O VIPERINO

 O vício deu-lhe conta dos neurónios... 

A sorte dele é que tinha muitos, restam-lhe uns quantos, ainda fala, fala que se farta, só não fala quando devia falar mas isso não é por incapacidade, é porque lhe dá jeito, ou porque não lhe dá jeito

Quando fala é venenoso, venenoso como um escorpião, está-lhe na massa do sangue, não resiste, é mais forte do que ele

Eu sei de onde lhe vem a força... Tem uma necessidade patológica de se sentir amado, engrandecido: o mais inteligente, o mais culto, o mais querido... e o mais... (como é que se diz "sacana" em linguagem polida? Canalha? Pervertido?) Ele sempre quis ser o número 1 mas mesmo com a vantagem do berço e da educação não lhe foi fácil, fartou-se de esgravatar, de trair, de se chegar à frente. Coitado, tantas vezes vencido. Nasceu filho único mas  apenas por um mandato de 4 anos, depois apareceu um fedelho, depois outro... O pai não tinha tempo para o aturar, a mãe tinha uma vida social muito activa. Que chatice! O petiz ressentiu-se, sofreu, até chumbou a 4ª classe do ensino primário. Deve ter jurado que nunca mais, nunca mais alguém se iria rir dele. 

O rapaz era esperto, aprendeu truques, cresceu no meio, recebeu conselhos, dos amigos e dos amigos do pai que eram muitos e tudo gente "bem relacionada... Baldou-se ao serviço militar obrigatório, fez-se à vida

E fez-se mau, mau como só os simpáticos e amáveis sabem ser

Impôs-se finuras para vencer o seu complexo de menino rural nascido de uma família dos confins norte do país; havia de conquistar o mundo académico, da cultura, da informação, da política, havia de ser o rei na capital do império. A urbanidade escapou-lhe, nas suas birras dissimuladas, despejadas em palavras catedráticas, não se apercebe do quão burgesso consegue ser

De quem falo? Não posso dizer, seria processada por difamação, calúnia, eu sei lá

Uma coisa vos digo com toda a sinceridade: estou farta da capital, nasci em Lisboa mas não tenho culpa, estou farta de gente que rosna entre os dentes quando sorri. Quem me dera uma "terra" à qual pudesse chamar minha onde os cardos fossem cardos e o trigo fosse trigo

O B-A BÁ DE DOIS CONFLITOS CRUCIAIS

     Para quem ande distraído, não tenha paciência, ou tempo, para retirar ilações práticas do chorrilho de
informação que nos chove a cada noticiário, digno desse nome, sugiro estes 10  minutos da análise de Sir John Sawers, antigo chefe do Serviço de Inteligência do MI6.

    Neste curto vídeo pode ver-se a conversa que manteve com Christiane Amanpour este passado sábado, 20/04; fala sobre Israel, Gaza e o Irão e não é uma opinião qualquer: Sawers tem um profundo conhecimento do Médio Oriente,  trabalhou sob o MI6 na Síria, Yemen, Iraque e Afeganistão, foi embaixador no Egipto durante 2 anos, esteve envolvido nos programas políticos para o Irão, Iraque e Afeganistão; liderou o grupo britânico nas negociações do programa nuclear entre a  U.E. e o Irão. Enquanto chefe do MI6 teve, obviamente, acesso privilegiado  nos contactos com a Mossad e a Direcção de Inteligência Militar de Israel 

    Sobre o que se refere à obscura posição dos apoiantes de Trump nas bancadas republicanas no Congresso no seu boicote ao apoio à Ucrânia chega-lhes forte e feio nuns quantos "Estão plenamente errados" embrulhados em punhos de renda;  Também dos americanos não fala sem conhecimento profundo: esteve 3 anos na Universidade de Harvard, depois na embaixada britânica em Washington onde liderou a equipe de "Foreign and Defence Policy", foi representante permanente nas UN. Actualmente faz parte do Comitê de Direcção das Conferências Bilderberg e é um dos governadores da prestigiada Ditchley Foundation que se dedica à promoção de relações internacionais com especial foco nas anglo-americanas

Posto isto vale os minutos de o ouvir falar sobre os crassos erros israelitas e a falta de visão (ou visão moscovita #1)  do grupelho Trump/MAGA

 

#1 A "Visão Moscovita" será provavelmente trazida a este blog (e por aí fora, variando a designação) muitas vezes ao longo dos tempos que se avizinham; 
Delineada pelo Kremlin, difundida entre os cristãos de boa-fé pela pró-soviética Igreja Ortodoxa russa (os evangélicos americanos foram o grupo-teste) e propagandeada pelos meios de infiltração regidos pelo Estado chinês (Tik-Tok, "trolls" e congéneres; já repararam na quantidade de "app's bíblicas" que, de repente, apareceram para se instalarem nos sistemas dos TM?) assola já os conservadores pelo mundo onde se pretende minar a sobrevivência da democracia. Até mesmo no democrático Israel, sendo um Estado judaico enveredou por um ressurgimento fundamentalista e um governo autocrático fruto de alianças mais do que duvidosas que deixaram a um canto os resultados eleitorais
Por cá começam a agrupar-se e, faço uma apostinha, surgirão à luz com candidato às Presidenciais 2026. O mote? A 4ª República...  "É preciso mudar o regime"

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Por agora os avisos apresentam-se na América e são gritantes - 
como gritante foi o imprescindível livro "Fascismo, um Aviso" de Madeleine Albright;  Fugida da Checoslováquia com a sua família quando da ocupação nazi em 1939, regressou após o fim da II Guerra e de novo abandonou o seu país, com estatuto de refugiada, após a evasão soviética de Praga. Não são de todo suficientes aqueles que o leram e menos ainda os que compreenderam e levaram a sério

Aqui abaixo deixo um bom exemplo desses "avisos" pela boca do historiador, e escritor, Timothy Snyder durante a sua exposição perante o Congresso dos USA antes da votação da proposta de apoio militar à Ucrânia no passado sábado



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UMA NOITE DE CHUVA NO DUBAI

Hoje não me apraz divagar sobre as aflições que vão pelo mundo, chegaram-me os noticiários da manhã para ficar malacafenta para o resto do dia.  Tive a sorte de ser salva por um telefonema que teve pelo meio uma história com graça suficiente para dissolver o achaque e que pode ser uma sugestão para muitos dos que estão fartos de ver os frutos do seu trabalho a voar nas asas dos impostos e da aberração do custo de vida cá pelo nosso burgo

Então foi assim: 

O marido de uma "piquena" que conheço há muitos anos, bem-nascido súbdito de Sua Majestade, deslocou-se ao Dubai em trabalho. Na quarta-feira deixou o hotel pelo túnel de ligação directa ao aeroporto  tendo uma ténue esperança de que, até à hora do seu voo, a enxurrada se dissipasse e surgisse um céu estrelado e convidativo, embora lá fora continuasse a chover torrencialmente 

No aeroporto reinava o caos, mais parecia um grande armazém em liquidação total (a descrição é do sujeito). Os painéis informativos não eram animadores, mais voos iam sendo cancelados um após outro.

 Dirigiu-se ao único restaurante que tem dezenas de TV's que só transmitem programas desportivos; com a motivação certa convenceu um empregado de que era possível arranjar-lhe um só lugarzito para ver o jogo do Manchester City vs Real Madrid. Ao menos isso... Pois, mas a coisa não correu bem, foi o empate resolvido a penalties e o Manchester foi de frosques, goodbye Champions. É muito para um homem só

Desanimado com o jogo e cansado do barulho envolvente foi em busca de um poiso com o sossego possível para abrir o portátil. Algum tempo depois reparou que ao seu lado estava um jovem com uma mochila e uma guitarra aos pés, absorto no computador que tinha sobre o colo. Provavelmente aligeirado pelos whiskies que lhe fizeram companhia durante a transmissão do jogo achou por bem pedir a guitarra emprestada e, timidamente, começou a trautear umas canções dos Beatles; afinal ainda se lembrava das dedilhações dos dó-ré-mi e entusiasmou-se. Umas baladas dos Queen e começaram a chover-lhe "umas massas" na caixa da guitarra aberta ao seu lado. Mais uns tró-la-rós e tinha direito a palmas. Duas canções de Presley e tinha a noite ganha. Perdido de riso agradeceu aos fans e deu o espectáculo por encerrado. Então vieram os "só mais uma" e resolveu dizer "Eu já volto, vou ao WC". Pirou-se de levezinho e foi dar uma volta pelo enorme aeroporto; por curiosidade resolveu contar "as massas" que o dono da guitarra lhe enfiara amavelmente num saco. Incrédulo achou que o melhor era ir às compras, depois telefonou à mulher, a horas impróprias. Ela atendeu:

"Blá-blá-blá, ao menos arranjaste sítio para ver o jogo?"

 " Vi, blá-blá-blá... Comprei-te uma prenda com o dinheiro que ganhei a cantar no aeroporto, ganhei um pastelão de massa"

 "Um pastelão de massa? Não me compraste mais velas para perfumar a casa, pois não?  Espera, tu disseste A Cantar No Aeroporto?"

"Sim, a mais aplaudida foi «Can't Help Falling in Love»  Não, nem vi velas, comprei-te um anel de ouro, e ainda deu para um saco de fraldas para uma desgraçada que estava ali sentada com um bebé todo sujo e o saco das fraldas vazio sem saber onde as ir comprar"

Moral da história: meus amigos, se pensarem que o ordenado não chega e tiverem jeitinho para uma qualquer arte, agarrem na indeminização e comprem um bilhete de avião para o Dubai, nem precisam sair do aeroporto, o ouro está mesmo ali


INQUIETAÇÕES DE UMA NOITE DE PRIMAVERA

 Obviamente que o satânico israelita quer atacar dentro do território do satânico iraniano

Conseguirá Biden pôr um freio a Netanyahu e evitar uma catástrofe?
As probabilidades parecem baixas, baixas mas fortes. 
Por um lado Netanyahu precisa desesperadamente de um pretexto para se manter no poder, tem de evitar eleições a qualquer custo, mais do que nunca após a rebelde visita de B. Gantz a Washington há pouco mais de um mês. Por agora já conseguiu o que nunca tinha acontecido, que o Irão atacasse directamente Israel.
Netanyahu sabe que não será abandonado, não porque alguém o queira defender por convicção e justiça mas porque quase ninguém quer ver o Irão estender os seus já longos tentáculos

O Irão está mesmo a "pedi-las"?  Está, há décadas. Mas não agora, de momento o Ocidente tem o prato cheio, demasiado cheio e tem de o digerir. Não me alargo, parece-me óbvio.

Por outro lado...

Esta noite escolhem-se lados, joga-se o futuro imediato; Jordânia, Egipto, Iraque, Catar, Arábia Saudita, até o membro da NATO Turquia virá arrotar a sua posta de pescada.  E o Líbano... esta noite vê a sua paz podre ser jogada como se não passasse de um deserto destinado a confrontos alheios

Netanyahu diz que  "As defesas de Israel estão preparadas"; Estão tão claramente preparadas quanto clara é, neste preciso momento, a presença da Força Aérea dos USA e da RAF na defesa activa dos céus de Israel, para já não referir a preciosa informação da Inteligência dos "5Eyes"

Ah mas o "Iron dome"... Eu não sei nada de estratégia militar mas se fosse militar iraniana telefonava aos meus amigos Houtis e Hezbollah e dizia-lhes: Disparem agora contra o "Iron dome" que os nossos mísseis estão a chegar. Não é preciso pedir "por favor" e os seus ataques nesta noite são prova disso

A "solidariedade" tem de ter um preço, a impunidade habitual tem um limite e esse está, neste momento, na linha de fogo. Não haverá apoio internacional a um contra-ataque. Não é Israel que está em causa, são as decisões egocêntricas de Netanyahu (e, em boa verdade, as de Ben-Gvir, o tenebroso ministro da Segurança Nacional que tem uma eventual queda do governo no bolso da camisa)

SE... Se Israel refrear a sua resposta o pior poderá ser evitado;
E a aceleração urgente do programa nuclear de um Irão economicamente em crise não será precipitada

(Em 2020 o Irão atacou com mísseis duas bases militares dos USA no Iraque, em resposta ao assassinato, com drones, de Gen. Qasem Soleimani; O Pentágono opôs-se veementemente a qualquer tipo de contra-resposta, tão veementemente que Trump, no final do seu mandato, a dias da tomada de posse de Biden, a contragosto e com um plano no bolso, se viu forçado a aceitar ; um inferno foi evitado)

MAS... Mas não é essa a ambição de Netanyahu. Até ao momento em que escrevo os drones iranianos têm sido interceptados, mas os mísseis ainda não chegaram a Israel, muitos já foram interceptados em espaço aéreo jordano, muitos ainda estão em vôo.  Quais sãos os seus alvos? Serão todos,  ou quase todos, abatidos? Admitamos que sim,  USA e UK estão a fazer o possível, o "Iron dome" está a cumprir o seu papel;  Uma coisa fica clara: se, em vez de drones, rockets e mísseis estarem a ser enviados desfasadamente chegassem numa barrage única a situação seria por certo muito diferente. Fica a ameaça demonstrada

Qual será a secreta esperança de Netanyahu? (Comecemos por perguntar o que pretendia ele ao atacar mortalmente o Irão no meio da guerra que tem entre mãos)

Esta noite o objectivo racional é voltar a meter o génio negro dentro da garrafa e evitar que "dias"  se transformem em "décadas"

Aguardemos o amanhecer

Depois... Depois é uma questão de tempo, 

ou de uma revolução no Irão 


ACTUALIZAÇÃO -12H

Acabei agora de ouvir Efraim Halevy, ex-director da Mossad:

1- Não está seguro de que uma retaliação israelita esteja afastada, num outro contexto mais alargado 

2- Admite que a situação na fronteira com o Líbano se venha a agravar e é tempo de Irão e Israel repensarem o seu futuro 

3- Não é altura para vingança, é sempre uma má política; insiste em que a mais elevada prioridade deve ser a libertação dos reféns, que, sabe-se agora encontrarem-se em condições de enorme sofrimento, que se recusa a descrever em directo, particularmente as mulheres 

4- Sobre as últimas declarações de Ben-Gvir, que considera que devem ser ignoradas as palavras de Biden e se deve avançar sem hesitações sobre Rafah, diz apenas " Esse indivíduo em especial deve ser totalmente ignorado"

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