Confesso que não gasto muito do meu tempo a ler jornais, a maior parte dos conteúdos são irrelevantes, quando me chegam às mãos já a realidade vai lá mais adiante e muitos deles são doutrinários.
Confesso também que não tenho uma ideia muito aprofundada de Vítor Rainho; não é pessoa que me enerve e aprecio-lhe a ironia, as tiradas curtas e secas mas para além disso confunde-me o facto de se bater em tantas frentes, permanentemente. Não será defeito, talvez feitio, talvez ossos do ofício.
Mas não serve esta introdução para mais do que para explicar que a publicação do meu recorte não vem, nem muito nem pouco, à baila por citar "O Vítor Rainho", não estivera identificado o autor e citá-la-ia na mesma
Hoje eu estava à espera e, como estava à espera, fui folheando o jornal. Chegada à página 9 fui arrebatada por uma frase, um título encabeçando um artigo de Rainho, que me fez exclamar de concordância e surpresa. Diz ele do nosso jardim à beira-mar plantado:
«O país da esquerda caviar e da direita sardinha assada»
Não me perguntem sobre o artigo, mais uma vez me confesso, não o li, passei os olhos na diagonal e não me prendeu, mas o título... Ah o título é de antologia! Vi ali espelhada a opinião que tenho mas nunca por mim expressa de forma tão concisa e certeira. A convivência política entre o caviar e a sardinha assada raramente, muito raramente, assumida no parlapié às massas.
É isto mesmo, em termos gerais a nossa esquerda é politicamente snob, assume-se como dona da cultura e só ela sabe o que está bem. Em termos gerais a nossa direita é um tudo-pela-rama, é de um popularucho a que chama tradição para disfarçar as peneiras e anseia por levar tudo à frente como se vivesse numa largada de toiros
Onde fico eu no meio deste ladeado? Pois não sei, vivo neste mistério, os meus amigos de direita chamam-me esquerdista(zinha) e os meus amigos de esquerda apelidam-me de direita(zeca). Gosto de caviar e de sardinhas assadas embora consuma pouco de qualquer das iguarias. O que eu gosto mesmo é de sopa da pedra e creio que isso me deixa num limbo ideológico.
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