Uma das mais difíceis provas dietéticas do ano passou, almoços e jantares de colegas, de amigos de família. Reencontros, troca de prendas, quilómetros nas lojas. As “boas festas”, os e-mails, os telefonemas. O ai-esqueci-me.
Os programas especiais de natal a popularem a quase totalidade dos canais, os filmes encarnados pelo Espírito do Natal.
Pois uma destas noites natalícias estava metida na cama a saborear o meu irresistível edredão, saltitando de canal em canal, de “White Christmas” em “White Christmas”, demasiado preguiçosa, ou mesmo cansada, para me atrever pelo mundo dos livros, quando deparei com o filme, original, feito sobre o imprescindível livro de Dickens “A Christmas Carol” (Um Conto de Natal).
Este filme tem em mim o efeito que as filhós, as rabanadas, os sonhos e outras alarvidades natalícias têm nos gulosos da época, é-me deliciosamente irresistível.
Há muitos anos que o não via, e muito menos assim, na penumbra silenciosa da madrugada no meu quarto. Fui imbuída pela sua estrutura profunda, pela “moral da história” sublimada naqueles impagáveis Espíritos do Natal Passado, Presente e Futuro do desgraçado Mr. Ebenezer Scrooge.
Quando desliguei a TV e me virei para o outro lado acho que os fantasmas de Mr. Scrooge ficaram comigo. Oh, não me assombraram, nada disso, antes pelo contrário, mas é a única justificação que encontro para explicar as cataratas de pensamentos sobre “Moral natalícia” que me inundaram até adormecer sem dar por isso, e ,provavelmente, pelos sonhos noite dentro.
De manhã (ou mais ou menos manhã) acordei com duas perguntinhas a bailar em torno da cabeça, como quando ouvimos uma qualquer musiquinha parva que se instala no nosso cérebro em sarcástica desobediência a qualquer ordem de despejo. Duas perguntinhas que me acompanharam pelo duche, pelas voltas de carro, pelo silêncio do primeiro café, pelo dia todo. Duas perguntinhas não muito complicadas mas que me obrigaram a pensar, a fazer algum esforço de memória, a reconhecer (-me), a sorrir e a morder o lábio disfarçadamente.
É provável que nesta altura já estejam a perguntar-se quais serão as “duas perguntinhas” mas não tenho a certeza de que as deva dizer. Não estou a fazer mistério nem a tentar irritar-vos; é que cada um tem as Suas perguntinhas geradas na moral de uma história e, além disso, estas são perigosamente peganhentas. Ficam avisados, se continuarem a ler daqui para baixo será à vossa inteira responsabilidade.
Bem, então aqui ficam as perguntas que me deixaram os fantasmas do Natal Presente, do Natal Passado e do Natal Futuro:
“O que é que Te ofereceram, de facto, este Natal?”
Pois... e nos outros natais?
E o que é que gostavas de ter oferecido mas ficou na gaveta, na garganta, pelas intenções?
E o que ofereceste que vieste a reencontrar anos depois numa reviravolta da vida? E o que deste de ti que viste crescer, florir e dar fruto? E aquela prenda que deste ou recebeste e que fez de ti uma pessoa melhor?
E... e... e...
Então mas não eram só duas perguntinhas pouco complicadas? Ah, essas?
O que ofereceste, de facto?
Um 2009 feliz é o que vos desejo.