Quando eu era muito nova (isto é, um pouco mais nova do que hoje) interrogava-me sobre as coisas que a maior parte das pessoas muito novas se interrogam, sendo uma delas:
"Qual é a qualidade que considero fundamental numa pessoa"
Quando era muito nova pensava que era a Inteligência.
Sempre reagi à inteligência como as plantas reagem à luz: atrai-me, faz-me virar a cabeça na sua direcção; ajuda-me a crescer, a sorrir, a pensar, a aprender. Motiva-me, desperta-me, ocupa-me.
Mantenho este fascínio pela inteligência e, à medida que cresci, fui descobrindo-lhe novas e diferentes formas de se manifestar, sendo o sentido de humor e a sensibilidade duas das minhas favoritas, a criatividade uma das mais sedutoras.
Mas agora já sou um pouco menos nova e as respostas mudam - as interrogações também mas bastante menos do que as respostas.
Hoje, a qualidade que mais me seduz numa pessoa é, indubitavelmente, o Carácter, indissossiável da sua humanidade.
Obviamente que o ideal é uma pessoa inteligente E com carácter.
Nos tempos que vão correndo frequentemente se associam as manifestações de carácter com a parvoíce. Um tipo com carácter é tido por idiota, isto dentro da esquemática mental de "o mundo é dos espertos". E talvez seja...
Também me tenho perguntado se é possível alguém inteligente ter falta de carácter. Infelizmente suponho que sim, mas... Ah, grande MAS!
Muitos malandros são espertos, a maioria dos malandros são "chicos-espertos" e não serão bem malandros, são malandrecos, que enganam poucos por pouco tempo. Depois há os tipos inteligentes que têm, e sabem ter, falta de carácter. São mais cultos do que os primeiros, embora ambos padeçam de egocentrismo e de pertubações de insatisfação crónica, têm mais "conhecimentos" e até mais Conhecimento.
(E é aqui que entra o meu MAS.)
Mas Conhecimento não é Sabedoria. Aquele que é verdadeiramente, luminosamente, inteligente é Sábio, independentemente da sua cultura ou conhecimento. A Inteligência reside no cérebro ocupado por uma Alma Antiga, uma Alma que cresceu, que sentiu, que compreendeu e que adquiriu a sabedoria que lhe permite distinguir a luz das trevas, o importante do supérfluo, o Ser do Ter.
O inteligente pode odiar maquiavelicamente, pode construir rancorosas vinganças a degustar geladas e engolidas com Champagne. O sábio compreende Maquiavel e sabe por onde este peca e por onde irá ruir - O "Príncipe" do sábio está escrito no ar que respira, e para além deste.
Este mundo é dos espertos... e é bem feito, como se alguém com dois dedos de testa quisesse a responsabilidade de ser um senhor Deste Mundo.
Interessante o teu post que desencadeia muitas associações de ideias.
ResponderEliminarEu quando era nova era de uma grande intolerância para com a estupidez. Não conseguia conviver com pessoas estúpidas, e já agora quando eram demasiado ignorantes também não me dava lá muito bem... Mas era muito a arrogância da adolescência e juventude. Lembro-me de o meu pai um dia me ter dito uma coisa que me deixou a pensar durante muito tempo - que escolhia os amigos não por serem muito inteligentes ou muito cultos (essas qualidades encontrava-as nos livros, e em maior quantidade) mas pela sensibilidade, pelos seus valores humanos, pela sua proximidade consigo, por estarem disponíveis, por serem AMIGOS, coisa que nenhum livro tem.
Deu-me algum abalo.
(mas olha, ainda cá volto para dizer o que penso disto, que agora estou com pressa e tenho de sair, mas concordo contigo se calhar o Mundo é dos Espertos.
Eu não quero o Mundo, mas gostava que as pessoas fossem mais felizes.