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PLANO DE PAZ EUROPEU - A CONTRA-PROPOSTA


A Europa apresenta o seu plano de paz 

Resumo 

(A Contra-proposta ao "plano de Trump" mais abaixo)

1 - Após o fim da guerra, serão implementadas medidas para garantir uma paz e segurança duradouras.

2 - A Rússia e a Ucrânia comprometem-se a manter um cessar-fogo no ar, em terra e no mar.

3 - Moscovo e Kyiv iniciam imediatamente negociações sobre a monitorização do cessar-fogo por terceiros.

4 - A monitorização do cessar-fogo será levada a cabo pelos aliados da Ucrânia sob a liderança dos EUA;  a monitorização será maioritariamente remota (drones, satélites, etc.).

5 - Será criado um mecanismo através do qual ambas as partes possam comunicar violações do regime de cessar-fogo e debater medidas para sua resolução

6 - A Rússia devolverá todas as crianças ucranianas raptadas.

7 - Moscovo e Kyiv libertarão os prisioneiros de guerra de acordo com a fórmula “todos por todos”; a Rússia libertará todos os reféns civis.

8 - As negociações territoriais serão conduzidas ao longo da actual linha de contacto.

9 - Após a obtenção de um cessar-fogo estável, ambas as partes tomarão medidas para prestar assistência humanitária, incluindo visitas a famílias através da linha de contacto.

10 - Confirmação da soberania da Ucrânia; Kyiv não é forçada à neutralidade.

11 - A Ucrânia recebe garantias de segurança juridicamente vinculativas, incluindo dos Estados Unidos, semelhantes às do artigo 5.º da NATO.

12 - Não serão impostas restrições à indústria de defesa da Ucrânia.

 13 - Um grupo de países europeus e de outros Estados interessados actuará como garante da segurança da Ucrânia; a Ucrânia terá o direito de acolher forças aliadas no seu território.

14 - A entrada da Ucrânia na NATO é possível com o consentimento de todos os membros da aliança.

15 -  A Ucrânia adere à UE.

16 -  A Ucrânia reafirma a sua disponibilidade para continuar a ser um Estado não nuclear e para cumprir o Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares.

17 -  As questões territoriais serão discutidas com a Rússia e resolvidas após o estabelecimento de um cessar-fogo total.

18 -  Uma vez acordadas as questões territoriais, a Rússia e a Ucrânia comprometem-se a não as alterar pela força.

19 -  A Ucrânia recupera o controlo da central nuclear de Zaporizhzhia, com a participação dos EUA, e da hidroelétrica de Kakhovka

20 -  Kyiv recebe passagem sem restrições ao longo do rio Dnipro e controlo sobre o Kinburn Spit.

21 -  Kyiv e os seus parceiros mantêm uma cooperação económica sem limitações.

22 -  A Ucrânia será totalmente reconstruída e receberá uma compensação financeira, incluindo dos activos russos, que permanecerão congelados até que a Rússia compense a Ucrânia pelos danos causados.

23 -  As sanções contra a Rússia podem ser gradualmente atenuadas após a obtenção de uma paz estável e podem ser reintroduzidas em caso de violação do acordo de paz.

24 - Início de negociações sobre a segurança europeia com a participação de todos os Estados membros da OSCE.

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A CONTRA-PROPOSTA

#1. A soberania da Ucrânia deve ser reconfirmada. 

#2. Será celebrado um acordo de não agressão total e completo entre a Rússia e a Ucrânia e a NATO. Todas as ambiguidades dos últimos 30 anos serão resolvidas. 

(O ponto 3 do plano dos EUA foi suprimido. Um rascunho desse plano dizia: “Haverá a expectativa de que a Rússia não invadirá os seus vizinhos e a NATO não se expandirá mais”). 

#4. Após a assinatura de um acordo de paz, será convocado um diálogo entre a Rússia e a NATO para abordar todas as questões de segurança e criar um ambiente de desagravamento com vista a garantir a segurança global e aumentar a oportunidade de conectividade e de futuras oportunidades económicas. 

#5. A Ucrânia receberá sólidas garantias de segurança 

#6. O efectivo militar da Ucrânia será limitado a 800 000 pessoas em tempo de paz. 

#7. A adesão da Ucrânia à NATO depende do consenso dos membros da NATO, que não existe. 

#8. A NATO concorda em não estacionar permanentemente tropas sob o seu comando na Ucrânia em tempo de paz. 

#9. Os aviões de combate da NATO ficarão estacionados na Polónia 

#10. A Garantia dos EUA que reflectirá o artigo 5º. 

a) Os EUA receberão uma indemnização pela garantia 

b) Se a Ucrânia invadir a Rússia, perde a garantia 

c) Se a Rússia invadir a Ucrânia, para além de uma resposta militar robusta e coordenada, serão restabelecidas todas as sanções globais e será retirado qualquer tipo de reconhecimento do novo território e todos os outros benefícios decorrentes deste acordo. 

#11. A Ucrânia é elegível para a adesão à UE e terá, a curto prazo, um acesso preferencial ao mercado europeu, enquanto este está a ser avaliado 

#12. Pacote global sólido de reconversão para a Ucrânia, incluindo, mas não se limitando a: 

a) Criação de um fundo de desenvolvimento da Ucrânia para investir em sectores de elevado crescimento, incluindo a tecnologia, os centros de dados e os esforços da AI 

b) Os Estados Unidos estabelecerão uma parceria com a Ucrânia para, em conjunto, restaurar, desenvolver, modernizar e explorar as infra-estruturas de gás da Ucrânia, que incluem os gasodutos e as instalações de armazenamento 

c) Um esforço conjunto para reabilitar as zonas afectadas pela guerra, a fim de recuperar, reabilitar e modernizar as cidades e as zonas residenciais 

d) Desenvolvimento de infra-estruturas 

e) Extração de recursos minerais e naturais 

f) O Banco Mundial desenvolverá um pacote especial de financiamento para acelerar estes esforços. 

13. A Rússia deverá ser progressivamente reintegrada na economia mundial 

a) A redução das sanções será discutida e acordada por fases e caso a caso. 

b) Os Estados Unidos celebrarão um Acordo de Cooperação Económica a longo prazo para prosseguir o desenvolvimento mútuo nos domínios da energia, dos recursos naturais, das infra-estruturas, da IA, dos centros de dados, das terras raras, dos projectos conjuntos no Ártico, bem como de várias outras oportunidades empresariais mutuamente benéficas. 

c) A Rússia será convidada a regressar ao G8 

#14. A Ucrânia será totalmente reconstruída e compensada financeiramente, nomeadamente através de activos soberanos russos que permanecerão congelados até que a Rússia compense os danos causados à Ucrânia. 

#15. Será criado um grupo de trabalho conjunto em matéria de segurança, com a participação dos EUA, da Ucrânia, da Rússia e dos europeus, para promover e fazer cumprir todas as disposições do presente acordo 

#16. A Rússia consagrará por via legislativa uma política de não agressão em relação à Europa e à Ucrânia 

#17. Os Estados Unidos e a Rússia acordam em prorrogar os tratados de não-proliferação e de controlo nuclear, incluindo o Fair Start

#18. A Ucrânia concorda em permanecer um Estado não nuclear ao abrigo do TNP 

#19. A central nuclear de Zaporizhzhia será reiniciada sob a supervisão da AIEA e a energia produzida será partilhada equitativamente numa proporção de 50-50 entre a Rússia e a Ucrânia. 

#20. A Ucrânia adoptará as regras da UE em matéria de tolerância religiosa e de proteção das minorias linguísticas. 

#21. Territórios: 

        A Ucrânia compromete-se a não recuperar o seu território soberano ocupado através de meios militares. As negociações sobre trocas territoriais terão início a partir da Linha de Contacto. 

#22. Uma vez acordadas as futuras disposições territoriais, tanto a Federação Russa como a Ucrânia comprometem-se a não alterar essas disposições pela força. As garantias de segurança não serão aplicáveis em caso de incumprimento desta obrigação 

#23. A Rússia não colocará obstáculos à utilização do rio Dnieper pela Ucrânia para efeitos e actividades comerciais e serão celebrados acordos para que os carregamentos de cereais possam circular livremente através do Mar Negro 

#24. Será criado um comité humanitário para resolver as questões em aberto: 

a) Todos os restantes prisioneiros e cadáveres serão trocados com base no princípio "Todos por Todos" 

b) Todos os civis detidos e reféns serão devolvidos, incluindo as crianças 

c) Haverá um programa de reagrupamento familiar 

d) Serão adoptadas disposições para fazer face ao sofrimento das vítimas do conflito 

#25. A Ucrânia realizará eleições o mais rapidamente possível após a assinatura do acordo de paz. 

#26. Serão tomadas medidas para fazer face ao sofrimento das vítimas do conflito. 

#27. Este acordo será juridicamente vinculativo. A sua aplicação será controlada e garantida por um Conselho de Paz, presidido pelo Presidente Donald J. Trump. Haverá sanções em caso de violação. 

#28. Se todas as partes derem o seu acordo ao presente memorando, entrará imediatamente em vigor um cessar-fogo quando ambas as partes se retirarem para os pontos acordados para dar início à aplicação do acordo. As modalidades do cessar-fogo, incluindo o controlo, serão acordadas por ambas as partes sob a supervisão dos EUA. 

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Uma pessoal nota de rodapé:

Até dói, é verdade, mas a realidade é esta. Não se pode acabar uma guerra conferindo a uma das partes o (seu) direito de continuar a combater pelos território que lhe pertence. Diplomacia... Aguardando que a Casa Branca conheça melhores dias, melhor gente. Aguardando que "A Violação do Direito Internacional" seja validada como argumento válido que é; que os "Crimes de Guerra" sejam julgados que Justiça seja feita. Não é inédito, de forma alguma. Leva tempo...

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A Comunicação de Zelenskyy 

Hoje foi um dia de inúmeras reuniões e negociações – basicamente, desde a manhã, foram chamadas, briefings e consultas. A delegação ucraniana em Genebra já realizou uma série de reuniões – com a parte americana e também com os nossos parceiros europeus. A delegação acaba de informar sobre os resultados das suas discussões e estas foram conversas substantivas. Muita coisa está a mudar – estamos a trabalhar com muito cuidado nas medidas necessárias para pôr fim à guerra. Hoje, as negociações vão continuar na Suíça e as equipas vão trabalhar até à noite – e vamos receber delas mais relatórios. É importante que haja diálogo com os representantes americanos e há sinais de que a equipa do presidente Trump nos está a ouvir.

E é importante garantir que as medidas para pôr fim à guerra sejam eficazes e que tudo seja viável. A Ucrânia nunca quis esta guerra e nunca seremos um obstáculo à paz. A diplomacia foi revigorada e isso é bom. Muito bom. Esperamos que o resultado sejam medidas certas. A primeira prioridade é uma paz fiável, segurança garantida, respeito pelo nosso povo, respeito por todos aqueles que deram a vida a defender a Ucrânia contra a agressão russa.

O dia de amanhã não será menos activo. Estamos a defender os interesses da Ucrânia. E a força da nossa posição – a posição do nosso Estado, a nossa posição nacional, ucraniana – reside no facto de ser uma posição comum.  V. Zelenskyy - 23/24 Nov.


MUITO ALÉM DE ESCANDALOSO

 Seria o maior escândalo de política externa da história moderna, se fosse caso único; o que diferencia este é ter vindo a público. E ter vindo a público após a tal "proposta de 28 pontos" ter sido publicada antes de tempo 

Seria suposto Zelenskyy ser pressionado a assinar a "coisa", sob todas as ameaças de retirada de todos os apoios, abandono total pelos EUA que ouvimos, e outras mais mais que não ouvimos; antes de que os aliados europeus - e outros: Canadá, Japão, Coreia do Sul etc. - tomassem conhecimento, tomassem posição; antes que aparecesse publicado no mundo inteiro.

A não ser aceite por  Zelenskyy - nunca seria, nem a tiro - ficaria algum espaço de manobra à administração americana para tentar conseguir qualquer coisinha, qualquer linha que pudesse ser apresentada "ao Chefe" como "um avanço"; mas não é isso que Putin quer... Putin quer tudo, o pacote todo e o mais que viria. O chão começa a fugir-lhe sob os pés.  Havia que arquitectar uma forma de transformar a recusa de  Zelenskyy numa derrota pessoal para Trump. leva-lo a lutar pelo plano com unhas e dentes, com todo o poder que detém. Trump não sabe, nem quer, lidar com a derrota. É absolutamente claro quem transpassou para os media o maldito plano, nem vale a pena congeminar

Ontem, sábado, à noite, um grupo de senadores bipartidários reunidos no Fórum Internacional de Segurança de Halifax disse que o secretário de Estado Marco Rubio ligou para eles quando estava a caminho da Europa; a determinado ponto da conversa Rubio admitiu que a "proposta de paz de 28 pontos"  era na verdade um plano russo.

O senador republicano Mike Rounds disse que "Rubio deixou muito claro que somos fomos os destinatários de uma proposta entregue a um dos nossos representantes. Não é a nossa recomendação. Não é o nosso plano de paz. É uma proposta que foi recebida e, como intermediário, tomámos providências para a partilhar - e não a divulgámos. Foi divulgada".

Rounds confirmou que a proposta foi entregue pelos russos ao “enviado especial para a paz” de Trump, Steve Witkoff.

O senador Angus King (Maine, Indp:) acrescentou: "A fuga de informação sobre o plano de 28 pontos, que, segundo o secretário Rubio, não é a posição da administração - é essencialmente a lista de desejos dos russos”.

Rubio contestou o relato que Rounds fez da sua conversa mas relato de Rounds foi confirmado por um grupo de senadores, de ambos os partidos políticos, que ouviram a conversa directamente Rubio.

"A proposta de paz é da autoria dos EUA", escreveu Rubio nas redes sociais. "É apresentada como um quadro sólido para as negociações em curso. Baseia-se na contribuição do lado russo mas também se baseia em contribuições anteriores e contínuas da Ucrânia."

Mais. Rubio tem o desplante de escrever: "Acabar com uma guerra tão complexa e mortal quanto a da Ucrânia exige uma extensiva troca de ideias sérias e realistas "

Não há palavras...

 Rubio mente a cada declaração que faz publicamente e mentiu quando disse aos senadores:  «Não é a nossa recomendação. Não é o nosso plano de paz».
É. Foram os russos que o elaboraram mas foi Trump quem o assinou, quem mandou entrega-lo a Zelenskyy. 

Na sexta-feira Trump deixou bem claro que os ucranianos não tinham outra opção senão aceitá-lo, gostassem ou não. Muito em breve -  certinho como o Sol - iremos ouvir Trump dizer que o plano não era americano, que os EUA apenas serviram de correio entre a Rússia e a Ucrânia. Tarde piaste. O plano apareceu em todos os jornais e TV's como "O plano de Trump", e a designação não foi minimamente contestada por ninguém, foi até defendida pela Barbie/secretária de Imprensa da Casa Branca; as desesperadas declarações de Trump ameaçando a Ucrânia não deixam espaço para a "versão Pombo Correio". Donald... vai-te catar

Se a versão que foi apresentada fosse a verdadeira - que um "grupo de trabalho americano, liderado por Steve Witkoff, com a participação incompreensível  do inefável  Kushner, o genro de Trump que vai a todas tratar dos dólares, esteve a arquitetar durante um mês os 28 pontos do plano plano de paz com um grupo de russos, liderado por Kirill Dmitriev, sinistra figura, amigalhaço de Witkoff e frequentador da sua casa - já seria escandalosamente mau. Um cozinhado secreto, entre americanos e russos do futuro da Ucrânia, dos Ucranianos, de tudo o que nele contido afecta a Europa e a NATO, nas costas dos intervenientes, dos primeiros interessados, o país ilegalmente invadido, é escandalosamente mau. A realidade vai além desta pérfida ficção: não foi cozinhado, foi entregue pelos russos aos americanos pronto a servir aos ucranianos, e aos europeus por arrasto. Ultrapassa largamente o escandalosamente mau. É inqualificável, não há adjectivação para isto

Há muito para desvendar aqui mas uma coisa que é absolutamente indiscutível: este "plano de paz" foi elaborado, no sentido mais literal, pela Rússia. Isso nem sequer está em discussão. O que haverá a discutir é a exposta, mais-do-que-evidente, posição de Trump, e a de Steve Witkoff, outro que tal, a defender os seus interesses financeiros nas negociatas com Putin

Abril/25, Witkoff 1 - GENEROSIDADE E CAMARADAGEM (... /...Steve ofereceu-se pessoalmente para "apoiar" o direito da Rússia a ocupar as regiões de Zaporizhzhia, Kherson, Donetsk e Luhansk.../...) 

Março/25, Witkoff 2 - O DIRECTO E O ESQUIVO (.../...  esta a guerra não precisava de ter acontecido, foi provocada, não significa necessariamente que foi provocada pelos russos. Houve todo o tipo de conversas sobre a adesão da Ucrânia à NATO. O presidente falou sobre isso, isto não precisava de acontecer. Basicamente, tornou-se uma ameaça para os russos.../...)


O GRITO DE ZELENSKYY

 Não é apenas para fazer um registo para memória futura que hoje transcrevo na integra o discurso de Zelenskyy aos ucranianos, no dia a seguir à inesperada divulgação por todos os media do "plano de paz" proposto por Trump.
Ontem, depois de escrever o que se me ofereceu sobre esse "plano", que não de paz mas um vergonhoso rascunho de intenções de negócios, nada mais, deixei registados os 28 pontos, esses sim, para memória futura, um testemunho sobre a vil natureza de Trump nas suas próprias palavas. 

O discurso que Zelenskyy fez hoje é a resposta possível mas é muito, muito mais do que isso.

Zelenskyy é, neste momento, uma fera acossada. Sabe que lhe estendem armadilhas sob os pés, no chão que pisa ao longo do caminho que tem forçosamente de percorrer 

Os seus colaboradores estão sob uma teia de tentações que se vão tornando mais reluzentes à medida que a guerra se estende no tempo, no cansaço, na perda humana. O seu povo está sujeito à manipulação diária de sentimentos, das prolongadas dificuldades, do medo de que o "dia seguinte" não amanheça para cada um deles, para os seus filhos. E os bombardeamentos não são só feitos de aterradoras explosões, também são lançadas quotidianamente cargas de desinformação para matarem a esperança, a coragem, a resistência; são fabricadas para criar divisão, semear perspectivas de um "novo líder salvador" que anuncie finalmente a paz, de um dia para o outro. A Rússia aposta neste número desde os 3 primeiros dias em que não conseguiu depor Zelenskyy

Zelenskyy sabe que não está só, que tem mãos fortes sobre os ombros a cada momento mas não é a solidão que lhe dói, é a traição, a ausência de valores, os interesses mesquinhos e egóticos, a injustiça tenebrosa









Este discurso de Zelenskyy é a intencional e mais sincera exposição do seu estado de espírito, uma radiografia à situação em que está a ser colocado, pela Rússia E pelos Estados Unidos, é um alerta e um apelo ao povo ucraniano, um abafado grito de revolta perante a mais ignóbil injustiça.



«Precisamos de unidade mais do que nunca, para que possa haver uma paz digna na nossa pátria »

Discurso do Presidente

21 de Novembro de 2025 - 16:50


Ucranianos!

Há um momento na vida de cada nação em que todos precisam de falar sobre as coisas. Honestamente. Com calma. Sem especulações, rumores, mexericos, sem nada de mais. Exactamente como as coisas são. Tal como sempre tentei falar convosco.

Este é um dos momentos mais difíceis da nossa história. Neste momento, a Ucrânia está sob uma das pressões mais fortes de sempre. Neste momento, a Ucrânia pode encontrar-se perante uma escolha muito difícil. Ou a perda da nossa dignidade ou o risco de perder um parceiro fundamental. Ou os difíceis 28 pontos, ou um inverno extremamente duro - o mais duro de sempre - e os perigos que se lhe seguem. Uma vida sem liberdade, sem dignidade, sem justiça. E que confiemos em alguém que já nos atacou duas vezes.

Eles esperam uma resposta da nossa parte. Mas a verdade é que eu já dei essa resposta. Em 20 de Maio de 2019, quando prestei juramento de lealdade à Ucrânia, disse nomeadamente: «Eu, Volodymyr Zelenskyy, eleito pela vontade do povo como Presidente da Ucrânia, comprometo-me com todas as minhas acções a defender a soberania e a independência da Ucrânia, a defender os direitos e as liberdades dos seus cidadãos, a respeitar a Constituição e as leis da Ucrânia, a cumprir os meus deveres no interesse de todos os meus compatriotas e a reforçar a posição da Ucrânia no mundo.» Para mim, não se trata de uma formalidade protocolar a assinalar - é um juramento. E, todos os dias, me mantenho fiel a cada uma das suas palavras. E nunca o trairei. O interesse nacional da Ucrânia deve ser respeitado.

Não estamos a fazer declarações em voz alta. Trabalharemos calmamente com os Estados Unidos e com todos os nossos parceiros. Procuraremos encontrar soluções de forma construtiva com o nosso principal parceiro.

Exporei os argumentos. Irei persuadir. Oferecerei alternativas. Mas uma coisa é certa: não daremos ao inimigo razões para afirmar que a Ucrânia não quer a paz, que está a sabotar o processo e que é a Ucrânia que não está preparada para a diplomacia. Isso não acontecerá.

A Ucrânia vai trabalhar rapidamente. Hoje, no sábado e no domingo, durante toda a próxima semana e durante o tempo que for necessário - 24 horas por dia, 7 dias por semana - lutarei para garantir que, de entre todos os pontos do plano, pelo menos dois não sejam esquecidos: a dignidade e a liberdade dos ucranianos. Porque tudo o resto assenta nisto - a nossa soberania, a nossa independência, a nossa terra, o nosso povo. E o futuro da Ucrânia.

Tudo faremos - e devemos fazer - para que, como resultado, a guerra termine, mas que não termine a Ucrânia, que não termine a Europa nem a paz mundial.

Acabei de falar com europeus. Contamos com os nossos amigos europeus que compreendem perfeitamente que a Rússia não está algures longe - está mesmo ao lado das fronteiras da UE, que a Ucrânia é hoje o único escudo que separa a vida europeia confortável dos planos de Putin. Recordamos: A Europa esteve connosco. Acreditamos: A Europa estará connosco.

A Ucrânia não pode viver um déjà vu do dia 24 de Fevereiro, quando nos sentimos sozinhos, quando ninguém podia deter a Rússia, excepto o nosso povo heroico que se ergueu como uma muralha contra o exército de Putin.

E, claro, foi bom ouvir o mundo dizer: "Os ucranianos são incríveis; meu Deus, como eles, os ucranianos, lutam; como os ucranianos se aguentam; que titãs eles são». E é verdade, sem dúvida. Mas a Europa e o mundo inteiro também têm de compreender outra verdade: os ucranianos são, antes de mais, seres humanos. E durante quase quatro anos de invasão em grande escala, temos estado a conter um dos maiores exércitos da Terra. E temos mantido uma linha da frente que se estende por milhares de quilómetros. E o nosso povo suporta bombardeamentos nocturnos, ataques com mísseis, ataques com mísseis balísticos e ataques “shahed”. E todos os dias, o nosso povo perde os seus entes queridos. O nosso povo quer desesperadamente que esta guerra acabe. Sim, somos feitos de aço mas qualquer metal, mesmo o mais forte, pode ceder.

Lembrem-se disto. Fiquem com a Ucrânia. Fiquem com o nosso povo - e isso significa ficar com dignidade e liberdade.

Caros ucranianos!

Recordem o primeiro dia da guerra. A maioria de nós fez a sua escolha, a escolha pela Ucrânia. Recordem os nossos sentimentos nessa altura. Como é que foi? Escuro, barulhento, pesado, doloroso. Para muitos aterrador. Mas o inimigo não viu as nossas costas a fugir. Viu os nossos olhos - cheios de determinação para lutar pelo que é nosso. Isso é dignidade. É a liberdade. E esta é verdadeiramente a coisa mais aterradora para a Rússia: ver a unidade dos ucranianos.

Nessa altura, a nossa unidade centrava-se na defesa do nosso país contra o inimigo.

Agora, mais do que nunca, precisamos de unidade, para que possa haver uma paz digna no nosso país.

Dirijo-me agora a todos os ucranianos. O nosso povo, os cidadãos, os políticos - toda a gente. Temos de nos recompor. Recuperar o bom senso. Parar com disputas. Parem com os jogos políticos. O Estado tem de funcionar. O parlamento de um país em guerra tem de trabalhar em unidade. O governo de um país em guerra tem de trabalhar eficazmente. E todos juntos não devemos esquecer - e não devemos confundir - quem é exactamente o inimigo da Ucrânia hoje.

Lembro-me de como, no primeiro dia da guerra, vários “mensageiros” me trouxeram diferentes planos, pontos; havia ultimatos para acabar com a guerra. Diziam: ou é assim, ou não é. Ou assinas, ou não assinas. Ou assinas o acordo ou serás simplesmente eliminado e um “Presidente interino da Ucrânia” assiná-lo-á em teu lugar.

Todos sabemos como é que isso acabou. Muitos desses “mensageiros” tornaram-se mais tarde parte do nosso fundo de intercâmbio e foram enviados, juntamente com as suas propostas e pontos, de volta ao seu “porto de origem”.

Nessa altura não traí a Ucrânia. Senti verdadeiramente o vosso apoio por trás de mim - de cada um de vós. De cada ucraniano, de cada soldado, de cada voluntário, de cada médico, diplomata, jornalista, de toda a nossa nação.

Não traímos a Ucrânia nessa altura, não a trairemos agora. E sei com certeza que, neste que é verdadeiramente um dos momentos mais difíceis da nossa história, não estou sozinho. Sei que os ucranianos acreditam no seu Estado, que estamos unidos. E em qualquer formato futuro de reuniões, discussões, negociações com parceiros, ser-me-á muito mais fácil assegurar uma paz digna para nós e persuadi-los, sabendo com absoluta certeza: o povo da Ucrânia apoia-me. Milhões do nosso povo, pessoas dignas, pessoas que lutam pela liberdade e que conquistaram a paz.

Todos os nossos heróis caídos, que deram a vida pela Ucrânia, que estão agora no céu e merecem ver lá de cima que os seus filhos e netos viverão numa paz digna. E essa paz há-de chegar. Digna, efectiva e duradoura.

Caros ucranianos!

A próxima semana será muito difícil, cheia de acontecimentos.

Sois uma nação madura, sábia e consciente, que já o provou muitas vezes. E compreendem que, desta vez, haverá uma enorme pressão - pressão política, informativa, de todos os tipos. Concebida para nos enfraquecer. Para criar uma cunha entre nós. O inimigo nunca dorme - e fará tudo para nos fazer falhar.

Vamos deixá-lo fazer isso? Não temos o direito de o fazer. E não o faremos. Porque aqueles que procuram destruir-nos não nos conhecem bem, não compreendem quem somos verdadeiramente, o que somos, o que defendemos, que tipo de pessoas somos. Há uma razão para assinalarmos o Dia da Dignidade e da Liberdade como feriado nacional. Mostra quem somos. Mostra os nossos valores.

Trabalharemos na arena diplomática em prol da nossa paz. Devemos actuar em unidade dentro do país em prol da nossa paz, pela nossa dignidade, pela nossa liberdade. E eu acredito - e sei - que não estou sozinho. Comigo está a nossa nação, a nossa sociedade, os nossos guerreiros, os nossos parceiros, os nossos aliados, todo o nosso povo. Digno. Livres. Unidos.

Feliz Dia da Dignidade e da Liberdade.

Glória à Ucrânia!

Fonte:  Official website of the President of Ukraine


UMA ABERRAÇÃO EM 28 LANCES


O novo «plano de paz» para a Ucrânia proposto pelos Estados Unidos parece que foi ditado directamente por Putin. Parece? Nem sei se parece...

Os Estados Unidos e a Rússia sentaram-se à mesa (ou debaixo da mesa?) e em comprometido secretismo esboçaram o futuro da Ucrânia — sem a Ucrânia, sem a Europa — um «plano de paz» com 28 pontos. Este documento, que não deveria vir à luz do dia antes de ser aceite pela Ucrânia,  não é um plano de paz, é uma negociação de reféns escrita pelo sequestrador.

O projecto prevê a criação de um «grupo de trabalho EUA-Rússia sobre questões de segurança, estabelecido para promover e garantir o cumprimento de todas as disposições deste acordo».

Esta aberração foi redigida por altos funcionários dos EUA "com a contribuição da Rússia" e aprovada por Donald Trump. Parece a lista de desejos do Kremlin na Amazon embrulhada numa bandeira americana com um laçarote de veludo dourado

Se existisse a menor sombra de dúvida de que esta coisa saiu de cabecinhas russas bastaria a inclusão do ponto «All Nazi ideology and activities must be rejected and prohibited.» (Toda a ideologia e atividades nazis devem ser rejeitadas e proibidas.) para esclarecer sobre o ADN da paternidade da coisa que Trump pariu.

A contribuição da Ucrânia? A contribuição da Europa? Só servem para complicar; os ucranianos são mais do que suspeitos, só sabem fazer exigências e as propostas europeias só têm em conta as prioridades dos ucranianos, que são "inaceitáveis". Ucrânia e Europa, e mais seja quem for, não sabem resolver nada, já resolvemos tudo, está lá escrito no ponto 2 o que decidimos: «Um acordo abrangente de não agressão será concluído entre a Rússia, a Ucrânia e a Europa.». Pronto.

O plano abre com uma fachada diplomática educadinha — “A soberania da Ucrânia será confirmada” — antes de imediatamente dividir a soberania da Ucrânia como se trichasse um peru à  mesa de Natal. Entrega à Rússia a Crimeia, a totalidade do Donbass - Donetsk e Luhansk - incluindo as zonas não ocupadas. Oferecido sem contrapartidas  numa bandeja trabalhadíssima e congela mais duas regiões, Kherson e Zaporizhzhia, como se fossem sobras. Estes territórios serão reconhecidos internacionalmente como pertencentes à Federação Russa, que renunciará a outros territórios que controla fora das cinco regiões.(podes ficar com os amendoins)

A Ucrânia não só perde (perderia) território como é (seria) obrigada a alterar a sua Constituição para prometer que nunca se juntará à NATO.  

A NATO, ou os países que a integram, não estacionarão tropas na Ucrânia.
A NATO tem (teria) de alterar os seus próprios princípios fundadores para fechar a porta para sempre à Ucrânia ou qualquer outro alargamento.
Curiosamente nenhum dos países aliados da NATO foi informado pelos EUA destas propostas, assim como a comunidade diplomática europeia foi mantida em total ignorância.  Não será de estranhar, o Congresso e os seus diversos comités de política internacional e de segurança,  e mesmo o ministério dos Negócios Estrangeiros - State Department - foram mantidos à margem desta preciosidade. Rubio só soube quando o documento "transpirou"; lá se aguentou como pode, publicou um tweet no X, é um rapaz obediente e discreto
Mas tudo está assegurado, Trump pensa em tudo. «Será realizado um diálogo entre a Rússia e a NATO, com mediação dos Estados Unidos, para resolver todas as questões de segurança.»

Face a isto<< é espectável que a Rússia não vá invadir mais países vizinhos>>. «É Espectável» que eles se comportem. Espera-se! Como se Putin fosse uma criança pequena de quem «se espera» que não volte a fazer maldades ao gato. Não, não estou a exagerar, é mesmo assim que está escrito: 

  «It is expected that Russia will not invade neighboring countries and NATO will not expand further.»

Enquanto isso, as forças armadas ucranianas — actualmente a lutar pela sobrevivência do seu país e, em honesta análise, pela paz na Europa — ficam (ficariam) limitadas a 600.000 soldados, porque nada garante “paz” como forçar a nação invadida a desarmar-se enquanto o invasor mantém as chaves de três províncias ilegamente invedidas e roubadas e se "espera" que (pela primeira vez) mantenha a sua palavra.  

Mas não há motivo para preocupações,  os EUA darão à Ucrânia “garantias de segurança”  — não especificadas no documento mas estabelecido que os EUA receberão uma "compensação" pela garantia de segurança — desde que Kyiv prometa não invadir a Rússia ou lançar mísseis contra Moscovo “sem motivo”. Sim, a Ucrânia é advertida para não atacar o país que a invadiu, senão acabam-se as "garantias de segurança"

Em troca de engolir tudo isto, a Ucrânia recebe a promessa de US$ 200 bilhões em dinheiro para reconstrução , 100 dos EUA  e 100 da Europa — metade dos quais, ou seja  a totalidade do que os EUA investem, representam lucros para os EUA, literalmente: os Estados Unidos ficam com 50% dos lucros da reconstrução das cidades que Putin bombardeou até ficarem em ruínas. É como um esquema de seguro, um incendeia, o outro recebe a indemnização e dividem os ganhos entre si. (Mal posso esperar para ver a Trump Tower- Kyiv Kiev)

Os activos russos congelados? Parcialmente devolvidos mas através de um fundo de investimento EUA-Rússia. Claríssimo. 

Cito o inacreditável directamente do documento porque estou longe de conseguir formar uma frase coerente sobre o assunto:

«O restante dos fundos russos congelados será investido num veículo de investimento separado, entre os EUA e a Rússia, que implementará projectos conjuntos em áreas específicas. Este fundo terá como objetivo fortalecer as relações e aumentar os interesses comuns,  a fim de criar um forte incentivo para não retornar ao conflito.»

A cereja no topo do bolo? A Rússia recebe amnistia total. Todos. Todos os criminosos de guerra. Todos os torturadores. Todos os sequestradores. Todos, a começar pelo mandante no Kremlin. Tudo perdoado, tudo protegido, tudo bem-vindo de volta à economia global, <<os EUA e a Rússia concordam em estabelecer uma parceria de longo prazo em áreas da energia, recursos naturais, infraestruturas, inteligência artificial, centros de dados, projectos de extração de metais de terras raras no Ártico e outras oportunidades corporativas mutuamente benéficas.>>

 As sanções serão levantadas (Quais? A Europa  e restantes apoiantes da Ucrânia não foram consultados nem chamados a opinar) e a Rússia recebe um bilhete de regresso ao G8 como se nada tivesse acontecido.

É um plano de paz escrito com a elevação moral de quem o propõe 

• A central nuclear de Zaporizhzhia? Dividida 50/50 na energia produzida

• Políticas educativas:
- A Ucrânia deve ensinar «tolerância» às suas crianças, porque aparentemente o país invadido terá um problema de empatia com os russos.

• Prisioneiros e reféns regressarão, incluindo as crianças. "As crianças" mas em ponto algum se especifica que a "inclusão" se refere às crianças ucranianas raptadas e sequentemente desaparecidas nos confins da Rússia,  que estão a ser "formatadas" na pedagógica cultura bolchevique. Regressarão? (se as encontrarem)

• A Ucrânia deve realizar eleições — em 100 dias — enquanto luta uma guerra, acolhe famílias deslocadas e entrega território. O que poderá correr mal?

• E no final deste circo geopolítico Donald J. Trump preside ao «Conselho de Paz».

Sim, o homem que não consegue mediar a discussão de um cessar-fogo com Putin é encarregado de fazer cumprir um acordo de paz continental entre Estados

Isto não é um plano de paz nem é sequer uma rendição, é uma liquidação total em que a Ucrânia paga a conta, a Rússia fica com a mercadoria, os EUA, e Trump pessoalmente, ganham nisso uma parceria lucrativa. 

Só uma tentativa diplomática verdadeiramente perturbada, inconsciente e amoral poderia delinear uma proposta com a Rússia recompensada, a Ucrânia desarmada, a Europa confrontada, as empresas americanas a lucrar, os crimes de guerra apagados, a Rússia de regresso à normalidade da aceitação internacional e Donald Trump sentado num trono dourado com a inscrição «O Pacificador» a usufruir da reconstrução do que não quis defender. 

Este é o plano, perfeitamente aceitável, escrito por "não se sabe quem" e assinado por Trump.

A única coisa que me dá algum consolo, não o suficiente, é saber que estes dois vão morrer e terão mortes difíceis, mas já virão tarde

Tenho a noção de que muito do que acima escrevi poderá ser pouco credível, exagerado, quase infantil, mas não fui eu que inventei. Deixo abaixo a totalidade dos 28 pontos sem comentários, juízos ou apreciações. Que falem por si


Trump's full Ukraine-Russia peace plan

1.- Ukraine's sovereignty will be confirmed.

2.- A comprehensive non-aggression agreement will be concluded between Russia, Ukraine and Europe. All ambiguities of the last 30 years will be considered settled.

3.- It is expected that Russia will not invade neighboring countries and NATO will not expand further.

4.- A dialogue will be held between Russia and NATO, mediated by the United States, to resolve all security issues and create conditions for de-escalation in order to ensure global security and increase opportunities for cooperation and future economic development.

5.- Ukraine will receive reliable security guarantees.

6.- The size of the Ukrainian Armed Forces will be limited to 600,000 personnel.

7.- Ukraine agrees to enshrine in its constitution that it will not join NATO, and NATO agrees to include in its statutes a provision that Ukraine will not be admitted in the future.

8.- NATO agrees not to station troops in Ukraine.

9.- European fighter jets will be stationed in Poland.

10.- The U.S. guarantee:

The U.S. will receive compensation for the guarantee;

If Ukraine invades Russia, it will lose the guarantee;

If Russia invades Ukraine, in addition to a decisive coordinated military response, all global sanctions will be reinstated, recognition of the new territory and all other benefits of this deal will be revoked;

If Ukraine launches a missile at Moscow or St. Petersburg without cause, the security guarantee will be deemed invalid.

11.- Ukraine is eligible for EU membership and will receive short-term preferential access to the European market while this issue is being considered.

12.- A powerful global package of measures to rebuild Ukraine, including but not limited to:

The creation of a Ukraine Development Fund to invest in fast-growing industries, including technology, data centers, and artificial intelligence.

The United States will cooperate with Ukraine to jointly rebuild, develop, modernize, and operate Ukraine's gas infrastructure, including pipelines and storage facilities.

Joint efforts to rehabilitate war-affected areas for the restoration, reconstruction and modernization of cities and residential areas.

Infrastructure development.

Extraction of minerals and natural resources.

The World Bank will develop a special financing package to accelerate these efforts.

13.- Russia will be reintegrated into the global economy:

The lifting of sanctions will be discussed and agreed upon in stages and on a case-by-case basis.

The United States will enter into a long-term economic cooperation agreement for mutual development in the areas of energy, natural resources, infrastructure, artificial intelligence, data centers, rare earth metal extraction projects in the Arctic, and other mutually beneficial corporate opportunities.

Russia will be invited to rejoin the G8.

14.- Frozen funds will be used as follows:

$100 billion in frozen Russian assets will be invested in US-led efforts to rebuild and invest in Ukraine;

The US will receive 50% of the profits from this venture. Europe will add $100 billion to increase the amount of investment available for Ukraine's reconstruction. Frozen European funds will be unfrozen. The remainder of the frozen Russian funds will be invested in a separate US-Russian investment vehicle that will implement joint projects in specific areas. This fund will be aimed at strengthening relations and increasing common interests to create a strong incentive not to return to conflict.

15.- A joint American-Russian working group on security issues will be established to promote and ensure compliance with all provisions of this agreement.

16.- Russia will enshrine in law its policy of non-aggression towards Europe and Ukraine.

17.- The United States and Russia will agree to extend the validity of treaties on the non-proliferation and control of nuclear weapons, including the START I Treaty.

18. Ukraine agrees to be a non-nuclear state in accordance with the Treaty on the Non-Proliferation of Nuclear Weapons.

19.- The Zaporizhzhia Nuclear Power Plant will be launched under the supervision of the IAEA, and the electricity produced will be distributed equally between Russia and Ukraine — 50:50.

20.- Both countries undertake to implement educational programs in schools and society aimed at promoting understanding and tolerance of different cultures and eliminating racism and prejudice:

Ukraine will adopt EU rules on religious tolerance and the protection of linguistic minorities.

Both countries will agree to abolish all discriminatory measures and guarantee the rights of Ukrainian and Russian media and education. (Note: Similar ideas were incorporated into Trump's 2020 Israel-Palestine peace plan).

All Nazi ideology and activities must be rejected and prohibited.

21.- Territories:

Crimea, Luhansk and Donetsk will be recognized as de facto Russian, including by the United States.

Kherson and Zaporizhzhia will be frozen along the line of contact, which will mean de facto recognition along the line of contact.

Russia will relinquish other agreed territories it controls outside the five regions.

Ukrainian forces will withdraw from the part of Donetsk Oblast that they currently control, and this withdrawal zone will be considered a neutral demilitarized buffer zone, internationally recognized as territory belonging to the Russian Federation. Russian forces will not enter this demilitarized zone.

22.- After agreeing on future territorial arrangements, both the Russian Federation and Ukraine undertake not to change these arrangements by force. Any security guarantees will not apply in the event of a breach of this commitment.

23.- Russia will not prevent Ukraine from using the Dnieper River for commercial activities, and agreements will be reached on the free transport of grain across the Black Sea.

24.- A humanitarian committee will be established to resolve outstanding issues:

All remaining prisoners and bodies will be exchanged on an 'all for all' basis.

All civilian detainees and hostages will be returned, including children.

A family reunification program will be implemented.

Measures will be taken to alleviate the suffering of the victims of the conflict.

25.- Ukraine will hold elections in 100 days.

26.- All parties involved in this conflict will receive full amnesty for their actions during the war and agree not to make any claims or consider any complaints in the future.

27.- This agreement will be legally binding. Its implementation will be monitored and guaranteed by the Peace Council, headed by President Donald J. Trump. Sanctions will be imposed for violations 

28.- Once all parties agree to this memorandum, the ceasefire will take effect immediately after both sides retreat to agreed points to begin implementation of the agreement.


O DEPRAVADO E O ASSASSINO


 Começou bem. Quinze cavalos negros e oito bandeiras, quatro a quatro americanas e sauditas, fizeram  as honras da chegada de Salman à Casa Branca. Trump deve ter ficado impressionado com os King's Guard em Windsor. Ó tristeza... Qualquer mudança de guarda quotidiana dos King's Guards teria mais garbo e dignidade do que aquilo. E para um príncipe saudita, da terra onde os cavalos são briosos à nascença e os cavaleiros saídos de quadros. Tanta cagança mal amanhada.
Ainda mal o saudita tinha chegado já Trump lhe mostrava a galeria com as fotografias dos presidentes dos EUA, que mandou pôr num corredor exterior a que pomposamente chama Presidential Walk of Fame. Foi visto pela imprensa pela primeira vez hoje, depois da sacriloga demolição da West Wing e do histórico corredor que as abrigava. Estão lá todos, todos menos o presidente 46º, Joe Biden, o que venceu Trump com o maior número de votos com que alguma vez um presidente dos EUA foi eleito.  Em vez da fotografia de Biden, vê-se emoldurada uma fotografia de uma caneta de assinatura automática ( já tinha estado na West Wing mas com uma moldura ranhosa). Segundo Trump,  Biden não governou, o seu gabinete decidia por ele e assinavam o que queriam com a caneta automática. É reles, é baixo-abaixo-de-reles.  A inveja mata, mas mata muito devagarinho. 
Ficaram parados em frente da fotografia enquanto o gajo do fato explicava uma qualquer enormidade ao gajo da túnica. (Não terá um fato?)

Para continuar, quando Trump abriu a entrada aos jornalistas, falou de tudo menos do que é que o saudita estava a fazer na Casa Branca; falou nos trilhões e biliões e milhões que tem feito a América ganhar, e falou mal de Joe Biden; falou da Golden Age que a América está a viver depois da miséria que passou com Biden; falou de como os preços todos baixaram, os combustíveis, a alimentação, as groceries, os medicamentosque estavam a preços exorbitantes no tempo de Biden. 
Não sei o que mais disse, sei que não falou dos milhões de pessoas que perderam apoios sociais, reformados e veteranos incluidos, nem dos que vêem os seus seguros de saúde obrigatórios aumentarem centenas de dólares. 
Por esta altura dei meia volta e fui trabalhar.
Voltei passado um grande bocado, o cenário tinha mudado, agora estavam as duas pestes sentadas na Sala Oval, cada um mais contentinho do que o outro. Desenrolavam-se as respostas à imprensa.

Lembrei-me do mesmo cenário com uma representação incomparavelmente diferente, quando Zelensky foi flagelado por Trump e Vance perante o silêncio comprometedor de Rubio... 

Incomparavelmente diferente, desta vez estava-se entre amigos, com um gajo que mandou matar à martelada e desmembrar, dentro de uma embaixada saudita, um jornalista do Washington Post, com cidadania americana, que expôs os podres e a corrupção da família real saudita e dos seus governantes. 

Quando uma jornalista da ABC News perguntou a Salman sobre o assassinato de Jamal Khashoggi, sobre a CIA ter concluído que foi a mando dele e disse que as famílias das vítimas do 11 de Setembro estavam furiosas com  a sua presença na Sala Oval, Trump saltou com as garras luciferínas em riste: «Isso não são perguntas que se façam, ele (Khashoggi) era um homem muito controverso, muita gente não gostava dele. Essas coisas acontecem. Ele (Salman) é um grande homem, tem feito um trabalho fenomenal, é meu amigo, não teve nada com isso, está a incomodá-lo» 
Ou seja, o presidente dos EUA contradisse as conclusões da investigação feita pela CIA; nada de novo, já o havia feito em Helsínquia ilibando Putin da interferência russa nas eleições.
Salman disse que queria responder... mas não respondeu.  Fixou a parte da pergunta que referia o 11 de Setembro,  disse que Bin Laden era um malandro que queria envenenar as boas relações entre os EUA e a Arábia Saudita. O que lhe falta em vergonha sobra-lhe em descaramento.  (Vídeo abaixo)

Quando a mesma jornalista, após intervenções de outros colegas, perguntou a Trump por que não publicava os "Ficheiros Epstein", uma vez que podia fazê-lo de imediato e já o poderia ter feito desde o início da sua presidência (a votação no Congresso ainda estava a cerca de 2h de ser iniciada) Trump eriçou-se de novo, sem responder à pergunta, criticou o modo como foi feita e em resposta falou como um verdadeiro autocrata:« Já lhe disse há pouco que a empresa que representa é um cóio de notícias falsas, aliás estou a pensar retirar-lhes a licença de transmissão». 

Seguiu com as amabilidades a Salman, voltou a falar de ter baixado os preços todos, do que tem feito pela América, disse mal de Biden, claro. Salman sorria...
Trump não disse uma só palavra que fosse verdade, nada, só uma algaraviada de mentiras desconexas, despropositadas. Salman sorria... 
Não falou de ter submetido na ONU, à pressão para a véspera desta visita, o Plano de Paz para Gaza que pouco ou nada especifica - nem quem integrará o "governo" de Gaza, nem o papel da Autoridade Palestiniana nem, muito menos, a criação do Estado da Palestina. Não falou de que não há qualquer hipótese de a Arábia Saudita assinar o tão almejado Acordo Abraham (ai, o Nobel da Paz...) enquanto não se reconhecer o Estado da Palestina. Não falou dos militares do Pentágono que alertaram para que a venda de dos F35 à Arábia Saudita acarreta um risco de fuga de tecnologia para a China que não pode ser ignorado.  Não explicou que os negócios combinados com Salman se estenderão por um período de 10 anos, se vierem a ser realizados.  E dos Direitos Civis e  Direitos Humanos na Arábia Saudita, nem lhe passou pela cabeça falar, aliás está-se completamente nas tintas.

Trump sabe porque é que a sua primeira viagem de Estado em 2017 foi à Arábia Saudita. Sabe porque é que a sua primeira viagem de Estado em 2021 foi à Arábia Saudita. Salman também sabe.

A bem da sanidade mental que me resta, completamente enojada, sentindo a trampa do mundo que tinha na frente a colar-se-me à pele, desliguei a TV e fui à minha vida tentando ignorar o que tinha visto. Não consegui.
O jantar de gala? O jantar em honra do assassino que vive coberto de luxo e beleza num país com uma economia devastada, onde há fome e miséria na maioríssima parte da população - Salman que não é um Chefe de Estado - foi recebido com todos os galhardetes como se recebesse a rainha de Inglaterra... Pois, não vi o jantar nem vou ver, desse não vos posso falar

CAMPBELL: DISCURSO DIRECTO

 

O grande Alastair Campbell, jornalista britânico, orador de relevo, escritor, comunicador e estratega,  Actualmente divide-se entre a escrita, as conferências, a angariação de fundos para instituições de caridade e a acção política.

Abaixo deixo 2 minutos - e não é preciso mais -  de uma dissertação sua sobre o Brexit no passado dia 13/11 no repleto Europe House auditorium, em Westminster.
«Dos erros que cometi, o maior foi o Brexit. Ele tornou-nos a todos mais fracos e mais pobres. Uma campanha ganha por mentirosos e vigaristas.
.../...
Posso anunciar que iremos apresentar um projecto-lei para um referendo sobre esta questão. Deveremos
regressar à U.E.,  sim ou não?
.../...
Divulgaremos o relatório completo sobre o papel da Rússia no referendo de 2016 e nomearei uma comissão de inquérito para investigar as mentiras, crimes e delitos e os danos económicos caudados pelo Brexit
.../...
Teremos a confiança para reconstruir uma Grã-Bretanha que sabemos que pode ser muito melhor do que esta e a coragem para enfrentar estes mentirosos e impostores, mostrar-lhes o que é o verdadeiro espírito patriótico britânico.»

Referiu ainda que compreende o raciocínio de Sir Keir para não transformar um possível segundo referendo num ponto crucial das próximas eleições gerais, mas acredita que [o líder trabalhista] pode e deve fazê-lo, não por razões ideológicas, mas antes por puro bom senso patriótico. E acrescentou: «Se o país está a ser prejudicado, precisamos de reparar os danos e colocar algo melhor no lugar daquilo que os causa».

 

Sobre os actuais ataques à BBC não deixou de expressar a sua viva opinião sobre a farsa que Trump lançou sobre a BBC na esperança de ganhar mais uns milhões, baseando-se num erro de troca de minutos do seu discurso, do seu mais do que evidente discurso, no dia 6Jan.2021 instigando o ataque ao Capitólio
«A BBC pediu desculpa (pelo seu erro) e assumiu a responsabilidade, o director-geral demitiu-se. Isto deveria ter sido o encerramento do assunto.
.../...
Os ataques à BBC, pelos Conservadores e os "Reform", são desprezíveis dado o colossal papel que a BBC desempenha na nossa vida nacional e na nossa reputação global.
Esta tarde falei com o presidente Trump, deixei claro, da mais enfática forma possível, que os seus ataques, os do seu gabinete e apoiantes, contra a BBC são inaceitáveis. Nós não queremos uns Media ao estilo americano no nosso país»

Confesso que gosto deste rapaz, qualquer dia convido-o para jantar



"VÃO PARA LÁ..."

 As cabecinhas formatadas nos tempos em que a Eslováquia (Checoslováquia) estava sob a bota da União Soviética não são o futuro, não são a força motriz e são, forçosamente, cada vez menos.
Os jovens eslovacos são europeus, querem ser europeus num contexto europeu - culturalmente, economicamente, democraticamente - os projectos políticos e expansionistas de Putin não fazem parte da equação

O primeiro-ministro eslovaco, Robert Fico, ironizou sobre o apoio da UE à Ucrânia e disse aos estudantes que o defendiam para "irem lutar para lá"; Eles levantaram-se, protestando sem uma palavra, apenas agitaram os seus porta-chaves numa pateada, deixando o primeiro-ministro a falar para os seus seguranças. 


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PER-FEI-TO


A perfeição existe

Bom domingo

Gabriella Papadakis e Guillaume Cizeron são campeões olímpicos e detêm o recorde mundial 
de dança no gelo com uma pontuação total de 226,98 pontos; foram os primeiros a ultrapassar 
a barreira dos 200 pontos e os primeiros a ultrapassar os 90 pontos em dança rítmica.


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HONRANDO OS QUE SERVIRAM

 A 11 de Novembro, em especial na Europa mas um pouco por todo o mundo, mesmo na Alemanha, celebra-se o Dia do Armistício; 

Nos EUA celebra-se o o "Memorial Day", em Maio, dedicado aos que morreram nas guerras americanas e o "Veterans Day", a 11/11, dedicado aos  veteranos das forças armadas - que o presidente Trump acaba de renomear "Dia da Vitória", na boa tradição russa (não estou a inventar):  « Como sabem, hoje não é apenas o Dia dos Veteranos, mas é também a minha proclamação a que passaremos a chamar o Dia da Vitória da I Guerra Mundial.» (As you know today is not only Veterans Day, but it’s my proclamation that we are now going to be saying and calling Victory Day for World War I,)

Em França e na Bélgica o Dia do Armistício é um feriado nacional marcado por paradas militares e cerimónias junto aos respectivos monumentos ao Soldado Desconhecido.

No Reino Unido e Commonwealth vive-se uma semana de memória que inclui o Remembrance Sunday e culmina a 11/11 com o "Remembrance Day", que vai além do fim da I Guerra Mundial para englobar todos os que serviram em guerras na defesa da Liberdade

Em Portugal, a 9 de Abril, celebra-se o "Dia do Combatente", data que passa despercebida à generalidade da população. Há uns discursos junto ao monumento Heróis do Ultramar em  Lisboa e fica-se assim
Apesar dos mais de 7.700 portugueses mortos na I Guerra, o Dia do Armistício não é honrado;
Relativamente à II Guerra, Portugal trilhava outros caminhos que não os da luta pela Liberdade contra os horrores do nazismo
Por cá, a 11 de Novembro, celebra-se o São Martinho... Merece reflexão 




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GUERRA DISSIMULADA, PAZ HÍBRIDA

No dia 6 de Novembro, Mark Rutte, secretário-geral da NATO, fez uma declaração no Fórum NATO-Indústria, em Bucareste, que pode parecer uma informação ao público presente a esse fórum predominantemente industrial. Disse ele:

«A Aliança ultrapassou a Rússia na produção de munições, uma mudança crucial no equilíbrio de defesa da Europa após anos de desvantagem em relação à produção de Moscovo. Até há pouco tempo a Rússia produzia mais munições do que todos os aliados da NATO juntos. Mas isso mudou.
 A força da NATO depende agora da estreita coordenação com os fabricantes privados. Não há uma defesa forte sem uma indústria de defesa forte. É necessário aumentar a oferta, expandir as linhas de produção existentes e abrir outras novas.
Para além de munições, a NATO deve concentrar-se na defesa aérea de alta tecnologia, drones, capacidades cibernéticas e inovação através de programas como o Acelerador de Inovação em Defesa e o Fundo de Inovação da NATO.
Para nos mantermos seguros futuramente, precisamos de ser mais inteligentes do que os nossos adversários utilizando todos os nossos pontos fortes.»

Rutte disse muito mais do que isto, falou durante uns pouco habituais 20min. Não se trata de informação, trata-se de um alerta dentro de parâmetros relativamente suavizados . Um "chegámos a uma boa posição mas não podemos dormir sobre ela".  Não será por certo a melhor das estratégias alertar as populações civis acendendo avisos vermelhos, promover mais instabilidade e insegurança do que aquela que se pode sentir pairando no ar, mas há que expor o que sub-repticiamente vai minando a estabilidade europeia pós II Guerra. É absolutamente necessário que as pessoas entendam as razões do aumento das percentagens dos PIBs nacionais dirigidas para investimentos em Defesa. O contrário conduziria a um "Viram que isto estava a ser preparado, a acontecer, e ninguém fez nada"; Em linguagem prosaica, não é depois da casa ser roubada que nos devemos lembrar de pôr trancas à porta, é antes. É AGORA

Elisabeth Braw, investigadora sénior do Atlantic Council bate na mesma tecla:

«A maioria das pessoas não se apercebe da extensão dos danos que a Rússia está a tentar causar às nossas sociedades. Isto deve-se ao facto de os nossos governos, compreensivelmente, tentarem não alarmar as pessoas mas, como resultado, as pessoas não se apercebem realmente do que está a acontecer»

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No mesmo dia 6 de Novembro, Lord George Roberson, ex-secretário-geral da NATO, ex-ministro da Defesa (UK),  dava uma "coincidente" entrevista ao Channel4  em Inglaterra.
Lord Robertson liderou a recente (06/2024 - 07/2025)  revisão da estratégia de Defesa Militar  - "Strategic Defense Review" - do Reino Unido a pedido de Keir Stamer e preocupa-o que o público  não esteja ciente do conflito actual e contínuo com a Rússia. 

«A Rússia está claramente em guerra connosco. Não tenho qualquer dúvida de que, ainda que não estejamos em guerra com eles, eles claramente declararam-nos guerra. Porque esta não é uma guerra convencional, não se trata de tanques a atravessar fronteiras, soldados a marchar por cidades com o som dos tiros no ar. É um conflito muito mais subtil e sinistro, tão subtil que nem nos apercebemos do quanto se aproximou sorrateiramente». 

Esta é uma guerra híbrida, uma mistura de sabotagem, subversão e manipulação psicológica que actua numa zona cinzenta entre escaramuças e uma guerra total. Está a acontecer por toda a Europa neste momento.
Em 2024, assistiu-se à tentativa de assassinato do director executivo do maior fabricante de armas da Alemanha; Explosivos escondidos em pacotes foram enviados da Lituânia, via DHL e DPD, para a Alemanha, Polónia e Reino Unido; Um enorme incêndio que destruiu grande parte de um centro comercial em Varsóvia.
Estes são alguns dos acontecimentos de que muitos não ouviram falar, para além daqueles que já quase toda a gente conhece: drones a sobrevoar o espaço aéreo de diversos países da NATO e bases militares, na Dinamarca e não só; jactos que atravessam o espaço aéreo da Estónia; a destruição de cabos submarinos no Mar Báltico....
As investigações de governos ocidentais e os seus serviços de Informação revelam que a mão do Kremlin está presente em todos os casos.  Analistas observaram centenas de actos de sabotagem por parte da Rússia nos últimos três anos. No caso dos danos nos gasodutos Nord Stream em 2022,  são os ucranianos que são agora acusados –  o governo em Kyiv a protestou, declarou não ter tido qualquer envolvimento. Moscovo continua a negar qualquer sabotagem.
Esta semana, avistamentos de drones na Bélgica provocaram o encerramento de aeroportos e de uma base militar, junto à fronteira com a Holanda, durante 3 noites consecutivas. O governo convocou uma reunião de emergência com os parceiros europeus

Lord Robertson levanta outra questão que tende a passar desapercebida:

«Não há dúvida de que a Rússia alterou estrategicamente a forma como tenta minar a sociedade ocidental. Aqueles que, no Kremlin, têm como função pensar a longo prazo, claramente começaram a contratar criminosos organizados para realizar determinado tipo de acções e operações de sabotagem que eles próprios não seriam capazes de fazer tão discretamente, afastando quanto possível as ligações à Rússia.»

Após o envenenamento de Sergei Skripal por dois agentes da FSB em Salisbury (UK, 2018) e a invasão da Ucrânia em 2022, o Reino Unido e outros países europeus expulsaram muitos agentes dos serviços de informação russos. Com Moscovo a querer expandir o seu conflito contra o Ocidente, a Rússia ficou em desvantagem uma vez que agora não dispõe, como antes, de agentes treinados no terreno. Então, improvisaram: "se não podemos usar os nossos agentes usaremos activos estrangeiros"  
Andrei Averyanov, uma figura-chave da rede de espionagem russa e vice-chefe do GRU, dirige uma unidade relativamente nova chamada "Departamento de Tarefas Especiais"  (Department of Special Tasks).  Cerca de 80% das actividades de guerra híbrida da Rússia partem de Averyanov e da sua equipa de assassinos, sabotadores, hackers, recrutadores, chantagistas, operadores para as redes sociais e media, infiltrados nos níveis mais básicos e nos mais elevados.

Um ataque incendiário em Leyton, no leste de Londres, em 2024. Os culpados eram criminosos de pequena monta no Reino Unido. O líder, Dylan Earl, era um homem de Leicestershire que tinha sido recrutado online pelo grupo de mercenários Wagner. Foi condenado a 17 anos de prisão. 

Uma semana depois, um tribunal francês condenou quatro búlgaros pelo seu envolvimento na devastação e pilhagem de um memorial judaico em Paris. Os juízes afirmaram que a interferência estrangeira era “indiscutível”, sendo a Rússia a culpada provável. Provável, mas sem "provas"

Em Maio de 2025, 6 búlgaros foram condenados por espionagem para a Rússia no Reino Unido com penas de prisão que variam entre 5 e 10 anos. Os membros da rede de espionagem auto-intitulavam-se "os lacaios" e tinham como alvo jornalistas, políticos e tropas ucranianas. Discutiram também a realização de rapto ou assassinato de opositores do Kremlin.

Em Setembro último um ex-euro-deputado do Brexit/UK Reform, ex-lider do partido no País de Gales, deu-se como culpado de 8 acusações de suborno por parte da Rússia, um "peão" dos serviços secretos russos. O próprio Nigel Farage colaborou com a RT  durante  anos aparecendo regularmente no canal, com o seu próprio programa e sendo remunerado pelos seus serviços. Apareceu na RT - canal TvV "Russia Today") durante o seu mandato como membro do Parlamento Europeu (MEP) e o RT promoveu as suas aparições após o referendo sobre a União Europeia.

É a economia informal da espionagem: agentes freelancers que são baratos e conferem ao Kremlin uma negação plausível. Nunca há um contrato russo assinado nem qualquer tipo de rasto documental, Moscovo pode negar, negar e negar. 
Obviamente que isto dificulta a resposta da Europa.

«Estamos imersos neste tipo de guerra em que coisas acontecem a todo o momento, sem causa específica aparente., É preciso dar um passo atrás e observar a existência de um padrão; Então percebe-se que todos estes pequenos acontecimentos que, isoladamente, podem parecer insignificantes, fazem parte de uma estratégia mais ampla que está alinhada com os objectivos da política externa da Rússia.  Estes objectivos são perfeitamente complementados pela forma como Moscovo recruta num mundo de sombra representantes e criminosos. O Kremlin quer criar confusão para dividir e enfraquecer a Europa. Isto semeia medo, mina a confiança nos nossos sistemas, nas nossas redes e nos políticos que elegemos.»

Tomemos por exemplo o caso dos monumentos judaicos vandalizados em Paris por búlgaros. 
O anti-semitismo é uma questão crescente e importante em toda a Europa.  A Rússia tenta instrumentalizá-lo, fomentando divisões entre as populações judaica e muçulmana em França, precisamente quando a extrema-direita está a aumentar o seu apoio. Se a França estiver dividida a Europa fica mais fraca e, consequentemente, o apoio à Ucrânia diminui. Quem pode garantir a continuação do forte apoio da França à Ucrânia se o Rassemblement National de LePen estiver no poder?

O mais significativo efeito imediato do Brexit, para além das suas repercussões económicas, foi, por um lado a diminuição do bloco parlamentar europeu de centro, por outro as múltiplas dificuldades acrescidas na partilha de informações de segurança europeia, algumas das quais apenas colmatadas pela superior troca de informações entre Aliados da NATO

Na Alemanha, após inúmeros ataques cibernéticos, pelo menos uma tentativa de assassinato, entre muitos outros episódios de destabilização e espionagem, o chefe dos serviços de informação alemães e o ministro da Segurança vieram a público dizer: «Vamos tomar medidas a este respeito, precisamos de operar acções de dissuasão.» 
Imediatamente grande parte da elite política, com a voz predominante do AfD e dos media de direita reagiram: "Isto é uma escalada",  "Porque é que estamos a reagir de forma exagerada?",  "Isto divide a nossa sociedade". Apenas tinha sido evocada "Dissuasão", não qualquer "Ataque"... Não reagir foi a atitude proposta pela oposição

Lord Robertson acredita que o Ocidente precisa agora de ser mais transparente sobre a ameaça e recordar o mundo de 1945-1991 (do pós-guerra à dissolução da União Soviética)

«Não creio que o país esteja realmente consciente dos perigos. Temo que, quando as luzes se apagarem, os centros de dados colapsarem, os semáforos deixarem de funcionar e os ATM ficarem sem dinheiro, as pessoas se virem contra o governo.
Precisamos de ressuscitar alguns dos instrumentos de guerra da informação que utilizámos durante a Guerra Fria. Desmontámos muitos dos instrumentos que utilizávamos para levar notícias e opiniões à União Soviética. Penso que precisamos de restabelecer grande parte disto para atingir a população russa. Mas o Presidente Trump destruiu a Radio Liberty  e a Radio Free Europe. Com que vantagem?

A resposta militar do Ocidente pode ter começado mas é evidente que há uma batalha psicológica em curso: Educar e informar as populações sobre o que se passa nas sombras e estar consciente da forma como Moscovo quer que as sociedades reajam, é esse o desafio que temos pela frente, tendo em conta o que pode acontecer no futuro.
Quase se fica paranóico a pensar no que a Rússia é capaz de fazer. E depois, quando a Rússia introduz a sua próxima forma de agressão na zona cinzenta, percebe-se que não se estava a ser suficientemente "paranóico"»