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Tenho-me confrontado variadíssimas vezes com perguntas e opiniões de amigos sobre a minha resistência, mais do que resistência, rejeição, à publicação de dados pessoais, inclusive fotografias, nas redes sociais - concretamente no Facebook.
Face ao à-vontade com que vejo gente normal e ajuizada publicar fotos suas, dos seus filhos, das suas casas, vezes chego a perguntar-me se serei paranoica...
Não sou uma pessoa desconfiada, nem sequer particularmente cuidadosa com o que digo, mas há alguns aspectos em que vida me ensinou a não ser tão confiante quanto a minha personalidade aberta e comunicativa me levaria a ser; e estranho a facilidade com que as pessoas acreditam na segurança e na confidêncialidade.

Há tempos fui a um jantar de antigos colegas de liceu; tiraram-se inúmeras fotografias que vieram a ser partilhadas nas respectivas páginas do Facebook. Compreende-se perfeitamente: foi a partilha de momentos agradáveis passados entre ex-colegas que, na sua maior parte, cresceram juntos - amigos de calções. Inevitavelmente lá apareci numas quantas... Ninguém morre por isso, pensei. A questão não é essa, a questão é que de alguma forma estava a prevaricar relativamente a uma decisão que tomei. Acabei apenas por retirar as "etiquetas" com o meu nome que identificavam as fotos numa atitude talvez lida como antipática, presumida ou paranoica. Espero que não mas paciência.

"Toda a gente põe fotos no facebook, qual é o mal?"
Mal? Nenhum.
Infelizmente não vivemos num mundo de gente normal em que o "mal" é coisa do "além".
A ideia de que «Informação é poder» é distorcida e retorcida das formas mais maliciosas e inimagináveis para o comum dos mortais que vivem o seu dia a dia corriqueiramente.
Se há situação que faço o possível por evitar é dizer "nunca me passou pela cabeça que...". Não é uma atitude doentia de desconfiança permanente, é apenas tentar não ser inconsequente, ter uma noção racional - não medrosa ou doentia - das repercussões que actos inocentes, mas descuidados, poderão ter.

 Frequentemente fico de pasmada com algumas fotos que vejo no Facebook, em especial quando se trata de crianças e adolescentes. E, conjuntamente com estas fotos, a quantidade de informação disponibilizada.

Há cerca de um ano resolvi fazer uma pequena experiência com um caso concreto que me é afectivamente próximo mas com o qual não interfiro minimamente.
Peguei num papel e numa caneta e comecei a anotar toda a informação que encontrei na página de uma adolescente muito giraça, naquela idade em que nos dá para estar em comunicação diária ( se não horária) com amigos e colegas com quem vivemos o nosso dia a dia.

Nada na página daquela rapariguinha leva a pensar que busque sarilhos nem sequer que se esteja "nas tintas" para a discrição.
Publicava as fotografias de que mais gostava - claro, qual é a miúda que não gosta de se ver, e que a vejam, bonita? - em algumas só, noutras com amigos, algumas em fato de banho - as férias e os dias de sol são irresistíveis - algumas em casa outras na escola ou nos locais onde se encontra com os amigos.
As fotos de casa davam uma ideia aproximada do nível social dos seus habitantes, como é evidente. As da casa, do telemóvel em cima da mesa, as bijutarias, roupas, relógios, férias, óculos de sol, locais frequentados, aspecto dos amigos, etc. Enfim, um bloco informativo ali mesmo para quem o quisesse ler...

Em poucos minutos eu sabia o nome completo da menina, a zona onde vivia, o seu nível sócio-económico, quando nasceu, onde estudava, onde costumava ir e mais ou menos a que horas, o nome dos melhores amigos, dos irmãos e dos pais, onde estudam os irmãos, quem eram amigos dos pais, onde passou férias - inclusivamente a rua e o prédio do apartamento de férias, de que tipo de roupas, músicas e locais gostava, os animais de estimação, o e-mail...
E mais umas série de coisas interessantes, mais do que as suficientes para iniciar uma conversa de rua ou de café que facilmente levaria a um relacionamento simpático, colhidas de trocas de comentários sobre os mais diversos assuntos entre esta menina e os seus amigos.
Em poucos minutos sabia eu e mais os perto de 800 amigos ( !!!!) que tinham acesso à sua página "reservada" ; 800 mais os amigos dos amigos que passassem lá por casa à hora em que os amigos visionavam a página desta rapariguinha.

Assustador? Não? Eu acho que sim.

Já tinha abordado AQUI no Blog esta questão da insegurança na Internet, não falando do Facebook  (e outras redes como o Twitter, o Hi-five, etc.) mas sobre a passagem de informações em chats, mesmo nos ditos "privados", e na altura publiquei uma história real bem elucidativa.

Sobre este assunto, a título de diversão e de chamada de atenção vale a pena ver este imaginativo vídeo






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