Mesmo considerando apenas metade das prescrições, serão de facto necessárias?
Assumindo a minha incapacidade técnica para apreciar a questão atrevo-me a dizer que não, um rotundo não.
Quando o meu filho tinha uns 8 anos uma coordenadora do ensino primário veio-me com a conversa do Transtorno de Deficit de Atenção e Hiperactividade ... Sim, o meu filho é "cabeça no ar", tem uma imaginação super-produtiva, tem uma aptidão criativa acima da media; tem outras aptidões normalíssimas e até uma ou outra que deixam a desejar (como a aptidão numérica, para mal dos seus ínfimos pecados). Hiperactivo nunca foi e quanto ao deficit de atenção... depende em absoluto daquilo para que esta é requerida: se o "chateia" ele divaga. Isto pode dificultar-lhe a vida em alguns aspectos importantes mas não estou de todo convencida de que, globalmente, seja negativo, antes pelo contrário.
A minha resposta a esta conversa do "Será que..." foi imediata e, até, um tanto abrupta:
"Se ele não tem Deficit de Atenção, o caso está arrumado e se tem arruma-se da mesma maneira porque não vou droga-lo com Ritalina aos 8 anos, nem aos 10 nem aos 14 lá porque ele não se concentra na conversa da professora e faz perguntas que alguém considera descabidas; Além do mais há outras formas inócuas e saudáveis de treinar a concentração". Fim de papo.
Dois ou três anos mais tarde uma das psicólogas de serviço na escola, mulher sensata e interessada, que conversava informalmente com o meu filho com frequência, fez-lhe os testes rotineiros e chegou à mesma conclusão que eu: o Luís só não concentra a sua atenção naquilo que não lhe interessa ou que não o motiva, se há algum deficit é de paciência.
MAS...
O que teria acontecido se eu me tivesse assustado com a converseta da tão diligente coordenadora? Se me tivesse passado pela cabeça que a minha obrigação de boa mãe era ajudar a criança a conseguir embrenhar-se no que lhe punham na frente? E se o tivesse levado a um doutor que achasse que o Luís só tinha a ganhar se se deixasse de devaneios inúteis e até prejudiciais à sua carreira lectiva?
Quantos pais, assustados, cansados, pouco informados ou simplesmente impacientes estão "medicando" os seus rebentos na pura convicção de que é absolutamente necessário?
"Quando ele pára de tomar fica logo mais nervoso, irritadiço, não consegue estudar..."
Pois é, quando se retira uma droga que criou dependência acontece isso...
Como lidar com esta questão? INFORMAÇÃO, magotes de informação proveniente de diversas fontes, fundamentadas, identificadas e independêntes.
E assumir a responsabilidade de ter uma criança, não um bichinho bem amestrado.
MAIS...
Ritalina, a droga legal que ameaça o futuro
– 25 DE NOVEMBRO DE 2013
Com efeito comparável ao da cocaína, droga é receitada a crianças questionadoras e livres. Professora afirma: “podemos abortar projectos de mundo diferentes”
Por Roberto Amado, no DCM
É uma situação comum. A criança dá trabalho, questiona muito, viaja nas suas fantasias, se desliga da realidade. Os pais se incomodam e levam ao médico, um psiquiatra talvez. Ele não hesita: o diagnóstico é déficit de atenção (ou Transtorno de Deficit de Atenção e Hiperatividade – TDAH) e indica ritalina para a criança.
O medicamento é uma bomba. Da família das anfetaminas, a ritalina, ou metilfenidato, tem o mesmo mecanismo de qualquer estimulante, inclusive a cocaína, aumentando a concentração de dopamina nas sinapses. A criança “sossega”: pára de viajar, de questionar e tem o comportamento zombie like, como a própria medicina define. Ou seja, vira zumbi — um robozinho sem emoções. É um alívio para os pais, claro, e também para os médicos. Por esse motivo a droga tem sido indicada indiscriminadamente nos consultórios da vida. A ponto de o Brasil ser o segundo país que mais consome ritalina no mundo, só perdendo para os EUA.
A situação é tão grave que inspirou a pediatra Maria Aparecida Affonso Moysés, professora titular do Departamento de Pediatria da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp, a fazer uma declaração bombástica: “A gente corre o risco de fazer um genocídio do futuro”, disse ela em entrevista ao Portal Unicamp. “Quem está sendo medicado são as crianças questionadoras, que não se submetem facilmente às regras, e aquelas que sonham, têm fantasias, utopias e que ‘viajam’. Com isso, o que está se abortando? São os questionamentos e as utopias. Só vivemos hoje num mundo diferente de mil anos atrás porque muita gente questionou, sonhou e lutou por um mundo diferente e pelas utopias. Estamos dificultando, senão impedindo, a construção de futuros diferentes e mundos diferentes. E isso é terrível”, diz ela.
O fato, no entanto, é que o uso da ritalina reflecte muito mais um problema cultural e social do que médico. A vida contemporânea, que envolve pais e mães num turbilhão de exigências profissionais, sociais e financeiras, não deixa espaço para a livre manifestação das crianças. Elas viram um problema até que cresçam. É preciso colocá-las na escola logo no primeiro ano de vida, preencher seus horários com “actividades”, diminuir ao máximo o tempo ocioso, e compensar de alguma forma a lacuna provocada pela ausência de espaços sociais e públicos. Já não há mais a rua para a criança conviver e exercer sua “criancice.
E se nada disso funcionar, a solução é enfiar ritalina goela abaixo. “Isso não quer dizer que a família seja culpada. É preciso orientá-la a lidar com essa criança. Fala-se muito que, se a criança não for tratada, vai se tornar uma dependente química ou delinquente. Nenhum dado permite dizer isso. Então não tem comprovação de que funciona. Ao contrário: não funciona. E o que está acontecendo é que o diagnóstico de TDAH está sendo feito em uma percentagem muito grande de crianças, de forma indiscriminada”, diz a médica.
Mas os problemas não param por aí. A ritalina foi retirada do mercado recentemente, num movimento de especulação comum, normalmente atribuído ao interesse por aumentar o preço da medicação. E como é uma droga química que provoca dependência, as consequências foram dramáticas. “As famílias ficaram muito preocupadas e entraram em pânico, com medo de que os filhos ficassem sem esse fornecimento”, diz a médica. “Se a criança já desenvolveu dependência química, ela pode enfrentar a crise de abstinência. Também pode apresentar surtos de insónia, sonolência, piora na atenção e na cognição, surtos psicóticos, alucinações e correm o risco de cometer até o suicídio. São dados registrados no Food and Drug Administration (FDA)”.
ALÉM DISTO...
Leon Eisenberg, o psiquiatra que "descobriu" o transtorno do défice de atenção com hiperatividade (TDAH) sete meses antes de sua morte, quando já tinha 87, disse que "o TDAH é um exemplo de doença fictícia.
"O objetivo de Leon Eisenberg e dos seus colaboradores foi conseguir enraizar a crença de que o TDAH tem causas genéticas, que é uma doença com que se nasce. Ele próprio mencionou, junto com as palavras em que disse que era uma doença inventada, que a ideia de que uma criança tem TDAH (ou seja, a ideia de que uma criança é muito agitada e problemática) desde o nascimento foi sobrevalorizada. No entanto, ao chegar a aclarar esta situação na população e nos pais, o sentimento de culpa desaparece, os pais sentem-se aliviados porque a criança nasce dessa maneira e o tratamento é menos questionável. Em 1993, foram vendidos nas farmácias alemãs 34 kg de metilfenidato. Em 2011, vendeu 1,760 kg.
O conhecido psiquiatra, que veio a assumir a gestão de serviços psiquiátricos no prestigiado Massachusetts General Hospital, em Boston, onde foi reconhecido como um dos mais famosos praticantes de neurologia e psiquiatria do mundo, decidiu confessar a verdade meses antes de sua morte, por motivos de cancro da próstata, acrescentando que um psiquiatra infantil deve tentar determinar as razões psico-sociais que podem originar os problemas de comportamento. Ver se há problemas com os pais, se há discussões familiares, se os pais estão juntos ou separados, se há problemas com a escola, se a criança tem dificuldade para se adaptar, porque lhe custa a adaptar, etc. Para tudo isso, ele acrescentou que, logicamente, isso leva tempo, trabalho e, acompanhado de um suspiro, concluiu: "receitar uma pílula para o TDAH é muito mais rápido"
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