São poucos os "Dias Históricos" que ocorrem ao longo de uma vida humana média. Por "Dias Históricos" quero significar aqueles que têm impacto na história da humanidade, que marcam uma mudança real na história do mundo, na forma como vivemos, na consciência colectiva.
Ao longo do meu meio século pessoal - consciente de estar a ignorar milhares de descobertas e actos que quotidianamente contribuem para a evolução positiva e negativa da humanidade - ocorrem-me tantos quantos poderei contar pelos dedos das mãos como:
- a construção do Muro de Berlim (1961),
- a chegada à Lua (1969 - como dia simbólico da conquista do espaço),
- a revolução iraniana (1979),
- a queda do Muro de Berlim (1989),
- o lançamento da World Wide Web (1991) como o marco do início da utilização global da Internet,
- o fim do Apartheid (1994),
- o ataque ao World Trade Center (2001)
- o Crash dos mercados (2008)
- a ocupação da Crimeia (2014) reacendendo a "guerra fria"
- ...
O que se passou hoje em Paris parece ter o "carimbo" de Dia Histórico; é ainda cedo para o afirmar categoricamente, talvez... Tratou-se de uma mise en scène. Sim, claro, mas creio que se tratou também de uma fortíssima declaração de intenções.
Switzerland's President Simonetta Sommaruga (L), Turkey's Prime Minister Ahmet Davutoglu (2ndL), Ukraine's President Petro Poroshenko (3rdL), Organization for Economic Co-operation and Development |
Obviamente que não me passa pela cabeça, creio que pela de ninguém, que o cerrar de fileiras, ombro a ombro, ocorrido hoje em Paris seja o embrião do mútuo entendimento dos diversos Estados e Instituições representados, a questão não é essa nem passa por aí.
Não pode deixar de ser significativo ver os reis da Jordânia, o presidente da autoridade palestiniana Mahmoud Abbas, o primeiro-ministro de Israel Netanyahu, na mesma fileira com os principais líders da Europa. Lamentável a ausência dos EUA, lamentável, embaixadora não chega. Punham-se problemas de segurança? Sim, muitos, graves, mas não em especial para Obama, muito pelo contrário.
Foi apenas uma questão de solidariedade política e condenação do terrorismo?
Não, não creio, essas estavam feitas, declaradas, expressas.
Estou em crer, quero crer, que se trata de uma tácita declaração de guerra à Jihad.
Creio que este dia marcará o final de determinado tipo de tolerância, o final de uma política algo mole e descuidada, o entendimento prático de que as informações relativas à detecção e combate ao terrorismo não podem ser retidas por um só "serviço de inteligência" sendo imprescindível que pertençam a uma base de dados anti-terrorista global e de que a vigilância das populações não é um atentado aos direitos humanos, é a sua defesa.
Tenho consciência de que é praticamente impossível erradicar o terrorismo, em particular o jihadismo, há demasiados tarados neste mundo, mas é provável que hoje tenha sido o dia em que a forma do mundo lidar com esta aberração mudou.
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