"MES AMIS, MES AMOURS, MES EMMERDES"







No dia 17 de Junho deste ano, um “ancien eléve du Lycée Français Charles Lepierre de Lisbonne” estava ao telefone com uma “ancienne”, em amena cavaqueira de “olá, como vais” quando lhe passou pela cabeça, provavelmente inspirado por algum Espírito Luminoso, dizer-lhe assim: “Oh Cristina, tu é que eras menina para fazer isto assim, assim..." ou seja, um WebRing*.

A Cristina, mulher de armas, empreendedora, e luminosamente inteligente, foi à net cuscar ninhos de WebRings. Encontrou, arregaçou as mangas e nessa mesma tarde, lançou o site Anciens du Lycee Francais de Lisbonne.
Isto feito, enviou convites de adesão a cerca de quatro dezenas de antigos alunos. A progressão foi geométrica, os convidados começaram a convidar e o efeito “bola de neve”, como diz a Cristina, foi colossal.

Recebi o meu convite nos primeiros dias de Julho e quando cheguei ao site já fui encontrar muitos colegas e “amigos de calções”.

Sendo um tanto avessa a “grupos”, devagarinho comecei a sentir-me em casa… Passei a frequentar o site, as páginas pessoais dos colegas com os “olás” e os mais variados comentários vindos de todos os cantos, e ainda o divertidíssimo, e caótico, chat privado, numa base praticamente diária, o que francamente me espanta, é das tais que “se me dissessem não acreditaria”.

Considerando que Agosto é normalmente um mês fraco para o desenvolvimento de iniciativas, à excepção das turísticas e de lazer, claro está, a verdade é que nos primeiros dias de Setembro o número de antigos alunos inscritos e, na sua larga maioria, em participação/comunicação activa, atingia a bonita cifra de 2000.
Marcaram-se encontros, copos, almoços e jantares, formaram-se grupos temáticos, repescaram-se músicas e amigos. O site reúne hoje mais de 2770 fotos publicadas e está, crescendo, tendo já ultrapassado os 2500 membros.
É absolutamente espantoso! Um fenómeno, como alguém lhe chamou.

Na sexta-feira passada, 26 de Setembro, tivemos o nosso primeiro grande jantar, na antiga FIL de Lisboa, completamente cheia.
Do ambiente vivido pouco posso dizer porque não é verbalizável.

A partir de certa altura da vida, que creio se prenderá com a maturidade, mesmo para os sociáveis e extrovertidos, passa a ser mais complicado fazer Amigos.
No entanto (e esta é uma experiência difícil de concretizar em larga escala), aqueles que participaram da nossa intimidade, do nosso dia a dia em crianças e adolescentes, aqueles que riram e choraram connosco, aqueles com quem conversamos e nos zangamos e com quem fizemos as pazes, os que aprenderam e brincaram, namoraram e tiveram os seus rituais de passagem connosco, numa palavra, aqueles que cresceram connosco, permanecem em nós, na sua maior parte adormecidos num esquecimento aparentemente definitivo.
Ah, mas surpresa!!! Podem acordar de repente como se tivessem sempre estado presentes – a verdade é que estiveram, mas nós não sabíamos.

Foi esta a experiência partilhada por todos aqueles com quem falei durante o jantar ou que, mais tarde, deixaram as suas mensagem no site. A facilidade e naturalidade com que se reataram relações não me espantou; espanta-me sim o florescimento de total empatia, e até ternura da mais autêntica, entre pessoas que se conheceram no seu dia a dia pouco mais do que de vista, ou ainda, nunca se tendo conhecido devido a uma maior diferença de idades, que pode abranger várias décadas, de repente deram consigo partilhando a maior alegria de encontro, como se se tivessem Conhecido desde sempre.
Tal como a família, este conjunto de pessoas não se escolheu entre si, independentemente das relações de amizade “ça c’est toute une autre histoire”, com ou sem consciência disso existe entre elas um laço permanente e muitíssimo profundo.

Para isto terão contribuído pelo menos dois aspectos importantes:
- Primeiro o facto de o LFCL ser um estabelecimento de ensino privado, propriedade do Estado Francês, inteiramente misto (dentro e fora das salas de aula), leccionando programas académicos, e pedagógicos, próprios, que não estiveram sujeitos quer ao pré quer ao pós 25 de Abril; constituiu uma espécie de oásis pedagógico (para o melhor ou o pior, não é essa a questão) onde se podiam encontrar livros que eram proibidos, ou censurados, nas livrarias, onde se falava de tudo e mais alguma coisa, na condição de se Pensar no que e sobre o que se dizia. Isto, obviamente, produziu mentalidades muito especificas nas suas características e múltiplas na sua variedade, produtos de uma liberdade disciplinada (ah oui, la discipline!), de uma cultura diferente, gerando passoas que naturalmente se inter-reconheciam, e reconhecem, apesar do passar dos muitos ou poucos anos sobre o dia em que deixamos o Lycée.

- Em segundo lugar há que ter em consideração que o “Lycée” sempre aglomerou alunos de todas as idades, desde o jardim-de-infância até ao final dos estudos secundários. Estes alunos, em sua majoríssima parte, estiveram ali durante toda a sua vida académica pré universitária, correspondendo a uma média de 12 a 14 anos. São os anos mais importantes de qualquer pessoa em termos de formação da personalidade; são muitíssimas experiências e sentimentos. É a partilha natural, involuntária da vida, é a intimidade no seu estado mais puro e “descomplicado”.
Este contacto prolongado, que se pode considerar multi-geracional, não pode deixar de criar em nós um sentimento de pertença, com tudo o que isso acarreta psicologicamente, afectivamente.
Agora, os frutos estão aí, nascidos de uma árvore fértil plantada em terreno bem arado e arejado. São frutos doces de maduros; o acre que por vezes se desprende do verde já lá vai e algum que tenha ficado, na saudade dos que partiram primeiro, por exemplo, é amaciado pelas memórias partilhadas.
E o melhor, esta explosão associativa não passa pelo orgulho nem pelo saudosismo, não é a saudade do Lycée nem a cagança do Lycée.
É uma explosão emocional, é a felicidade do (re)encontro, essa de que tanto ouvimos falar e que raramente vivemos, sem dramas.



About Anciens du Lycee Francais de Lisbonne
Finalmente um site informal e nada "sério" para os Ex-Liceu Francês!!!

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3 comentários:

  1. Um post que é uma história completa e um manancial de recordações...
    Eu não andei lá.
    Mas é curioso que os amigos que tenho que por lá passaram ficaram profundamente marcados. Devia existir «qualquer coisa» naquele ambiente que nunca passa completamente.
    Vou divulgar apesar de pensar que nem será preciso, dado a velocidade com que dizes que foi difundido.

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  2. Olá Alex,
    muitos parabéns pelo teu texto no teu blog sobre este nosso "fenómeno"!
    Desta vez acho que não conseguimos esboçar qualquer discordância ou saudável divergência... A tua análise está cent-pour-cent certa! Um grande abraço Amiga!

    A.P.M.

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  3. Que beleza o texto sobre o aelfcl que você incluiu no blog. Parece inacreditável o que este site vem proporcionando a todos nós.
    Beijos.
    Miami, 3:44 da manhã do sábado, 4/10).

    Luis Galvão

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