A GRANDE ESCOLA DO ABSOLUTISMO

Depois de ler sobre o chumbo da proposta de isenção de IMI (hoje, aí abaixo) julguei que a minha incredulidade estaria sobejamente provocada.  Aah mas não... O incrível voltou a manifestar-se e, desta vez, não consegui reprimir uma soberba gargalhada (amarga e escandalizada).
«O Governo reúne-se no domingo em Aveiro, em Conselho de Ministros de reflexão política, para assinalar dois anos em funções, participando depois numa sessão em que os membros do executivo respondem a questões colocadas por cidadãos.../...Na sessão, também segundo o executivo, "as perguntas serão elaboradas pelos cidadãos que participam num inquérito quantitativo de avaliação ao segundo ano do Governo, organizado pela Universidade de Aveiro, sob coordenação do professor universitário Carlos Jalali*In DN- 24 Nov. 2017
*Carlos Jalali, responsável pelas perguntas,  que em Julho de 2016 dizia graçolas como esta:
"O governo virou a página do discurso da austeridade" "O Governo de António Costa conseguiu descolar a marca da austeridade da sua gestão"

Fora só isto e nada haveria a assinalar, faz parte...
Pois mas a coisa não é bem assim... Não é nada assim.

«O governo de António Costa vai pagar 36.750 euros a um grupo de 50 cidadãos, que vão participar num estudo da Universidade de Aveiro e depois irão fazer perguntar ao executivo. Cada cidadão recebe um pagamento de 200 euros, ou mais, além de ter as despesas de deslocação e alimentação asseguradas. »
Coube à empresa Aximage ... 
Ora pois claro, who else, essa, o Jorge de Sá, piparote ordinário, vão a todas... «só mesmo por “provincianismo” é que se pode criticar um estudo destes», diz o Sá...
Dizia eu,
«...coube à Aximage  a “definição técnica para a constituição de uma amostra adequada” e o “recrutamento dos participantes”, incluindo “a gestão das deslocações […] e dos actos relacionados com transporte, alojamento e refeições”, de acordo com a mesma fonte do Governo.Segundo o contrato de adjudicação directa, trata-se de uma “aquisição de serviços de recrutamento de participantes para integrar um estudo quantitativo e uma sessão pública no âmbito da iniciativa de avaliação do segundo ano em funções do XXI Governo Constitucional»  - In SOL e TVI24
Questões colocadas por cidadãos?
Sim, cidadãos serão, pagos, deslocados, alojados e alimentados para fazerem as perguntinhas que o governo quer

“definição técnica para a constituição de uma amostra adequada”
Adequada a quê? Por curiosidade, um tanto mórbida, reconheço, gostava de saber quais o parâmetros usados pela Aximage para o «recrutamento de participantes para integrar um estudo quantitativo»
Aah, mas calma, porque o "estudo" vai mesmo ser feito e, por certo, publicado com grande pompa e gaitas de foles: o estudo destina-se  à «iniciativa de avaliação do segundo ano em funções do XXI Governo Constitucional»

Pronto, escusava eu de fazer perguntas parvas... Está lá escrito com todas as letras. E eu posso dar as gargalhadas que quiser porque pago esta farsa vergonhosa; pago eu e todos nós, os pagantes.
Uma amostra adequada à avaliação do segundo ano em funções do XXI Governo Constitucional.

Vai ser bestial!!!
Assim sim, nem o camarada Maduro faria melhor, só nos falta ver estes gajos eleitos por uns 90%, estamos no bom caminho.
Já faltou mais, estes nem eleitos foram, custe a quem custar.

MAS ISTO PODE SER VERDADE?

Quando vi a notícia pensei que estava, outra vez, no reino das "fake news"; Ná, pode lá ser, é mais um título bombástico a clamar ao "click" na página para aumentar o número de visitas


Mas não. Infelizmente não. Afinal é mesmo verdade.

Estou-me nas tintas para a origem da proposta em termos partidários, a questão ultrapassa largamente qualquer defesa ou ataque partidário, a questão coloca-se ao nível de (um mínimo) de justiça, sensibilidade e solidariedade humana. Em falta!
Isto é um misto de partidarismo e pobreza envergonhada, escondida sob uma peneira. Uma indecência.

A vergonha só lhes dá para esconder a pobreza, é pena...

Após os incêndios na Madeira, no Verão de 2016, o governo dessa região autónoma decretou a isenção de IMI para todos aqueles que viram o seu património imobiliário destruído. Só isso faz sentido, tudo o resto não é tributar, é sacar à grande, doa a quem doer.


Mas isto pode ser assim? Pode e É.
Encolhe-se os ombros, soma-se e segue-se, como se fosse normal e aceitável.
E há quem aceite de bom grado, quem busque argumentos a favor para justificar o seu apoio (incondicional?) e o seu voto quando chegarmos à época.

É espantoso! Que porcaria! 

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VALE POR UNS QUANTOS IMPROPÉRIOS

Com alguma frequência recebo comentários, provocações comedidas e perguntas - normalmente retóricas - via e-mail sobre o que escrevo aqui no blog e também sobre o que não escrevo, isto é, por que é que não escrevo. 

Esta semana recebi três e-mails de diferentes pessoas que estranhavam o meu silêncio, ou dele discordavam, sobre aquela chafurdeira que vai na Catalunha. 
Vamos lá a ver se me faço entender: Não tenho nada contra a auto-determinação dos povos (é assim que é politicamente correcto dizer) mas não convém nada misturar alhos com bugalhos e muito menos metê-los no mesmo saco. Não convém por duas razões: primeiro porque é uma incontornável prova de estupidez - o que não se confunde com a divergência de opinião - e segundo porque provoca em mentes menos avisadas, influenciáveis ou com visão unilateral, uma confusão difícil de aturar.
Não há qualquer semelhança entre o referendo independentista kurdo, ainda que tendo em conta a sua rebelião contra o governo iraquiano  e o pseudo-referendo catalão. Não há qualquer semelhança na legitimidade, no universo eleitoral votante, na verdade expressa nos resultados. Não há qualquer semelhança entre um Homem como Barzani e um Peruca como Puigdemont.
Não há sequer qualquer semelhança com o que se vem passando na Escócia onde, concordemos ou não, as consultas têm sido feitas dentro da lei e seguindo o manual das boas práticas. E por aí fora...

O que se passou na Catalunha foi a usurpação de um acto eleitoral que deveria ser democrático, foi um abuso de poder - desde a incrível fita no parlamento regional a horas estrategicamente tardias até à ridícula declaração de independência passando pelo número de votantes face ao número de eleitores - que se revela não mais do que a egocêntrica vivência de uma peruca no seu sonho meio tresloucado de ficar na história como o heroi dos independentistas catalães. Puigdemont sabe perfeitamente que as coisas não podem ser assim mas está-se nas tintas, agarra-se com unhas e dentes à sua oportunidadezinha de ter um momento reluzente montando o cavalo branco. 
Querido Puigdemont, isso não é um cavalo, repara bem, isso é uma mula parda e mal amanhada da qual vais dar um trambolhão seguido de coice à retaguarda

Após estas poucas linhas de linguagem contida torna-se-me difícil manter a compostura; se começo a pensar nos confrontos civis que poderiam ter havido com consequências fatais - e que ainda não estarão fora de causa - nas razões ocultas sob uma capa libertária com objectivos inconfessáveis visando a trajectória da Europa... Nã-nã-nã, não digo mais nada senão começo a sair da linha.

Depois da trampa que fez na Catalunha o Peruca foi com o rabinho entre as pernas fazer uma tentativa de heroi vitimizado para Bruxelas mas o jogo saiu-lhe torto: não há cá estatuto de asilo político para farsantes como tu.
Entregue a si próprio restou-lhe fazer de conta que não queria asilo político, apelar às garantias de Bruxelas sobre a sua cidadania europeia - quanta ironia! - e tentar manter a face fazendo um esforço público para não fazer xi-xi pelas pernas abaixo. Que hijo!!!
Deixa vir eleições a sério a 21 de Dezembro e depois a gente fala.
Feliz Natal.

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