COMENTÁRIOS INTELIGENTES À ENTREVISTA QUE EU NÃO VI

Excertos de um texto publicado por António José Saraiva a 8 de Abril no Sol
É bom para uma sexta-feira, ainda é a sério mas já dá vontade de rir

A LIBERDADE DE EXPRESSÃO

Sócrates atacou os que criticaram o seu regresso à TV, dizendo que o queriam calar, que pretendiam impedi-lo de se defender, que tal era antidemocrático e mostrava «o carácter dessa gente». Ele seria incapaz de fazer o mesmo a alguém.

Neste ponto da entrevista, senti um sobressalto: mas, afinal, quem pressionou a TVI para afastar Manuela Moura Guedes? Quem manobrou para pôr José Manuel Fernandes fora do Público? E Mário Crespo fora da SIC? Quem enviou Rui Pedro Soares a Madrid para comprar a TVI, em nome da PT, com vista a mudar-lhe a orientação? Quem deu instruções a Armando Vara, então administrador do BCP, para fechar o SOL?
Sócrates desencadeou uma ofensiva sem precedentes contra vários órgãos de comunicação social, e agora tem o desplante de se queixar de que não queriam deixá-lo falar? Ainda por cima, ele sabe perfeitamente que, em cima da sua secretária em Paris, há pedidos de entrevista de toda a imprensa portuguesa. Queriam amordaçá-lo? Não brinquemos com coisas sérias.


O P.R.

Mas, no ataque a Cavaco, Sócrates não se ficou por aqui (caso das escutas em Belém). Adiantou que o Presidente tinha uma atitude em relação ao seu Governo, e tem outra relativamente a este. Mas Sócrates estará bem informado do que se passa em Portugal? Onde estaria quando Cavaco pronunciou o célebre discurso de Ano Novo em que falou da «espiral recessiva»? Ou quando enviou o Orçamento para o TC com observações assassinas para o Governo de Passos Coelho sobre os cortes nas pensões?


O ERRO

... depois de negar todas as acusações que lhe têm sido feitas, esgrimindo números que ‘provam’ que ele nem governou nada mal, Sócrates reconheceu ter cometido um erro. Fez-se suspense. Ficámos todos à espera que ele fosse apontar uma medida mal pensada, algo que explicasse o facto de o país estar à beira da bancarrota quando ele saiu. Então, disse:

– Sim, cometi um erro. Se voltasse atrás, não o tinha feito. O erro foi formar um Governo
minoritário. Tive de enfrentar permanentemente um Parlamento hostil.

Afinal, o erro de Sócrates não foi bem um erro – foi um acto de coragem. Do qual ele acabou sendo a vítima. Um herói incompreendido. Quase um mártir.

(E A VÍTIMA ) . Este tom perpassou por toda a entrevista. Sócrates nunca foi um carrasco – foi sempre uma vítima. Uma vítima da oposição, que chumbou o PEC IV. Uma vítima do Presidente da República, que conspirou contra ele. Uma vítima dos mercados, que agiram com ganância e foram responsáveis pelo aumento da dívida. Uma vítima ‘dessa gente’ que o queria agora calar.


O OMITIDO

A verdade é que há demasiadas interrogações no percurso de José Sócrates. Foi a coincineração da Cova da Beira, os mamarrachos da Câmara da Guarda, o diploma da Universidade Independente, o Freeport, o Face Oculta, o Tagus Parque…
A propósito: de nada disto se falou na entrevista. 





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2 comentários:

  1. Também não vi, nem me imagino a ver alguma mas, ainda a propósito de referências que, de vez em quando falam, esta, pelo menos para mim, falou hoje...

    http://www.ionline.pt/dinheiro/adriano-moreira-defende-europa-pode-deixar-ter-voz-no-mundo

    E, entre outras coisas, afirmou algo tão simples quanto isto: “Nunca vi o país numa situação tão grave como a actual, não apenas pelas dificuldades financeiras, que são enormes, mas também pela dificuldade que há em criar uma unidade de espírito nacional, que está constantemente a ser dificultada pelos interesses partidários ou corporativos”.

    Até breve

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  2. Ainda não tinha visto e ontem (21/4), decidi ver. Juro que não vou repetir...

    A meio da entrevista, lembrei-me de um outro fragmento da crónina do António José Saraiva referida:

    "...Sócrates e Vale e Azevedo são almas gémeas. Têm personalidades muito próximas. São ambos megalómanos, perseverantes, combativos e portadores de uma energia inesgotável, acham que não fizeram nada de errado mas levam instituições à falência, têm um enorme desplante, mentem com toda a convicção (porque parecem não saber distinguir entre a verdade e a mentira) e tudo aquilo em que se metem é nebuloso..."

    Face a tanta certeza, a tando despautério, no mínimo, estamos perante um caso em que medicina deveria ter uma palavra a dizer.

    Percebo o Laurus Nobilis, mas não sei se concordo com ele. A tal "...unidade de espírito nacional..." tem de ser feita dentro do sistema. O que é necessário, é que as pessoas decentes estejam e entrem para os partidos e os mudem por dentro, para que gente deste calibre nunca consiga chegar ao poder.

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