Só não concordo com aquela frase que diz: «O grande problema dos portugueses é que José Sócrates parece estar realmente convencido do que diz. ». Esse não é, de todo, o grande problema dos portugueses, antes fosse... Esse é um dos problemas de Sócrates.
Como também não acredito que Passos Coelho esteja arrependido, não é tipo de arrependimentos; PPC faz o que for preciso, para agradar a quem o chutou para a frente, ou melhor dizendo, para cima, e para chegar onde quer, e ele quer.
Mas a temática aqui não é o povo português nem PPC, é a doença do doente: essa está diagnosticada e vem nos livros.
Nem mais nem menos, é isto mesmo que penso:«Rezam os manuais da especialidade que nestas circunstâncias não convém contrariar o doente, porque isso apenas contribuirá para agravar o seu estado de saúde».
Estou-me nas tintas para a saúde mental do doente mas realmente não vale a pena, o tempo e as palavras gastos a contraria-lo. Gastos não, perdidos.
O homem está mesmo convencido de que é bestial, de que tem toda a razão, de que ainda está para nascer outro. Não ouve ninguém, quem quiser que o oiça a ele e quem não quiser que se lixe, ou é estúpido ou é cúmplice de uma cabala negra, eventualmente por ânsia de poder ou despeito - julgamos o outro de acordo com os nossos princípios.
O homem não vai melhorar, vai morrer assim, envolto na sua megalomania egocêntrica, convencido de ser um grande estadista e as coisas que tenha feito menos confessáveis fê-las de pleno direito, o direito que assiste aos homens superiores ao comum dos mortais, um super-herói misto de Nietzsche e de Maquiavel.
Tudo isto é fácil de observar e entender, o que me espanta é como ainda há quem queira aturar este tretas do caraças.
O Tuga é espantoso... revê-se nas vitórias do sapatilhas, vinga-se de quem possa viver melhor nem que para tal tenhamos todos de viver pior.
E há o privilegiado que convive mal com a culpa subjacente aos seus privilégios resolvendo, mal, ilusoriamente, os dramas da sua moral burguesa num abraço à esquerda; uma esquerda falsa, débil e complexada que não se assume nem na vida que leva nem nas opções que faz, menos ainda socialmente, na forma desrespeitosa como vê o povão, a "gentinha".
Além destes acima referidos também há os bem intencionados, digamos assim. Os que não querem nada que cheire a foices e martelos mas que são assombrados pelo papão mau e feio da direita; Os que acham que este não é bom mas que "do mal o menos" como se isso fosse opção; e os que ainda acreditam, mesmo - também os há - esses são os que menos entendo. Como é possível não ver que o tipo é um impostor?
Por último há os tachistas, claro, os que, gramem ou não o chefe, lhe engraxam as botas e lhe cimentam o pedestal porque se ele cai é uma chatice, quem vier não os vai querer nem às suas gordurosas competências.
Quanto ao outro, ao que lhe veio servir de par nesta dança, já era lobo antes de lhe vestir a pele; Tudo tem um preço... e ele paga. Paga para ver, para bailar e para dar baile.
Começou por ir a um casting do LaFéria onde lhe foi recusado o estrelato mas jurou que o palco havia de lhe pertencer. Assim será - quem ele deve temer não é o Sapatilhas, esse vai dar-lhe o camarim de mão beijada; o seu pesadelo irá ser outro, e de peso...
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"I on line"- 21 de Maio de 2010
«O erro de José Sócrates e o tango de Passos Coelho»
por Paulo Pinto Mascarenhas
«O drama do líder do PSD é que poderá ter de passar os próximos anos a pedir desculpa aos portugueses em nome de José Sócrates»
Como a canção dos brasileiros Jorge Mautner e Caetano Veloso, a entrevista do primeiro- -ministro esta terça-feira à RTP deveria ter como título "Todo Errado". O erro de José Sócrates começa quando não assume as suas próprias responsabilidades na actual crise.
O secretário-geral do PS quase citou na íntegra o refrão de Mautner e Caetano: "Eu não peço desculpa e nem peço perdão. Não, não é minha culpa, essa minha obsessão." Ao contrário do presidente do PSD, com quem dança o tango da austeridade, o primeiro-ministro recusa-se a pedir desculpas.
A obsessão de Sócrates nunca teve a ver com o défice, tratado como um assunto menor, que nem sequer foi uma preocupação dos socialistas: durante os últimos anos estiveram convencidos e conseguiram convencer a maioria dos portugueses - contando para o efeito com o alto patrocínio presidencial de Jorge Sampaio em 2004 - de que havia vida para além do défice.
O grande problema dos portugueses é que José Sócrates parece estar realmente convencido do que diz. A entrevista à RTP foi de certo modo exemplar enquanto radiografia psicológica de um primeiro-ministro desligado da realidade do país.Durante 64 minutos, apenas pediu desculpa aos entrevistadores para os contradizer. De resto - e por junto - o pacote de austeridade e o aumento dos impostos resultaram de "ataques especulativos à zona euro" e nunca da sua actuação enquanto chefe do governo.
Na narrativa mitómana de Sócrates, Portugal não se poderia recusar a salvar o projecto europeu - e só por isso teve de juntar umas medidas avulsas ao extraordinário Programa de Estabilidade e Crescimento que, aliás, toda a "Europa" tinha aplaudido de pé.
Rezam os manuais da especialidade que nestas circunstâncias não convém contrariar o doente, porque isso apenas contribuirá para agravar o seu estado de saúde. Não vale a pena lembrar que foi a mesmíssima Europa de Merkel, Sarkozy e Barroso que exigiu medidas suplementares para um PEC considerado insuficiente. Na leitura de Sócrates, é Portugal que pode salvar a "Europa" - e não o contrário. Do que o primeiro-ministro não se lembra, ou o que prefere esquecer, é que os "ataques especulativos" à zona euro só acontecem porque existem umas economias a sul, onde se inclui Portugal, que são alvos fáceis e apetecíveis pela sua fragilidade estrutural.
Pedro Passos Coelho deve estar arrependido por ter aceitado ser o par Sócrates neste baile surrealista. É verdade que são precisos dois para dançar o tango, como disse o primeiro-ministro em Espanha, mas convém que os bailarinos não passem a vida a pisar os pés um do outro.
O drama político do líder do PSD é que poderá ter de passar os próximos anos a pedir desculpa aos portugueses em nome de José Sócrates.»
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