MARIA MANUELA AGUIAR
(NELA)
IN MEMORIAM




Uma vez escrevi-te: ".../... almas entrelaçadas como uma cadeia de ADN".


O sangue cria, por vezes, laços inexplicáveis, que ignoram o tempo que separa e o espaço de permeio; reflecte no outro traços profundos, íntimos e secretos, de nós mesmos; comunga nos medos, no humor, na compreensão do não verbalizado e do não verbalizável. A memória das células permeia sentimentos e emoções, estende o tapete vermelho que suaviza o deslizar do amor e da amizade como sendo o caminho mais fácil e natural. Teletransporta pensamentos e momentos, interesses e gostos, caminhadas e silêncios.

Hoje sinto-me como se tivesse partido um bocado de mim e, o bocado de mim que ficou, se tivesse partido.

É um disparate, eu sei, nem tu partiste para muito longe nem eu deixo de estar inteira... Mas saber é uma coisa e sentir é outra. Mesmo considerando a forma gradual como a tua partida me foi chegando, mesmo compreendendo a oportunidade que nos ofereceste, mutuamente, de dizermos "até qualquer dia..." , mesmo com aqueles abraços tão verdadeiros, mesmo assim... Mesmo assim faltou-nos "um pouco mais de Sol, um pouco mais de azul". Sei que querias só um pouco mais de azul...
O meu desejo? Que agora o tenhas todo, para mergulhares e voares.

Há uns anos pintei um quadro para ti no qual duas almas nascidas de uma mesma Luz flutuavam; uma dirigia-se já para a Terra enquanto a outra permanecia um pouco mais. Acenavam um "até à vista" que apenas as distanciava de um para outro universo.

Creio que teremos de fazer o mesmo caminho, no sentido inverso.


Se alguma vez me fez sentido a expressão "Almas Gémeas" foi para adjectivar esta profunda e inata ligação que existe, ainda, sempre, entre nós.


Sei que estarás por aí escutando os pensamentos que fluem para ti... Talvez, de vez em quando, eu consiga escutar-te também.
E sei que, no dia em que atravessar o túnel, tu estarás nesse cais luminoso à minha espera.

8 comentários:

  1. Querida!
    Quando se tem esta idade (a minha, a dela) já vimos partir muita gente, já perdemos as referências mais antigas das nossas raízes, já nos sentimos muitas vezes mais pobres.
    Que a geração anterior à minha/nossa tenha partido - muitos, felizmente não todos - aceitei, resignei-me.
    Agora começam a partir os meus, a minha geração. Já foram muitos. Mais do que eu queria aceitar. Já chorei amargamente na despedida de amigos grandes. Mas creio que uma amiga como esta não. Ia dizer «ainda não» e depois parei porque não pode ser essa a expressão, isto não se pode repetir, não tive com ninguém a proximidade de irmã que tive com ela.
    Quando nos encontrávamos acabávamos a rir muitas vezes porque apesar da enorme separação geográfica, e dos anos sem estarmos juntas, ainda tínhamos aquela maravilhosa cumplicidade de terminar a frase que a outra começava, sabes...?
    Foi infância, foi adolescência, foi os primeiros tempos de maturidade, foram os primeiros namorados, foram as primeiras rebeldias, foram os amores, foram os ideais políticos, foram esperanças conjuntas, foi uma maturidade muito semelhante, foi...
    Foi a Vida.
    Que eu perdi agora um pouco.
    E tão pouco crente que não sei se há qualquer luz, para mim não a vejo. Para mim, ela e todos os outros estão aqui dentro de mim, dentro do meu coração, que vai encontrando espaço para os receber até rebentar um dia.
    Um abraço grande, grande, grande...

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  2. Emiéle,
    obrigada pelo teu abraço grande, grande, grande. Desta vez estou a precisar.
    Comecei, demasiado, cedo a "chapar-me" com a morte. Aprendi a aceitá-la, a saber que "faz parte". Pois. Mas sentir o "roubo"... Ontem estava muito triste mas calma; hoje só me apetece andar aos pontapés a tudo.

    Anónimo?????
    Obrigada pelo beijinho.
    Tiveste a amabilidade de me deixar um mimo... Hoje, no mínimo, dá-me jeito, mesmo anónimo.

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  3. Olá minha querida Xana. Hoje não pude deixar de "escrever-te". Não cheguei a conhecer sufientemente bem a Nela, mas o pouco tempo que tive o prazer privar, senti que era uma BOA pessoa , AMIGA e SIMPÁTICA. Vi a vossa relação, ouvi o que contavas dela e não há dúvida que só podia ser essa ALMA BOA. Não preciso falar mais nada, nem preciso porque sabes que estarei sempre do teu lado para te apoiar, mimar, rir ou chorar. Beijo grande e abraços bem apertados.
    JC

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  4. Eu sei João,obrigada.
    Beijinhos para ti.

    PS- Tu andas nos chats com brasileiras... Ai andas andas... Ora lê lá COMO que escreveste...

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  5. Alex... por cima das nuvens o céu está azul e o sol brilha... com o tempo a dor vai-se transformando simplesmente em saudade.
    Quem me dera poder fazer alguma coisa para te aliviar o sofrimento, agora, já... mas ninguém pode, não existem analgésicos para isso... vais mesmo ter de deixar o tempo lavar-te as feridas.
    Que raio de post me foi calhar para começar a comentar no teu blog. :(
    Um abraço muito, muito apertado, com festinhas na cabeça e muitos beijinhos à mistura!
    C

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  6. Olá Alex, ontem passei por cá e gostei de te ler, mas não disse nada. A gente quando vai pela primeira vez a uma casa faz alguma cerimónia...
    Hoje voltei, porque a Emiéle ainda tem a porta meio fechada e o passar pela casa dela é um vício!
    Dá para ver que perderam alguém que vos era muito querida. A Emiéle já tem falado lá em pessoas que tem perdido, e n´so ficamos comovidos, mas desta vez foi com uma proximidade que se vê que ela ficou a «bater mal». E, hoje noto que tu também...
    É lixado isto. Já passei por cenas destas na minha vida que é comprida, e nunca se está preparado para tal.
    Mesmo sem te conhecer, aceita um abraço amigo.

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  7. Queridissima Cristina,

    Pois há um céu azul... o que sinto agora nem é bem dor - a situação da Nela era complicada e dolorosa, quanto mais se arrastasse mais doia, a todos, a mim, e, obviamente, sobretudo a ela. Nesse aspecto até sinto que "já subi acima das nuvens", quando ela subiu. Agora estou zangada, revoltada... Triste. Não será coisa que dure: não me está no sangue e sei que isso a angusteará.

    Por um lado ainda bem que foi este o post que te calhou; em nenhum outro, dos 130 e tal que cá estão, me saberia tão bem receber as tuas palavras. Guardo os teus abraços, festinhas e beijinhos, aceites de bom grado. Também ajudam, muito.
    Obrigada
    Até breve.


    Oh Zorro...
    as tuas palavras caiem-me fundo. Agradeço, do fundo do coração. Como, sem dúvida, sabes, quando alguém que nos é querido parte, de repente instala-se em nós uma enorme solidão. Não depende da companhia que se tem, é assim. As palavras de verdadeiro carinho são como raios de sol inesperados, veem amornar a nossa alma. Obrigada.
    Volta sempre, sem cerimónias, como deve de ser com os amigos.
    Um beijo.

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