A BUÇALIDADE LETAL


CIENTISTAS RECEBERAM ORDENS PARA NÃO PUBLICAR SEM A APROVAÇÃO DO GOVERNO TRUMP

Médicos e cientistas estão a receber ordens para parar de publicar em edições médicas ou falar em público sem primeiro  "terem autorização" da administração Trump.

Esta decisão veio a público hoje, dia 11/06, dois dias após o Secretário da Saúde, Robert Kennedy Jr., ter removido todos os 17 membros do painel de especialistas que faz recomendações a adoptar ao CDC (Centros de Controle e Prevenção de Doenças) sobre política de vacinas. Os especialistas serão substituídos por "novos membros altamente credenciados" - outra coisa não seria de esperar da creditadissima adm. Trump - actualmente em análise. Dois dias depois 8 já estão nomeados

O ACIP tem sido composto por especialistas em vacinas e doenças infecciosas de centros médicos acadêmicos e outros profissionais de saúde pública que avaliam os dados sobre vacinas e doenças infecciosas em reuniões, até agora, públicas. Aguardemos as credenciais. Quanto aos debates serem públicos, se assim permanecerem  - uma vez que requer autorização prévia  da administração Trump - de uma coisa poderemos estar certos: não serão ouvidas vozes discordante, reinará a harmonia naquela reinação. 

Convém lembrar alguns dos passos, que a muitos terão passado mais ou menos desapercebidos, envolvendo decisões desta segunda administração Trump, e que têm consequências desastrosas para o futuro da saúde nos EUA e no mundo

Maio 25 - «Universidades de todo o país que têm programas de diversidade e inclusão e as que boicotam as empresas israelitas, estão a esforçar-se para cumprir a iniciativa anti-diversidade do presidente Donald Trump, num esforço para manter centenas de milhões de dólares em subsídios federais que financiam investigação médica essencial em áreas como o cancro e a saúde materna.

Desde Fevereiro, os Institutos Nacionais de Saúde dos EUA cancelaram cerca de 780 bolsas de investigação que abordavam a equidade, as disparidades raciais, a saúde das minorias, as populações LGBTQIA+ e Covid-19. As bolsas canceladas abrangeram todo o país: aproximadamente 40% destinavam-se a organizações de Estados onde Trump ganhou em Novembro

Entre elas, cortes em pesquisas aparentemente alinhadas com os objectivos declarados da administração Trump e do Secretário de Saúde e Serviços Humanos dos EUA, Robert F. Kennedy Jr., como estudos sobre diagnósticos de autismo, melhorias em doenças crónicas e a intersecção da exposição ambiental com a saúde.

«As bolsas do HHS são atribuídas apenas aos candidatos mais qualificados - menos de 15% dos candidatos de topo - e não obedecem a requisitos ideológicos ou quotas discriminatórias», disse um porta-voz do HHS em resposta a perguntas sobre as bolsas canceladas.»

O corte em massa de bolsas do NIH gerou preocupação até mesmo entre os líderes republicanos, que defendem que os EUA podem perder a inovação médica e liderança mundial devido aos cortes de financiamento, despedimentos em massa e as reformulações politizadas de agências.

«Não devemos perder de vista o que está realmente em causa aqui. Se os ensaios clínicos forem interrompidos, a investigação for interrompida e os laboratórios forem encerrados, os tratamentos e as curas eficazes para doenças como o Alzheimer, a diabetes tipo 1, os cancros infantis e a distrofia muscular de Duchenne, entre outras, serão adiados ou nem sequer descobertos.»

Senadora Susan Collins, rep. Maine, durante audição sobre os fundos no Senado


Março 25 -  Em 2023, o NIH lançou uma iniciativa de 168 milhões de dólares em 10 universidades para melhorar os cuidados de saúde materna.

Em Março, a agência cancelou o financiamento a várias de entre estas 

A Universidade de Columbia, um dos 10 centros de saúde materna do projecto de grande escala do NIH, foi uma das primeiras instituições a sofrer com o congelamento de fundos e uma batalha pública com a administração Trump.

Os amplos cancelamentos  também atingiram a Faculdade de Medicina Morehouse, parte de uma universidade historicamente negra em Atlanta, Geórgia, um Estado com algumas das piores taxas de mortalidade materna do país.

Restavam 1,6 milhões de dólares da verba de 2,9 milhões  quando o NIH cortou o financiamento. A presidente da Faculdade de Medicina de Morehouse, Valerie Montgomery Rice, posicionou-se firmemente contra os esforços anti-DEI ( Diversidade, Equidade, Inclusão) dizendo à rádio local  que "a diversidade, a equidade e a inclusão, no que diz respeito à saúde, não são termos políticos".

31 Janeiro 25 - «Os Estados Unidos têm sido líderes globais na investigação científica e na inovação. Da vacina contra a poliomielite à descodificação do primeiro cromossoma humano e à primeira cirurgia de bypass, a investigação americana originou uma lista aparentemente interminável de avanços na área da saúde que são considerados garantidos.
Quando a administração Trump emitiu um memorando suspendendo todas as subvenções e empréstimos federais o mundo académico norte-americano parou. "Isto tem um impacto imediato na vida das pessoas", diz J. Austin, professor de psiquiatria e genética médica na Universidade da Colúmbia Britânica. "E é assustador."»

«O congelamento do financiamento exige que as agências enviem as análises dos seus programas financiados ao Gabinete de Gestão e Orçamento até 10 de Fevereiro e surge após ordens separadas emitidas na semana passada às agências de saúde dos EUA — incluindo os Institutos Nacionais de Saúde, que lideram a investigação médica do país — para pausar todas as comunicações até 1 de Fevereiro e interromper todas as viagens por tempo indeterminado.»

A ciência é, por natureza, colaborativa. Muitos consórcios e alianças dentro de campos científicos atravessam fronteiras e barreiras linguísticas. Alguns laboratórios podem conseguir financiamento adicional de fontes alternativas, como a União Europeia. É improvável que uma retirada contínua do financiamento do NIH possa ser compensada por apoios estrangeiros. Os milhões de dólares atribuídos aos laboratórios de alto desempenho são utilizados para financiar estudantes de pós-graduação, técnicos de laboratório e analistas investigadores. Se o investigador principal de uma equipa de investigação não conseguir obter uma bolsa através do processo descrito muitas vezes o laboratório é encerrado e os membros auxiliares da equipa perdem os seus empregos. Não demorará muito para que o impacto chegue à população em geral. Com a perda de financiamento para investigação, surgem os encerramentos de hospitais e universidades e os avanços na medicina também serão prejudicados.

As condições estudadas com o financiamento do NIH não são apenas doenças raras que afetam 1% ou 2% da população. São problemas como o cancro, a diabetes, o Alzheimer — problemas que afectam a sua avó, os seus amigos, os seus filhos e tantas pessoas que um dia perderão a sua saúde perfeita. É graças a este sistema de investigação e aos cientistas que nele trabalham que os médicos sabem como salvar alguém de um ataque cardíaco, regular a diabetes, baixar o colesterol e reduzir o risco de AVC. É assim que o mundo sabe que fumar não é uma boa ideia. "Todo este conhecimento é gerado por cientistas financiados pelo NIH, e se lhe colocar uma chave tão grande e abrangente, vai perturbar absolutamente tudo", diz o professor de genética. “Se as pessoas querem que os Estados Unidos se tornem uma nação de segunda classe, é exactamente isto que precisam de fazer. Se o objectivo é, de facto, tornar a América grande, esta não é a forma de o fazer”, afirma o professor de Genética. “Não é algo racional, ponderado e eficaz de se fazer. Só vai destruir.”»

6 de Fevereiro de 2025, o "The New York Times" noticiou que  «os ensaios clínicos apoiados pela Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID) foram abruptamente interrompidos após uma ordem executiva do Presidente Trump, congelando toda a ajuda externa. Esta ordem abrangente deixou milhares de participantes em ensaios clínicos isolados, muitos com medicamentos experimentais ou dispositivos médicos no corpo, sem acesso a cuidados de acompanhamento ou monitorização. A paralisação não só coloca em risco os doentes individuais, como também inviabiliza esforços de investigação críticos que poderiam ter levado a avanços nos tratamentos de doenças infeciosas, na saúde materno-infantil e no desenvolvimento de vacinas.»

Fevereiro 25 - The Guardian - «A ordem de paragem desmantelou décadas de esforços para desenvolver vacinas de última geração contra a malária, uma área na qual a USAID tem sido um importante apoiante financeiro e logístico. A malária ainda mata mais de 600.000 pessoas anualmente, afectando desproporcionalmente as crianças na África Sub-sariana. Os ensaios clínicos destinados a melhorar as vacinas e as taxas de protecção existentes foram agora atirados para o limbo, apagando anos de progresso.»

As consequências desta paralisação vão muito além da saúde pública. 

Os ensaios clínicos financiados pela USAID foram fundamentais no desenvolvimento inicial de muitos medicamentos e vacinas que, posteriormente, recebem investimento do sector privado. As empresas biofarmacêuticas estabelecem parcerias com a USAID para reduzir o risco de investimentos em tratamentos de mercados emergentes, particularmente para doenças como a malária, a tuberculose e o VIH/SIDA, que afectam principalmente os países de baixo rendimento. 

«Uma vítima significativa é o ensaio clínico CATALYST, que testava o cabotegravir, um medicamento injectável de ação prolongada para a prevenção do VIH, em cinco países. Sem injecções regulares, os participantes podem desenvolver estirpes de VIH resistentes aos medicamentos, comprometendo potencialmente a eficácia de um dos novos tratamentos preventivos mais promissores. O ensaio clínico foi uma iniciativa fundamental para expandir o alcance global dos medicamentos para a prevenção do VIH, e a sua suspensão representa riscos não só para os inscritos, mas também para o acesso futuro ao tratamento.»

Para além dos riscos imediatos para os participantes nos ensaios clínicos, o congelamento da ajuda externa interrompe os programas de saúde globais, a estabilidade económica e o progresso científico. Os serviços básicos de saúde, como vacinação, programas de saúde materno-infantil e prevenção de doenças infeciosas, estão a ser prejudicados. A interrupção repentina do financiamento coloca em risco tratamentos médicos essenciais levando ao aumento das taxas de mortalidade e a um aumento da carga sobre os sistemas de saúde já sobrecarregados. Os programas de prevenção da malária, as iniciativas de tratamento da tuberculose e as intervenções nutricionais infantis podem entrar em colapso, revertendo décadas de progressos no controlo de doenças e na saúde pública.

Poderia continuar até me doerem os dedos... O ponto está feito, não passa despercebido que ao dirigir-se a "cientistas", os únicos referidos de forma individualizada na "nova ordem proibitória" são os médicos... Por último deixo apenas um desabafo em oposição à falta de lucidez, à ignorância, à curteza de vistas vigente: 

Esta ruptura afecta a segurança sanitária global. A investigação sobre doenças infecciosas desempenha um papel crucial na preparação para pandemias e a interrupção dos estudos apoiados pela USAID enfraquece os sistemas de alerta precoce para ameaças emergentes à saúde. Sem investimento sustentado na saúde global, as novas doenças infeciosas podem permanecer sem detecção durante mais tempo aumentando o risco de surtos que se podem espalhar pelo mundo. A natureza interligada da medicina moderna significa que negligenciar os desafios globais da saúde representa, em última análise, riscos para a saúde pública em todo o mundo. Seria suposto a, aparentemente esquecida, epidemia de Covid ter sido um aviso, um alerta. Deparamo-nos com a maior e, provavelmente mais importante, comunidade científica do planeta a ser paralisada por um poder cego, corrupto, colossalmente estúpido e ignorante. Não pode ser ignorado.

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