A MORAL DO GORILA

Aqui há uns anos circulava pelo nosso burgo uma anedota sobre um teimoso caçador que queria matar um gorila, sumariamente:
Armado e equipado o caçador tentou e falhou. O gorila levou a mal, agarrou-o e disse-lhe:
"Tu és mau, queres fazer mal ao gorila", e pimba, sodomizou-o.

Coberto de vergonha e raiva armou-se o caçador até ao dentes e fez uma espera ao gorilão. De novo tentou e falhou, conseguindo apenas assustar a gorila e o gorilinha.
O gorila levou a mal, agarrou-o e disse-lhe:
"Tu és mau, queres fazer mal ao gorila, à minha linda gorila e ao meu gorilinha", e pimba, sodomizou-o.

O caçador possesso, jurou vingança e foi comprar armamento a Serra Leoa.
Voltou e armadilhou meia selva.
Mas de novo falhou.
E o gorila, com um ar pensativo, agarrou-o e disse-lhe:
"Ok, agora já percebi, tu não és mau... Tu és é paneleiro"


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No passado fim de semana estiveram cá em casa a jantar uns amigos. A meio do jantar alguém referiu a futura igreja de S. Francisco de Xavier, a construir no Restelo, da autoria do Arqtº Troufa Real.
Eu era única a quem a coisa tinha passado ao lado; ouvi falar disso mas desconhecia totalmente o projecto. Confessei, e volto a confessar, que no que toca ao Arqtº Troufa Real tento sempre passar ao lado. Conheço-o pessoalmente e sempre foi educadíssimo comigo, tento retribuir não comentando publicamente a sua pessoa. Adiante.

Uma das pessoas presentes aqui em casa prometeu enviar-me um ou outro "link" sobre o projecto e não pensei mais no assunto.
Hoje abri o e-mail prometido com os tais "links". Caí da tripeça!

Não discuto se a Obra é de bom ou mau gosto, se é ou não grandiosa, vanguardista ou o que se queira. Não discuto sequer se se parece com, ou é arquitectonicamente adequado a, uma igreja ou não. Cada cabeça sua sentença.

O que me fez bradar ao céus é saber que o Arqtº Troufa Real não é estúpido, nem inculto, muito pelo contrário. (Oh e ele bem sabe, ó se sabe...) O Arqtº Troufa Real é um homem que, em termos de representação e aplicação simbólica, não deixa nada ao acaso nem sequer ao mero correr da pena da estética; Não dá ponto sem nó e neste caso dá uma dúzia deles. Cada traço, cada volume e proporção tem um significado definido, racional e simbolicamente expresso.


Conhecendo sumariamente, mas com a clareza mais do que suficiente, a posição da Igreja face a determinada(s) Fraternidade(s), estando atenta às posições da Igreja face à inserção de simbolismos, e não só, de outras religiões em geral, e de algumas em particular, no seu seio, também arquitectónico, e ainda tendo em conta os estilos das igrejas mais vanguardistas - algumas que me assustam outras que me maravilham - que a Igreja tem vindo a aceitar, francamente não consigo perceber... Será que alguém acredita que aquela Nave é uma caravela dos descubrimentos?

Não percebo a ideia... da Igreja, nem da igreja, arquitecto à parte, se é que é possível.
Não percebo a escolha, não percebo a aceitação, não percebo mesmo.
Como disse acima, não está em questão a qualidade arquitectónica do projecto, nem a beleza, isso são outros quinhentos escudos, está em causa o que é que se pretende, o que é que se aceita, o que está e não está de acordo com a política da Igreja e com aquilo que pretende a simbolize, a represente materialmente.

Já a C.M.L. não me espanta, vindo dali nada me espanta.
Como é que a C.M.L., que levanta engulhos ao mais comezinho projecto de alteração de uma fachada sita num beco sem saída, licenciou uma obra de construção de enormes proporções que nada tem a ver com Lisboa e, muito menos com "aquela" Lisboa.
Ah pois, foi a caravela e as ondas do mar branquinhas...

Aqui para nós parece-me que o Arqtº Troufa Real "lhes" deu uma "g'anda volta" com a história da Diáspora portuguesa, a caravela, o Quinto Império, o Restelo e, apropriadamente, tudo ao molho e fé em Deus.
"O projecto de arquitectura baseia-se na vida do apóstolo do Oriente S. Francisco Xavier, da Índia ao Japão, e na aventura portuguesa dos Descobrimentos", explica o folheto informativo da paróquia.
Ainda bem que explicam...
As ondas do mar branquinhas (essas ainda as reconheço)
Batem n'areia docemente
Umas trazem conchinhas
As outras principalmente (rima popular)

Ah pronto, está explicado... Tudinho, principalmente.

E quanto a isto:
"Valeu a pena rezar, esperar e ter paciência", diz o padre numa "folha informativa" escrita no início do mês, na qual lembra que o arranque da construção vai exigir dos paroquianos "maior entrega, generosidade e planos para angariar o dinheiro necessário que é muito". Segundo o padre António Colimão, que na missa do último domingo já avisou que agora se vai tornar "um bom pedinchão", a primeira fase da obra vai estar pronta em 12 meses e "está orçamentada em cerca de três milhões de euros", dispondo a paróquia de "cerca de um milhão". in Público
Como diria o gorila, "eles" não são maus, o que "eles" são é parvos... Digamos assim.

Pois... mas mais uma vez não percebo. Será possível que sejam todos parvos? Que todos engulam a "camada de verniz" da história do arquitecto? Ná, não acredito, nem eu sou assim tão esperta...

Então é vanguardista, inovador, original, um acontecimento, uma viragem histórica na arquitectura religiosa e não só, um paradigma. Numa palavra, genial! (Genial e de borla, agarra antes que fuja). Será possível?

Só um aparte: a primeira coisa que me veio à cabeça quando vi a primeira foto do projecto foi a Pedra Dourada de Kyaiktiyo, em Myanmar (os budistas que me perdoem), na sua forma redonda e coberta a folha de ouro.













Essa foi a primeira e depois vieram outras.

Se a torre de 100 metros é ou não um minarete, pois pode ser que sim ou pode ser que não; lá que lembra, pois que lembra... Mas também pode lembrar o Farol de Alexandria e pretender simbolizar o que este último simbolizava, sendo que não, apenas, essa a sua simbologia última.

Não me trouxe aqui a menor indignação na defesa de uma Igreja em que não me integro nem tão pouco qualquer ataque à mesma. Não estou indignada, estou confusa, boquiaberta. Acho espantoso!

Também não vim para maldizer o projecto de Troufa Real; pessoalmente não gosto, dá-me uma, má, sensação de peças encaixadas que não se conjungam minimamente umas com as outras mas que se unem por razões que não são, de todo, as que se pretende fazer acreditar ao "bourjois". Aquilo é falso e soa a falso. É uma manta de ratalhos (mal) escondidos uns nos outros. É forçado. Não sei mesmo se não é perverso, ele saberá.
Porém o problema não é o projecto nem o arquitecto, o problema está em quem aprova e aceita.

Então ao que vim?
Vim desabafar.
Já aqui o disse por diversas vezes, sou uma apaixonada pela simbologia mas assim não.
O simbólico é inteligente e integrado; tem de fluir, ser ténue e indubitável, ser visível e invisível, só por isso é Belo. Assim não.
É forçado, já o disse, é falso, já o disse, e é deslocado, desapropriado, desrespeita o Sagrado, é profano. Desrespeita a liberdade e os bons costumes. Assim não.
Senhor arquitecto, não o reconheço...

Troufa Real está a projectar a nova capital de Angola, a "Angólia". Vá, construa a sua imortalidade temporária na terra que o viu nascer.
Não poderia deixar a velha Lisboa em paz?
Verdade seja dita, a culpa não é dele... Se ele faz merda é porque o deixam cagar onde não deve e nós portugueses, lisboetas em particular, bem merecemos.
Como o gorila, Ok, já percebi, nós gostamos é que nos caguem em cima.



"Portal gótico do Mosteiro de S. Francisco, no Porto. Atente-se no Pentalfa Sagrado, símbolo francamente Iniciático, esculpido no topo, prova cabal da Arquitectura Sagrada na qual os Monges Construtores eram Mestres exímios, bem como a sua estreita relação com a Ala Esotérica ou a dos Espirituais da Ordem Franciscana."

http://lusophia.wordpress.com/2009/07/02/a-maconaria-a-luz-da-tradicao-iniciatica-parte-i-nuno-ferreira-goncalves/


































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