolongar mais curtos nos parecem: quando estava quase a tornar-se tangível a doce realidade que quase consegui reter soaram as trombetas do dia-a-dia e lá tive de me meter no carro para vir preguiçosamente direita a Lisboa.

As crianças fazem muitas vezes perguntas que envolvem o seu conceito - e nosso - de "Vida Real": se um qualquer actor é mesmo amigo de outro na "vida real" ou se um personagem como o Batman ou o Indiana Jones existiram mesmo na "vida real". Fico sempre um tanto perplexa perante perguntas que envolvem este conceito. No fundo, nós adultos, sabemos que há ali qualquer coisa que não corresponde ao conceito de realidade e, à medida que vamos amadurecendo, vamos deixando de utilizar a expressão.

O que tornou o meu fim de semana prolongado tão inesperadamente curto, foi o breve sabor a VIDA REAL que me proporcionou. Tal como quando estamos a dormir não tendo consciência de que o fazemos também só me apercebi da tangibilidade da Vida ali quando comecei a partir.
Por certo já aconteceu a todos; quando estamos muito cansados mal nos sentimos adormecer; horas depois somos acordados pelo despertador aos berros ficando completamente desorientados com a sensação de que dormimos apenas dez ou vinte minutos. Pois foi exactamente esta a sensação que tive ao cabo destes dias.

A realidade da vida não é o corre-corre do dia a dia, as tarefas que quotidianamente se repetem, as pessoas que encontramos porque "fazem parte do cenário", os caminhos entediantes que percorremos, as horas fixas para comer, dormir, tomar um café, amar, discutir, cozinhar, tomar banho e tantas, tantas outras coisas que demasiadas vezes são quase tudo. Sentir acaba por ter um significado imediato e, consequentemente, superficial.
Não há nada de errado nisto, sentir isto ou aquilo ao longo do dia é do que de mais humano existe mas acabamos por raramente nos sentir a nós, por dentro, bem a fundo, sem a interferência dos cenários e figurantes, sem ser em relação a isto ou aquilo, sem ser em relação a este ou àquele. Sentir a Vida.

Ocasionalmente lá temos oportunidade de viver a vida real; um bom fim de semana, umas férias diferentes, um dia especial...

Esses quatro dias foram assim.

O local e as pessoas que tive oportunidade de conhecer, com quem privei um bocadinho que me soube a pouco, não foram de forma alguma alheias a isso, muito pelo contrário, foram a sua essência. Ficaram no meu coração pela sua franqueza, generosidade incomum, disponibilidade. Que posso dizer? Seres humanos a sério, sem cenários nem cenas, sem complicações desnecessárias - simples e autênticos como a vida real.

Um pouco como um agradecimento, ou mais como um reconhecimento do privilégio de que tive a sorte de usufruir, e que deixei já com saudades para voltar, abaixo deixo um "mapa" para este tesouro, algumas das muitas imediações que estão ao alcance de uma saída tardia para almoçar e de um regresso a tempo de planear a noite.



Se vos consegui motivar a querer saber mais deixo-vos o link aos CASAIS DO TERMO para darem uma espreitadela
E se lá forem levem beijinhos meus a dois amigos que por lá fiz: a Senhora Dª Olinda e o Senhor Domingos Luís, não se irão arrepender.


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DESABAFOS TUGA

Vai começar o jogo:
Finalmente alguma coisa mudou neste país: Ronaldo tem um penteado novo. Dou-lhe um "Like".

Tocou a música:
Os sacanas dos bósnios vieram a Portugal e dentro de um estádio português, rodeados de tugas assobiaram o hino português. Aah cambada! Talvez se lixem...

  • 8 minutos:
Golo do Ronaldo. Quieta! Qui-é-ta! Só passaram 8 minutos...

  • 24 minutos:
Nani marcou!
Eu grito GOOOOLOOOOOOO! O cão ladra que nem um louco. O piralho pula em cima do sofá.
Se não fosse o futebol como é que a malta desabafava?

Já me gamaram um "penalty"

Olha... não gamaram o "penalty" à Bósnia
2 - 1 ... Gruunnnffffffff.






Intervalo
(hoje vai ser um inferno conseguir meter o miúdo na cama)








'Bora lá então, agora a chutar para o outro lado

Bósnios sarrafeiros... se o Meireles não mostrasse a pernoca ao árbitro o sarrafeiro tinha-se safo do cartão amarelo

  • PIMBA! Vai'bscar. 'Ganda Ronaldo, g'anda golaço!
(Felizmente não tenho vizinhos chatos...)

Anda ali um jogador bósnio, nº11, a levantar o dedinho à cara dos adversários. Esta-me a dar mau feitio...

Já me gamaram outro "penalty"

  • A Bósnia marcou um golo maricas; e os portugueses em campo a vê-la passar... Tse-tse.
Aquele rapaz bósnio nº11 estava a precisar de um tabefe à moda do Scolari

  • 72 minutos
Gôôôláá´´aço! do Postiga.
Onde é que fica a Bósnia?

  • 78 minutos
É GOOOOOOOLLLLL0O 5 - 1
É bem-feita para não usarem as patas dianteiras como se fossem patas traseiras

  • 81 minutos
MEIA-DÚZIA!!!!!!!!!!!!!!! LOINDISSIMO!

  • 82 minutos
Hay qu'ia fondo o 7º... Era bonito, eu gostava... mas está bem!

(o cão endoidou de vez... não percebo por quê...)

  • 90 Minutos
Acabou.
Curiosamente agora os bósnios não assobiam o hino português
Terão perdido o piu?


Foi bom, jogaram bem e lá deram uma alegria à malta que bem vem a calhar.
Vou introduzir a criança na baliza, perdão, na cama.

Vêmo-nos na Polónia

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Só mais uma manifestação da minha alegria

Os golos de hoje foram de.
Cristiano Ronaldo (2),
Hélder Postiga (2),
Nani (1),
Veloso (1)
A FÁBRICA?...




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TIMOR, 20 ANOS. Para a L. X.

A 12 de Novembro,
faz hoje 20 anos,
270 mortos, outros tantos feridos
e cerca de 270 desaparecidos.

São acontecimentos destes que fazem a vergonha da humanidade.

Foi um dia de vergonha, de dor, de luto, de injustiça cruel e, posteriormente, quando as imagens de um massacre chegaram às televisões do mundo, foram momentos de incredulidade e espanto.
Momentos...

Poucos anos depois a vida fez-me encontrar e relacionar-me diariamente, durante anos, com uma jovem timorense, familiar próxima de D. Ximenes Belo, a L. Ximenes. Tinha uma boa vida em Timor, em família, em conforto bem acima da média, na paz possível. Perdeu tudo isto porque a sua família se recusou a colaborar com os indonésios; os pormenores não são, agora, importantes, foi assim.
Eu tive oportunidade de a conhecer, e de com ela privar, porque a vida dela por lá, em Timor se tornou "complicada". Perigosa? Não sei, nunca mo disse. Veio viver para Portugal e por alguma razão assim foi. Era ainda uma menina, crescida no corpo, inocente na alma, sofrida já na vida.

Nos profundos e escuros olhos desta rapariga, só aparentemente frágil, nunca vi raiva, muito menos ódio. Vi tristeza e saudade, vi muita coisa calada e que talvez mais valera fosse esquecida. Vi quase sempre aqueles olhos a sorrir para as pessoas, educadíssima e prestável, solidária. Vi sempre doçura; nunca lhe ouvi uma palavra amarga embora me fosse evidente a amargura que lhe amassara o coração; Vi a herança de um povo que não alimenta em si a violência e a agressão. Vi a aceitação mansa da vida e um conhecimento íntimo de até onde a injustiça pode chegar. E vi esperança e uma imensa capacidade de amar.

Nunca se desaculturou: estudou por cá, licenciou-se, trabalhou, anos depois foi viver para Inglaterra, foi mãe ... ainda hoje na sua página do "facebook" encontramos o seu coração timorense - frequentemente escreve e comunica-se na sua língua natal.
Pode tirar-se a menina de Timor mas não Timor da menina.

Um abraço longo e apertado para ti, L.X., especialmente hoje.








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Ó OTELO, APROVEITA ENQUANTO HÁ CHOURIÇOS

Um dos poucos argumentos que Sócrates apresentou com razão foi que o seu governo era legítimo: resultou de um acto eleitoral no qual o PS venceu as eleições, sem maioria parlamentar, o que se reflecte no apoio da Assembleia, mas venceu. Tudo o resto são considerações, análises opiniões mas o facto era inegável.

O presente governo tomou posse em Junho; sendo um governo de coligação é um governo maioritário, e legítimo. Tomou conta de um país com as cuecas rotas na mão, as quais nem se sabia bem até que ponto estavam rotas, desconhecia-se se ainda tinham um elástico que as mantivesse no sítio...

O presente governo pegou num país já com a troika "cá dentro", a tal "troika jamais" porque não havia «derrapagem orçamental» e estava «tudo controlado», os buracos tapadinhos com papel de embrulho para não se ver o fundo porque o fundo do buraco já nem dava para ver.
E quando se desembrulhou o buraco... embrulhados numa grande embrulhada estávamos nós todos.

A tal "troika jamais" já deveria ter entrado antes, já deveria ter havido um Basta! muito antes, já se deveria ter posto rédea na "besta" muitíssimo antes.

E agora? Agora estamos a viver dentro dos curtos limites que nos restaram. Estamos a viver muitíssimo limitados; pois é, pois estamos. Agora pagamos a factura de tanto crédito, de crédito mal parado; nunca parado por acção de gestão económica e financeira - parado apenas pelo embate num fundo de rede que antecedia a banca-rota.

Agora chegamos a isto e precisamos de um esforço hercúleo, vemo-nos em situações desesperantes e maioritariamente injustas. Preço elevado este que pagamos por um BASTA excessivamente tardio

Ou seja: deixamos que fossem ultrapassados todos os limites.


De repente aparece o herói do cavalo branco, o major que queria mandar os fascistas para o Campo Pequeno para serem fuzilados, e diz, como se alguém o tivesse mandatado para falar em nome do povo:

«Ultrapassados os limites deve ser feita uma operação militar e derrubado o governo»

Que grande democrata me saiu este general de aviário, sim senhor!

Bem... Ele também diz que não é para já... Talvez lá mais para Abril, digo eu, talvez dia 24... dois feriaditos seguidos até que vinha a calhar.

Ó Otelo... pergunto-me porque só agora te deste conta de que a coisa está preta, porque só agora te deu para botar faladura.
Ó Otelo... com tanto bom copo para beber na boa companhia de antigos camaradas de armas e desarmas... Deixa-te de merdas, as melhores revoluções fazem-se à mesa depois de um bom cozido à portuguesa; Ó Otelo... aproveita enquanto ainda há chouriços.




Eu fico-me por aqui; mais houve que dissesse e já não é de agora. O texto abaixo foi publicado no blog Arrastão e no Expresso on-line a 20 de Abril de 2011. Poderia chamar-se "Ó Otelo, vê se te enxergas"...
Não concordo com tudo o que diz, também não é preciso e talvez nem fosse tão salutar. Ah, mas concordo com tudo o que diz a propósito de Ótelo; é bom saber que não estou só.


Se soubéssemos o que sabemos hoje, Otelo!
por Daniel Oliveira

Otelo Saraiva de Carvalho presenteou-nos com mais uma das suas frases de efeito: se soubesse o que sabe hoje não teria feito o 25 de Abril.


Três coisas rápidas:

A primeira: o 25 de Abril não foi uma prenda de Otelo aos portugueses. Foi obra de muitos outros militares. E foi obra dos portugueses. A democracia não nasceu num dia. Foi construída. E foi construida e defendida por nós. Se ele não tivesse comandado as forças revolucionárias outros o fariam no lugar dele.

A segunda: isto não acabou assim. No meio, erguemos um serviço nacional de saúde que, com todos os seus defeitos, até está entre os melhores do mundo; alfabetizámos, construísmo a escola pública, democratizamos o ensino superior; garantimos uma segurança social universal; acabámos com a censura; deixámos de ter presos políticos; abrimos Portugal ao Mundo; e, para o mal ou para o bem, defendemos sempre a nossa democracia, com liberdade e pluralismo. Se Otelo faz um balanço negativo, ele lá saberá o que esperava da revolução.

A terceira: não me parece que se a revolução não tivesse acontecido estariamos melhor neste momento. Que tenha de haver gente a explicar isto a Otelo Saraiva de Carvalho só demonstra que o que lhe sobrou em coragem sempre lhe faltou em inteligência política, como se foi notando pelo seu percurso tão repleto de asneiras.

A ser verdade este súbito sentimento de Otelo, talvez seja altura de abandonar a parcimónia com que nos dirigimos a ele e dizermos de uma vez por todas o que muitos de nós sentimos demasiadas vezes: se soubéssemos que Otelo seria o que foi depois da revolução também teríamos preferido que tivesse sido outro a comandar as operações no dia 25 de Abril de 1974. Não precisávamos de ir longe. Bastava procurar entre alguns dos militares que o acompanharam naquele dia. De Salgueiro Maia a Melo Antunes, nunca faltou quem provasse ter muito mais sabedoria com muito menos fanfarronice

Publicado no Expresso Online



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O DIREITO AO BOM SENSO

Diz Rodrigo Moita de Deus no seu blog 31 da Armada:

a greve dos transportes explicada

Gente com emprego recusa transportar gente que quer trabalhar.

Posto de forma simples, ainda que com o seu quê de provocatória, é exactamente assim.

Não trago qualquer novidade ao dizer que esta greve de transportes nada tem a ver com a tradicional forma de luta na defesa de interesses de determinada classe de trabalhadores; é uma greve política, chapadamente política e ponto.
Eficaz? Hum... tão eficaz não quanto a adesão por parte do sector grevista mas quanto o número de pessoas que consegue afectar. Obviamente que o sector dos transportes é um dos sectores chave - quanto mais pessoas deixarem de trabalhar porque não terem transporte, ou, pelo menos, chegarem substancialmente atrasadas, maior o êxito da greve. "Gente com emprego recusa transportar gente que quer trabalhar", pois é... Destabilização social e política, pura e simples.

Daqui por quatro dias, a 12 de Novembro, soma e segue a manif. da Função Pública, a 24 continua o baile com uma greve geral marcada pelas duas centrais sindicais. Um fervor revolucionário em crescendo, uma técnica mais antiga do que o ... Ai credo, ia-me saindo um impropério.

De um modo geral é para o lado que durmo melhor; sou uma acérrima defensora do direito à manifestação, da liberdade de expressão e pelo direito à greve por motivos laborais. Porém a questão não é essa.

A questão é que o nosso país está de tanga, tanga rota e puídinha.
É bom, não, é fundamental, essencial, imprescindível, que consigamos manter o cumprimento dos nossos compromissos económicos dentro da U.E. e todos sabemos perfeitamente porquê, bater nessa tecla é repetitivo e não faz música.

Há dias, quando
Papandreou se lembrou de querer um referendo na Grécia, fazendo tremer toda a economia da União Europeia, fê-lo em vésperas de entrar mais um "balão de oxigénio" sob a forma de euros naquela "caverna de Platão" mergulhada sob águas turvas. Tivesse esse "balão de oxigénio" sido suspenso e, este mesmo mês de Novembro, a Grécia asfixiaria sem hipótese de pagar salários e serviços, para já não falar de bens.

Voltando à vaca fria, gelada.
O problema não é a destabilização social, não são as greves puramente políticas, por essas já passamos várias vezes. O problema é que não nos podemos dar ao luxo de não trabalhar, de não produzir, de parar. Não podemos, mesmo.

Se a situação económica de Portugal tem saída?
Claro que sim, se não nos empenharmos em lixar o esquema a bem da contestação política, a bem do "exercício dos direitos dos trabalhadores". Os trabalhadores somos todos nós que trabalhamos, produzimos, pagamos impostos e, neste momento mais do que em tempos corriqueiros, o exercício dos nossos direitos fundamentais passa pelo direito a criarmos condições para voltarmos a ter uma vida com menos sacrifícios, uma vida melhor com um nível de qualidade mais elevado. Não é uma crença, não é uma fé política, não é sequer uma esperança exacerbada. Já passamos por maluqueiras semelhantes anteriormente e demos a volta; e é possível dar a volta, sem ser em sonhos, basta fazer contas, estabelecer metas, planificar e gerir. Pois, mas temos de produzir, de trabalhar, de meter na cabeça que o bem e o futuro de todos nós está em jogo agora; não é altura para fervores que sacrificam a causa comum na "luta" pela causa partidária. É absurdo!

Felizmente há quem entenda isto.
O Metro parou em Lisboa, no Porto não foi assim (se calhar são os trabalhadores do Metro do Porto que são fascistas reaccionários - ah, talvez não tanto, apenas se deixaram manipular)

Olhem lá:
“Claro que todos temos direitos mas, tanto quanto direitos, temos obrigações, deveres, lucidez e bom senso. E é por isso que não fazemos greve: por termos a obrigação de manter uma empresa racional e equilibrada e o dever de, todos os dias, garantir a mobilidade de milhares e milhares de pessoas”, lê-se num comunicado enviado aos jornalistas.
.../...
“E partilhamos a opinião de que o sector muito teria a lucrar se adoptasse, o mais rapidamente possível, um modelo operacional semelhante ao do Metro do Porto. Sobretudo, o Estado e os contribuintes seriam poupados a pagar uma conta manifestamente desajustada ao benefício gerado”, frisam os subscritores do documento.
A notícia está AQUI


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