25 DE ABRIL, SEMPRE? REVOLUÇÃO JÁ!



Isto das comemorações do 25 de Abril já está tal e qual como as comemorações do 1º de Dezembro, e outras.

A 1 de Dezembro temos um feriado que se destina às comemorações da Independência Nacional. Pois, mas a Independência Nacional já era.

A 1 de Dezembro, e a 25 de Abril, comemoramos acontecimentos importantes, fundamentais da nossa história, que nos marcaram, que não se extinguiram mas que são Passado; demasiadamente Passado - de Presente têm a memória, o significado e a esperança esvaíram-se como as areias do tempo.

Quanto ao 25 de Abril já lá vou...

O 1º de Dezembro...
Não pretendo dizer, não penso, que não se deva comemorar o 1º de Dezembro, longe disso;
faz bem lembrar que houve um tempo em que fomos capazes de nos levantar e resolver uma situação contra-natura que nos asfixiava e humilhava. Houve um tempo...
Pergunto-me o que comemora realmente o Estado Português a 1 de Dezembro.
Uma volta discretamente dada, de há cem anos a esta parte para varrer para debaixo da enorme alcatifa, precariamente colada ao solo, os anos que mediaram entre 1143 e 1910, aproveitando aquele marco de 1640, ultrapassado pela direita baixa e desrespeitado por todos os lados mas convenientemente mantido sem ofender ninguém.

Com o 5 de Outubro passa-se o outro tanto: comemora-se, em feriado consagrado, a implantação da república.
Cem anos depois dessa implantação comemora-se uma república corrupta, sulcada profundamente pela injustiça, criminal e social, recheada de incompetência, autoritarismo de várias espécies, promessas demagógicas, rebaldarias governativas, repressões diversas e por aí fora. Do bom que houve nada sugere que não adviria em monarquia, claro que sim, não foram consequências de regime mas fruto da evolução dos tempos, deixemo-nos de tretas.

Pessoalmente, e sei que não estou em maioria, quando chega o 5 de Outubro prefiro recordar a fundação de Portugal - se há algo a consagrar que seja o germe, a concepção que gerou Portugal, a nação individual e diferente de todas as outras o. E que foi grande, influente, aventureira, corajosa, orgulhosa, inovadora. Foi... Hoje é uma sombra preguiçosa e conivente que disfarça a vergonha na arrogância, na inconsciência, na amoralidade.

Como é óbvio há muito quem pense que não vale a pena estar a gastar um feriado com tais valores, recordações e sentimentos.
Tenho frequentemente ouvido, a propósito da não comemoração da fundação de Portugal a 5 de Outubro de 1143, já "têm" o 1º de Dezembro.
Já têm? "Têm"?
Não comento, as ilações são claras - e se acaso não forem para alguns não seriam os meus comentários que valeriam a compreensão da gravidade e consequências de tal mentalidade. Seremos, segundo creio, o único país, dito civilizado, que não consagra um dia à sua fundação substituindo-o pelos festejos da implantação, imposta, de um regime. É notável.

Ah mas também há o 10 de Junho... É o dia de Portugal... Não me gozem! O 10 de Junho, anteriormente dedicado a Camões, aquele que consagrava a língua portuguesa no mundo, foi depois partilhado com os povos de língua oficial portuguesa. Seja. Pronto, é bonito. E heis-nos chegados aos "bué", e outras aberrações, nos dicionários da língua portuguesa. Daí a este crime sem nome que é o "acordo" ortográfico foi um saltinho. "Deixa-me rir, essa história não é tua..."

Fechando a volta, porque comparo as comemorações do 25 de Abril com as comemorações do 1º de Dezembro e outras?

O 25 de Abril festeja a queda de um regime republicano ditatorial, caduco, opressivo, falso e injusto. Os militares fizeram uma revolução para devolver o poder político ao povo, pôr termo à guerra do Ultramar, fundar uma democracia, instaurar a liberdade e melhores condições de vida para todos os portugueses. Adiante.
Presentemente, apenas 37 anos depois, esta democracia balzaquiana sucumbiu aos encantos do poder pessoal sabiamente distribuído pelos amigalhaços.
A mentira caiu na rua, espalhou-se pelos quatro cantos do país e além fronteiras; a negociata prolifera, incólume e compensadora; a liberdade, enquanto direito social, sofre ciclicamente golpes sangrentos nos flancos da imprensa, da informação, da justiça, da transparência, da gestão, por todos os flancos; a liberdade, enquanto direito privado sofre de todas as maleitas que lhe advêm da degradação social e emagrece anémica privada de sustento económico - do cidadão à empresa todos sentem os seus direitos emagrecidos, se não na lei e na arrogância inegavelmente na sobrevivência, nas possibilidades, na edificação do futuro, na dignidade. O nosso futuro, o dos nossos filhos, o dos empreendimentos a que nos dedicamos consagrando-lhes vida, sonhos e sacrifícios encontram-se comprometidos.



25 de Abril sempre? Sim, claro, JÁ.

Que bom fora que aproveitando o dia se fizesse já hoje uma nova revolução para devolver a dignidade a Portugal.














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2 comentários:

  1. As heranças de carne e de sangue são as mais complicadas... É sobretudo por isso, que a situação me (nos) preocupa mais... A ver vamos se, pelo menos eles, conseguem fazer cumprir Portugal, tal como alguém já escreveu. Apesar de tudo, ainda acredito nisso!

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  2. Olhe, meu virtual amigo Laurus nobilis, não é que eu esteja "como o outro" mas a verdade é que não sei que diga, não sei que faça, não sei que pense.

    Há tempos ouvi alguém dizer (creio que foi o Nicolau Breyner mas não estou certa) que Portugal é como um filme de "suspense" série B: quando está mesmo à beira do inevitável fim dá-se aquela reviravolta impossível e safa-se tudo, outra vez.

    É difícil acreditar mas é imprescindível.

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