LAMENTO

 Este ano, pela primeira vez, o Natal não passou por aqui. Lamento. 

Lamento por várias razões algumas com um grau respeitável de seriedade; Eu levo poucas coisas a sério porque a vida me ensinou que, quando olhamos para trás poucas coisas tinham de facto a seriedade ou gravidade que lhes atribuímos em tempo da sua ocorrência

Outra coisa que a vida me ensinou é que o Natal é um estado de espírito. Para cristãos e para não cristãos, o estado de espírito natalício não é coisa que se invente à medida dos dias que vão decorrendo na época natalícia; pode-se fingir, pode-se enfeitar, pode-se socializar mas não se pode sentir por decisão ou invenção. Lamento mas este ano o espírito natalício não me encarnou, fechei-me ao fingimento por saturação: um Natal a fingir, é como o vejo. As luzinhas, as prendinhas, as festinhas... Sim, está bem, seja, não sou contra, a sua ausência seria verdadeiramente triste, mais triste. 

Mas o Natal não é um ritual, é um estado de espírito, um sentimento, uma comunhão comunitária.

Não a senti nem a vi, comunitariamente. Lamento, talvez a falta seja minha, talvez não...  
Senti-a em família porque o que nos une é um espírito presente sempre, diariamente, de solidariedade, de cumplicidade, mas essa é outra história. 

Agora, à beira da entrada de um novo ano tinha a esperança de ser assaltada de surpresa pela esperança da renovação, pela expectativa de algo novo que seja uma lufada de ar fresco... Duvido... O ar está pesado e quem não o percebe está respirando no mundo da Lua. Não, não estou a ser negativa, pessimista ou, menos ainda, derrotista - essa é a última coisa que serei -  mas de nada adianta enterrar a cabeça na areia ou fazer questão de olhar o mundo através de lentes cor-de-rosa; pode animar as hostes mas não altera um pontinho à realidade

"Ah eu quero é ser feliz" - sim, está bem é uma atitude saudável, eu também quero, mas não está fácil a menos que nos alheemos do estado e percurso da humanidade que tanto se vem esquecendo de ser Humana. Ou pior, talvez não seja só esquecimento, talvez seja uma evolução natural, talvez não passe disto apesar da persistência de umas tantas almas que incansavelmente lutam contra a corrente.


Os meus votos para 2022? 
Que as almas nobres, honradas, imbuídas de carácter e generosidade consigam ir conquistado o mundo, passo a passo, dia a dia.

Sei que não é pedir pouco mas é a única forma de voltar a descer sobre a Terra um espírito de Natal sem fingimento

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