24 de Março de 1936 - 27 de Janeiro de 2012
O CORONEL JAIME NEVES
Jaime Nogueira Pinto
In "MAME SUMÉ" - nº60 - Junho1995
O Coronel Jaime Neves serviu no Ultramar onde adquiriu justa fama de ser um oficial corajoso, criativo e com grandes capacidades de chefia, qualidades atestadas em missões operacionais. Militar, mas também e sobretudo, homem de guerra.
O Coronel Jaime Neves
iniciou a sua carreira militar servindo na Índia Portuguesa. Em
Angola, como capitão, comandou a Companhia 365 de Caçadores Especiais.
Fez depois o curso de Comandos, também em Angola, e pertenceu à
Segunda Companhia da qual farão parte como Alferes, José Gonçalves,
Victor Ribeiro, futuros fundadores e Presidentes da Direcção da
Associação de Comandos e homens com um papel muito importante em 1975,
no 25 de Novembro.
Em Moçambique, Jaime Neves
comandou a 28ª Companhia de Comandos e, mais tarde, quando este se
constituiu, o Batalhão de Comandos de Moçambique. É precedido por este
currículo que vai, a partir do Verão de 1974, comandar o Regimento de
Comandos da Amadora, uma unidade chave e que se tornará mais
importante, à medida que as sequelas militares do PREC - indisciplina,
saneamentos políticos, promoções de aviário, manipulação ideológica
dos soldados e graduados - vão tornando as unidades militares cada vez
mais apaisanadas e por isso mesmo de pouca ou nenhuma confiança, em
termos de cumprimento da sua missão principal - a defesa da pátria, da
sua independência e da sua liberdade.
Oficial patriota, Jaime
Neves colaborou por algum tempo com o MFA, mas foi-se afastando à
medida que se acentuaram no movimento, como dominantes, as linhas de
radicalização esquerdistas e anti-nacional, através da aliança
progressiva com o PCP e de uma descolonização irresponsável e
vergonhosa, quer para os interesses portugueses quer para os
interesses das populações dos territórios então descolonizados. Já no
28 de Setembro, Jaime Neves tinha o seu pessoal pronto e preparado,
para fazer cumprir a lei. E teria sem dúvida removido as barricadas
comunistas, caso para tal tivesse recebido ordens ou instruções de
quem de direito. Que nunca chegaram.
Durante 1975, procurou fazer
do Regimento de Comandos, uma boa unidade militar, enquadrada por
oficiais e quadros com experiência militar de combate em África e com
espírito de patriotismo, lealdade e camaradagem. O que não era fácil
nesta época, em que, bem pelo contrário, algumas unidades militares se
transformaram em bandos ou clientelas partidárias armadas.
Mas conseguiu-o. Deste modo,
quando a resistência popular, iniciada no Norte do País, se foi
estendendo para o Sul, intimidando o Partido Comunista e os radicais
do MFA e fazendo-os pensar duas vezes nas hipóteses de êxito do
assalto comunista ao poder, o Regimento de Comandos funcionou como uma
ponta de lança, firme e forte, de resistência nacional, na área de
Lisboa.
Jaime Neves desempenhou um
papel fundamental ao longo do Verão de 1975, não só mantendo os
Comandos como uma força disciplinada e não tocada pelo radicalismo
subversivo, como estabelecendo, com os elementos da então criada
Associação de Comandos, uma boa articulação que vai permitir através
das duas companhias de antigos militares, "convocados", constituir uma
força experimentada que actuará, decisivamente, no 25 de Novembro.
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"Não me arrependo de nada"
Jaime
Neves foi um dos militares mais polémicos pós-25 de Abril. Conotado com
a direita, a esquerda militar nunca lhe perdoou o 25 Novembro e a sua
intervenção, essencial para pôr fim processo revolucionário. Trinta e
quatro anos depois volta à baila com a sua promoção a general. Numa
entrevista vida, recorda os momentos mais difíceis deste conturbado
período histórico.
Pelo que representou e representa para aqueles que, como eu, recordam o que se passou naqueles tempos irreais do Processo Revolucionário Eventualmente Chocante, como diria o Augusto Cid, um muito sentido «Até Sempre, General Jaime Neves!»
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