Fez há dias 1 ano...
Reverto para o post publicado em Março de 2020 antes de regressar à lamentável e disfuncional actualidade :O 11º MANDAMENTO
«Durante a última semana de Abril de 2019 Trump reuniu com os seus principais conselheiros na Situation Room para anunciar que queria um Acordo de Paz que lhe permitisse retirar as tropas americanas do Afeganistão; Pompeo advogou a favor do chefe, claro;Bolton, que assistia à reunião desde Varsóvia por video-conferência, não queria acreditar no que ouvia....../...Não é o fim de uma guerra, o que seria desejável, é a entrega de um povo impotente e de um território além das fronteiras afegãs ao poder terrorista institucionalizado.É um crime..../...A reunião terminou deixando no ar a mediática hipótese de convidar o presidente Ashraf Ghani para ir a Washington assinar o tal Acordo de Paz. O facto de Ghani, presidente eleito, ser deixado totalmente fora das conversações com os Talibã seria, para Trump, um pormenor irrelevante, a verdade é que ficaria bem na fotografia.
Dias depois Trump teve uma ideia ainda mais sensacional que só comunicou aos seus mais escolhidos Conselheiros deixando na ignorância o "National Security Council" : Vou convidar os Talibã para virem cá, não a Washington, que já está muito visto, mas para Camp David!!! A jóia da "coroa" americana onde têm sido recebidos apenas presidentes, primeiros-ministros e reis. Sim Senhor! E mais, recebe-se a rapaziada 3 dias antes do 11 de Setembro!!!
Se a guerra do Afeganistão teve por causa primeira os ataques do "11 de Setembro", e se por lá morreram cerca de 3 500 americanos, não contando as baixas das forças aliadas, é apenas mais um um pormenor irrelevante.
Mas os Talibã não foram a Camp David. Nem a Washington. Nem assinaram acordo algum. Porquê? A oposição nos meios políticos foi maior do que Trump esperava, muitos insuspeitos membros do Partido Republicano mostraram o seus descontentamento ou até indignação. A 5 de Setembro, menos de uma semana antes da festa, os Talibã reivindicaram um ataque bombista no Afeganistão do qual resultaram 12 mortos entre os quais um americano. Desculpa vagamente careca... No espaço de uma semana esse foi o terceiro ataque bombista. (Aliás durante este mês de Fevereiro 2020 mais dois oficiais americanos foram mortos e as conversações de paz continuaram animadamente)»Foi assim, há 1 ano...
Em Fevereiro de 2020, em Doha, Qatar:
Após sete dias de compromisso por parte dos Talibã de "Redução de Violência" no território afegão estão criadas as condições para a assinatura de um "Acordo de Paz" entre os EUA e os Talibã, é quanto basta. Não, o governo do Afeganistão não tem nada com isso, não estava lá nem foi informado do teor das conversações durante o processo. .../...
Ontem, sábado 12 de Setembro - não consigo engolir esta fixação em torno do "11 de Setembro", nem tão pouco é possível engolir que seja um repetido "mero acaso" - recomeçaram as "Conversações de Paz" entre Talibã e representantes do governo Afegão, as primeiras entre entes interlocutores, todas as prévias foram entre Talibã e norte-americanos com Pompeu como cabo do seu grupo.
Um novo capítulo de uma vergonha que tem por fundo a retirada das tropas americanas que, pela vontade de Trump, seria feita ainda antes de 3 de Novembro, data das eleições presidenciais nos EUA, com ou sem "Acordo".
Prevê o "Acordo" assinado em Fevereiro passado que se este for respeitado as tropas dos EUA se retirariam 14 meses depois, ou seja em Maio de 2021. Do contingente de 13 000 americanos que estavam no Afeganistão em Fevereiro restam 8 600 e está prevista uma nova retirada até ao início de Novembro reduzindo a permanência americana para 4 500.
Entretanto 12 000 civis afegãos foram mortos desde Fevereiro. Respeitado? Uma das alíneas é a cessação total de cooperação entre Talibã e grupos terroristas, nomeadamente a al-Quaeda. Nem comento... Como não comento o facto de os guerrilheiros Talibã terem recebido prémios monetários da Rússia por cada militar americano ou britânico morto. (Trump também não comentou... E Boris Johnson estava ocupado com o virus e o Brexit - que corja!)
Nas palavras do Almirante William McRaven, comandante da Operações Especiais Conjuntas que teve a cargo o planeamento e execução do raid que executou Bin Laden:
“I’m not personally convinced that any deal with the Taliban will be worth the paper that it’s written on. If we were to pull out U.S. troops completely from Afghanistan, it would not take the Taliban more than six months to a year to come back to where they were pre-9/11.”
Não estou pessoalmente convencido de que qualquer acordo com o Talibã valerá o papel em que está escrito. Se retirássemos completamente as tropas americanas do Afeganistão, o Talibã não demoraria mais de seis meses a um ano para voltar ao ponto em que estavam antes do 11 de Setembro.
Michael Morell, sub-director da CIA durante a época desse raid, e mais tarde director interino por duas vezes, disse concordar com a opinião de McRaven e partilhar das suas preocupações acerca do "Acordo de Paz":
"If U.S. and coalition troops withdrew from Afghanistan, and then the United States ended financial support to the Afghan government, my assessment is that the Taliban would take over the country again in a matter of months. In addition, despite the terms of the peace deal that explicitly forbid it, my assessment is that they would provide safe haven to al-Qaida.The United States would have to figure out how to collect Intelligence on what was happening in Afghanistan, with a particular focus on whether al-Qaida had reestablished itself there and was preparing any attacks on the U.S. and to find a way militarily to reach in there and deal with that problem”
Se as tropas dos EUA e da coligação se retirassem do Afeganistão e os Estados Unidos encerrassem o apoio financeiro ao governo afegão, a minha avaliação é que o Talibã assumiria o país novamente em questão de meses. Além disso, apesar dos termos do acordo de paz que o proíbem explicitamente, eles forneceriam um porto seguro para a Al Qaeda. Os Estados Unidos teriam que descobrir como reunir Inteligência sobre o que estava acontecendo no Afeganistão, com um foco particular em se a al-Qaeda se havia restabelecido e estava preparando qualquer ataque aos EUA, para encontrar uma acção militar de chegar lá e lidar com esse problema ”
Na passada quinta-feira, véspera do 11 de Setembro e dois dias antes do reencontro de conversações no Qatar dizia D. Trump:
“We’re getting along very, very well with the Taliban and very well with Afghanistan and its representatives, we’ll see how it all goes. It’s a negotiation.”
(Talibã 2 very, very / Afeganistão 1 - Segue o jogo)
Como é que um presidente dos EUA, em véspera do "11 de Setembro", diz que se está a dar "muito, muito bem com os Talibã" que - não fora o quase todo o resto - teve (ou tem?) guerrilheiros premiados para matarem os seus militares e dos dos seus aliados? Está a dar "muito, muito bem com os Talibã" que continuam a chacinar civis afegãos e a insultar o governo afegão?
Como é que um presidente dos EUA, em véspera do "11 de Setembro", diz que se está a dar "muito, muito bem com os Talibã" que - não fora o quase todo o resto - teve (ou tem?) guerrilheiros premiados para matarem os seus militares e dos dos seus aliados? Está a dar "muito, muito bem com os Talibã" que continuam a chacinar civis afegãos e a insultar o governo afegão?
O Almirante McRaven reagiu:
“You can’t lay this at the feet of the Trump administration, I think the Trump administration is trying to figure out what is a graceful exit strategy in Afghanistan. I don’t know that there is a graceful exit strategy.”"Não se pode deixar isto aos pés da administração Trump, acho que a administração Trump está tentando descobrir uma estratégia de saída elegante do Afeganistão. Eu não sei se existe uma estratégia de saída elegante.”
Se, pelo lado do governo afegão existe a visão de um Estado laico regido por um governo eleito, os Talibã não fazem segredo nem pretendem sequer disfarçar, que pretendem fundar um Emirado Islâmico (Estado Islâmico, neste contexto soa mal...).
Conversações de Paz? Sim, está bem, entre eles, mas com um forte e visível apoio de quem tenha força - militar e económica - para bater o pé e dar um murro na mesa. Sem isto é só conversa, chacina e entrega de um povo - e do mundo - ao terrorismo
Os Curdos que o digam...
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