Hoje, como quase todos os dias de trabalho, vi, li e escrevi a data diversas vezes - 9 de Junho, 9 de Junho...
De facto havia qualquer coisa cá no fundo, sob camadas de cansaço, sob a agenda mental e abafada por uma triste preocupação que me acompanhou ruminantemente ao longo do dia traduzida num feitiozinho vagamente soviético, que me dizia que o 9 de Junho se prendia com alguma coisa ou alguém... Um aniversário? "Acho que conheces alguém que faz anos hoje", murmurava uma voz muito tímida e cautelosamente à distância... Mas eu mal a ouvi, nem sequer queria ouvi-la.
Hoje foi um daqueles dias em que falei o menos possível, se possível fosse menos ainda teria falado e, sobretudo, ouvido.
9 de Junho, 9 de Junho... Ó pá, que se lixe, não sei.
Há pouco fui perguntar ao meu filho se não seriam já horas da deita. Inconsciente do perigo de provocar a fera respondeu-me, deitado na minha cama, telecomando em punho e canal Panda no écran: "Deitar-me? Mais ainda?". Eu, ainda consciente de que o rastilho me estava muito curto e o barril da pólvora muito cheio, passei por cima da gracinha e lá estabeleci um acordo fácil - temos 20 minutos até ao fim do "Quarteto Fantástico" e nem mais um minuto, um mas ou um "vou só beber água".
Eis senão quando me deparo com o telemóvel a piscar alternado entre o vermelho, de uma chamada não atendida, e o verde, correspondente a uma mensagem nova. Cheia de graça e bom feitio agarrei no dito e resmunguei: "Vou ver se te arranjo um aviso de luz amarela que ficas que nem um semáforo doido".
Vi de quem era a chamada... Hum... A esta hora... Hum... Ouvi a mensagem... Hum... Grave não deve ser... Liguei.
"Olá. Blá-blá-bla, - Então e tu? -Blá-blá-bla, pois, - Blá-blá-bla, faço anos hoje porra!"
Xiii... Eu bem sabia que havia qualquer coisa hoje... Ó pá... PARABÉNS - Ainda não é meia-noite... (glup...)
Que raio, como me fui esquecer mesmo com tanto "aviso subliminar"?
Tantas horas, tantos dias, meses, anos... Tantas conversas giras, francas, íntimas, que nos fizeram rir, pensar, sentir. E livros, e música, e disparates. (Foste o único homem que vi para lá das três da manhã - ou antes, também nunca vi - aparecer-me de longo manto de veludo vermelho varrendo a Pça. da Alegria...)
Discussões algumas. Uma das grandes, daquelas que enfurecem, que não olham a destroços seja do que for, das que põem tudo em causa e o que resiste é porque é verdade. Tantos copos, gargalhadas, lágrimas também. Perdas irremediáveis, nascimentos, apostas difíceis de tudo ou nada, com júris, com sacanas, com amigos. Segredos, apoios, e a vida que vai andando, indo, vindo, andando, correndo. A vida que nunca pára.
9 de Junho... Pois passou-me.
Fixei o olhar no horizonte do fim do mês, que este mês, neste momento, tanto me tarda. Tardam-me as férias, o sono, o descanso. Tarda-me o tempo para "ter tempo". Hoje especialmente tardava-me o fim do dia que traria consigo cinco dias seguidos em que aspiro a alguma paz.
Tanto me tarda o tempo que acabo perdendo os dias que passam na espera de dias que tenho no horizonte. Que estupidez!
Olha... Parabéns meu amigo. E obrigada pelo alerta, vou voltar a olhar para os dias que vivo, sem resignação de existir nos intervalos.
Deixo-te aqui uma "prenda", com um título irónico... mas sincero.
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Acontece muitas vezes. Fico sempre envergonhada com os meus esquecimentos, mas já tenho percebido que não acontece só a nós.
ResponderEliminarBjs.
Olá Ciranda!
ResponderEliminarPrazer em "ver-te".
Acontece aos melhores, né? Mas fico com aquele Ups no estômago, sobretudo quando após 10 minutos de conversa um amigo nos diz "Faço anos hoje".
Bem... ninguém morre disso.
Beijo para ti