PORQUE NÃO GOSTO QUE ME MINTAM

Desde há anos, mais de dez, que, em regra não vejo Telejornais. Ao contrário do que possa parecer, mesmo a aqueles que me conhecem mais de perto, nem sequer é para me proteger do desenfreado vómito diário de desgraça, miséria, violência e desumanidade que assombra pela terra; esse não consigo ignorar sentindo-me muitas vezes imersa em sentimentos nada saudáveis e, pior, desprovidos de qualquer consequência em prol do alívio da vergonha. A visão de crianças sofrendo em cenários arquitectados pela ira dos Homens deixa-me literalmente nauseada, sem saber se devo ou não combater as lágrimas que se afiguram absolutamente ridículas de tão efémeras. Ainda que os rostos que personificam a injustiça me apareçam durante aquela fase de sonolência, quando as nossas muralhas racionais fraquejam perante a mágica alquimia da almofada, a verdade é que no dia seguinte estarei mais preocupada com um qualquer problema profissional ou com o salto do meu sapato que ameaça partir-se do que com o destino que se desenrola nos cenários de terror que me levaram às lágrimas.

Consola-me, pouco, a noção de não tentar fazer o “corpo à curva” da hipocrisia; sigo passando ao lado ciente de que faço de conta que não me diz respeito, fortalecendo a minha profunda admiração pelas “Madres Teresas” deste mundo.

Se resolvi deixar de ver Telejornais, e de práticas análogas que englobam a imprensa jornaleira, os debates políticos e os comentadores (que chegam a ser hilariantes de tão convencidos e convincentes nas suas doutas opiniões) foi PORQUE NÃO GOSTO QUE ME MINTAM

Irrita-me a predisposição ao engano com que são aceites as versões oficiais do quotidiano, e do passado, e do futuro, em particular da grande política internacional (e, consequentemente, das politiquices da soberania nacional, como se quem mandasse, de facto, no burgo fosse o burguês…). Parece-me que uma grande parte dos habitantes do planeta sabe que estamos perante histórias, melhor ou pior contadas, que se destinam a ocultar o ocultável, a dissimular e justificar o mais óbvio, fornecendo versões “papáveis” em maior ou menor grau. São engendradas acções e decisões que preenchem toda uma paleta de tonalidades subtis, que vão da sacanice pura e dura ao preocupado paternalismo de quem assume a pesada responsabilidade de velar pelos povos incapazes, coitadinhos, passando pelo larguíssimo espectro dos interesses pessoais, íntimos, inconfessáveis.
Revolta-me o lodaçal fétido em que se fundeia a maior parte da informação que chega à população da Terra – com a qual se escreve a História Mundial que, cada vez mais, se tem vindo a tornar numa versão aprofundada do que é veiculado pelos media, apenas beliscada aqui e ali por algumas verdades incómodas e teimosas – como se aqueles que estão na posse dos factos , ocultados e transformados, fossem extra-terrestres superiormente evoluídos nas suas capacidades impossíveis de serem apreendidas pelo “homunculus vulgaris”.
(Aliás basta atentar sobre a paz e a sabedoria que paira no planeta para aferir as superiores capacidades dos Senhores do Mundo que tanto nos defendem das verdades para as quais não estamos preparados… como se alguém pudesse estar preparado para a crueldade vigente.)

Não pretendo convencer seja quem for, nem a mim mesma, de que esta atitude é correcta, provavelmente não é. É uma opção que não corresponde a “ enterrar a cabeça na areia” mas prefiro que "não me digam" a que me mintam e, de um modo geral, tenho a liberdade de não ouvir, de carregar no botão, de mudar o canal para um outro em que os nobres leões esfacelam as elegantes gazelas não ocultando o sangue nas bocas e nas patas, nem se ouve a “voz off” dizendo que a culpa é da gazela que invadiu o território do leão…zinho .

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3 comentários:

  1. Olá Alex e Luis Ricardo!
    Boa ideia esta do blog, para mostrares que ainda estás viva a quem não sabe de ti há anos... :D
    Eu sou tão totó que nem sabia que podiam existir blogs «fechados», só conhecia os 'normais' onde a nossa defesa é ir usando um nick.
    Agora vou começando a passar por cá para saber como vais e o que pensas deste mundo à nossa volta.
    Saudades.
    ( Emiele = M. Leonor, OK?)

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  2. Ora...
    pois.
    E tenho a sorte de não saber o que tu sabes.

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