Uma semana passou sobre as últimas eleições presidenciais. Talvez não tenha razão mas a sensação que tenho é de que grande parte dos eleitores votantes escolheram "o do mal o menos", o "mais alinhado" ou o "menos alinhado". Claro que houve quem votasse por convicção, tão claro quanto os muito mais eleitores que não votaram: os que "se estão nas tintas", os que "não estão pra-isso" e os muitos que nem encontraram em quem votar.
idealismo longínquo porque não se podem furtar às ambições dos homens amplificadas pelo mais eficaz dos fertilizantes: o Poder. E isto em ciclos periódicos eleitorais.
O que me lixa não é que se comemorem os 100 anos da república, cada um é para o que nasce e "chacun s'amuse à ça façon".
O que me lixa é que se comemore o centenário da república como se a instauração da dita correspondesse à realização da vontade democrática do povo português; como se estivessem a celebrar 100 anos de democracia, ou lá que raio de sucedâneo de democracia é esta coisa em que vivemos actualmente.
A nossa suposta democracia é uma jovem prestes a completar 36 anos que, talvez por acumular erros de juventude e devido à sua descuidada cultura e educação, para já não falar de uma capacidade financeira que a tem vindo a comprometer na sua ética e na sua independência, apresenta um aspecto desgastado e pouco atraente.
Será por isso que agora tendem a confundi-la com uma centenária?
A república tem 100 anos e Portugal cumprirá este ano 867.
Quase tudo o que foi importante se passou nos primeiros 767
O que se fez destes últimos 100 anos em Portugal que faça deste país uma presença respeitável no mundo? Uma referência? Uma opinião ou um exemplo a ter em conta?
(Aquele vergonhoso programa de televisão sobre "Os 100 maiores portugueses" foi uma boa amostra...)
E não me venham falar das conquistas do povo na sua Liberdade, que é curta nos anos e encurtada no respeito, nos seus Direitos, expressos ou não na Constituição, são de menos em menos observados, cumpridos e assegurados.
Não me falem de igualdade e, menos ainda, de fraternidade; não me falem porque atiro-me para o chão a rir e a chorar ao mesmo tempo, terão de chamar uma ambulância e vestir-me um casaquinho branco daqueles com muitas presilhas e fivelas.
Já sei, já sei, "a monarquia peca à partida porque o rei não é eleito, o rei é filho do rei".
Tenha um republicano uma empresa e vá lá eleger um director-geral que reúna o consenso do seu eleitorado (o pessoal da empresa), que seja supra-partidarices, e que tenha a educação e a formação apropriadas às suas funções... Uma gaita!
A ingenuidade tem limites e, quando não tem, é o descalabro.
Quem tem uma empresa quer ver à sua frente alguém que saiba da poda, que conheça os bons e maus caminhos, que saiba ler relatórios e contas, que saiba aferir das várias necessidades, o resto é conversa. Depois que se elejam representantes, comissões, etc, etc. mas não pode ser o Senhor Porteiro, que conhece toda a gente, é um gajo porreiríssimo e que conhece os cantos à casa que o bom senso fará eleger responsável pela empresa.
"Mas nada garante que o rei será um bom governante..."
O rei não é um governante numa monarquia moderna; O rei é a personificação do seu país, para isso é educado, é a estabilidade que permanece com tudo o que constitui uma Nação, não personifica nem se altera nas mutações normais e decorrentes da vida do Estado.
Obviamente que não falo contra o sistema democrático e eleitoral, longe de mim, defendo-o com unhas e dentes. Não é o sistema democrático que está em causa.
Não é possível um presidente da república ser consensual, ser apartidário, ser, de facto, o representante de toda uma nação. E não é presidente da república quem está, de facto, preparado para o ser, quem tem a educação e a formação para o ser; Ele é (apenas) quem é eleito, num acto político e, também, afectivo.
Vivemos de "Pai da nação em Pai da nação" como um povo orfão que vai mudando de pai adoptivo; um padrasto que serve vários interesses e, com muita sorte, até poderá defender os do povo que o elegeu durante o tempo que durar. E se o deixarem, caso não se trate de um regime presidencial.
Então e um rei, é sempre bom e consensual? Não, não é, mas também não é essa a sua função. Para governar e legislar existem governos e parlamentos. Os poderes Executivo, Legislativo e Judicial não se prendem de forma alguma com um regime republicano ou monárquico, são questões totalmente independentes, como questões independentes são as da Democracia ou da Autocracia.
O rei é educado fora do ambiente partidário; o rei não vota, o rei não se candidata, o rei não precisa de ser eleito nem de se subjugar a essa necessidade e interesses.
O rei é educado tendo como ideologia o seu país e o seu povo, a união da sua nação.
O rei não vai ser presidente de uma qualquer empresa pública, ou privada, não vai pedir nem aceitar um "job dos boys". O rei não vai ser primeiro-ministro, ou segundo ou terceiro, nem deputado, nem presidente da câmara ou da junta, ou do Sporting ou do Benfica.
O rei é a bandeira de um país mas com uma consciência e uma voz. O rei permanece como símbolo da nação e do povo quando as eleições modificam as legislaturas entre as esquerda e a direita, entre a boa ou má gestão do senhor A ou do senhor B.
Ah pois, então e os privilegiados? A nobreza... os marqueses, os condes, etc?
Privilegiados? Os marqueses, os condes, etc? Não me gozem!
Há alguém que seja privilegiado por ser conde ou duque, que se encontre acima da lei, acima dos direitos e deveres de cidadão, em qualquer uma das monarquias democráticas europeias?
(Aliás, deixemo-nos de redundâncias porque não existe qualquer monarquia europeia que não seja consolidadamente democrática; já das repúblicas não se poderá dizer o mesmo).
Privilegiados, sim existem, em todo lado, uns por conquista ou herança - legitimamente adquiridas - outros...
Outros de quem nem vale a pena falar, nós por cá vêmo-los às dúzias, impunes e divertidos proclamando a sua inocência e inimputabilidade aos quatro ventos, democraticamente descarados, eleitos, nomeados.
Comemorem lá o centenário da república, é verdade faz 100 anos, mas não a venham identificar com as conquistas democráticas, não atirem areia aos olhinhos do Zé Povo que já anda cegueta há que tempos.
E já agora, não se esqueçam de que a república não nasceu de uma revolução de cravos ou rosas, nasceu de um assassinato, de um duplo assassinato - que nem sequer reunia o consenso da lide republicana ; nem rosas e cravos se lhe seguiram, de 1910 a 1927... Nem vale a pena falar nisso, quanto ao depois... Nisso nem vou falar
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