UMA NOITE DE CHUVA NO DUBAI

Hoje não me apraz divagar sobre as aflições que vão pelo mundo, chegaram-me os noticiários da manhã para ficar malacafenta para o resto do dia.  Tive a sorte de ser salva por um telefonema que teve pelo meio uma história com graça suficiente para dissolver o achaque e que pode ser uma sugestão para muitos dos que estão fartos de ver os frutos do seu trabalho a voar nas asas dos impostos e da aberração do custo de vida cá pelo nosso burgo

Então foi assim: 

O marido de uma "piquena" que conheço há muitos anos, bem-nascido súbdito de Sua Majestade, deslocou-se ao Dubai em trabalho. Na quarta-feira deixou o hotel pelo túnel de ligação directa ao aeroporto  tendo uma ténue esperança de que, até à hora do seu voo, a enxurrada se dissipasse e surgisse um céu estrelado e convidativo, embora lá fora continuasse a chover torrencialmente 

No aeroporto reinava o caos, mais parecia um grande armazém em liquidação total (a descrição é do sujeito). Os painéis informativos não eram animadores, mais voos iam sendo cancelados um após outro.

 Dirigiu-se ao único restaurante que tem dezenas de TV's que só transmitem programas desportivos; com a motivação certa convenceu um empregado de que era possível arranjar-lhe um só lugarzito para ver o jogo do Manchester City vs Real Madrid. Ao menos isso... Pois, mas a coisa não correu bem, foi o empate resolvido a penalties e o Manchester foi de frosques, goodbye Champions. É muito para um homem só

Desanimado com o jogo e cansado do barulho envolvente foi em busca de um poiso com o sossego possível para abrir o portátil. Algum tempo depois reparou que ao seu lado estava um jovem com uma mochila e uma guitarra aos pés, absorto no computador que tinha sobre o colo. Provavelmente aligeirado pelos whiskies que lhe fizeram companhia durante a transmissão do jogo achou por bem pedir a guitarra emprestada e, timidamente, começou a trautear umas canções dos Beatles; afinal ainda se lembrava das dedilhações dos dó-ré-mi e entusiasmou-se. Umas baladas dos Queen e começaram a chover-lhe "umas massas" na caixa da guitarra aberta ao seu lado. Mais uns tró-la-rós e tinha direito a palmas. Duas canções de Presley e tinha a noite ganha. Perdido de riso agradeceu aos fans e deu o espectáculo por encerrado. Então vieram os "só mais uma" e resolveu dizer "Eu já volto, vou ao WC". Pirou-se de levezinho e foi dar uma volta pelo enorme aeroporto; por curiosidade resolveu contar "as massas" que o dono da guitarra lhe enfiara amavelmente num saco. Incrédulo achou que o melhor era ir às compras, depois telefonou à mulher, a horas impróprias. Ela atendeu:

"Blá-blá-blá, ao menos arranjaste sítio para ver o jogo?"

 " Vi, blá-blá-blá... Comprei-te uma prenda com o dinheiro que ganhei a cantar no aeroporto, ganhei um pastelão de massa"

 "Um pastelão de massa? Não me compraste mais velas para perfumar a casa, pois não?  Espera, tu disseste A Cantar No Aeroporto?"

"Sim, a mais aplaudida foi «Can't Help Falling in Love»  Não, nem vi velas, comprei-te um anel de ouro, e ainda deu para um saco de fraldas para uma desgraçada que estava ali sentada com um bebé todo sujo e o saco das fraldas vazio sem saber onde as ir comprar"

Moral da história: meus amigos, se pensarem que o ordenado não chega e tiverem jeitinho para uma qualquer arte, agarrem na indeminização e comprem um bilhete de avião para o Dubai, nem precisam sair do aeroporto, o ouro está mesmo ali


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