Estou farta de saber que há coisas que não posso ouvir após a hora em que me proponho ir dormir, é como se injectasse cafeína directa à veia.
Esta madrugada, já após o bater das quatro, saiu-me ao caminho uma avantesma numa entrevista directa da CNN e, lamento dizê-lo, o pivot de serviço não teve capacidade para lhe pôr as perguntas que devia, para o confrontar com tanta idiotice e falsidade que proferiu - com ar doutoral como se fosse o supra-sumo da autoridade em terrorismo. Gostava de o ver nas garras experientes de uma Christiane Amanpour, uma Hala Gorani ou de um Anderson Cooper, mas creio que estes não gastam o seu anglo-saxónico com tipos que se põem em bicos de pés para vender livros e afagarem o ego.
O que tem graça (ou talvez os editores da CNN se tenham sentido tão assombrados quanto eu) é que quando, ainda agora, busquei a tal entrevista no site da CNN me apareceu apenas o final, tendo o revoltante chorrilho de asneiras desaparecido por artes virtuais. Por um lado é positivo: "coloque-se o lixo no lixo" mas por outro perde-se tamanha ilustração.
http://edition.cnn.com/videos/tv/2015/01/09/cnn-tonight-reza-aslan-don-lemon-islam-danger.cnn |
A avantesma a quem me refiro é um teólogo que dá pelo nome de Reza Aslan e sobre quem apurei o seguinte:
- O teólogo Reza Aslan nasceu em 1972 no Irão, numa família muçulmana e foi viver para S. Francisco.
- Em jovem experimenta uma conversão ao cristianismo mas não se convence.
- Volta a converter-se ao islamismo ( Shia Islam) em 1990 antes de ingressar em Harvard
- Licencia-se em Sociologia das Religiões (University of California Santa Barbara) mas dá aulas de escrita criativa.
- A sua dissertação em História da religião: "Global Jihadism as a Transnational Social Movement: A Theoretical Framework".
- Escreve uma "biografia" sobre Jesus mas sobre este só reconhece dois factos históricos: que era judeu e que liderou um popular movimento judeu na "Palestina" no princípio do séc I . - "Zealot: The Life and Times of Jesus of Nazareth", published by Random House in July of 2013, and it is one in a long line of books challenging the portrait of Jesus given in the gospels. Powered by the Random House marketing machine behind it, "In the end, there are only two hard historical facts about Jesus of Nazareth upon which we can confidently rely: the first is that Jesus was a Jew who led a popular Jewish movement in Palestine at the beginning of the first century C.E.; the second is that Rome crucified him for doing so."the book quickly shot to the top of Amazon’s bestseller list. -
Mas o que disse esta autoridade teológica (que dá aulas de Escrita Criativa e vive em Hollywood) que tanto me irritou?
Sumariamente, e lamentado não conseguir aceder à entrevista na integra, opinou assim:
- A Europa sofre de uma crise de identidade, os europeus já não sabem quem são, não estão preparados para viver em sociedades multi-culturais onde se cruzam com caras pretas, mestiças, orientais, muçulmanas, etc.
- Esta crise de identidade europeia gera uma enorme instabilidade, polarização e pressão sobre as comunidades estrangeiras, e nas muçulmanas em particular, criando uma sensação de não-pertença nestas populações que leva a actos de violência.
- Esta instabilidade leva falta de aculturação, quer relativamente à cultura de onde provêem como àquela nova onde não se conseguem integrar
- Para isto muito tem contribuído a legislação de exclusão de direitos praticada na Europa. A França nunca tolerou o multi-culturalismo, na Alemanha desde há meses que milhares e milhares se manifestam todas as semanas contra os muçulmanos - como por exemplo a tremendamente racista Suécia - há uma guerra civil a decorrer na Europa!!!
(Gostava de perguntar a este gajo de quantas igrejas cristãs, sinagogas ou templos budistas tem ele conhecimento em territórios islamitas, se permitem que as mulheres europeias se vistam de acordo com a sua cultura e costumes, etc,etc,etc)
"-There is a civil war taking place in Europe, the Europeans don't know who they are anymore. They're fighting to figure out who they are. "
"-We have seen a lot of anti-Muslim violence in Europe as well as Muslim violence against Europeans."
- Daqui resulta que estes muçulmanos desenraízados se tornam presas fáceis para organizações como a Al-Quaeda que têm vindo a oferecer, a conferir, um preenchimento dessa lacuna de identidade e um propósito de luta pessoal, não só aos muçulmanos estrangeiros como aos próprios europeus que sofrem de perda de identidade.
- Por último, menos grave e, a meu ver, servindo um propósito ao qual me referirei mais abaixo, considera os Estados Unidos um óptimo modelo (a great model) do que há a fazer para minimizar a situação acima descrita; sendo os EUA uma sociedade de muitas culturas, religiões e etnias, que vivem conjuntamente em harmonia, é a sociedade do séc.XXI.Esta leitura apresenta-se-me, no mínimo, como irónica e metida a ferros: Presentemente, nos EUA tem-se vindo a assistir a prolongados e violentos confrontos raciais como os originados em Fergusson, provocando uma radicalização entre comunidades negras para com a polícia "branca", quando Obama faz, várias vezes, de moderador na televisão nacional apelando à unidade dos americanos como um só povo, quando o "Mayor" de Nova Iorque se vê contestado pelo NYPD por ter aconselhado um miúdo mestiço seu familiar a ter cuidado na sua interacção com a polícia... Que falta de sentido de oportunidade, mais valia estares calado.
Então mas o animal é estúpido? Não, não é estúpido, é um péssimo jogador de poker. Expõe os seus propósitos na tentativa de ocultar o que lhe vai na mente e no peito. Enaltece a América, vitimiza o Islão, caracteriza a Europa como uma velha perdida. Tem "tiques" de expressão a interpretar numa visão pessoal que não comento...
A meu ver...
Este péssimo jogador de poker tenta dissimular os seus "telhados de vidro" (mais "mentalmente seus" do que "socialmente seus") num americanismo militante e exacerbado enquanto vai culpando a Europa que acusa de ter perdido a sua identidade e de se radicalizar, originando o extremismo terrorista devido à manifestação de intolerância, racismo e mesmo de ataques violentos às comunidades muçulmanas, vitimas desta radicalidade europeia.
Aah, condenando, claro, os ataques terroristas, absolutely.
Que par de estalos tão bem pregado!!! Só me apetece dar-lhe bengaladas!
Mesmo antes de carregar na tecla "Publish" fiz uma nova busca do vídeo com a entrevista integral, incomoda-me publicar palavras de terceiros, para mais algo inverosímeis como as que acima relato, sem um suporte factual
Por vezes a teimosia compensa... A entrevista integral continua a não estar disponível na CNN (nem no canal CNN do YouTube) mas acabei por a encontrar.
Queiram Vs. Exas. deleitar-se.
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