Está bem,.
Em primeiro lugar gosto de futebol, sobretudo das grandes competições como o Europeu e o Mundial. Não me passo dos carretos, não paro a minha vida, não tenho discussões. Vejo, emociono-me "à séria", torço e regresso à normalidade possível. Tive pena de ver "os nossos meninos" virem para casa tão cedo, achei que mereciam mais mas ganha quem marca, sejam os penalties justos ou não. Adiante.
Sei o que estranhas embora não especifiques. Queres que te adivinhe, queres ver se afinal estou atenta. Estou. E adivinho-te.
Estranhas que não tenha tecido o menor comentário ao que se está a passar nos EUA - nos EUA, como é possível? - com as quase 3000 crianças que foram separadas dos pais. Que queres que diga?
Claro que o governo federal dos EUA tem o direito de implementar a política de imigração que bem entender mas a questão não é essa.
Claro que está consagrado o estatuto de refugiado e o direito ao pedido de asilo na Constituição americana mas a questão também não é essa.
Claro que é uma violação do Direito Internacional e da Carta de Direitos Humanos da qual os EUA são signatários mas a questão até já nem é essa.
Trump implementou uma acção política para alimentar as suas bases e como meio dissuasor para os emigrantes sul-americanos. O tiro saiu-
lhe pela culatra.
Primeiro, qualquer pessoa com um mínimo de seriedade sabe que nunca seria assim que se poderia fazer uma reforma da política de emigração, para já não falar de uma reforma legislativa.
Mais uma vez, para Trump, a questão não é essa, é outra, demonstrada mas não confessada. E está-se "nas tintas", desde que caia bem para o lado dele.
Segundo, acresce que o "birras" quer construir "A Great Wall" e tem de ser antes das presidenciais de 2020. A coisa não está a correr bem, não sobram os dólares ao Congresso e muito menos ao Senado. Os Democratas são uns malandros que querem os EUA invadidos por gangs e traficantes. Há que ir satisfazendo as bases enquanto não chegam as betoneiras.
Porquê o meu silêncio?
Porque crianças não são meio de fazer política, seja por que razão for. Nunca.
O pânico e a aflição de pais não são meio de fazer política, seja por que razão for. Nunca.
Porque me recuso a fazer um ataque de cariz político utilizando uma questão tão grave e angustiante quanto esta, que ultrapassa todas as políticas, que degrada toda a ética.
"Eles que não os tragam para servirem de passaporte" não é argumento. É desumanidade, é insensibilidade, é um nojo. Argumento não.
Pior. Quando foi assinada a ordem executiva de "Zero Tolerance" não passou por aquela platinada cabeça que tivesse de a inverter subitamente.
O resultado foi o caos habitual mas desta vez recaindo sobre crianças e pais. Quantas são, onde estão, quando são entregues aos pais, tornaram-se perguntas absurdamente repetidas e não respondidas. Nos EUA? Impensável.
Que queres que diga, que comente? Não tenho nada para dizer, constato com um nó no estômago, penso no meu filho, olho-o nos olhos enquanto jantamos e sinto uma náusea. Felizmente não vivemos numa vila de gangs e traficantes na América do Sul. Não tenho nada para dizer, do mal o menos, não sou americana.
Se não te importas vou ver o futebol. À falta dos "nossos meninos" dediquei a minha atenção e boa-vontade aos súbitos de Sua Majestade. Não me estou a dar mal, hoje equipei-me a rigor e saiu-me um grande e vitorioso jogo:
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