PONTOS NOS I's - HOJE NÃO ME APETECE BRINCAR

"A dúvida que havia sobre José Sócrates era sobre se seria algum dia apanhado" (JMF)
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Ao longo destes últimos dias, desde a detenção de Sócrates, não ouvi uma única voz - de jornalista, político ou comum mortal entrevistado na rua - cair em descrédito e dizer: "Não pode ser, Sócrates é um homem sério".
Retiremos conclusões...

Ouvi sim uma espécie de zarolhos - daqueles que só vêm para um lado - insurgirem-se com a forma "mediática" como Sócrates foi detido, como se fosse possível detê-lo de forma não mediática; seria sempre uma questão de minutos, mais dez menos dez. 

Adiante... Sócrates é um garboso rapaz, banhou-se na multidão, assumiu o poder (e de que maneira...), vestiu-se de Armani, pavoneou-se e, quando deixou para trás o país na bancarrota, foi filosofar para Paris, pagar almoços como um árabe e deleitar-se no bem-bom. Ou seja esteve-se completamente "dans les encres" (que é como quem diz "nas tintas") para o povinho e fê-lo com altivez e ar de gozo. Gastou, comprou, pôs e dispôs como se fosse um herdeiro rico, como se não tivesse contas a dar. E, espantosamente, ninguém lhas pediu, ou conseguiu pedir. 

Pois, mas tem contas a dar: ele foi primeiro-ministro, um cargo público ao serviço dos portugueses e pago por estes para o exercer no seu melhor interesse, seu, dos portugueses, como deverá ser óbvio.
E na hora de o deter, vamos ter todos muito respeitinho pelo cidadão, pela privacidade, pela presunção de inocência? Para o descaramento com que nos gozou muita sorte teve o cidadão.

Deixemo-nos de tretas, aqueles, poucos mas barulhentos, que vieram à boca de cena preocupados com a forma da detenção de Sócrates, por "questões de princípio", ética de justiça, protecção da sociedade civil, só lhes deu para se preocuparem com ética e justiça agora, nestes últimos dias? Presunção de inocência? Mas somos todos parvos? Onde tinha essa gente metido os seus princípios e as sua noções de ética quando se silenciou perante a arrogante e bem gozada impunidade de um tipo que tinha, e tem, uma indiscutível e enorme responsabilidade perante todos os portugueses?
Não me venham pregar moral com a conivência no bolso, o único pecado na detenção de Sócrates é ter tardado tanto.


E tendo eu pensado isto encontrei o artigo de hoje do JMF.
Não digo mais nada.

É talvez altura de nos curarmos 
de vez do socratismo
José Manuel Fernandes - in "Observador" - 25 Nov. 2014

Uma parte do país – e um contingente notável de comentadores – parecem continuar em estado de negação. Durante anos não quiseram ver, não quiseram ouvir, não quiseram admitir que havia no comportamento de José Sócrates ministro e de José Sócrates primeiro-ministro demasiados “casos”. Em vez disso só viram cabalas, só falaram em perseguições, só trataram eles mesmo de ostracizar ou mesmo perseguir os que se obstinavam em querer respostas, os que insistiam em não ignorar o óbvio, isto é, que Sócrates não tinha forma de justificar os gastos associados ao seu estilo de vida.

Agora, que finalmente a Justiça se moveu, eles continuam firmes na sua devoção – e nas suas cadeiras nos estúdios de televisão. Não lhes interessa conhecer o que se vai sabendo sobre os esquemas que Sócrates utilizaria para fazer circular o dinheiro, apenas lhes interessa que parte do que foi divulgado pelos jornais devia estar em segredo de Justiça. Antes, anos a fio, quando não havia segredo de justiça para invocar, desvalorizaram sempre todas as investigações jornalísticas que tinham por centro José Sócrates.

Isto é doentio e revela até que ponto o país ainda não se libertou da carapaça que caiu sobre ele nos anos em que o ex-primeiro-ministro punha e dispunha. Nessa altura também muitos, quase todos, se recusavam a ver, ouvir ou ler, até a tomar conhecimento. Não me esqueço, não me posso esquecer que quando o Público, de que eu era director, revelou pela primeira vez a história da licenciatura, seguiu-se uma semana de pesado silêncio que só foi quebrada quando o Expresso, então dirigido por Henrique Monteiro, resistiu às pressões do próprio Sócrates e repegou na história e denunciou as pressões. Não me esqueço que tivemos uma Entidade Reguladora da Comunicação Social que fez um inquérito e concluiu que o silêncio de toda a comunicação num caso de evidente interesse público não resultara de qualquer pressão – a mesma ERC que depois condenaria a TVI por estar a investigar o caso Freeport. Como não me esqueço de como uma comissão parlamentar chegou mais tarde à mesma conclusão, tal como não me esqueço de como vi gestores de grandes empresas deporem com medo do que diziam.

Muitos dos que agora rasgam as vestes porque o antigo primeiro-ministro foi detido no aeroporto foram os mesmos que nunca quiseram admitir que havia um problema com Sócrates, com os seus casos, com o seu comportamento, com o seu autoritarismo. E também com o seu estilo de vida.

Há momentos que chegam a ser patéticos. Como é possível, por exemplo, que um homem supostamente inteligente, como Pinto Monteiro, queira que nós acreditemos que foi convidado por José Sócrates para um almoço, de um dia para o outro, numa altura em que o cerco se apertava, e que, naquele que terá sido o seu primeiro almoço a sós, só falaram de livros e viagens, como se fossem dois velhos amigos? Como é possível que continue a defender a decisão absurda sobre a destruição das escutas? Ou a achar que nada mais podia ter sido feito na investigação do caso Freeport?

Mas há também um lado doentio e provinciano na forma como se tem comentado este caso. Uma das raras pessoas que detectou essa anormalidade foi Nuno Garoupa, professor catedrático de Direito nos Estados Unidos e que, por ter respirado ares mais arejados, não teve dúvidas, notando que “nós é que vivemos num mundo mediático”, não é a Justiça que cria o circo, como se repetiu ad nauseam nas televisões. Mais: “A opinião pública pode e deve fazer um julgamento político, independentemente do julgamento legal e judicial. A política e a justiça não são a mesma coisa.” Ou seja, deixem-se da hipocrisia do “inocente até prova em contrário”, pois isso é verdade nos tribunais mas não é verdade quando temos de julgar politicamente alguém como José Sócrates. O julgamento político, como ele sublinha, não está sujeito aos mesmos critérios do julgamento penal.

A clareza do debate político exige pois que saibamos fazer distinções. A distinção que António Costa fez logo na madrugada de sábado, quando disse que “os sentimentos de solidariedade e amizade pessoais não devem confundir a acção política do PS”, é justa e mantém toda a sua pertinência. Se o PS tem conseguido manter a frieza – quase todo o PS, pois são raras e muito pontuais as excepções –, é importante para esse mesmo PS ir mais longe. E tocar um ponto nevrálgico: aquilo que nós, cá fora, sabíamos sobre as excentricidades e as práticas de José Sócrates dão-nos apenas uma pequena amostra do que se sabia em muitos círculos do PS. Sabia, mas não se comentava, mal se sussurrava.

Vou mais longe: nos partidos estas coisas são conhecidas. Pelo menos no PSD e no CDS, para além do PS. Ninguém ficou surpreendido quando a Justiça caiu sobre Duarte Lima – todos os seus companheiros de bancada conheciam as suas excentricidades. Pior: muitos ainda hoje comentam como a Justiça ainda não apanhou alguns antigos secretários-gerais, aqueles que tratavam das contas e apareceram ricos de um dia para o outro. Pior ainda: nos bastidores dos partidos as histórias de autarcas, em particular de alguns dinossauros, são infindáveis. E há longínquas férias na neve de dirigentes partidários que incomodam os seus correligionários sem que nada aconteça para além de um comentário fugaz.

Vamos ser claros, deixando a hipocrisia do respeitinho de lado. A dúvida que havia sobre José Sócrates era sobre se seria algum dia apanhado. A percepção que corroía a confiança nas instituições não era sobre se os seus direitos humanos poderiam vir a ser negados (a sugestiva preocupação de Alberto João Jardim), mas sim sobre se algum dia um aparelho judicial que, anos a fio, pareceu amestrado seria capaz de apanhar alguns dos fios das muitas meadas tecidas pelo antigo primeiro-ministro.

Escrevi-o muitas vezes e vou repeti-lo: José Sócrates foi a pior coisa que aconteceu na democracia portuguesa nos últimos 40 anos, e não o digo por causa da bancarrota. Digo-o por causa da forma como exerceu o poder, esperando fazê-lo de forma absoluta, sem contestação, sem obstáculos, sem críticos. Não os tolerava no PS, no Governo, nos jornais, nos bancos, nas grandes empresas do regime.
Não sou a primeira pessoa a descrever assim José Sócrates. Nem essa descrição é recente. Recordo apenas um texto de António Barreto, de Janeiro de 2008 (há quase sete anos, bem antes da bancarrota), onde se escrevia que “o primeiro-ministro José Sócrates é a mais séria ameaça contra a liberdade, contra a autonomia das iniciativas privadas e contra a independência pessoal que Portugal conheceu nas últimas três décadas”. Lembram-se? Eu não o esqueci.

O que distingue o socratismo não é uma visão da forma de ser socialista, é uma visão schmittiana de exercício do poder. Compreendo que o seu estilo de líder forte possa ter fascinado quem cavalgou a onda, mas é bom que hoje olhem para o elixir que provaram e que os inebriou, e percebam que era um veneno. Ou seja: acordem para a realidade. Depois do que se passou nos últimos dias, do que já sabemos sobre os contornos do processo e das acusações, do que imaginamos mas ainda não sabemos, a pergunta que muitos têm de intimamente fazer é “como foi possível?”, “como é que acreditei?”. Porque se não forem por esse caminho o seu único refúgio acabará por ser uma qualquer teoria da conspiração como a imaginada pelo insubstituível MRPP.

Ao contrário do que se repetiu à exaustão, o carácter não é um detalhe em política. E se ninguém deve apagar rostos em fotografias, à la Stalin, também é preciso de olhar de frente para o que, no passado, recomenda que se exorcizem fantasmas, demónios, maus hábitos e práticas não recomendáveis.

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O JUIZ

O Exmo. Senhor Juiz Carlos Alexandre
num momento de pausa

NÃO AGUENTO ISTO SÓBRIA

Eu bem digo que não posso ouvir os noticiários nacionais...
Nem dez minutos passados das 20h estava a olhar, estupefacta, para a bastonária da Ordem do Advogados, Elina Fraga -  amigalhaça daquele finíssimo rapaz Marinho e Pinto -  cheia de dúvidas sobre a legalidade da detenção do outro durante três dias.
"Temos visto nos últimos tempos com preocupação a permanente detenção de pessoas para interrogatório. A detenção só pode ser feita de acordo com aquilo que está estipulado no Código de Processo Penal (CPP) e, portanto, havendo perigo de fuga, flagrante delito, perigo de continuação da actividade criminosa ou havendo o perigo de alguma intranquilidade na comunidade"
Queria que lhe tivessem mandado uma cartinha a pedir "S.F.F. passe por cá"... C'um caraças! A mulher estava a ombrear com a Edite Estrela na inflamação que pôs na defesa do homem! Do homem-macho!
A senhora que se seguiu
Escusando-se sempre a comentar o caso concreto da detenção do ex-primeiro ministro José Sócrates, Elina Fraga advertiu ainda que esta é uma das duas dimensões que a estão "a atormentar enquanto bastonária da Ordem dos Advogados" e que "merecem preocupação de toda a sociedade".

A outra é, segundo Elina Fraga, "estar-se a estimular a justiça na praça pública, com pessoas a serem detidas sem que haja o gozo da presunção de inocência, à frente de câmaras de televisão, com fugas de informação que constituem violações do segredo de justiça, o que é crime em Portugal". (in Jornal de Negócios/Agência Lusa)
O gozo da presunção de inocência???  Ela achará que o "gozo" foi pouco?
Terá a senhora bastonária, mulher de leis, visto com igual preocupação a prolongadíssima impunidade de José?

Às 20h11 aparece o Pinto Monteiro... O Pinto Monteiro! Dêem-me um whisky por favor que eu não aguento isto sóbria! 


"Fiquei surpreendido quando José Sócrates me convidou para almoçar na terça-feira passada (no Ritz), eu nunca tinha almoçado com ele, nem nunca tinha falado com ele a sós... Falamos das viagens dele, disse que tinha um livro para me oferecer... Almoço absolutamente inocente".
"O Processo Freeport foi uma fraude, volto a afirma-lo, é um processo inventado, fez-se tudo o que era possível, análises a contas bancárias, e não foi encontrado nada: Eu nunca na vida tive o processo no meu gabinete" diz o Procurador que mandou queimar as gravações telefónicas. Porreiro pá!

Só a expressão "absolutamente inocente" empregue num contexto que envolve estes dois, ou qualquer um deles per si, me eleva os cantos da boca, não sei se sorria se rosne.

Como é possível eu conseguir jantar depois disto? Bahhh, que enjôo!

Mudo de canal, aparece-me a Constança Cunha e Sá a opinar a bem da justiça. Esta quer que a escrivã venha explicar, junto dos jornalistas,  por que é que a comunicação das medidas de coação aplicadas aos arguidos está tão demorada; os noticiários da noite estão quase a terminar...
Ai tia, não aguento mais, são muitas medidas de coação sobre a minha cabeça; acho que vou levar o copo para a cama e ver o Fox Crime.

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SOMOS (do ex- ) PRIMEIRO ?

Nem de propósito, se fosse combinado não me saía tão bem.

Não é para "voltar à carga", até porque o contexto é outro, mas dizia eu há 3 dias, aí mais abaixo:
.../... A RTP, televisão pública, em particular: desde que puseram lá "aquele comentador" domingueiro, que em vez de ir botar faladura perante um tribunal tem antena nacional para opinar ao desbarato .../...
Hoje um cidadão, numa emissão de TV privada de audiência baixa queixava-se assim: (aguardar uns segundos pelo vídeo)



Falavam de traumas de infância... pois, pode ser.

Também há dois dias (21 Nov.) José Manuel Fernandes dedicou umas linhas à RTP num artigo com o título "Esse despautério sem fim que é a RTP"
 e a dada altura diz assim:
"Infelizmente este episódio também mostra o erro deste Governo, e engano de Miguel Poiares Maduro em particular, quando achou que os problemas da RTP se resolviam afastando-a das interferências do governo por via de um Conselho Geral Independente. Está à vista de todos como, na terra de ninguém que assim se criou, a RTP faz gato-sapato de todos e segue em frente. A empresa tornou-se numa espécie de república autónoma, em completa autogestão, ao serviço exclusivo da oligarquia que a domina. Não responde a nada nem a ninguém, apesar de ser alimentada pelas nossas taxas. Pagamos e, supostamente, calamos: é essa a sua noção de relação com aqueles que são, em última análise, os seus accionistas. Com a perversidade de dar cirurgicamente palco a muitos figurões do regime (o principal dos quais com direito a tempo de antena semanal ao domingo; "
Soma e segue


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Esclarecimento...

Após uns quantos anos a dedicar neste blog tanta junção de letrinhas a "meu José", perguntaram-me vários curiosos se perante a sua detenção não tenho nada a dizer...

Não, não tenho. Aguardo a evolução do inquérito.
Sobre "meu José" tenho a opinião formada há muitos anos, da qual, neste blog, dei largo testemunho, nada me ocorre a acrescentar.
Tenho alguma fé na justiça ao ver o Senhor Juiz Carlos Alexandre encabeçar este processo; de resto só me ocorre um dito antigo expresso na sabedoria popular:

"Quem cabritos vende e cabras não tem, tem de dizer donde vem."


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OS AMIGOS SÃO PARA AS OCASIÕES

... MAS AS OCASIÕES NEM SEMPRE SÃO PARA OS AMIGOS


“Os sentimentos de solidariedade e amizade pessoais não devem confundir a acção política do PS, que é essencial preservar, envolvendo o partido na apreciação de um processo que, como é próprio de um Estado de direito, só à Justiça cabe conduzir com plena independência, que respeitamos”
"O PS deve “concentrar-se na sua acção de mobilizar Portugal na afirmação da alternativa ao Governo e à sua política”.
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CHAMADAS PRIVADAS, PÚBLICAS BARRACAS

Francamente não é por nenhuma forma de snobismo mas há muito tempo que desisti de ver a RTP; a RTP e os canais portugueses de um modo geral: não vejo novelas, não me passa pela cabeça ver reality shows suburbanos nem aquelas coisas que nos impingem às carradas, os noticiários dão-me coceira.  A RTP, televisão pública, em particular: desde que puseram lá "aquele comentador" domingueiro, que em vez de ir botar faladura perante um tribunal tem antena nacional para opinar ao desbarato, só uso a RTP para ver um ou outro jogo de futebol, um filme de longe em longe e já sobra.

Não vejo a RTP mas talvez faça mal... ele há coisas na RTP que não serão fáceis de encontrar por aí nas BBC's ou nas CNN's, talvez no AXN-Black em noite de Halloween, ou na Sky-Movies em programação de homenagem aos Monty Pyton.

Ontem jogou a Selecção, ontem vi a RTP... Ah, mas não vi o suficiente! Estivesse eu estado atenta às notícias sobre a Selecção e teria presenciado em directo (na RTP é em direto) um momento de televisão raro, de criatividade inigualável, de grande rigor e brio profissional de um enviado especial.

Se eu fosse mulher dele ligava-lhe durante os directos, dizia-lhe para pôr em "alta-voz",  pedia-lhe um pacote de arroz carolino e um Ájax limpa-vidros, com tanta gente a ver alguém havia de o lembrar...


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PONHAM-LHE O NEURÓNIO NA ENGORDA

Veio parar-me sob o nariz um escrito da famosíssima Margarída Rebelo Pinto e a coisa fede...

Veio parar-me sob o nariz, sob os olhos e subiu-me ao cérebro; deu-me naúseas.
A madame escritora redigiu para o semanário Sol, que publicou em 2010 (há contextos em que compreendo a censura) uma espécie de colectânea das suas opiniões que titulou: “As Gordinhas e as Outras”.  Este textozinho, curto mas mauzinho - e não me refiro à qualidade literária mas ao veneno viscoso que encerra - parece que reapareceu pelas redes sociais em 2012 onde terá sido largamente comentado. Eu não o vi... Mas não há bem que sempre dure nem mal que nunca acabe, hoje lá me tocou a vez.

Nunca fui "gordinha", com mais ou menos peso fui sempre mais para o lado do osso, pessoalmente era suposto não me sentir tão arrepiada com a leitura. Pois, mas sinto. Sinto e sinto as raivinhas de dentes que a madame Margarida rosna cerrada nas entrelinhas do seu texto, a que ela chama "crónica", deixando inadvertidamente escapar algumas fustrações e inseguranças. O problema dela não são "as gordinhas" propriamente ditas, são os "direitos" que madame Margarida acha que elas têm e que "as outras" não têm. (Não estou a inventar, deixo o texto aí abaixo). Começa a famosíssima autora por dizer:
A Gordinha é aquela amigalhaça companheirona que desde o liceu cultivava o estilo maria-rapaz, era espertalhona e bem-disposta, cheia de energia e de ideias, sempre pronta para dizer asneiras e alinhar com a malta em programas
A descrição acima, mais à esquerda ou mais à direita poderia assentar-me bem, nas épocas idas em que eu tinha bicho-formigueiro e não parava em casa. Nunca fui uma perfeita maria-rapaz mas estive sempre longe do que se chama uma menina e, essa parte da amigalhaça companheirona, serve-me desde que aplicada à saudável convivência com pessoas que conheço bem, de há anos e que são para mim amigalhaços companheirões, eles e elas. Será que o sindicato das "gordinhas" me processa se souber disto? Será que me multa por uso indevido de características?

Não entendo o drama desta mulher... 

Ou talvez entenda...
Diz ela:
À partida, não tenho nada contra as Gordinhas, mas irrita-me que gozem de um estatuto especial entre os homens. Às Gordinhas tudo é permitido: podem dizer palavrões, falar de sexo à mesa, apanhar grandes bebedeiras (.../...)Agora vamos lá ver o que acontece se uma miúda gira faz alguma dessas coisas sem que surja logo um inquisidor de serviço a apontar o dedo para lhe chamar leviana, ordinária, desavergonhada e até mesmo porca. Uma miúda gira não tem direito a esse tipo de comportamentos porque não é one of the guys: é uma mulher e, consequentemente, deve comportar-se como tal. (.../...)Ser gira dá trabalho e requer alguma diplomacia. (.../...) Uma mulher gira não pode falar alto nem dizer palavrões que lhe caem logo em cima. Já uma Gordinha pode dizer e fazer tudo o que lhe passar pela cabeça, porque conquistou um inexplicável estatuto de impunidade.
Coitada de madame Margarida, o que ela sofre... Sofre para ser gira (?), sofre porque é gira (?), e sofre porque queria ter os direitos que por ser gira (?) não tem.

Coitada de madame Margarida, não percebe nada sobre o que é uma mulher gira.
Uma mulher gira pode ser gorda ou magra, feia ou bonita, nova ou nem por isso, uma das poucas coisas que se lhe exige, para ser de facto gira, é que seja exactamente como é; que não seja uma construção que  dá trabalho e requer diplomacia, que não seja uma "mise en cène" programada e ajustada. Há momentos, companhias e circunstâncias que devem ser levadas em consideração, está bem, mas isto não é sinónimo de uma "adaptação da personalidade" a um fim, neste caso a importantíssima e omnipresente finalidade de "ser gira!!!"

E só mais uma coisinha: Ser gira não é uma coisa que se programe para "que gozem de um estatuto especial entre os homens"... como a sensatez da maturidade vem, quase sempre, demonstrar. Há pessoas que conquistam um estatuto especial entre as outras pessoas, pela sua maneira de ser, pelas suas qualidades, pelo seu carácter; o resto são fogos factuos, ilusões e parvoíces.


Margarida, que idiota!

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"As gordinhas e as outras"


“Serve esta crónica para retratar e comentar um certo elemento que existe frequentemente em grupos masculinos e que responde pelo nome genérico de ‘Gordinha’
A Gordinha é aquela amigalhaça companheirona que desde o liceu cultivava o estilo maria-rapaz, era espertalhona e bem-disposta, cheia de energia e de ideias, sempre pronta para dizer asneiras e alinhar com a malta em programas. Ora acontece que a Gordinha é geralmente gorda e sem formas, tornando-se aos olhos masculinos pouco apetecível, a não ser em noites longas regadas a mais de sete vodkas, nas quais o desespero comanda o sistema hormonal, transformando qualquer bisonte numa mulher sexy, mesmo que seja uma peixeira com bigode do Mercado da Ribeira.
A Gordinha é porreira, é fixe, é divertida, quer sempre ir a todo o lado e está sempre bem-disposta, portanto a Gordinha torna-se uma espécie de mascote do grupo que todos protegem, porque, no fundo, todos têm um bocado de pena dela e alguns até uma grande dose de remorsos por já se terem metido com a mesma nas supracitadas funestas circunstâncias. E é assim que a Gordinha acaba por se tornar muito popular, até porque, como quase nunca consegue arranjar namorado, está sempre muito disponível para os mais variados programas, nem que seja ir comer um bife à Portugália e depois ao cinema.
À partida, não tenho nada contra as Gordinhas, mas irrita-me que gozem de um estatuto especial entre os homens. Às Gordinhas tudo é permitido: podem dizer palavrões, falar de sexo à mesa, apanhar grandes bebedeiras e consumir outras substâncias igualmente propícias a estados de euforia, podem inclusive fazer chichi de pernas abertas num beco do Bairro Alto porque como são ‘do grupo’ toda a gente acha muita graça e ninguém condena.
Agora vamos lá ver o que acontece se uma miúda gira faz alguma dessas coisas sem que surja logo um inquisidor de serviço a apontar o dedo para lhe chamar leviana, ordinária, desavergonhada e até mesmo porca. Uma miúda gira não tem direito a esse tipo de comportamentos porque não é one of the guys: é uma mulher e, consequentemente, deve comportar-se como tal. E o que mais me irrita é quando as Gordinhas apontam também elas o dedo às giras, quando estas se comportam de forma semelhante a elas.
Ser gira dá trabalho e requer alguma diplomacia. Que o digam as minhas amigas mais bonitas e boazonas que foram vendo a sua reputação ser sistematicamente denegrida por dois tipos de pessoas: os tipos que nunca as conseguiram levar para a cama e as gordas que teriam gostado de ter sido levadas para a cama por esses ou por outros. Uma mulher gira não pode falar alto nem dizer palavrões que lhe caem logo em cima. Já uma Gordinha pode dizer e fazer tudo o que lhe passar pela cabeça, porque conquistou um inexplicável estatuto de impunidade.
Porquê? Porque não é vista como uma mulher? Porque todos têm pena dela? E, já agora, porque é que quando uma mulher está/é gorda nunca ninguém lhe diz, mas quando está/é magra, ninguém se coíbe de comentar: «Estás tão magra!?»
Como dizia a Wallis Simpson: «Never too rich, never too slim». E quanto às Gordinhas, o melhor é arranjarem um namorado. Ou uma dieta. Ou as duas coisas.” 
Crónica de Margarida Rebelo Pinto

QUANDO A INCONSCIÊNCIA NÃO TEM LIMITES

Não comento, 
limito-me a traduzir e transcrever um artigo publicado dia 11 Nov. na CNN on line.

E pergunto-me... se, em vez de Obama, a Sala Oval fosse, neste momento, ocupada por Bush (qualquer um deles, sénior ou júnior), o que estaríamos vivendo no nosso mundo, em particular na Europa?

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Russian provocations on the rise: Is it a new Cold War?

updated 13:42 PM GMT, Tues Nov 11, 2014
By Richard Allen Greene and Inez Torre, CNN
  • A maior caça a um submarino em águas suecas desde o fim da Guerra Fria. 
  • Uma quase colisão entre um avião militar russo e uma aeronave de passageiros sueca transportando 132 pessoas. 
  • O sequestro de um funcionário da Estónia a partir do território deste membro da OTAN, apenas alguns dias após o presidente dos EUA, Barack Obama ter visitado a nação báltica. 

Qualquer um destes três incidentes poderia ter originado um confronto militar entre a Rússia e o Ocidente,  sugere um novo relatório - e todos eles ocorreram nos últimos nove meses. 
Os incidentes são descritos em "Dangerous brinkmanship ", uma análise que lista mais de 40 "estreitos encontros militares  entre a Rússia e o Ocidente", que ocorreram nos oito meses entre Março e Outubro deste ano. 
O relatório, da Rede de Liderança Europeia, classifica a pesquisa submarina,  a companhia aérea em grave risco de colisão e o rapto na Estónia, como "incidentes de alto risco." Categoriza ainda 11 outros eventos como "graves" e sugere que poderiam ter dado origem a uma grave escalada. 
A maioria envolve aviões russos ameaçando a NATO ou seus aliados. Incluem o que parece ter sido um ataque simulado na ilha dinamarquesa de Bornholm, assim como aeronaves russas que rasaram um navio de guerra da Marinha dos EUA, uma fragata canadiana, e vários outros incidentes entre aviões russos e suecos.

(clicar para aumentar)

"Os acontecimentos dramáticos são uma expressão da "política de Putin para reivindicar um lugar apropriado (da Rússia) no sistema internacional";
o presidente russo, quer forçar o Ocidente "a aceitar uma alteração fundamental da ordem internacional", disse o especialista russo Igor Sutyagin. 

"Putin está tentando intimidar o Ocidente por forma a conseguir um regresso a um relacionamento amigável com a Rússia", disse Sutyagin, um pesquisador sénior do Royal United Services Institute, o  "think tank" com sede em Londres que se foca em defesa e segurança.

 "Putin disse abertamente que a Rússia é um urso e um urso nunca pede permissão a ninguém para agir como quiser", disse Sutyagin. 

O Ministério da Defesa russo, a Força Aérea russa, e o porta-voz de Putin recusaram todos as várias solicitações da CNN para responderem ao relatório da Rede de Liderança Europeia. 

Autoridades russas minimizaram ou omitiram muitos dos incidentes individuais no momento em que estes foram relatados publicamente. 

Mas a própria OTAN disse, no final de Outubro, já tinha realizado três vezes mais interceptações de aviões russos no espaço aéreo europeu, em 2014, que em todo o ano de 2013. 

Segundo a OTAN, houve quatro interceptações de grupos de aeronaves russas apenas nos últimos dias de Outubro.

A Rede de Liderança Europeia relaciona o aumento da actividade da Rússia desde o conflito com a Ucrânia e da anexação da Criméia. 

Isto levou a NATO a "aumentar a sua presença militar ao longo de seu flanco oriental", incluindo mais policiamento aéreo, mais voos de reconhecimento, mais navios no Mar Báltico e no Mar Negro, mais exercícios militares na região, segundo o relatório - o que tem vindo a colocar os dois lados num maior contacto do que anteriormente."
Fonte:"Dangerous Brinkmanship," a European Leadership Network policy brief .

"O relatório especula que a Rússia está a testar e observar a OTAN e os seus sistemas de defesa nacional, e buscando propaganda de vitórias pelo uso da força, ou a ameaça do seu uso, contra os seus vizinhos. 
A resposta do Ocidente terá repercussões muito além da Rússia, advertiu Sutyagin. 

"Não é uma questão de 26 aviões de combate voando em algum lugar", disse ele. "Há muitas outras pessoas no mundo que gostariam imenso de seguir o exemplo de Putin. "Isso é uma chamada de alerta muito importante para a sociedade norte-americana, para as sociedades europeias: é necessário defender os nossos ideais, a nossa prosperidade, a nossa riqueza", disse. 

A análise "Dangerous Brinkmanship," (Provocação perigosa) é baseada em relatos da imprensa e declarações do Pentágono e da NATO. 
A CNN cobriu muitos dos incidentes citados no relatório, e é citada como fonte de pelo menos um deles."

SEREI UMA SOCIOPATA ONÍRICA?

Estou um bocadinho preocupada...

Quando os russos invadiram a Crimeia comecei a ter uns sonhos estranhos. Depois tanques russos entraram na Ucrânia (ou passou a ser do domínio público que entravam)  por um lado enquanto eram enviados camiões de "ajuda humanitária" por outro, a frequência e estranheza destes sonhos começou a aumentar e não há meio de me passar.
Desde que a NATO interceptou, no espaço de uma semana, mais de cem bombardeiros russos em territórios da sua responsabilidade militar a coisa agravou-se exponencialmente, comecei mesmo a considerar a séria hipótese de deixar de ver, antes de ir dormir, a meia-horita de noticiário internacional.
Mas hoje tornou-se assustador, as imagens dos meus sonhos perseguem-me mesmo estando acordada, ao mais singelo fechar de olhos lá está ele, tão mudo e quedo quanto lívido, já não sei o que fazer...



E como se não bastasse  hoje deram-me um "bolinho da sorte" juntamente com o café a seguir ao almoço e dizia assim: