FREEPORTGATE

Conforme o comum dos mortais, não faço a menor ideia se José Sócrates praticou, ou não, actos dolosos no badalado "Caso Freeport"; posso ter a minha singela opinião relativa ao carácter do sujeito e, de acordo com a mesma, pensar se as probabilidades de o ter feito serão elevadas, baixas ou quase nulas. A verdade é que opiniões não fazem doutrina e neste caso, como em qualquer outro que envolva falcatruas e justiça, opiniões são absolutamente irrelevantes, as minhas ou as de seja quem for.

Agora, como diria o amigo banana, uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa, ou seja: uma coisa é andar por aí a dizer que o primeiro-ministro é culpado, ou inocente, outra, bem diferente – sobretudo porque o cidadão José Sócrates é primeiro-ministro – é que as pessoas querem saber o que se passou, quererem ser informadas e querem que "o Caso" seja investigado em tempo útil – José é primeiro-ministro, líder do partido no poder e estamos em ano de eleições.

Sócrates optou por retrancar e não dar explicações, é um direito que o assiste, pelo menos por enquanto. Pode ser que o silêncio seja de ouro, quanto às razões ele lá saberá.




Sócrates pode retrancar, até pode fazer birras e assumir uma posição de vítima embora não lhe fique bem, não se coadune, digo eu, com a dignidade que deveria estar intrinsecamente ligada ao cargo de Estado que desempenha. O que Sócrates não pode, ou, ao que parece, não deve, é opor-se a qualquer tipo de investigação de o "Caso Freeport". Na defesa da sua inocência quanto mais depressa e mais profundamente este "Caso" for investigado melhor. Ou não?

Estes últimos dias têm-me trazido à memória o "Caso Watergate" e os dois célebres jornalistas do Washington Post, Bob Woodward e Carl Bernstein, que, ao estabelecerem a ligação entre o assalto ao Edifício Watergate – sede do Partido Democrata – e a Casa Branca, lançaram uma investigação jornalística (soberbamente contada por Alan Pakula no seu "All the President's Men" em 1976) que veio a culminar com a retratação e demissão de Nixon.
Apesar das conspirações, destruição de provas, intervenção dos serviços secretos e das inúmeras ameaças, nunca o Washington Post recuou ou foi apelidado de "Jornalismo Travestido" nem acusado de perseguição por "ódio pessoal".


Existiram, à época, situações de obstrução gravíssimas e criminosas mas (e espero fazer compreender o meu raciocínio quando digo "pelo menos"), pelo menos, foram feitas pela calada, sub-repticiamente, sem queixinhas ou birras de vítima injustiçada.

Se a vítima é injustiçada pois que se levante, dê um murro na mesa e faça valer a sua inocência em termos dignos e compreensíveis, dê a cara ao povo que já votou e voltará a votar e demonstre onde se esconde a "horrenda cabala" que movem contra si; ir para um Telejornal de uma estação televisiva "concorrente" proclamar que os jornalistas da TVI são "muito feios e andam a perseguir-me com maldades porque não gostam de mim" não é caminho, não resolve nem é atitude tolerável num primeiro-ministro. Além do mais esse mesmo Telejornal, o da RTP 1, tem vindo a divulgar, como é de sua obrigação, obviamente, noticias tão badaladas quanto as da TVI, e mantém "on-line" os vídeos e entrevistas transmitidas; só (aqui) numa página da RTP "vídeos Freeport" contei 9 e mais 4 links a artigos sobre o mesmo. Ora bolas!

Nixon não se safou, ficou conhecido como "Tricky Dick"; pessoalmente, se tivesse de escolher um "petit non" pelo qual ficasse conhecida, do mal o menos, preferiria Tricky Dick a"Pinócrates", no mínimo é mais sensual...

José Sócrates poderá ou não estar inocente neste caso, a Manuela Moura Guedes pode estar com uma cara esquisita, o Vasco Polido Valente pode beber uns copos, a TVI pode ser uma estação jornalisticamente simpática ou intolerável, como queiram, mas, em nome da Liberdade de Imprensa, da Liberdade de Informação e dos Valores Democráticos que o nosso primeiro diz defender, vendo o comportamento e postura de um e outro, desculpem lá o mau jeito, quem me dera ter o José Eduardo Moniz no lugar do outro José.

Fica aqui abaixo, espero que me compreendam como compreenderão, por certo, o que está em causa.

2 comentários:

  1. Desculpe a intromissão, mas gostei muito do seu blogue.
    É profundo e tem inteligenncia.
    Esta mensagem diz muito.

    Um beijinho e um nom fim de semana.

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  2. Caíissima Sara,
    muitissimo obrigada, volte sempre ( e, p. f., traga um pacotinho de lenços de papel para eu limpar a baba de tanto elogio)
    Beijinho para si também

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