Chama-se Ann M. Donnelly e é juiza federal do Tribunal Distrital de Nova Iorque, cargo que ocupou após ter sido, durante vários anos, juíza da Procuradoria Geral do mesmo distrito, etc, etc, etc.
Ontem, sábado, ouviu um apelo de emergência emitido pelo American Civil Liberties Union (ACLU) para se fazer face ao último devaneio de Trump, a Ordem Executiva que proíbe a entrada nos EUA de cidadãos de 7 países maioritariamente muçulmanos e suspende a concessão de asilos políticos.
Em pouco tempo Ann Donnelly conseguiu a suspensão da Ordem Executiva, advogando que esta viola uma lei de 1965 que baniu a discriminação com base na nacionalidade. E não só mas essa é uma guerra para os próximos dias, de momento alguém deu um abençoado murro na mesa.
De acordo com a legislação em vigor encontra-se suspensa a possibilidade de banir indivíduos portadores de documentos que lhes concedam o estatuto de refugiados, portadores de vistos válidos e os provenientes de países afectados com autorização de entrada tendo estes o direito a serem ouvidos em tribunal competente.
Ontem, durante a conversa telefónica entre Trump e Merkel, a chanceler lembrou o presidente que os EUA, enquanto siggnatários da Convenção de Genebra, se encontram impedidos pelo direito internacional de fechar as portas a refugiados de países em guerra, conflito, e outras situações que ameacem a sua segurança.
Esta suspensão tem, por agora, uma validade de apenas 7 dias e é uma corrida judicial contra o tempo mas a verdade é que a lei ainda vai sendo lei e já outros juízes, federais e estaduais, se uniram a este combate nacional assim como várias organizações de defesa dos direitos civis e constitucionais.
Esta tarde, enquanto muitos aeroportos internacionais se encheram de manifestações de protesto e várias cidades, como Boston e Washington, viram novos desfiles de manifestantes nas ruas, Steve Bannon, um conselheiro senior de Trump, comunicou que os portadores de "carta verde" não serão abrangidos pela Ordem Executiva.
" Send these, the homeless, tempest-tossed to me, I lift my lamp beside the golden door! "
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Não tenho palavras para descrever o que sinto, e o que temo, perante o total abandalhamento dos valores de uma nação vergando-os à irresponsável e inconsequente vontade de um louco egocêntrico e megalómano.
Para além do óbvio, que atinge o coração da América e a coloca em risco acrescido, levantam-se gravíssimas questões na política internacional que não podem, de forma alguma, ser descuradas e menos ainda ignoradas
A inclusão do Irão na lista dos sete, primeiros, países aos quais as portas foram fechadas dá que pensar... Terroristas iranianos??? Refugiados políticos perceber-se-ia, um ou outro, mas terroristas?
O acordo nuclear com o Irão, passará a ser totalmente controlado pelos outros signatários, incluindo a Rússia... Nem vou escrever o que estou a pensar. Pois claro.
Iran says it will ban all US citizens from entering the country in response to President Donald Trump's executive order limiting immigration from seven Muslim-majority countries, according to an Iranian Foreign Ministry statement. "Despite the claims of combating terrorism and keeping American people safe, it will be recorded in history as a big gift to extremists and their supporters." CNN
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As tropas norte-americanas que se encontram em solo iraquiano, em redor de Mossul e não só, encontram-se numa situação delicadíssima, totalmente dependentes da vontade do governo do Iraque e sujeitas a ficarem sem protecção ou apelo de um momento para o outro.
"Iraqis emphasized that the draft ban, as well as comments the president made to the CIA on Saturday suggesting that the U.S should seize Iraq’s oil for reimbursement money, could not have come at a worse time as Iraqi and coalition forces attempt to liberate Mosul in an increasingly bloody battle. Prime Minister Haider al-Abadi was forced to vehemently reassure the public this week that the oil is “the property of the Iraqis.” Aside from perpetrating distrust and division, some claim that the president’s remarks could even endanger U.S troops on the ground.» FOXNews
“Iraqis are the largest victims of terrorism and now we are paying double the price,” one high-ranking general in the Iraqi Army, who requested anonymity as he is not authorized to speak to the media, told Fox News. “This has caused massive disappointment in the hearts of every Iraqi who is fighting radicalism.” FOX News
"We invaded Iraq and displaced people. We have since relied on Iraqis as partners to fight against ISIS. If we don’t want to deploy thousands of troops to fight these terrorist groups, then we rely on partners in Iraq and elsewhere. This policy sends a very negative message to countries where we will need indigenous support from translators and peacekeepers."- Clinton Watts - Foreign Policy Research Institute’s Program on the Middle East
Líbia: 20 de Janeiro, esse dia que ocorreu há apenas uma semana e que mais parece ser há um ano, foi assim:
US bombs ISIS camps in Libya"US B-2 bombers struck and destroyed two ISIS camps in Libya overnight, with initial estimates that over 80 militants were killed, US officials told CNN Thursday. "The strikes were on external actors who were actively "plotting attacks in Europe," Secretary of Defense Ash Carter told reporters.
The mission was approved several days ago by President Barack Obama and is expected to be the last short-notice military operation ordered by him, according to sources."
A re-ocupaçao da Síria por tropas fieis ao governo e por tropas iranianas que combatem a ISIS (ao contrário dos russos que estão por lá a tratar dos seus próprios interesses raramente coincidentes) e a perda da "capital" ISIS em Mossul leva a uma deslocação de jihadistas e à ocupação da Líbia, instável, dividida e frágil. Se a presença de tropas norte-americanas for banida da Líbia será muitíssimo grave, para todos.
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Curiosamente países como a Arábia Saudita - pátria da única emigrante (que entrou com um visto de noiva de um americano) envolvida num ataque terrorista nos EUA (S.Bernardino Dez.2015), para já não falar em Bin Laden - o Paquistão, a Turquia ou mesmo o Qatar, o Dubai e outros Emiratos não se encontram banidos por Trump
Na verdade a "total and complete shutdown of muslims" não é nem completa nem total...
Trump mantém interesses comerciais e propriedades em muitos e diferentes países como a Turquia, Arábia Saudita (8 propriedades), o Dubai, o Quatar e outros Emiratos Árabes Unidos (13propriedades)
On Aug. 21, the same day Trump created four of the Jiddah companies, he told a rally crowd in Alabama: “Saudi Arabia, I get along with all of them. They buy apartments from me. They spend $40 million, $50 million. Am I supposed to dislike them? I like them very much.”
Trump disse que havia de publicar as suas declarações fiscais.
Depois de eleito e empossado disse que não mostrava e acabou a conversa, sem mais.
Por que não? Ora... E ainda não veio nada a público sobre Putin, as sanções e o que mais daí virá
Donald Trump’s business empire owes hundreds of millions of dollars to a giant German bank cast into crisis by settlement negotiations with the Justice Department, a relationship some lawyers say sheds light on the massive financial entanglements he could face as president. https://www.washingtonpost.com
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Pope Francis: You can’t defend Christianity by being ‘against refugees and other religions’ @Catholic Herald - 28 /01 /17
“You cannot be a Christian without living like a Christian. You cannot be a Christian without practicing the Beatitudes. You cannot be a Christian without doing what Jesus teaches us in Matthew 25.” This is a reference to Christ’s injunction to help the needy by such works of mercy as feeding the hungry, clothing the naked and welcoming the stranger.
“It’s hypocrisy to call yourself a Christian and chase away a refugee or someone seeking help, someone who is hungry or thirsty, toss out someone who is in need of my help,” “If I say I am Christian, but do these things, I’m a hypocrite.”
Ainda estava tudo muito no princípio quando recolhi as fotos para o vídeo mas já dá para animar
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Outra parte que também não correu nada mal foi a primeira petição pública a dar entrada no site da Casa Branca , já com mais assinaturas do que as necessárias.
Reza assim:
WE THE PEOPLE ASK THE FEDERAL GOVERNMENT TO TELL US WHAT THE FEDERAL GOVERNMENT IS DOING ABOUT AN ISSUE:
Immediately release Donald Trump's full tax returns, with all information needed to verify emoluments clause compliance.
Created by A.D. on January 20, 2017
“The unprecedented economic conflicts of this administration need to be visible to the American people, including any pertinent documentation which can reveal the foreign influences and financial interests which may put Donald Trump in conflict with the emoluments clause of the Constitution.”
Eu nem queria dizer fosse o que fosse mas assiste-me este feitio... Já não vou para nova, isto já não muda, se não desabafo durmo mal.
La-men-tá-vel.
Aquele gajo não aprendeu NA-DA. Continua o mesmo ricaço da construção civil, o mesmo trolha em vestes caras que se revelou um banha-da-cobra durante a campanha. Continua em campanha, continua a ser um candidato à conquista de corações partidos.
Nem os briefings (que ele acha desnecessários e aborrecidos), nem os banhos de Washington D.C. , nem mesmo a majestosa cerimónia de investidura o fizeram ter a noção do que é ser Presidente dos Estados Unidos da América, o líder do mundo. Nada.
Lamentável discurso bairrista, pequenino no conteúdo. Vai construir pontes e estradas. Vai fazer comércio sozinho. Vai governar orgulhosamente só a menos que os restantes façam como ele quer. Podia ter sido o discurso de um ditadorzeco recém-chegado ao poder na Guatemala ou na Nicarágua a vender-se como salvador do povo. O Salvador do povo e da pátria. Para este obtuso patriotismo é uma espécie de "os outros que se lixem, primeiro estou eu". Será que alguém conseguirá fazê-lo entender que Não Funciona Assim? Ou mesmo que Assim Não Funciona?
"Ó pá, vai pagar os teus impostos", gritaria um índio no meio da populaça antes de levar um murro.
Que falta de categoria!
Ele, que herda um país recuperado e com pernas para correr continua a referir-se a um stato quo alheio à realidade, aos factos, e é ele que vai devolver, ou oferecer, o poder ao povo. Ele, só ele, o bem-amado. O "outro" que se aguente e bata palmas no fim. Sad, como diria no Twitter.
Para Hillary, nem uma palavra, a sua opositora que ganhou o voto popular com uma diferença de 3 milhões de votos, a maior da história. Trolhas endinheirados é o que dá.
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Depois foi assinar as suas primeiras directivas. Um momento histórico que eu fotografei com o meu telemóvel e posso provar que não foi objecto de modificação digital.
A partir de amanhã o mundo vai mudar
Uma parte importante dele,
talvez a mais importante,
será escrita a 140 caractéres,
com mais muros e menos solidariedade humana,
faz a apologia da amoralidade,
desrespeita os mais fracos e inabilitados,
desconhece a ética,
compromete o futuro da Terra,
sobrepõe-se ao todo como se fosse parte independente.
E nós, os outros, os que rejeitamos esta concepção do mundo,
não podemos fazer nada.
Trump anunciou hoje que o concerto "Make America Great Again! Welcome Celebration" terá lugar na noite de 19 de Janeiro nos degraus do Lincoln Memorial
A reacção de Lincoln não se fez esperar...
Quem é o Ex-agente do MI6 responsável pelo dossier entregue a Obama e a Trump que agitou as águas políticas e mediáticas pelo mundo provocando um tsunami ?
Christopher Steele, reformado dos serviços secretos britânicos, rapaz ainda nos seus cinquenta e picos, de bom porte, cabeça inquieta e olhar intenso, quando deixou o MI6 abriu, juntamente com outro ex-colega do meio, a sua empresa de Inteligência, investigação e análise, a Orbis, sediada em Londres e estrategicamente colocada nas imediações de Buckingham Palace e a 10 minutos da sui generis MayFair.
De Christopher Steele diz John Sipher, um oficial sénior da CIA:
He's a squared-away guy, who was posted to Russia in the 1990's and helped manage its efforts against Moscow before retiring in 2014.
Those who know Steele or his work say that the widowed father of three children enjoyed a reputation as a meticulous professional among current and former members of the intelligence community.
The idea his work is fake or a cowboy operation is false – completely untrue. Chris is an experienced and highly regarded professional. He’s not the sort of person who will simply pass on gossip.«Steele is a very straight guy and if he puts something in a report, he believes there’s sufficient credibility in it for it to be worth considering.
Nigel West, historiador dos serviços secretos e de espionagem, amigo de Steele, refere-se a ele da seguinte forma:
Nobody is saying he believes in any of this. What he was hired to do was write a series of reports based on info he could glean from his contacts. His contacts are very good but they're more in the business community than the intel community. He's highly professional, very effective, he's an impressive individual, knows a lot of the people about whom he speaks.
Após a divulgação, pelo Wall Street Journal seguida de muitos outros, da identidade do ex-oficial do MI6, Christopher Steele deixou a sua casa por temer pela sua segurança e pela dos filhos, particularmente no que toca à reacção do Kremlin - inimizade antiga, pelo menos desde a época do assassinato de Alexander Litvinenko, ex-agente russo cuja investigação esteve a cargo de Steele. O porta-voz de Putin disse hoje que o Kremlin não o conhece; mau sinal... _____________________
- Steele was head of MI6’s Russia desk.
- He has a network of sources in Russia. - Steele has been trusted by the FBI and others with sensitive work.
- He has friends in high places.
Ontem, como não poderia deixar de ser, Stephen Colbert (CBS - Late Show) pegou na última escandaleira que veio a público sobre as tropelias de Mr. Trump que fazem, ou não, parte das "informações pessoais", neste caso em vídeo, que os russos deterão, ou não, sobre o iminente presidente dos EUA.
Tudo isto "alegadamente"... A coisa é tão inverosímil que é bem provável que seja verdade, há coisas que ninguém inventa por irem além do credível.
A história circula por aí animadamente e, sumarizada ontem no Observador, a meio de um artigo mais sério, dizia assim:
O BuzzFedd publicou, entretanto, o alegado relatório que foi entregue aos líderes governamentais dos EUA, onde se pode ler que, numa visita a Moscovo, Donald Trump reservou a suite presidencial do Ritz Carlton Hotel, onde sabia que Barack Obama tinha estado com a mulher, Michelle, e contratou várias prostitutas a quem pediu para urinarem na cama onde o presidente norte-americano tinha dormido.
Como referiu Stephen Colber:
«I don’t think this matters if this is true or not, because the fact is, it’s out there, and that means, Mr. Trump, you’re in trouble.»
Muitas piádas à parte, subtis e utilizando uma cuidada linguagem de duplos sentidos, Stephen Colber diz uma verdade dura como punhos: «I only feel for Donald Trump a little bit here because he brought this on himself, and I have a sugestion, Mr Trump, of how to get rid of it, just do the thing you have never done which is: say anything Putin wound't like. Allright? That would prove that they're not runnig you. 'Cause you never said anything Putin doesn't love. Criticize the invasion of Ukraine, criticize taking away the Crimea, criticize him killing journalists, raise sanctions on Russia. Anything, say anything negative about him. I dare you because I bet you won't.»
Para quem tiver interesse e paciência deixo o link ao relatório completo "Company Intelligence Report" que foi presente a Obama e Trump (as 35 páginas) de Junho a Dezembro de 2016.
Com dois cafés, uma bola de Berlim e uma água das pedras para a digestão é uma companhia bastante instrutiva.
Esta história pode começar com "Era uma vez" como muitas das que começam em tempos remotos. Não serão assim tão remotos mas um tempo em que se manifestava oposição ao poder em Moscovo requer algum esforço de memória, já lá vai...
Em Dezembro de 2011 houve uma eleição legislativa na Rússia. Seguiu-se uma onda de protestos, de "rumores" de fraude eleitoral, que se prolongou por 2012, quando Putin venceu as presidenciais em Março. E os protestos continuaram... Crescentes. Provavelmente muitos terão ainda presentes as imagens dos cordões humanos que tinham por objectivo circundar o Kremlin (26/27 Fev. 2012); atingiram mais de 16km mas foram sempre dispersados antes de fecharem o círculo porque, segundo Putin: «A minoria não tem o direito de impor à maioria a sua opinião. .../... Considerado que são instrumentos inaceitáveis numa sociedade democrática» (Putin - Fev. 2012)
KGB de gema - não existem ex-KGB em termos mentais, entenda-se - Putin não estava disposto a tolerar protestos absurdos. Votadas as presidenciais deitou as mãos à obra e presenteou o povo com vários pacotes legislativos para acabar com veleidades libertárias.
«In the end, no such concessions proved necessary. After withstanding the initial protests and gradually regaining the initiative, Putin easily won reelection in the first round in the March 2012 presidential elections and set about implementing major changes in Russia’s political-legal system to ensure that he would never again be confronted by a challenge of similar scope. An array of repressive measures, including severe restrictions on pro-democracy and human rights NGOs and election monitors, a huge increase in fines imposed against those who take part in “illegal” gatherings, the banning of public assemblies in certain areas that were sites of protests in late 2011, the exclusion of foreign broadcast media, restrictions on Internet access, and a sweeping expansion of the definition of “treason” were all adopted with the support or at least acquiescence of a substantial majority of the population in 2012. » Kramer - 09/2013
Director, Cold War Studies Program, and Senior Fellow, Davis Center for Russian and Eurasian Studies
Harvard University
O nervoso de Putin não era injustificado, à época, se bem se lembram, andava pelo mundo uma febre de libertação dos opressores de longa data que enervava qualquer ditador digno desse epíteto;
A "Primavera Árabe" havia tomado conta do Egipto pondo fim aos 30 anos de "reinado" de Mubarak.
Na Líbia, após seis meses de protestos e luta armada Khadafi viu chegar o fim dos seus dias tragicamente.
Na Síria Bashar al-Assad perde o controlo da contenção das violentas manifestações e face à intensidade crescente e perda do domínio de várias cidades mobiliza as suas forças armadas e dá início aos bombardeamentos, e ataques com mísseis, a todas as cidades sob controle rebelde.
E o Irão... que há que manter forte, fechado e "operativo". Um Irão teocrático e nuclear é um espinho profundo no coração do Ocidente. A Rússia defendeu os direitos do Irão no Conselho de Segurança com unhas e dentes, e vetos.
Putin pode ser muitas coisas, algumas delas inomináveis, mas não é parvo.
Reposta a "ordem em casa" durante 2013 reforçou as críticas e vitimização relativas à NATO. Uma vez mais com razão, em 2014 caía o seu fiel vassalo na Ucrânia...
«A política externa da NATO em relação à Rússia não se enquadra na lógica do desenvolvimento contemporâneo e continua a basear-se em estereótipos obsoletos.»
Referindo-se ao alargamento da NATO: «Não me deteria neste tema se esses jogos não se realizassem junto das fronteiras russas, se não pusessem em causa a nossa segurança e não influísse negativamente no mundo». V. Putin
Mas onde há crise semeiam-se as oportunidades.
Perante a imparável migração de refugiados de guerra e da subjugação ao "estado islâmico" em direcção a uma Europa atacada por terrorismo, crises económicas e desemprego regional, o nacionalismo egocêntrico ressuscita e o terreno torna-se propício à disseminação de propaganda e medo. O medo desperta o instinto de sobrevivência, a irracionalidade e a agressividade. É uma excelente estratégia.
Para Putin é uma festa! O impensável desenrola-se no teatro da tal realidade que ultrapassa a ficção: a extrema-direita, a direita radical, vê-se apoiada, e financiada, pelo homem que tem como sonho o ressurgimento da URSS, a Nova Rússia, como Putin gosta de referir, provocando, na medida que lhe for permitido, a degradação do ocidente, a queda das velhas democracias, o abandono dos seus valores e princípios.
A primeira brecha está feita, amanhem-se com o Brexit como puderem. Outras estão sendo estrategicamente preparadas, isto dos emigrantes muçulmanos dá um jeitaço.
Espantosamente a extrema-direita vai nisto, na sua ância de conquista de poder, de nacionalismo retrógado e ilusório num mundo que se tornou, a todos os níveis, inter-dependente, para o melhor e para o pior. Se fosse a extrema-esquerda, os comunistas, os marxistas-leninistas que estoicamente ainda resistem, poderia compreender, mas a direita? A extrema-direita? A sede de poder não só corrompe como cega, estupidifica.
E a América? A América, por todas as razões que possamos considerar, vê-se a braços com Trump.
Há coisas que, face à ausência de provas, manda o bom senso que não se declamem publicamente. Em conversas privadas, algumas mesmo muito privadas, tenho versejado sobre o mote: "o Putin tem o Trump no bolso". Como tem e por que tem é outra questão mas que tem... Ah pois que tem.
Trump diz mal, ataca, julga tudo quanto é bicho que mexe, até o Papa Francisco foi metido na molhada. Tudo e todos, e também a NATO, claro, pedra basilar do da força militar do ocidente... Todos menos Putin... Que por acaso não é inglês, nem francês, nem europeísta, nem pró-americano. É Russo, presidente, ditador e se pudesse comia os EUA, Estado a Estado, dólar a dólar, logo ao pequeno-almoço para começar bem o dia. E é o favorito de Trump? Putin pode atacar informaticamente Instituições que são pilares dos EUA e Trump desvaloriza, mostra-se alheio e duvidoso. E também simpatiza com Farage, o seu europeu de estimação que tão bem cumpriu o seu papel de embrulho. Ora...
Trump é o Cavalo de Troia ideal: sem consciência e com um enorme ego no estômago onde pode transportar lisonjas e ambições, as suas, mundanas e primárias, e as do seu "role-model", inconfessáveis.
Manda o bom senso que não se declamem publicamente as evidências na ausência de provas; Mas face à gravidade das coisas, e na ausência de provas, manda o bom senso que se proclamem as evidências. O fumo denunciará o fogo.
Ontem à noite a CNN teve um exclusivo em "Breaking News" que fez cair o queixo a muito boa gente. As grandes cadeias de TV retraíram-se, ninguém sabia exactamente o que dizer e só hoje, quando Trump optou por falar, e por se recusar a ouvir as perguntas da CNN, se sentiram à vontade para abordar o delicado assunto.
A notícia está por todo o lado, não se justifica que me alongue sobre ela; sumariamente:
Os Russos "obtiveram" informações sobre a vida pessoal de Trump e as suas finanças, por meios informáticos e outros.
Existiram repetidos contactos entre membros da campanha presidencial de Trump e membros de ligação ao Kremlin.
Existem alegações de que o Kremlin terá financiado a campanha de Trump através de alguns dos seus associados.
Se perante isto os apoiantes de Trump continuarem a achar que "não tem importância" desisto de compreender. Mais, demito-me!
A primeira abordagem, de ontem à noite em exclusivo, é um documento imperdível, são 11 minutos de incredulidade e constatação. De salientar o cuidado posto na sua transmissão, salvaguardando reiteradamente que se trata de um relatório de um ex-agente do MI6, conhecido e creditado pelos serviços secretos americanos e cujo conteúdo, não comprovado, se encontra sob investigação.
Mas sua excelência está a falar de quê? De quanto? De quando? De como?
Nem Guterres nem Centeno... Estou totalmente rendida, não creio que seja possível alguém baralhar tanto e voltar a dar melhor. E em 49 segundos!!!
Quem é bom, é bom, tanto fala do que sabe como do que não percebe patavina, com o mesmo à vontade e convicção.
'Bóra-lá-atão a diminuir a taxa de inflação ao juro e depois espera-se para ver
(ou seja, deixa-se apurar tapado e em lume brando).
Os gerigonços andam contentes, está tudo a correr muito bem, muita paz social, muita descontracção entre os portugueses, muitos sorrisos na bancada do executivo. O presidente da república está na maior, tem índices de popularidade só comparáveis aos de Tony Carreira em época de "Festa Continente na Avenida da Liberdade" - finalmente sente-se mais amado do que Passos Coelho, esse fedelho embirrento que chegou onde ele nunca conseguiu como líder do PSD. Com o Costa a coisa corre melhor, aquela pinta de matarruano* baixote e pegajoso destaca, ainda mais, em Marcelo o arzinho blasé e professoral que não se importa de descer até à maralha. E a maralha gosta, sente-se libertada dos grilhões da crise. Ainda bem, haja alguém.
Pela parte que me toca devo ter um sério problema de percepção, vejo a crise por todo o lado e a agravar-se; não me interessa nada a conversa, os discursos, os debates, no que toca à famigerada crise interessam-me os números, sem malabarismos nem maquilhagem, e esses não me sossegam... Mas os geringonços andam contentes...
Bem vistas as coisas até poderia haver um aumento (quase triplicado) da dívida pública se fosse justificado por um investimento público da mesma ordem ou mesmo um quanto menor... Mas não é... O investimento público caiu 24,8% em 2016, depois de ter apresentado um crescimento de 15% em 2015. Pois, por aqui não foi.
Bem vistas as coisas até poderia haver um aumento da dívida pública se fosse justificado pelo "alivio fiscal e contributivo sobre os consumidores, as empresas e os trabalhadores", que se encontra inscrito no programa desta coisa que está a fazer de governo. Mas também não é por aí... A colecta fiscal em 2016 saldou-se por uma adição de 516 milhões de euros
Os gerigonços andam contentes mas, bem vistas as coisas, não percebo como.
Aguardo sem grande entusiasmo as cenas dos episódios de 2017, algo me diz que a trama se adensa e que a palavra de ordem será desaceleração, que em termos económicos poderemos aplicar por cá ao consumo, ao investimento, às exportações, à criação de emprego e ao PIB.
E não, não sou eu que encarno a profecia da desgraça, basta revisitar o OE 2017 e olhar para os números, mesmo sem máquina de calcular, basta ler.