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O 11º MANDAMENTO

NÃO NEGOCIARÁS COM TERRORISTAS



Durante os 10 anos que durou a guerra afegã/soviética uma enorme parcela da população afegã procurou refúgio no Irão e. principalmente, no Paquistão.

A al-Quaeda surgiu durante esta guerra formada pelos guerrilheiros mais radicais e extremistas de entre os mujahidins liderados por Bin Laden

Os "Talibã"  - literalmente "Estudantes" - eram crianças refugiadas no Paquistão (Peshawar) e no campo de refugiados na fronteira afegã-paquistanesa (Candaar) que frequentavam as escolas islâmicas (Madraçais).

A União Soviética retirou as suas tropas do Afeganistão entre Maio de 1988 e Fevereiro de 1989.

A inexistência de um governo efectivo, de um Estado de Direito, as lutas de domínio entre as diferentes facções (sunitas e xiitas) foi o meio-óptimo para o desenvolvimento do poder organizado e disciplinado por anos de escolástica islâmica dos Talibã.

 A partir do momento em que conseguiram estabelecer um território bem definido - o Emirado Islâmico do Afeganistão - ocuparam a região de Candaar e dois anos depois (1996) tomaram posse da capital Cabul.

Bin Laden e os seus guerrilheiros deixaram de ser presença do agrado dos Talibã, não havia lugar para dois líders no Afeganistão

Bin Laden partiu para Jalalabade, a cerca de 150kms de Cabul. Esta atitude valeu a Bin Laden e à al-Qaeda a protecção Talibã e uma certa legitimidade por parte de seu Ministério da Defesa o que lhe permitiu formar campos de treino da Al-Qaeda no Afeganistão e na fronteira com o Paquistão.
Por lá preparou, entre outros, os ataques do 11 de Setembro

Embora nunca tivessem conseguido o total domínio do Afeganistão, o Emirado Islâmico do Afeganistão dos Talibã  só veio  a ser destituído e a capital só foi libertada após a invasão dos EUA em 2001

E o resto é História...

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11 de Setembro de 2019



Durante a última semana de Abril de 2019 Trump reuniu com os seus principais conselheiros na Situation Room para anunciar que queria um Acordo de Paz que lhe permitisse retirar as tropas americanas do Afeganistão; Pompeo advogou a favor do chefe, claro;
Bolton, que assistia à reunião desde Varsóvia por video-conferência, não queria acreditar no que ouvia... Apesar das suas marcadas tendências bélicas, Bolton não é um recém-chegado às polítiquices estratégicas de Washington, nem do Pentágono em particular, tem plena consciência das consequências para o mundo ocidental - já nem falando do Médio Oriente - de uma retirada feita à pressa das forças americanas, sem garantias nem Instituíções fortemente implantadas.
Não é o fim de uma guerra, o que seria desejável, é a entrega de um povo impotente e de um território além das fronteiras afegãs ao poder terrorista institucionalizado.
É um crime.
Nas palavras de Bolton:
«Mr. Trump could keep his campaign pledge to draw down forces without getting in bed with killers swathed in American blood.»
Ou seja, é possível retirar tropas americanas deixando um contingente anti-terrorista sem assinar qualquer acordo com os Talibã.
Claro que é mas não tem o mesmo impacto nem dá cabeçalhos tão fixes nos jornais; nem nas páginas da história. E há alguma coisa mais importante do que o nome "Trump" na história?

E há ainda outra razão, de peso, de peso em ouro... Os Talibã, e a sua rapaziada da Jihad, vão comprar muito mais armas "da pesada" do que o governo afegão que não tem onde cair morto, literalmente. 
(Há que cuidar os negócios dos amigos que cuidam de nós)

A reunião terminou deixando no ar a mediática hipótese de convidar o presidente  Ashraf Ghani para ir a Washington assinar o tal Acordo de Paz. O facto de Ghani, presidente eleito, ser deixado totalmente fora das conversações com os Talibã seria, para Trump, um pormenor irrelevante, a verdade é que ficaria bem na fotografia.

Dias depois Trump teve uma ideia ainda mais sensacional que só comunicou aos seus mais escolhidos Conselheiros deixando na ignorância o "National Security Council" : Vou convidar os Talibã para virem cá, não a Washington, que já está muito visto, mas para Camp David!!! A jóia da "coroa" americana onde têm sido recebidos apenas presidentes, primeiros-ministros e reis. Sim Senhor! E mais, recebe-se a rapaziada 3 dias antes do 11 de Setembro!!! Se a guerra do Afganistão teve por causa primeira os ataques do "11 de Setembro",  e se por lá morreram cerca de 3 500 americanos, não contando as baixas das forças aliadas, é apenas mais um um pormenor irrelevante.

Mas os Talibã não foram a Camp David. Nem a Washington. Nem assinaram acordo algum.
Porquê?
A oposição nos meios políticos foi maior do que Trump esperava, muitos insuspeitos membros do Partido Republicano mostraram o seus descontentamento ou até indignação.
A 5 de Setembro, menos de uma semana antes da festa, os Talibã reivindicaram um ataque bombista no Afeganistão do qual resultaram 12 mortos entre os quais um americano. Desculpa vagamente careca... No espaço de uma semana esse foi o terceiro ataque bombista. (Aliás durante este mês de Fevereiro 2020 mais dois oficiais americanos foram mortos e as conversações de paz continuaram animadamente)
Que diga quem sabe, eu não sei, a verdade é que "consta" que os Talibã impuseram  condições rígidas aos americanos: a retirada de apoio ao governo afegão e um calendário de saída, a libertação dos prisioneiros Talibã... Pois.

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O líder Talibã Mullah Salam Zaeef
29 de Fevereiro de 2020
Doha - Qatar

Após sete dias de compromisso por parte dos Talibã de "Redução de Violência" no território afegão estão criadas as condições para a assinatura de um "Acordo de Paz" entre os EUA e os Talibã, é quanto basta. Não, o governo do Afeganistão não tem nada com isso, não estava lá nem foi informado do teor das conversações durante o processo. Quem por acaso lá estava era um ministro representante do governo do Paquistão...



O vergonhoso acordo foi assinado por Zalmay Khalilzad (US Special Representative for Afghanistan Reconciliation) e o homem de mão de Pompeo que liderou as conversações mantidas até hoje e o líder de conversações por parte dos Talibã Mullah Abdul Ghani Baradar.
Pompeo estava lá, como "testemunha" (sim, que o governo dos EUA não quer legitimar os Talibã, claro esteja) mas foi discursar


Se os Talibã "respeitarem os termos do acordo", que entrará em vigor a 10 de Março, os EUA reduzirão o seu contingente para 8 600 (dos cerca de 13 000 actual)  e fechará as suas 5 bases no prazo de 135 dias.
Todas as suas tropas, contingente anti-terrorista incluído, deixarão o Afeganistão dentro de 14 meses. Fica levantada a hipótese de permanecerem especialistas da Inteligência (o que é uma excelente ideia porque assim ficam todos identificados) e uma presença pontual de combate à ISIS e à al-Qaeda.

A presença aliada britânica que sofreu 454 baixas, tem actualmente de 1 100 militares, reduzirá apenas 200.

De direitos humanos, direitos das mulheres (à educação e ao trabalho p/ex.), minorias religiosas e do comummente designado como "Direitos, Liberdades e Garantias" nada ficou estabelecido ou é exigido

Os Talibã comprometem-se a cortar laços com a al-Qaeda e outros grupos de cariz terrorista internacional e a iniciar conversações com o governo afegão, que nunca reconheceu.

O governo afegão deve libertar 5000 prisioneiros Talibã (tendo os Talibã apresentado uma lista nominal) e 1000 prisioneiros afegãos serão libertados. Complicada esta questão uma vez que o governo afegão não é signatário deste, ou de qualquer outro, acordo e foi sempre ausente de todas as negociações
A delegação Talibã, tudo bons rapazes

Uma vez assinado o acordo os Talibã já declararam a sua "Vitória" sobre os EUA nas redes sociais e comunicaram às suas milícias que se trata de um pacto táctico que pode ser legitimamente quebrado por razões religiosas. 
Trump também já declarou... Diz ele que em breve se irá encontrar com os Talibã
Está tudo dito.


Num restaurante de Kabul durante a assinatura do acordo,
o entusiasmo dos afegãos ao serem entregues aos Talibã

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