Creio que quase todos perdemos a conta aos atentados suicidas, muitos dos quais levados a cabo por meninas-bomba, e às incursões selvagens do Boko Haram em numerosos territórios africanos; perdemos a conta aos atentados e ao insano número de vítimas.
Thousands died in Baga Town after recent Boko Haram attack. |
Os atentados de Paris do passado dia 13 de Novembro fizeram-nos entender à saciedade que estamos perante um fenómeno de horror que não é ocasional, que não é esporádico, que não é algo com que possamos viver e ir torneando.
Fecharam-se fronteiras, declaram-se estados de emergência, levantaram caças-bombardeiro, reuniram-se consensos, articularam-se respostas operativas. Compreendeu-se que os sonhos idealistas do Espaço Schengen foram sonhados numa época que já não é, de forma alguma, aquela que estamos vivendo. Fomos brutalmente confrontados com uma realidade que ultrapassou há muito o nível do "incómodo".
Mas na quarta-feira, durante a noite de quarta para quinta-feira, quando presenciava o desenrolar de cenas de guerrilha urbana após mais um massacre colectivo, desta vez em San Bernardino, nos arredores de Los Angeles, vi-me face a um gráfico que nem nas minhas congeminações mais negras - mais assimiláveis por uma ficção cientifica de serie B do que por qualquer análise quantitativa factual - poria a hipótese de a verdade ser tão negra, de se traduzir em números tão absurdos.
Este calendário, referente apenas aos E.U.A. , não apresenta o número de vítimas em tiroteios colectivos mas sim o número de ocorrências de tiroteios colectivos por dia que vitimaram mais de 4 pessoas; ou seja, se o número de vítimas for "apenas" de 3 ou menos, essa ocorrência nem se encontra aqui registada.
Em 336 dias ocorreram 355 tiroteios colectivos que originaram mais de 4 vítimas.
Há mais tiroteios colectivos do que dias no ano.
Dia 2 de Dezembro ocorreram dois: um em Savannah, que fez 4 vítimas, outro em San Bernardino que resultou em 14 mortos e 17 feridos graves.
Quando a realidade é assim tão negra, quotidianamente, já não se vivem dias negros, vive-se nas trevas.
Vive-se nas trevas quando a ocorrência de atentados, tiroteios e mortes violentas se tornam uma rotina, quando começamos a ouvir e ver esses horrores e reagimos como se fizessem já parte da normalidade.
... Não me venham falar de extremismos religiosos: o mundo está cheio de psicopatas assassinos, raivosos, frustrados, que usam as suas pseudo-convicções religiosas como justificação para soltarem todo o ódio que abrigam, toda a incapacidade de lidarem com o mundo, com as suas pequeninas vidinhas, toda a incapacidade de se adaptarem às lutas reais e difíceis a que a vida nos obriga.
Não é uma questão de religião, é uma questão de fraqueza e ódio com a religião por álibi. A loucura e o Mal agem justificando-se em nome de Deus.
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