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POIS FOI... ACABARAM AS FÉRIAS.

VOLTEI.

O pior do fim das férias nem é o trabalho, é este ritmo estupidamente apressado a que as pessoas se habituaram, como se não pudessem viver de outra maneira.

Não sou admiradora da molenguice nem apologista do protelamento mas a urgência permanente, como modo de vida, dá-me conta do sistema nervoso, mesmo.

Há pessoas, muitas, que nunca param, têm sempre de... qualquer coisa, e já, ou, na melhor das hipóteses, daqui a bocadinho. Sei que há dias assim, mas sempre?


Creio que essa urgência constante tem frequentemente raízes neuróticas e, se não tem as raízes, terá, sem dúvida, as sementes. Seremos mais importantes quando “não podemos” ter sossego? Dar-nos-á a ilusão de sermos insubstituíveis?
Há uns anos este sentimento de urgência era quase exclusivamente urbano mas agora tende a generalizar-se – efeito da Aldeia Global? Provavelmente.

Uma das melhores bênçãos que as férias trazem é Não-Ter-Horas e fico estupefacta quando vejo pessoas em férias terem horas para se levantarem, deitarem, almoçarem, saírem e sabe-se lá mas o quê. Mas porquê? E saberem sempre o que vão fazer no dia seguinte... Mas como é que sabem se lhes apetece? Ou isso não é relevante? Não?

Claro que o problema não está em ter este comportamento em férias, o problema está no modo como as pessoas vivem permanentemente e de forma tão "automática" que acabam por perder a capacidade de "desligar",ou de se lembrarem de que o podem fazer, mesmo em férias.

Quando começo a estar (ser) muito acelerada e me apercebo disso – pois, por vezes nem nos apercebemos – dou-me uma “ordem mental”: Respira. Respirar mesmo, com tempo. Respirar fundo, com o abdómen, como deve de ser. Normalmente funciona e acabo por me perguntar “para que é esta correria?”

Esta maneira de viver tem vários efeitos graves, pessoais e sociais.
Socialmente, laboralmente, troca-se o Humanismo pela “produtividade” e com maus resultados. Pessoalmente...

A vida corre, ainda mais depressa; vive-se a projectar para amanhã porque hoje já não chega, para o fim-de-semana, para o mês que vem. Envelhece-se, ainda mais depressa do que o inevitável. E mais grave: perdem-se os momentos – esses bocados avulsos de que é feita a Vida. Perdem-se as Pessoas que estão dentro dos indivíduos com quem nos cruzamos. Perde-se o sabor do vinho que quisemos escolher. Perde-se o pôr-do-sol ou o arco-íris que nos espreitou. Perde-se ternura dos filhos, o olhar de um amigo que silenciosamente pediu ajuda, a declaração de amor incondicional do nosso cão, a situação hilariante que passou ao nosso lado, a resposta à nossa dúvida que o “acaso” colocou bem sob o nosso nariz. Perde-se totalmente a noção de Tempo Livre e do que se pode fazer com ele. Perde-se experiência, amadurecimento e sabedoria. Perde-se muito... a troco de coisa nenhuma. Ou antes, a troco de ansiedade, precipitação, dispersão e todo o rol de problemas associados às personalidades tipo A, para além da insatisfação permanente que existe colada à “falta de tempo crónica”.

Calma não é, só, algo que precisamos ter quando nos enervamos, calma é uma condição da essência da qualidade de vida. Hoje a calma é percebida como se fosse um luxo mas é um bem de primeira necessidade. Haja Calma.

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