« O povo é quem mais ordena » sim, está bem, assim seja.
E que seja sempre, mesmo quando o que o povo ordenou desagrada àqueles que berram e gritam povo é quem mais ordena como se eles, ali, naquele momento, fossem O Povo ou tivessem mandato para o representar.
« O povo é quem mais ordena » em democracia, em cidadania, com urbanidade, tolerância e respeito. Respeito.
Que vão à Assembleia e cantem a "Grândola"; marcada uma posição que saiam, como manda a lei a quem perturbar, interromper ou impedir os trabalhos parlamentares. E pronto.
Andar por aí aos berros, cantando a "Grândola", o hino da Mocidade Portuguesa, um êxito do José Cid ou um faduncho-chanson do Carlos do Carmo, não ajuda, não respeita, não marca coisa alguma - é uma destabilização prepotente na tentativa de criar um "facto político" que não representa nada. Nem isso nem andar a mostrar o rabo. Não é que me choque, estou-me nas tintas, mas vem-me à ideia uma frase que uma vez ouvi a um amigo durante um almoço:
«Quando alguém puxa dos galões para mostrar a razão, não mostra a razão, mostra os galões». Pois é, cada um mostra o que tem...
José Manuel Fernandes, uma vez mais, disse, a respeito destes cantadeiros silenciadores, que se lembrou de Voltaire na sua frase: "Posso não concordar com nenhuma das palavras que você disser, mas defenderei até a morte o direito de você dizê-las.". Pois.
Disse também que ainda não se esqueceu do "Caso República".... Achei graça, eu não me lembrei de Voltaire mas lembrei-me do "Caso República" - o jornal afecto ao PS e dirigido por Raul Rego, que foi fechado em Maio de 1975 após reuniões da "comissão de trabalhadores" que disseram discordar da linha editorial do jornal.
É verdade, o jornal foi fechado à força perante os protestos da massa popular que se manifestava na rua, impedida de chegar às portas por chaimites atravessados cortando a rua.
É verdade,isto passou-se quando Portugal tinha por primeiro-ministro Vasco Gonçalves, presidindo a um governo provisório e não eleito. Não eleito na altura, nem antes, nem depois.
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José Manuel Fernandes, 20 Fev. Facebook:
Hoje lembrei-me de Voltaire. Do que ele disse: "Posso não concordar com nenhuma das palavras que você disser, mas defenderei até a morte o direito de você dizê-las." Porque encontrei, nos jornais e aqui pelo Facebook ou pelo Twitter, demasiada gente a criticar o Relvas (indivíduo que defendo há mais de um ano que deve demitir-se e que acho implicar um ónus moral para o Governo) e a esquecer-se de que aquilo que fez aquele grupo de radicais é intolerável numa democracia. Uma coisa é um protesto, outra é impedir alguém de falar. Isso é autoritarismo populista, e só lamento ter visto demasiados jornalistas - que deviam defender antes do mais a liberdade de expressão - a reportarem o caso de forma simpática. Eu ainda me lembro de como este tipo de "mobilização de massas" em "nome do povo" acabou com o velho República e expulsou a sua redacção...
E o artigo do Expresso que tanto irritou os comunistas, que publicaram esbracejos e insultos?
É muito difícil para os comunistas respeitarem aqueles que deles divergem, particularmente quando são eles o objecto da divergência
«O fascismo do "Grândola Vila Morena" »
Henrique Raposo
«Sophia de Mello Breyner cunhou uma expressão engraçada para classificar as tácticas inquisitoriais dos companheiros de estrada do PCP: o "fascismo do anti-fascismo". Esta intolerância de esquerda foi criada antes do 25 de Abril e, como é óbvio, conheceu o seu esplendor no PREC. Mas, volta e meia, a agressividade dos virtuosos reemerge. Nos últimos dias, por exemplo, têm caído alguns pinguinhos: meninos e meninas têm usado "Grândola Vila Morena" como forma de calar outras pessoas. Uma música criada para promover a liberdade de expressão foi assim transformada numa arma contra a liberdade de expressão. Os novos cantadeiros do "Grândola Vila Morena" dizem que são anti-fascistas. Bom, sobre isso nada sei, mas sei que são bons aprendizes de fascistas. Têm todas as sementes do bicho. Em primeiro lugar, revelam uma total intolerância em relação ao outro lado; há que malhar na "direita" (assim mesmo: a "direita", um bloco compacto, monolítico, desumanizado, desprezível e espezinhável).
Em segundo lugar, respiram e transpiram ódio, um ódio que escorre pelos cartazes, pelos rostos, pelas vozes. E, de forma mui fascista, esta malta tem orgulho nesse ódio. Aquilo que os define é o amor que têm pelo seu ódio, adoram odiar a "direita" ou seja lá o que for. Esta elevação do ódio à categoria de virtude é a marca do fascista, seja ele castanho ou vermelho.
Em terceiro lugar, temos a consequência lógica das duas premissas anteriores: o culto da violência. Se a "direita" é espezinhável, se não vale a pena ouvir o outro lado, se o ódio é uma virtude que confere uma legitimidade superior, então a violência é legítima e não faz mal dar uns carolos no Relvas. Aliás, só faz bem dar uns tabefes no Relvas. Para terminar, só queria dizer que gosto bastante deste PREC cantado. É que assim já não tenho de recorrer à história para explicar a profunda intolerância das extremas-esquerdas portuguesas . Agora basta-me apontar para o presente. Ela, a intolerância progressista e revolucionária, está aí, anda por aí. Até peço uma coisa: aumentem o volume da violência, continuem a mostrar que não sabem viver em democracia, que não sabem aceitar opiniões contrárias, continuem a ameaçar, continuem a ser fascistazinhos de vão de escada.»
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