E O REICH QUE O PARTA, NÃO?

 Seguir o que o Bode Maligno vai dizendo nas suas tiradas de campanha é uma espécie de exercício masoquista com que testo a minha capacidade de ouvir,  o mais calmamente que me é possível, não só aquilo de  que discordo mas até aquilo que me dá asco e uma crescente angustia; no entanto é importante... No meio das exaustivas inflamações diárias - é raro o dia em que o Bode não diz que ganhou em 2020 seguindo-se a parafernália costumeira -   vai dizendo o que lhe vai na alma nos neurónios enraivecidos, vai confessando as suas torpes intenções, os seus projectos presidenciais mais abjectos e absurdos. No que toca a isto é melhor leva-lo a sério, já demonstrou que não é só conversa de campanha.

Ontem publicou na sua rede social, a desvalida "Truth Social", um vídeo que apresenta hipotéticos artigos de jornal sobre a sua hipotética vitória nas próximas presidenciais; o tema? "Trump Wins.What's next for America". E o que há em seguida para a América? A criação de um Reich unificado. Isso mesmo, sem tirar nem pôr, não há cá Estados federados com a mania de que mandam e podem votar, eleger,  de forma oposta ao que ele quer, uma América unificada regida pela sua imperial vontade é que é "Great Again". Mais. Admito a pretensão a uma dinastia Trump mas isso ele (ainda) não diz, digo eu.

Where Trump's 'Unified Reich' Reference Came From (newsweek.com)

Contactada Karoline Leavitt, porta-voz da campanha, pela AP, CNN, Newsweek, entre outros,  toca a sacudir a água do capote:

 "Não não, não fomos nós, foi um vídeo criado on linerepostado por um funcionário da campanha  que obviamente não viu a palavra (Reich) quando o presidente estava no tribunal"

Pois, não viu a palavra. Não viu sequer a frase inteira: " "industrial strength significantly increased driven by the creation of a unified reich". Um funcionário muito  desatento ao publicar um vídeo na página pessoal do patrão. Foi de tal maneira "por erro" que o vídeo esteve na página do Bode durante toda a segunda-feira  e, depois de todo o sururu que deu nos media, internacionais inclusive, acabou por ser retirado durante a tarde de terça. Atitude inócua, já está copiado e republicado por tudo quanto é seguidor do culto ao Bode Maligno e dado o recado de modus operandi à sua família política 

Por que é que isto é grave, por que vale o tempo de ser abordado?

Por duas razões:

Primeiro porque deve ser tomado como um aviso, uma declaração de intenções subreptícia caramelizada em 30 segundos de campanha eleitoral 

Segundo porque cada vez que uma enormidade destas é olhada como "mais uma", como um "faz parte, ele é assim", avança-se mais um degrau na ascensão da normalização desta retórica 

Isto não é normal, não pode ser tomado displicentemente como normalizado, é contra todas as normas de respeito pela dignidade humana.
E não permanece onde nasce, como está provado à saciedade, espalha-se como um vírus de desvaire pelo mundo 



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