XEQUE AO OCIDENTE

Esta semana recebi dois e-mails, de pessoas que não se conhecem entre si, que me perguntavam por que não escrevo sobre a guerra na Síria, sobre o que se passa em Alepo.


Alepo - Foto U.N.2016
Porque o que se passa na Síria "não se passa na Síria".
Porque me doi na alma.
Porque aquele holocausto, como todos os outros, é imparável.
Porque não existe interesse político em resolver a situação por outra via que não a militar.
Porque nem sequer se pretende qualquer trégua que permita aliviar a fome, a doença, a morte, a desumanidade.

No dia 9 (passado domingo) e ontem, dia 12, foram disparados misseis cruzeiro do território do Yemen contra navios da marinha norte americana, estacionados no Mar Vermelho, pelos rebeldes Houthis, armados pelo Irão, que apoia Assad.
Estes ataques aconteceram na sequencia de um bombardeamento do Yemen feito pela Arábia Saudita, aliada dos E.U.A no combate à ISIS e namorada por Putin.
Hoje a marinha norte americana disparou mísseis Tomahawk que atingiram as origens dos ataques de que foram alvo...

Hoje a Royal Air Force recebeu ordens para evitar contacto com a aviação russa em territórios Iraquiano e Sírio no âmbito da Operação Shader - operação a decorrer nesses territórios que tem por alvo domínios da ISIS - mas recebeu também luz verde para poder abater aviões russos que assumam posições de ataque à RAF...

Ontem a CNN transmitiu a primeira parte de uma entrevista de Christiane Amanpour  a Sergey Lavrov, o M.N.E. russo, gravada esta semana.

Quando Amanpour perguntou a Lavrov se ainda acredita que possa haver uma solução diplomática para a Síria este respondeu - quase diria deixou escapar, perante o olhar de espanto da muitíssimo bem informada Amanpour - que no próximo sábado, dia 15, haverá uma reunião restrita com "os países que têm influência directa sobre o que se passa no terreno, 3 ou 4 potências regionais (Irão, Arábia Saudita, Qatar, Turquia) para uma "business-like discussion", nada do tipo "General Assembly debate" , poderá mostrar-se  "mais instrumental" do que conversações com os EUA

No passado sábado o Kremlin comunicou aos militares russos e aos funcionários do Estado que deviam repatriar as suas famílias. Os oficiais superiores foram aconselhados a vender as suas propriedades e a encerrar contas bancárias no estrangeiro.
Seguiu-se o posicionamento de mísseis com capacidade nuclear junto à fronteira com a Polónia (com capacidade para atingir Berlim).
Ontem Putin cancelou a visita a França e o seu encontro com Hollande

A Rússia revê alianças, assume posições militares provocatórias no terreno, fecha posições políticas, enviabiliza meios diplomáticos, bombardeia a bel-prazer populações e acções humanitárias, veta propostas de cessar fogo.
A Rússia quer guerra, a Síria é um mero pormenor, uma peça importante no tabuleiro de xadrez sacrificada em nome de um xeque-mate mundial
Não há sanções, diplomacias nem boa-vontade, o rei está em xeque, o rei somos todos nós.


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