UMA TEMPESTADE NUMA CHÁVENA DE CHÁ

Rishi Sunak, o actual primeiro-ministro inglês, reuniu-se em Windsor com Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia, para tentar desemaranhar o sarilho em que ficou o Protocolo da Irlanda do Norte quando foi fechado o acordo Brexit. 
Para quem não ligou nenhuma ao que aconteceu a coisa é, muito sumariamente, assim: 
A U.E. tem fronteiras fechadas com os estados não membros; 
A Irlanda do Norte tem uma fronteira aberta com a Républica da Irlanda, que é membro da U.E.; 
Ambas as "Irlandas" querem a fronteira aberta (e precisam, para manter estável a convivência pacífica que tão difícil foi de conseguir).
Os Outros países do Reino Unido - Inglaterra, Escócia e Pais de Gales - estão numa situação de Liberdade de Circulação e de impostos sobre bens (com as diferenças de lei que isto acarreta) diferente da Irlanda do Norte, que é "tão Reino Unido" quanto qualquer um dos outros três países

Teresa May deixou o cargo com a situação em aberto, Boris Johnson fechou o acordo com a péssima situação actual e não se coibiu de afirmar: "Se o Protocolo da Irlanda não servir rasga-se".

Após a reunião com von der Leyen,  Rishi Sunak dirigiu-se ao parlamento e agradeceu ao seu antecessor Johnson « pelo trabalho desenvolvido para um acordo entre a UK e a UE». Os membros do parlamento escaqueiraram-se a rir, em ambas as bancadas, apenas o governo manteve a face. Nem comento, apenas acrescento que, significativamente, e talvez surpreendentemente, Keir Starmer, o líder Trabalhista ofereceu a Sunak o voto do seu partido  em apoio à resolução desta arrastada questão. Deve ser assim quando valores mais altos se levantam


Até aqui, mais gargalhada, menos gargalhada, as coisas correram dentro da normalidade  e não gastaria uma letra a escrever sobre o assunto mas, a comprovar  de que um idiota nunca vem só, houve uns tantos que quiseram fazer ouvir as suas indignadas vozes por onde acharam que conseguiriam pegar.
E pegaram por isto:

Finalizada a reunião em Windsor, Ursula von der Leyen encontrou-se com  Carlos III  para um chá no castelo de Windsor - por sugestão do Nb10. 
CA-TA-PUM. Caiu o Carmo e a Trindade lá do sítio. 
E porque o rei se está a imiscuir na política do Estado, porque é inconst... Não, afinal não é... Porque roça a inconstitucionalidade, porque aumenta o risco para Sunak de ver um aumento de contestação do emergente acordo (hha-hhaa-hha), porque parece impossível, porque é cruzar os limites, porque assim e assado e frito e cozido

Portanto, o rei politizou-se porque tomou chá com a presidente da Comissão Europeia. Como se fosse estranho ou novidade os monarcas britânicos encontrarem-se com tudo quanto é líder internacional. 
Não há pachorra... 
Não fora o Protocolo da Irlanda do Norte que estivera em causa e eu queria ver quantas vozes se levantariam. Não fora o Brexit estar a ser lamentado por um crescente número de britânicos... Não fora a saída da U.E. ter sido rejeitada na Irlanda do Norte (e  na Escócia) eu queria ver se estariam tão nervosos. 
Se dúvidas houvesse bastaria ver as capas dos jornais do dia seguinte, apenas o conservadoríssimo Daily Mail tocou na questão e, notavelmente, com uma  pergunta em cabeçalho. (A mim ensinaram-me que uma pergunta não é uma notícia, é uma hipótese subjectiva). Todos os outros só falaram do que realmente importa

Queen Elizabeth II  with Martin McGuinness during her visit to
Northern Ireland in June 2012.
Photo: Paul Faith/WPA Pool/Getty Images
Ignorando o que está em jogo e optando por esquecer o diplomático e fundamental papel que a rainha Isabel II teve na conquista da paz entre "as Irlandas", exercendo o seu "soft power" do alto da sua incontestada respeitabilidade, figuras como  Jacob William Rees-Mogg - o ultra-conservador "brexista" ex-ministro de Johnson e da rapidíssima Liz Truss por oposição a Sunak - ou como a ex-primeira-ministra da Irlanda-N e ex-líder do partido Unionista, cargos dos quais se demitiu após enorme contestação e moção de censura (tendo ido exercer a sua réstia de poder para a Câmara dos Lordes), seguidos por um pequeno coro de fundamentalistas com frustrações bem identificáveis. Ó raça... É que nem os tendencionalmente républicanos embarcaram na cantiga. Ridículos.

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