BASTA!

A sério? 
Sim, a sério, não é uma montagem 
  • Não fora um pouco de cabelo mais e uns quilitos a menos tê-lo-ia confundido com a dignidade de Churchill
  • Não foram as vestes de fino corte e a ausência de óculos tê-lo-ia tomado pela despretensão e autenticidade de Gandhi
  • Não fora a gestualidade popularucha e a presença diluída tê-lo-ia tomado pela capacidade de liderança de Eisenhower
  • Não fora a pequena estatura (entenda-se em termos latos) mal o distinguiria da importância conciliatória de De Gaulle
E por aí fora, e por aí fora, e por aí fora.
Ahh, mas pela entourrage só pode tratar-se de um membro da nobreza europeia
Isto sim, é um grande senhor da política em toda a sua capacidade de argumentação

Poderia, no mínimo, ter o espírito de responsabilidade de Passos Coelho, ná, mas não, não se confunde

Cada um tem os políticos que merece, dizem; mas que mal fiz eu que nem oiço música pimba?

O CONVITE DA TRANSMUTAÇÃO


Uma coroação é um momento histórico e quando acontece após 70 anos desde a última, como é o invulgar caso do Reino Unido, é um acontecimento que poucos viveram. 
Em 70 anos tudo mudou, o mundo é outro, mas uma coroação - especialmente no UK - transporta-nos  para um mundo mágico como se nos colocasse dentro de um filme.

(Já sei que há quem não goste destes "filmes" mas esses têm todos os outros dias do mundo de que gostam sem esta "magia", não se incomodem com isto, passa num instante e há quem goste).

Há 70 anos a televisão transmitiu pela primeira vez a cerimónia da coroação; essas imagens a preto e branco vistas e revistas ao longo do tempo por milhões incontáveis deram-nos uma ideia da tradição, da pompa, dos ritos, do simbolismo. Assim sabemos mais ou menos com o que contamos mas a cor e a alta definição das transmissões actuais quase nos coloca lá, tantos pormenores de que nunca nos apercebemos de repente saltam-nos à vista, saibamos ou não o seu significado ritual e simbólico

Há 70 anos o convite para a coroação da rainha Isabel II era formal e sobriamente protocolar; a ocasião festiva inferia-se, não se manifestava, um pouco como as imagens a preto e branco filmadas exclusivamente pela BBC

O mundo mudou e nem tudo é mau, a magia tornou-se mais forte, mais próxima, as festividades do último Jubileu e o enorme pesar que se seguiu à morte da rainha Isabel são disso o maior e incontestável testemunho. A sobriedade de há 70 anos deixou de ter lugar quando o respeito pelas tradições o permite e a solenidade não se impõe; não é sequer preciso recuar 70 anos para encontrar uma época em que seria impensável ver a rainha a tomar chá com o desastrado urso Paddington 

Carlos III tem vindo a demonstrar que pretende seguir essa linha de proximidade em várias situações e o seu convite para a cerimónia da coroação é disso um exemplo evidente; a festividade já não se infere, está explicita, nas cores, na imagem e na simbologia
Um convite para a coroação de um rei é um pedacinho de história e este, impresso em papel reciclado -escolha bem clara no significado, já antes expresso no Jubileu quando Isabel II "acendeu" desde Windsor a "Tree of Trees" em Londres - vale bem uma análise do simbolismo que encerra. 
Uma coisa é certa, a monarquia britânica mudou, bem ou mal o tempo o dirá

O convite, obra criada por Andrew Jamieson, artista especializado em heráldica e iluminuras, pintada a aguarela e gouache, compõe-se de vários símbolos que, segundo o Buckgingham Palace, se interpretam assim: 


A CARA VERDE
No centro do rodapé está o Homem Verde, uma figura antiga do folclore britânico, símbolo da Primavera e do renascimento, para celebrar o novo reinado. A forma do Homem Verde, coroada em folhagem, é formada por folhas de carvalho, hera, espinheiro e as 4 flores emblemáticas do Reino Unido 

O PRADO DE FLORES SILVESTRES

 A moldura apresenta um prado de flores silvestres britânicas: 
Lírio do vale, a flor favorita da rainha Elizabeth, para a felicidade 
Centáureas, para esperança e antecipação 
Morangos silvestres (parte de uma sobremesa real favorita, morangos e natas)
Rosas caninas, para amor, prazer e beleza 
Campaínhas, pela humildade, constância e gratidão
Um raminho de alecrim, para as recordações

E AS QUATRO FLORES NACIONAIS
O cardo, a flor da Escócia 
O trevo, um símbolo da Irlanda do Norte 
Narcisos amarelos, a flor do País de Gales 
A Rosa Tudor, a flor da Inglaterra


Ao longo da moldura, aparecem cinco ANIMAIS CAMPESTRES:

Uma abelha - o labor pela comunidade
Uma borboleta - a transformação, renascimento
Uma joaninha - sorte, felicidade
Uma carriça - responsabilidade, acção
Um pisco-de-peito-ruivo (robin) . humildade, honestidade


OS ANIMAIS NACIONAIS
O Leão, símbolo da Inglaterra e 
o Unicórnio, símbolo da Escócia,
ambos fazem parte do brasão de armas real

Aparece também um javali, 
do brasão de armas da família de Camila
(ali no discreto canto inferior esquerdo, coisas de artista...)



Merecedora de nota é a representação de Bolotas ligadas pelo caule às Rosas Tudor; 
as bolotas aparecem o brasão de Kate Middleton, princesa de Gales, mulher do prÍncipe herdeiro e mãe do(s) neto(s) do rei


No topo do convite, à esquerda o brasão dos Windsor ( de Carlos), 
à direita o de Camila, após o seu casamento, 
ao centro o C de Carlos e Camila; 
na verdade são dois C's quase sobrepostos e unidos a meio onde posam dois passarinhos (gostos não se discutem)



Dia 6 de Maio, de hoje a um mês, muito mais haverá a explorar e interpretar


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COM QUE INTENÇÃO E A BEM DE QUEM?

O Dia das Mentiras ainda espreita ali na esquina que este fim de semana acaba de virar e não o quero deixar partir sem uma nota, porque este "Dia" já não é só uma brincadeira anual, tem vindo a transformar-se num modus vivendi para um número assustadoramente grande de gentalha, um número crítico mesmo
 
Numa conferência de imprensa por ocasião do aniversário da guerra, Zelensky referiu-se intensões da Rússia ao invadir a Ucrânia e ao que se seguiria caso fosse bem sucedida: a invasão de outros Estados, alguns da NATO, o que arrastaria de imediato os EUA para a guerra. 
Consciente de que parte dos "donos" do Partido Républicano se opõem ao apoio à Ucrânia, sem nomear ou insinuar fosse quem fosse, Zelensky disse:

 «Os EUA nunca irão deixar cair os Estados membros da NATO. Se, devido a várias opiniões e enfraquecimento da assistência prestada a Ucrânia viesse a perder, a Rússia irá invadir Estados bálticos, Estados membros da NATO e então os americanos terão de enviar os seus filhos e filhas (para a guerra) exactamente  como nós temos de enviar os nossos(#) filhos e filhas e eles terão de lutar, porque é da NATO que estamos a falar; E eles morrerão. Que Deus o proíba porque é uma coisa horrível»  (#)A tradutora, no vídeo, engana-se e diz "seus"

Os críticos do apoio financeiro e militar que a América tem vido a prestar à Ucrânia pegaram na frase de Zelensky (sublinhada) e isolaram-na das referências a um eventual ataque a países da NATO reduzindo as declarações a 19 segundos de conteúdo.  Mais, alguns agarraram-se a um pequeno erro de sintaxe, cometido por um ucraniano a falar inglês, para reforçar as - inexistentes - declarações de Zelensky: 
A diferença entre "os americanos terão de enviar" (will have, como diz Zelensky) e "os americanos teriam de enviar" (would have, como estaria correcto). Por rebuscado que pareça foi assim que gente supostamente responsável (senadores, antigos funcionários de topo do governo de Trump, meia-dúzia de militares, os arautos das rádios  e sites de propaganda)   transformou uma declaração normal e coerente numa exigência absurda que, obviamente, não foi feita.

Porquê? Com que intenção? A bem de quem? Deixo à vossa consideração... 

Um pequeníssimo exemplo:


Muito melhor do que eu possa explicar é ver o "Fact Checking" da CNN que é claríssimo. 
Tive de dividir o vídeo em duas partes para que não fosse demasiado "pesado" na transferência para o blog mas está completo e não editado. Deixo o link à página onde foi publicado: 19-second video of Zelensky goes viral. See what was edited out (cnn.com)

Parte 1- O que foi editado e publicado no Twiter e transmitido por tudo quanto é site de extrema-direita e, mais grave, nos sites e media de apoio à facção que actualmente lidera o Partido Républicano


Parte 2 - O que foi efectivamente dito sem os cortes que modificaram todo o sentido do conteúdo



Creio que nada mais há a acrescentar, só se for um sorriso maroto...

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