O LOBO VIRTUAL

«.../... De repente, surge-lhe um grande lobo à sua frente...

- Onde é que vais, linda menina?

Como o Capuchinho Vermelho não sabia que era perigoso falar com os lobos, ela respondeu-lhe:


- Vou até casa da minha avozinha. Tenho um pão muito fresquinho e alguns bolos para lhe dar...


- E onde vive a tua avozinha?


- É já ali, a primeira casa depois de passarmos a floresta.
O lobo pensou durante um bocado e disse:


- Queres fazer um jogo? Vamos ver quem é que chega primeiro a casa da tua avozinha... Tu vais pelo caminho da esquerda e eu pelo da direita. Queres? »


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Actualmente a história de "Capuchinho Vermelho" é muito diferente:

  • Primeiro porque "Capuchinho" já sabe que é perigoso falar com o "Lobo" e já sabe que ele está à espreita na floresta

  • Segundo porque "Capuchino" também já sabe que há determinadas informações que não deve dar, perguntas às quais não deve responder e que constituem sinais de perigo
Será?

Hoje recebi um e-mail da minha Amiga Luísa sobre uma história que todos conhecemos, sobre perigos dos quais todos somos capazes de falar com a consciência de que existem mas que talvez não tenhamos a clara noção de como enredam a realidade diária, de como as teias estratégicas, cuidadas e sistemáticas são tecidas em torno de potenciais alvos e de como estes são fáceis de manipular e explorar - tanto mais quanto maior a auto-confiança que cada um de nós, e os mais jovens em particular, tem na sua capacidade de reconhecer e lidar com os sinais de alerta, com o perigo, com a partilha de informação.
Os "Lobos" são metódicos, experientes, pacientes; fazem da recolha de informação e da sua sistematização um hobby, não têm pressas, estudam os seus alvos por gosto e desafio, buscam exaustivamente os possíveis erros na arquitectura dos seus planos, o maquiavelismo dos seus enredos constitui um desafio de sombria perfeição, da suprema arte de enganar vestindo a pele de cordeiro, são Os Impostores por excelência.




Aqui deixo o texto do e-mail que recebi; não sei quem o escreveu, temo que tenha tido as suas boas razões...


«Após deixar os livros no sofá ela decidiu lanchar, pegar no seu portátil e entrar online.
Ligou-se ao Messenger com o seu nome de código (nick): Docinho14.
Procurou na sua lista de amigos e viu que Meteoro123 estava on-line. Enviou-lhe uma mensagem instantânea:

Doçinho14: Oix. Que sorte estares aí! Pensei que alguém me seguia na rua hoje. Foi mesmo esquisito!

Meteoro123: Lol. Vês muita TV. Por que razão alguém te seguiria? Não moras num local seguro da cidade?

Docinho14; Com certeza. Lol. Acho que imaginei isso porque não vi ninguém quando me virei.

Meteoro123: A menos que tenhas dado o teu nome online. Não fizeste isso, pois não?

Docinho14: Claro que não. Não sou idiota, já sabes.

Meteoro123: Jogaste vólei depois das aulas hoje?

Docinho14: Sim e ganhamos!

Meteoro123: Óptimo! Contra quem?

Docinho14: Contra as Vespas do Colégio da Sagrada Família. LOL. Os uniformes delas são um nojo! Pareciam abelhas. LOL

Meteoro123: Como se chama a tua equipa?

Docinho14: Somos os Gatos de Botas. Temos garras de tigres nos uniformes. São impecáveis.

Meteoro123: Jogas ao ataque?

Docinho14: Não, jogo à defesa. Olha: tenho que ir. Tenho que fazer os TPC antes que cheguem os meus pais. Xau!

Meteoro123: Falamos mais tarde. Xau.

Meteoro123 foi à lista de contactos e começou a pesquisar sobre o perfil dela. Quando apareceu, copiou-o e imprimiu-o. Pegou na caneta e anotou o que sabia de Docinho até agora:
Nome: Susana
Aniversário: Janeiro 3
Idade: 13
Cidade onde vive: Porto
Passatempos: vólei, inglês, natação e passear pelas lojas

Além desta informação sabia que vivia no centro da cidade porque lho tinha contado recentemente. Sabia que estava sozinha até às 6.30 todas as tardes até que os pais voltassem do trabalho. Sabia que jogava vólei às quintas-feiras de tarde com a equipa do colégio, os Gatos de Botas. O seu número favorito, o 4, estava estampado na sua camisola.Sabia que estava no oitavo ano no colégio da Imaculada Conceição. Ela tinha contado tudo em conversas online.
Agora tinha informação suficiente para encontrá-la.


Susana não contou aos pais sobre o incidente ao voltar do parque. Não queria que ralhassem com ela e a impedissem de voltar dos jogos de vólei a pé.Os pais sempre exageram e os seus eram os piores. Ela teria gostado não ser filha única. Talvez se tivesse irmãos, os seus pais não tivessem sido tão super protectores.

Na quinta-feira seguinte, Susana já se tinha esquecido que alguém a seguira. O seu jogo decorria quando, de repente, sentiu que alguém a observava.
Então lembrou-se.
Olhou e viu um homem que a observava de perto. Estava inclinado contra a cerca na arquibancada e sorriu quando o viu. Não parecia alguém a quem temer e rapidamente desapareceu o medo que sentira.

Depois do jogo, ele sentou-se num dos bancos enquanto ela falava com o treinador. Ela apercebeu-se do seu sorriso mais uma vez quando passou ao lado. Ele acenou com a cabeça e ela devolveu-lhe o sorriso.

Ele confirmou o seu nome nas costas da camisola. Sabia que a tinha encontrado.Silenciosamente, caminhou a uma certa distância atrás dela. Eram só uns quarteirões até casa dela. Quando viu onde morava voltou ao parque e entrou no carro. Agora tinha que esperar. Decidiu comer algo até que chegou a hora de ir à casa da menina. Foi a um café e sentou-se.

Essa noite, Susana ouviu vozes na sala. 'Susana, vem cá!', chamou o pai. Parecia perturbado e ela não imaginava porquê. Entrou na sala e viu o homem do parque no sofá. 'Senta-te aí', disse-lhe o pai:

- 'Este senhor acaba de nos contar uma história muito interessante sobre ti'.

Susana sentou-se. Como poderia ele contar-lhes qualquer coisa? Nunca o tinha visto senão nesse mesmo dia!

-'Sabes quem sou eu?' perguntou o homem.

-'Não', respondeu Susana.'

-Sou polícia e teu amigo do Messenger - Meteoro123'.

Susana ficou pasmada.

-'É impossível! Meteoro123 é um rapaz da minha idade! Tem 14 anos e mora em Braga!'.

O homem sorriu.

-'Sei que te disse tudo isso, mas não era verdade. Repara, Susana, há gente na Internet que se faz passar por miudos; eu sou um deles. Mas enquanto alguns o fazem para molestar crianças e jovens, eu sou de um grupo de pais que o faz para proteger as crianças. Vim para te ensinar que é muito perigoso falar online. Contaste-me o suficiente sobre ti para eu te achar facilmente. Deste-me o nome da tua escola, da tua equipa e a posição em que jogas. O número e o teu nome na camisola fizeram com que te encontrasse facilmente.

Susana gelou.

-'Quer dizer que não mora em Braga?'.

Ele riu-se:

-'Não, moro no Porto. Sentiste-te segura achando que morava longe, não é? Tenho um amigo cuja filha não teve tanta sorte: foi assassinada enquanto estava sozinha em casa. Ensinam-se as crianças e jovens a não dizer a ninguém quando estão sozinhos, porém contam isso a toda a gente pela internet sem sequer se aperceberem. As pessoas maldosas enganam e fazem-se passar por outras para tirar informações sobre isto e aquilo online. Antes de dares por isso, já lhes contaste o suficiente para que te possam encontrar sem que te apercebas. Espero que tenhas aprendido uma lição disto e que não o faças de novo. Conta aos outros sobre isto para que também possam estar seguros'

-'Prometo que vou contar!'»

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WWW - Wild Web Woods

Um jogo do Conselho da Europa dedicado à segurança infantil e juvenil na Internet - a partir dos 3 anos

http://www.wildwebwoods.org/popup.php?lang=pt

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