O PONTO DE NÃO RETORNO


O Ponto de Não Retorno é uma expressão usada habitualmente em aeronáutica para designar um ponto, num trajecto, a partir do qual já não é possível voltar para trás, normalmente por falta de combustível; É usado metaforicamente para identificar uma situação ou comportamento em que foi atingido um ponto cujas consequências não podem já ser prevenidas ou evitadas

Ou seja...

Toda e qualquer tentativa de alterar um destino para o qual se converge só tem hipóteses de êxito se tomada antes de ser atingido o Ponto de Não Retorno.

Em linguagem muito simples: Se não desejarmos chegar após o anoitecer a um lugar que fica a 1h de caminho teremos se iniciar a caminhada pelo menos 1h antes do anoitecer

Neste momento começa a fazer-se tarde... A noite anuncia-se, a escuridão pressente-se

«O secretário de Estado, Antony Blinken, passou os últimos três dias - à margem da reunião anual de líderes mundiais da Assembleia Geral da ONU, em Nova Iorque -- a procurar o apoio de outros países para o seu plano de paz regional. 

Os EUA apresentaram uma proposta de cessar-fogo entre Israel e o Hezbollah para travar a escalada do conflito no norte de Israel e no sul do Líbano, informaram esta quarta-feira as autoridades norte-americanas.

O presidente do Parlamento libanês, Nabih Berri, também referiu que estão a ser feitos "esforços sérios" para uma solução política com vista a alcançar uma trégua no confronto entre Israel e o grupo xiita libanês Hezbollah, acrescentando que "As próximas 24 horas serão decisivas para o sucesso ou fracasso destes esforços para alcançar uma solução política"» fonte - Agência Lusa 

As próximas 24 horas serão decisivas... 
As "próximas 24horas" estão passando, esta quinta-feira, dia 26/09, e o que aconteceu? Sumariamente:

O chefe do exército israelita informou que as forças armadas estão a preparar-se para uma possível incursão terrestre no Líbano. As declarações foram feitas no momento em que as FDI anunciaram a convocação de duas brigadas de reserva “para missões operacionais no sector norte”.

Israel e o Hezbollah trocaram vagas de ataques enquanto o conflito se agrava. No Líbano, e em apenas 3 dias, cerca de 90.000 pessoas tiveram de abandonar as suas casas. As forças armadas israelitas prometeram acelerar as suas operações ofensivas contra o Hezbollah sem qualquer trégua.

Os EUA, o UK e vários países da UE encontram-se a trabalhar interruptamente para ser estabelecido um acordo diplomático visando uma trégua de 21 dias na fronteira israelo-libanesa que permita o avanço de sequentes negociações e a retoma de conversações sobre um acordo de cessar-fogo em troca de reféns em Gaza.

Mas... 

Este desesperado esforço só terá sentido se houver vontade política, e pessoal, entre as partes em conflito. Se...

Enquanto o embaixador de Israel na ONU diz aos jornalistas que o seu país acolheria de bom grado um cessar-fogo e que prefere uma solução diplomática, o chefe do exército diz que os ataques israelitas no Líbano têm como objectivo preparar o terreno para a possível entrada de tropas e, dirigindo-se aos soldados, acrescentou : “As vossas botas... entrarão em território inimigo”.

"Território inimigo"? A grande maioria dos libaneses não engole o Irão nem com molho de tomate servido em salva de ouro, são eles as primeiras vítimas da sua política internacional. 

O Hezbollah tem aguardado uma "justificação" para atacar Israel para além da guerrilha fronteiriça. Hoje, pela primeira vez, atacou Tel Aviv com um míssil

Israel tem provocado o Hezbollah para além dos limites do aceitável porque Netanyahu precisa, pessoalmente, prolongar um estado de guerra e a situação em Gaza já é tão miserável que dificilmente lhe poderá assegurar a continuidade bélica

Porém...

O Hezbollah não é o Hamas... O Hezbollah é o mais potente "exército" não pertencente a um Estado
E... Não é filho mas é afilhado. Israel não tem capacidade para enfrentar o afilhado dilecto do Irão.

No sábado passado o Irão fez desfilar as suas últimas produções de armamento; nem é necessário ser "bom-entendedor" (vídeo)

Netanyahu está perfeitamente consciente de que arrastará os EUA, e não só, para uma guerra no Médio-Oriente se for desencadeada em larga escala. O Irão marca presença no Líbano, na Síria, no Iraque, no Yemen e, de alguma forma em Gaza. Obviamente que não será permitido ao Irão estender os seus tentáculos de Estado teocrático radical do Golfo Pérsico até ao Mediterrâneo sem a menor resistência pelo meio 
E depois há aquela questão entre Xiitas e Sunitas...

Começa a fazer-se tarde... A noite anuncia-se, a escuridão pressente-se.

Como se não bastasse... A cereja olha ávida para o topo do bolo

Faltam, hoje, 41 dias para que o potencial Ponto de Não Retorno se possa, ou não, transformar no Ponto de Aceleração em direcção ao abismo; 
Tendo em conta o discurso de Zelensky na Assembleia das Nações Unidas e a conversa que terá com Biden e Harris, para apresentar os seus planos de combate para vencer a Rússia, a sua visita a Trump, enquanto potencial futuro presidente dos EUA,  foi desmarcada  (talvez por Zelensky não levar os tais planos debaixo do braço vá-se lá entender por quê) ; mais... durante uma entrevista ao New York Times Zelensky disse: “A minha sensação é que Trump não sabe realmente como parar a guerra, mesmo que pense que sabe como o fazer”.   

O camarada Trump não aguentou mais não ser explicito, a versão do debate com Kamala -  o mini-video aqui - já não foi suficiente, vociferou  todo o ódio que tem trazido contido a tanto custo; ele tem de provar a Putin que merece os esforços feitos e a sua confiança:

«A Ucrânia está obliterada, com vilas e cidades que desapareceram e que nunca poderão ser reproduzidas. Temos dado biliões de dólares a um homem que se recusa a fazer um acordo. Milhões e milhões (!?!?!) de pessoas morreram,  a Ucrânia está a usar crianças e velhos, uma vez que as suas forças armadas estão a sofrer uma escassez de soldados.»

«Mas estamos presos nessa guerra a menos que eu seja presidente. Eu vou conseguir. Vou negociá-la. Eu saio. Temos de sair. Biden diz que não sairemos até ganharmos. O que é que acontece se eles (os russos) ganharem? É isso que eles fazem, lutam em guerras. Como alguém me disse no outro dia, eles venceram Hitler. Derrotaram Napoleão. É isso que eles fazem»

"But we're stuck in that war unless I'm president. I'll get it done. I'll get it negotiated. I'll get out. We got to get out. Biden says we will not leave until we win. What happens if they win? That's what they do, is they fight wars. As somebody told me the other day, they beat Hitler. They beat Napoleon. That's what they do."

Há outro Ponto, para além do de Não Retorno; enquanto este marca o momento em que um futuro se torna inevitável, há um outro que, se escolhido a tempo, revoga a inevitabilidade, altera o futuro; um que requer coragem, visão, compreensão, persistência e  é frequentemente um ponto de salvação: 

é o Ponto de Viragem.   Se no Médio-Oriente o inevitável parece ascender a cada dia, na Ucrânia o inacreditável acontece há mais de dois anos e meio. É impensável que possamos assistir à vitória de um invasor diabólico graças a um homunculo de alma vendida

Oxalá... 

Oxalá...


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