Primeiro foi um e-mail a perguntar se não me sentia motivada a escrever sobre a cimeira entre entre os chefes de Estado das duas Coreias; depois mais outro perguntando o que pensava sobre o assunto. Ontem alguém manifestava a sua curiosidade sobre o meu silêncio sobre este momento importantíssimo. Por amabilidade respondi mais ou menos isto: "Ainda não vi nada, acho que a montanha pariu um rato, e quando um rato vem ao mundo traz sempre irmãos consigo". Ponto.
Mais do que isto?
Os parabéns à organização, impecável e sábia - o diabo esconde-se nos detalhes.
Acredito que o presidente Moon Jae-in, filho de refugiados da Coreia do Norte, homem com uma carreira dedicada aos Direitos Humanos, esteja de boa-fé. É digno mas insuficiente.
O que eu queria mesmo saber? Aaaahhhh... O que disse o presidente Xi ao Kim-zinho nos dois encontros que tiveram. Isso é que eu gostava...
Passando à fase seguinte, dia 12 de Junho em Singapura... Será?
Para dizer a verdade estou-me completamente nas tintas, não acredito que alguma coisa positiva para o mundo daí resulte, se acontecer será o encontro de dois cabeçudos egocêntricos com objectivos pessoais muito concretos a marrarem um com o outro; a pergunta que se põe é quem levará a melhor, não é a estabilidade mundial ou o bem-estar dos povos que os move.
Sumariamente, a questão é sobre quem conseguirá enganar quem ou levantar-se primeiro para sair atirando culpas ao outro. Pela minha saúdinha que gostaria de não ter razão nesta parte mas é bem possível que a tenha colada a mim. Claro que muito depende do que Xi disse a Kim... e essa é a parte que eu gostava de saber agora para conjecturar com mais convicção.
Se eu fosse Trump... tinha dito que sim, com certeza, já lá vou mas deixemos os criados falarem entre si primeiro, estabelecerem uma lista de prioridades, de toma-lá-dá-cá, colocarem sobre a mesa o que haverá a digerir. Aquela pressa em apresentar-se ao mundo como O Único tipo capaz de resolver os imbróglios insolúveis para os mortais é um calcanhar de Aquiles permanentemente exposto.
A asneira está feita resta tentar dar-lhe a volta.
Se eu fosse Trump chegava e dizia: Kim, filho, vim cá para nos conhecermos, para iniciar uma relação amigável que, tenho esperança, seja proveitosa para todos mas a diplomacia é para os diplomatas, os detalhes técnicos para os especialistas e nós, líders, temos mais o que fazer. Espero que voltemos a encontrar-nos para assinar um amazing agreement como o mundo nunca viu e se quiseres telefona-me. 'Bora lá tirar umas fotos e beber uns copos a bem da paz e da amizade entre os povos.
Se eu fosse Kim... Ah, se eu fosse Kim vingava-me que nem um Little Rocket Men (se o presidente Xi deixasse, claro). Neste momento (amanhã já o filme pode ser outro) Kim tem Trump onde quer, a sonhar com o Nobel da Paz (só falta essa...) e a querer demonstrar que é o Mestre na Arte de Negociar.
Trump disse que sim avidamente, Kim pode jogar com isso a seu bel-prazer. A seu favor está também a geografia: Singapura é longe de Washington mas muito perto de Pyongyang, são tempos de vôo muito diferentes.
Pois se eu fosse Kim deixava Trump meter-se no Air Force One e depois não punha lá os pés. Até dava tempo para dar um saltinho a Singapura, deixar uma caixa de Mon Chérie na almofada do loiro e pirava-me, disfarçado de americana obesa, ainda a tempo de o ver chegar na reportagem da Fox News. Depois... bem, depois fazia o que melhor me servisse, como está demonstrado à saciedade, com estes dois nunca é tarde para dar o dito por não dito.
Mas isso era eu, que sou mázinha, Kim é um honorable men, diz o entendido.
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