O MISTÉRIO DO DOSSIER DESAPARECIDO

 Finalmente "O Mistério do Dossier Desaparecido" veio a público, foi precisa uma persistente investigação jornalística da CNN e um artigo de fundo no New York Times para se falar nisso, e o "isso" não é coisinha irrisória: são vidas, fontes, métodos, cadeias de transmissão e, em última análise, a forte probabilidade de uma traição de segurança, nacional e internacional. Talvez fosse melhor estar no segredo dos eleitos... Sobretudo se forem re-eleitos...

Estava num cofre, dentro de uma caixa-forte, no quartel-general da CIA em Langley

Soou o alarme quando profundas preocupações do actual governo e da comunidade de Inteligência e Segurança pediram um briefing ao Comitê de Segurança do Senado (presidido pelos democratas) em 2022:  os documentos que compunham o dossier de Inteligência relativa à investigação com o nome de código "Crossfire Hurricane"  de-sa-pa-re-ce-ram. Sumiram sem deixar nota de despedida. Desvaneceram-se. 

O dossier da "Crossfire Hurricane", com mais de 2 700 págs, 10 polegadas de altura (+-25cms) contém (ou, nesta altura,  talvez seja melhor dizer continha) Inteligência sobre e da  Rússia, informação sobre as acções desencadeadas com o objetivo de eleger Trump em 2016; mandatos e transcrições de escutas e mensagens, formulários de Segurança Nacional...  E as mais sensíveis informações da comunidade de inteligência, americana e dos mais próximos aliados da NATO sobre influencia, contactos e procedimentos próprios e da rede russa

A coisa começou assim:

 (Doc. anexo - Original link)
 A 20 de Dez., já nos dias finais da sua presidência, Trump disse que queria desclassificar alguns desses documentos (até 17 Jan. , 4 dias antes da tomada de posse de Biden) para provar que toda a investigação sobre interferência da Rússia nas eleições de 2016 era um logro.

Como iam ser analisados para desclassificação, e apesar desta análise ser da competência do Dep. de Justiça,  os dossiers foram transportados para a Casa Branca e por lá estiveram, foram vistos e revistos por sabe-se lá quem, o que só por si é assustador se tivermos em mente o absoluto desleixo em que foram encontrados os documentos secretos em Mar-A-Lago e as exibições que Trump fez de alguns destes documentos a convidados, até estrangeiros.  

Mark Meadows, o fidelíssimo e último chefe-de gabinete de Trump, foi um dos sujeitos que mais manuseou o dossier na Casa Branca e foi visto a fazê-lo por quem o assessorava; Cassidy Hutchinson, secretária de Meadows, que depôs perante a Comissão de Investigação ao 6 de Jan.,  viu Meadows entrar no seu automóvel com o dossier original Crossfire Hurricane - sem qualquer conteúdo "redigido" (censurado) -  debaixo do braço e ficou a perguntar-se onde iria ele com "aquilo" 

Mark Meadows entregou alguns documentos classificados ao departamento de Justiça alguns MINUTOS antes de Biden assumir a presidência, mas não o dossier. Os seus advogados declararam à CNN que : «O senhor Meadows está absolutamente ciente e em concordância com o requerido para o tratamento de material classificado e entregou todo o material que tinha em sua posse. Qualquer sugestão de que seja responsável pelo dossier desaparecido ou outros é absolutamente errada»

 A publicada intensão de desclassificar parte do conteúdo do dossier sobressaltou gravemente as  Inteligências aliadas que de imediato preveniram de que seriam assassinadas várias pessoas, fontes e agentes, para além da crítica divulgação de métodos, caso tais informações fossem divulgadas. 

Trump disse que iria divulgar mas não o fez. Por que o disse, escreveu e requisitou? Aqui a trama adensa-se...  (Doc. anexo - Original link)

Obviamente nunca pretendeu fazê-lo mas declarar tal intensão foi sem dúvida a forma mais fácil e menos indiscreta de apanhar os dossiers fora da caixa-forte de Langley. 

E quantas cópias existem? Segundo a investigação da CNN, já independentemente corroborada, múltiplas cópias foram feitas durante as últimas horas da presidência Trump com o objectivo de serem distribuídas a alguns congressistas republicanos assim como a alguns jornalistas ultra-direita. Talvez o camarada Steve Bannon tenha visto passar alguma ou o entusiasmante Tucker Carlson,  tudo gente séria e muito patriota. E Roger Stone, terá tido direito a alguma? Merecia...

Um antigo assessor de Trump para a segurança nacional, quando inquirido sobre a sua reacção  ao conhecer o conteúdo do dossier foi sucinto mas claríssimo na sua resposta: “Holy cow.”

Terá alguém entregado os dossiers à Rússia? (Pode lá ser... 😎)


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