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O OVO DE... RAMOS

É fácil sermos enredados na contestação de uma narrativa falaciosa, na contra-argumentação de uma mentira descarada que, face aos factos,  desenrola uma série de larachas encavalitadas umas sobre as outras sem inibições éticas de espécie alguma, estranhas a qualquer evidência ou lógica numa teia de mentiras infinita.

Desde 3 de Novembro (desde antes de 3 de Novembro), data das últimas presidenciais nos EUA, que o Bode-Maligno berra e grita que lhe roubaram a presidência cimentado nas teorias mais disparatadas com as consequências que todos testemunhámos culminando num 6 de Janeiro cuidadosamente arquitectado e o mais que está por vir. 

O inacreditável é acreditado com uma obstinação cega, semeada e bem regada.

É fácil que a estupefacção perante o inconcebível nos desvie o olhar da pedra de toque, do ponto crítico de um enredo fantasioso e perverso.

Mas essa pedra de toque existe. Existe e é tão óbvia, tão simples, que nos escapa; pelo menos a mim, rapariga atenta e indagadora nesta coisas das politiquices, confesso que me escapou. Ao confrontar-me com a sua simplicidade quase me senti envergonhada perante este "Ovo de Colombo"

Jorge Ramos é um prestigiado jornalista norte-americano de ascendência mexicana, aclamado pela Time, detentor de um prémio EMMY-lifetime achievement, colunista em mais de 40 jornais e âncora de vários programas de TV. É também conhecido pela precisão certeira das suas perguntas...

Há dias, a 1 de Julho, esteve presente numa pequena reunião no Texas, por ocasião da visita de D.Trump à fronteira, onde pode o questionar. E contestar a sua primeira resposta. E já não houve mais respostas, nem perguntas, nem reunião. D.Trump saíu porta fora. O "Ovo de Colombo" estava exposto. Game over.

Presidenciais USA 2020
Colégio Eleitoral - votos necessários à eleição - 270
Biden - 306
Trump -232


COMO PASSAR UMA MENSAGEM SEM FAZER ONDAS

 Na passada quarta-feira, dia 23/06, o HMS Defender, um navio de guerra da Royal Navy, dirigia-se de Odessa para a Georgia tomando o corredor ao largo da península da Crimeia, que os russos invadiram, ocuparam em 2014 e acham que é deles, constituindo ali o seu "porta-aviões" no flanco sudeste da NATO, enquanto  a comunidade internacional a reconhece como território ucraniano. 

Nesta passagem supostamente inocente, que respeitou o limite territorial de 12 milhas, o destroyer britânico levava a bordo uma equipe da BBC e um repórter do Daily Mail; acasos...

Foram disparados avisos (muito para além do alcance de segurança, não fosse o diabo tecê-las), sobrevoaram aviões militares russos, foi declamado que o Reino Unido teve uma acção indiscutivelmente provocatória e a BBC fez uma festa exclusiva. Pronteshh.

Pronteshh? Então qual é a ideia?

A Rússia tem por hábito considerar o Mar Negro como o seu quintal aquático e a Turquia nada se incomoda com isso, diria mesmo que acha graça. Pois, mas a Nato não acha graça nenhuma e a Ucrânia muito menos.

Desde 2014 que a Ucrânia é vítima de uma guerra quase esquecida, o reinado de Trump não ajudou, mesmo com a posição oposta, mas limitada, do Congresso e do Senado, até para chantagem com fins eleitorais serviu (Rudy Giuliani que o diga). A crescente impunidade de Putin valeu novas investidas internacionais, como a que tem vindo a ensaiar junto à fronteira com a Polónia

E então? Então vamos ligar os pontos para formar uma imagem 

Durante este mês de Junho houve uma cimeira G7, uma cimeira da NATO, uma cimeira da UE e o encontro entre Biden e Putin. Se a alguém passa pela cabeça que ficou tudo na mesma é porque ou tem má cabeça ou anda muito distraído. 

O primeiro sintoma foi a paragem dos ataques informáticos que caiam em catadupa nos EUA, e não só, provenientes da Rússia. Pouco se fala nisso, a humilhação costuma dar maus frutos.

Depois o destroyer da Royal Navy passou junto à Crimeia ali mesmo à beira do porto de Sevastopol, na véspera de uma cimeira da UE; O Reino Unido até já não está na UE, foi mera coincidência

Cerca de 24h após a conclusão desta cimeira da UE (24 e 25/06) chega a público (26 p/27 )  a notícia de que vários documentos classificados do Ministério da Defesa britânico - cerca de 50 páginas incluindo e-mails e apresentações "Power Point" - foram encontrados numa «pilha encharcada» atrás de uma paragem de autocarro em Kent (a cerca de 70km a sudeste de Londres) contendo informação sensível sobre o HMS Defender, a sua passagem pela Crimeia e várias apreciações sobre eventuais  reacções militares da Rússia; um outro conjunto de documentos anexo versa sobre os planos para uma possível permanência de tropas britânicas no Afeganistão após a total retirada dos contingentes norte-americano e alemão. 

Segundo o Ministério da Defesa o "extravio" dos documentos foi imediatamente comunicado pelo funcionário responsável (nunca foi mencionado que andaria um funcionário a fazer com documentos classificados nem como lhes perdeu o paradeiro); Quem os encontrou desejou permanecer, convenientemente, anónimo e entregou-os. A quem? Ao Ministério da Defesa? Não, curiosamente contactou a BBC... E a BBC contactou o Ministério da Defesa... 

Haverá que ter presente que a missão da BBC não é andar aos papeis, é informar. E cumpriu. Cumpriu bem...

Há avisos, ou talvez melhor dizendo, declarações de intenção, que dificilmente se podem fazer sem despoletar reacções indesejadas e as costumeiras declarações de vitimização perante ameaças "injustificadas"; a melhor forma de "enviar um recado" sem ser embrulhado num papel de "ameaça bélica" é uma fuga de informação altamente classificada, quer em termos de Segurança Nacional como políticos. Os russos acreditam na fuga indesejada dos documentos? É irrelevante, importante é que recebam a mensagem

Curiosamente, neste contexto, pouco foi dito sobre por que estava o HMS Defender em Odessa, pouco foi  divulgada a assinatura de um acordo de cooperação naval entre Londres e Kiev - com a presença de um membro de topo do Ministério da Defesa e um almirante, ambos britânicos -  em Odessa a bordo do HMS Defender, antes de este zarpar para a Georgia (que também aguarda à porta de entrada da NATO) passando pelas águas territoriais da Ucrânia  frente à Crimeia no dia 23. Este acordo, para além do trabalho conjunto em oito novos navios de guerra, contempla a construção de uma nova base naval no Mar Negro.

Convenhamos que isto pode ser bastante irritante para o Kremlin; a 17 de Junho, 1 dia após o encontro Biden/Putin, o eterno porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, fazia soar alto e bom som que a entrada da Ucrânia para a NATO é uma "linha vermelha" traçada por Moscovo

O capítulo seguinte, e presente, é bastante esclarecedor: a 28/06, 1 dia após a divulgação do "extravio" da papelada, teve início a operação anual da NATO "Sea Breeze 21" no Mar Negro, que está a decorrer e se prolonga até 10 de Julho; envolve 32 Estados, com a participação conjunta da Ucrânia

Menos de uma semana depois os líders G20 encontram-se em Roma...

OK?

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