DO FARAÓ A PÉRICLES?

Ontem disse aqui que não ia falar do que se passa no Cairo; e não vou.
Disse que nós, comuns cidadãos do mundo, não sabemos "da missa a metade".

Hoje acrescento que quem está presidindo à "missa" é o povo egípcio, pelo menos o da capital, mas não sabemos sequer quem inspira "a missa", quem movimenta as massas, quem acendeu o rastilho.
A política autocrática de Mubarak?
É possível, é provável... Mas não creio que seja só isso, o Egipto não é Europa... A sua tradição político-social funda-se no Faraó-Deus, não existem as raízes gregas do Século de Péricles - Demos Cracia é para os egípcios algo mais longínquo do que para nós europeus o american way of life.
A revolta da pobreza, da miséria, poderá ser um sentimento humano universal. Talvez, não sei, veja-se a Índia...
A revolta pelos valores da Liberdade Democrática é enraizadamente ocidental.


O povo egípcio não tem o comando no seu país, verdade, mas quem tem, neste momento, o comando do povo egípcio? Ninguém? Duvido...

Caiu-me sob os olhos um pequeno texto do Francisco Sarsfield Cabral do qual deixei cair a introdução e deixo-vos o miolo. A mim fez-me pensar...
Foto TIME

«Em 1978 o presidente do Egipto Sadat e o primeiro-ministro israelita Begin assinaram um acordo de paz, mediado por J. Carter, presidente americano. Sadat foi assassinado três anos depois por um extremista islâmico. Sucedeu-lhe Mubarak, seu vice-presidente, que até hoje manteve a paz com Israel. Daí que o presidente israelita Shimon Peres tenha manifestado apoio a Mubarak na actual crise egípcia.
Estes factos levam a olhar com prudência a eventual transição democrática no Egipto. Para já, é positivo que os islâmicos radicais não estejam na linha da frente da revolta. Mas daqui a algum tempo…»
Sarsfield Cabral, "Página 1", 2 Fev.

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