QUEM TRAMOU A DARYA DUGINA?

Pois eu sei que isto - aí no vídeo mais abaixo - não prova nada; nem nega, bem pelo contrário, senão vejamos...

Quando, 24 horas depois do atentado que matou Darya Dugina, filha do actual Rasputin do Kremlin, os serviços secretos russos tinham um relatório prontinho, que foi de imediato trazido a público pela porta-voz do Ministério das Negócios Estrangeiros, Maria Zakharova, classificando o atentado como “terrorismo de Estado” operado pela Ucrânia

Vários militares em vários canais televisivos mostraram a sua estupefacção...
Um oficial dos serviços secretos britânicos explicou:
«Não é possível em apenas 24h após um atentado deste tipo reunir todo o material a ser analisado, transportar e classificar as provas, reconstruir engenhos, fazer as análises e testes, obter os resultados e elaborar um relatório oficial. Que as conclusões a apresentar, e até o próprio relatório, estivessem prontos no dia seguinte não me espanta, o que me espanta é que profissionais experientes tivessem caído neste erro de teenager precipitado; se tivessem esperado mais um pouco teriam conseguido dar a esse relatório um mínimo de credibilidade.» 

No dia seguinte um ex-director da CIA, o general Michael Hayden, fundamentava e expunha uma opinião idêntica ressalvando que, do ponto de vista técnico e prático esta acção não deixava dúvidas de estava organizada e executada por alguém experiente e bem coordenada, um grupo militar ou para-militar, não por uma senhora que teria vindo da Ucrânia para praticar um acto terrorista acompanhada pela filha de 12 anos

Horas depois um ex-deputado da oposição no parlamento russo, Ilya Ponomarev, dizia a quem o quisesse ouvir que o atentado foi executado pelo Exército Nacional Republicano Russo. E não só disse como o apoiou nas suas acções subindo assim muitos degraus na lista do Kremlin de pessoal a abater. Rapidamente.

Alguns jornais, como por exemplo o "Expresso", por pressa em fazer uma publicação ou mera incompetência de investigação, na melhor das hipóteses, apressaram-se a pôr em causa as declarações de Ilya Ponomarev fundamentalmente porque "nunca ouviram falar de tal organização. É curto. Muito curto

«Mas tal grupo nunca tinha sido mencionado até então, nem há provas de esta organização antiputinista seja real.»   in "Expresso"- 23/08/22

Pois, mas é real 
(e quem não sabe beber... não bebe
e quem não sabe escrever "anti-Putin" não devia escrever, de todo)

Outra versão bastante mais cingida aos factos:

Ex-Russian MP claims Russian partisans responsible for Moscow car bomb

Speaking in Kyiv, Ilya Ponomarev alleges bomb that killed daughter of Putin ally was work of underground group - in "The Guardian"- 21/08/22

Depois apareceu outra teoria, engendrada em congeminações que lembram as mais corriqueiras teorias de conspiração, segundo a qual teria sido o próprio FSB a praticar o acto.
Está bem, mas há umas nuances que têm de ser ressalvadas; uma coisa é o FSB, outra são os membros do FSB.

Vejamos:
Quem colocou o TNT teve acesso ao carro, ou antes do Festival dos fofinhos ou, mais provável, durante o Festival dos fofinhos. Ok, bate certo, (alguns membros dos) serviços secretos russos estariam numa posição privilegiada. Mas expliquem-me por favor por que é que isto exclui o Exército Nacional Republicano? Ou não é absolutamente possível, mais-do-que-possível, que membros do FSB tenham aderido ao ENR, fartinhos do Putin, do seu Rasputin privado e de mais meia dúzia de loucos que fecham o círculo? 
Até aqui os factos não indicam que membros do FSB tenham estado envolvidos, para além da oportunidade e facilidade, mas se for o mais-do-que-possível caso, pessoalmente acho uma graça acrescida, dificilmente haverá pesadelo mais assustador para o paranóico Putin 
Fiquemos por aqui e deixemos as teorias aos sábios analistas políticos 

A transcrição do Manifesto do "Exercito Nacional Republicano Russo apareceu do dia 22 deste mês na plataforma "Telegram" e, no mesmo dia, foi publicado o vídeo, que aqui deixo, no "YouTube", no "Twitter" - onde foi transcrito - entre outras plataformas. Nos grandes canais internacionais ainda não apareceu (que eu saiba) porque, como é óbvio, as fontes têm de ser independentemente verificadas antes de ser noticiadas. E há fontes que não autorizam a sua verificação por razões igualmente óbvias: Aquilo que sabe a CNN, a BBC, o The Guardian, o Washington Post ou a Al Jazeera, o Kremlin não demora a saber, ou já sabe

Tirai as vossas conclusões, a mim parece-me o prólogo do fim, que vem logo após o epílogo do princípio




WELL DONE JOE!

 Há muito quem tome Joe Biden por parvo; será?

Achar que os outros são parvos é uma forma fácil de nos sentirmos espertos, fácil mas pouco acurada. Há muito quem o seja, não falta por aí é gente meia-parva, completamente parva e parva só às vezes mas o que caracteriza a parvoeira não é aquilo que vemos em Biden e que leva, de forma algo leviana ou meramente pré-concebida, a inseri-lo nesse largo grupo.

Biden tem uma maneira de falar um tanto arrastada que por vezes o faz parecer lento, hesitante...  Joe teve um problema sério de gaguez quando era novinho, que controlou com perseverança e coragem, mas a coisa está lá. Também tem as emoções à flor da pele e frequentemente  diz o que lhe vai na cabeça num disparo de rajada; como todos sabemos, palavras impensadas nem sempre ajudam. Além disto já não é um menino mas ser idoso nunca foi sinónimo de "estar parvo", como tanta gente toma por certo. A verdade é que ninguém nasce ensinado e a aprendizagem, geradora de sabedoria, não tem limite de idade, creio que bem pelo contrário.

E era aqui que queria chegar para daqui partir.

Biden pode parecer parvo mas é sabido, muito sabido. E sensato. E nunca desiste.

E experiente, muito experiente.

Estreou-se com 29 anos no Senado, uma casa composta quase por definição por cabelos brancos ou mensalmente pintados e por lá trabalhou de 1966 até 2009, quando se tornou vice-presidente dos EUA (2009/2017). Esteve 8 anos no Comité  Judicial do Senado. Esteve 12 anos no Comité de Política Externa do Senado - um painel legislativo e conselheiro permanente  estabelecido pelo Congresso e pelo Senado e o único com poderes para delinear e deliberar tratados e outras formas de lei;  em ambos os casos presidiu ou foi líder de grupo, consoante o partido democrático estivesse em maioria ou minoria. Tem uma experiência diplomática incomparável e lidou com alguns dos mais difíceis líders e conflitos mundiais.

Tomá-lo por parvo será muitas vezes um dos maiores favores que lhe serão feitos e meio caminho andado para levar a sua avante. Se se concorda ou não com o que ele  pretende é outra questão mas não o subestimemos, Joe é um tipo esperto e perseverante tocando as raias da teimosia com um ar ingénuo.


No meu post de há 5 dias, «Nancy e os "chips", que fique claro» versava sobre as razões que levaram Nancy Pelosi a Tawain; obviamente não vou voltar ao assunto, está mesmo aí abaixo e bem claro. Há 5 dias dizia eu da vital importância dos "chips", dos semicondutores. Quando digo vital estou a ser literal: no mundo de hoje, e de amanhã, é uma questão de vida ou morte

Pois bem, Nanci deixou Taiwan, e as visitas à TSMC, na passada quarta-feira dia 3;  
Esta terça-feira, 9, Biden assinou o “CHIPS and Science Act”.
A lei que dedica quase 53 mil milhões de dólares ao investimento, produção e desenvolvimento de pesquisa de semicondutores e 200 mil milhões de dólares averbados nos próximos 10 anos. Mais... Passou a ser proibida a exportação para a China de material e equipamentos para o fabrico de chips de 14 nm, dificultando drasticamente a vida à principal fábrica de chips chinesa, a SMIC, assim como às fábricas em solo chinês da TSMC, o "monstro" dos semicondutores nascido e radicado em Taiwan"
Entretanto para 2025 está programada uma total reviravolta do tipo de chips a invadirem o mercado: passarão a ser de 2nm, com uma potência avassaladora, produzidos pela TSMC e, tudo indica, pela Samsung, ambas actualmente a investir fortemente em solo norte-americano

Os chineses não gostaram... Segundo o porta-voz dos Negócios Estrageiros a China considera a nova lei :
«Uma ameaça ao comércio e um ataque aos negócios chineses». 
« Vai interromper o comércio internacional e distorcer as cadeias globais de fornecimento de semicondutores» 
E... «A China opõe-se firmemente»



Mr President, 
I drink to that

Well done Joe !

NANCY E OS CHIPS, QUE FIQUE CLARO

 Ah e tal, a Nancy Pelosi pode ter uma posição muito digna na defesa dos direitos humanos contra a China, no apoio da democracia independente em Taiwan, mas não precisava de ter ido provocar o governo chinês teimando numa visita à próspera e liberal ilha que tanto lhes provoca o apetite. 

Muito menos numa altura destas... Que teimosia!
Sim numa altura em que o poder militar ocidental está a braços com a defesa da Ucrânia, dos países bálticos, das vizinhanças ameaçadas e das ameaças que não estão nas vizinhanças. 
Hoje em dia já nada é longe.
E a crise económica. E energética. E a recuperação pós-pandémica. E...

Não venho aqui defender a Nancy, nem ela precisa. Aliás a verdade é que não é senhora de fazer grandes démarches em sua defesa, quando não engole o discurso rasga-o publicamente e vai tranquilamente à sua vida, como é sabido.

Venho aqui porque já me enjoa o discurso de "colocou em risco um equilíbrio instável" ou, como é afirmado num lamentável artigo no "Expresso", "Taiwan, China, Estados Unidos – e o risco crescente de uma guerra mundial depois da visita de Pelosi". Tenham medo, tenham muito medo!!!

Não basta olhar para a cenografia, é preciso pensar, conjugar factos e relaciona-los em profundidade; a cenografia é conversa necessária e jogo de bastidores com as peças que devem vir a público. 
Faz hoje, dia 5, exactamente três semanas que, no Fórum de Segurança de Aspen, EUA , William Burns, o director da CIA, disse que a tentativa de tomada de Taiwan pela China não é uma questão de "se" mas de "quando e como". 

Richard Moore, director do MI6, disse a quem quis ouvir nesse mesmo Fórum que a China é a preocupação nº 1 dos serviços
secretos britânicos e acrescentou que é fundamental, para travar um conflito armado em Taiwan entre o Ocidente e a China, que as democracias liberais explicitem sem margem para dúvidas as consequências de tal acção: «É importante que o Presidente Xi, quando faz cálculos sobre o que poderá ou não fazer em relação a Taiwan, olhe para o que pode correr mal se ordenar uma invasão mal calculada. É importante que o lembremos desses riscos».

Deixemos claro que quando decorreu o Fórum de Segurança em Aspen ninguém tinha ainda falado na visita de Nancy Pelosi a Taiwan; deixemos claro que, obviamente, há três semanas essa visita estava já programada e a ser tratada de todos os pontos de vista e mais alguns. 
Deixemos claro que a situação de tensão do ocidente com a China não foi, in any way, shape or form, para usar uma expressão idiomática esclarecedora, despoletada pela visita da presidente do Congresso norte-americano. Quando perguntaram ao presidente dos EUA sobre os riscos da viagem de Nancy ele driblou a resposta dizendo que os militares "não acham uma boa ideia". Reconheceu riscos, não rejeitou a situação e, não se envolvendo, não mexeu uma palha para tentar travar a viagem, que obviamente era fundamental - por mais que os media tenham tentado plantar uma intrigalhada. Deixemos claro.

Deixemos claro também que quando do sua recente viagem ao Japão Biden não se escusou a afirmar que: «Em caso de agressão chinesa os EUA estão dispostos a defender militarmente Taiwan»

Não é preciso ter acesso às informações da CIA ou do MI6 para se ter a noção de que qualquer relação empresarial - meramente comercial ou de produção - com chineses é uma relação com o governo da China, sem tirar nem pôr. A grande invasão chinesa é económica e tecnológica, os chineses não são russos... E também ainda não deixaram cair a Rússia mesmo que não a tragam ao colo...
 
Então e o que foi Nancy Pelosi fazer a Taiwan?

Foi afirmar o apoio dos EUA? Foi
Foi marcar uma posição de defrontação com a China? Foi
(Defrontar é antónimo de recuar, que fique claro)
Foi a bem das democracias e dos Direitos Humanos? Também foi. 
Xi não lhe acha graça como não achou quando ela se manifestou contra a repressão e pelos direitos humanos na China após Tiananmen

E pronto? 
Não, nem perto.

E visto de mais perto?

TSMC - Taiwan Semiconductor Manufacturing Company

A TSMC detém o domínio global do fabrico e exportação de semicondutores, simplificando, chips.
Os chips são actualmente a espinha dorsal E O CÉREBRO da sociedade; todos os computadores, todos os aparelhos electrónicos têm um, toda a inteligência artificial depende deles, ou seja, da economia, aos militares, da saúde à comunicação, etc., etc., etc., está tudo "chipado".
Se há coisa que a guerra da Rússia com a Ucrânia pôs em evidência é que uma das maiores consequências dos embargos à Rússia foi a repercussão da falta de acesso a chips na degradação do armamento; os russos estão a usar chips de máquinas de lavar roupa e loiça em material bélico de artilharia e não só.

Não quero, nem vale a pena, alargar-me sobre o assunto, há uns excelente artigo sobre Taiwan, Chips e Geopolítica para o qual deixo AQUI o link; embora tenha sido escrito no final de 2020 é do melhor que se publicou sobre o assunto. 
A TSMC é a fornecedora exclusiva para IPhone, computadores Mac e vá-se lá imaginar mais o quê... Está a construir uma fábrica  no Arizona - um investimento de 12 biliões de dólares - projectada para estar a produzir em pleno em 2024. A Samsung, sul-coreana, está a criar uma "cidade-fábrica" no Texas - um investimento de 17 biliões de dólares - para estar a funcionar em 2026 

Sim a Nancy visitou a TSMC em Taiwan. 
Sim a Nancy foi à Coreia do Sul; 
Sim a coreana Samsung usa semicondutores da TSMC .

Deixemos a Nancy em paz, ela está a fazer-nos um enorme favor (a menos que tenhamos os olhos em bico ou desejemos ter)

Ficou claro?