Sinto e lembro como se Dezembro de 1980 tivesse sido há pouco
Lembro-me do que fiz no dia 4 de Dezembro; onde estive, do frio gélido, do meu blusão branco da campanha eleitoral.
Lembro-me de chegar a casa para jantar e de me aguardar uma surpresa... uma boa e terna surpresa. Lembro-me do telefone tocar... De lá não quiseram falar comigo, "chama o teu pai... já te disse, chama o teu pai". Estranhei. A voz incrédula do meu pai... Morreu? Quem? - perguntava eu - sem resposta. E logo a imagem do Freitas na TV...
Lembro-me de ter saído porta fora sem explicações ou despedidas, esbaforida à procura dos meus amigos, os que tinham crescido comigo nas arreigadas alas da JSD.
A noite muito escura, gélida, e tudo muito longe, todos muito longe. A estupefacção, a incredulidade. As gargalhadas de um grupo ao passar à porda de uma cervejaria... já aparecera a primeira anedota.
A incerteza... Não das presidenciais, mas o governo... O país... Todas as ambições à solta, sem freio, sem líder. 45 anos... era cedo, demasiado cedo, injustamente cedo.
A noite estava muito escura, gélida, "preciso dormir, preciso dormir..."
Há dois dias, ao ver, de novo, um documentário realizado em 2005, pensei muito de mim para mim, sem exageros, pieguices frívolas ou histéricas: Há 30 anos... como é possível?
Há dores que se alojam em nós e quase não damos por elas... Há dores que permanecem como sendo parte da nossa vida, morrerão connosco.
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