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A DERROTA DE NARCISO

No dia 2 de Setembro, os seja, há dois meses, escrevi por aqui um post que republico hoje como se fora um "Eu-Bem-Te-Disse" dedicado aos que me chamaram "exagerada", aos que me disseram "nem-penses-nisso"; Em alguns casos, confesso, será mesmo um "Eu-Bem-Te-Disse-Toma-E-Embrulha"  para os que me atiraram um "isso-querias-tu". O que eu quero ou não quero não tira nem acrescenta às probabilidades de ocorrência; as probabilidades existem e são legíveis para quem souber o B+A=BA: conhecer os factos, equaciona-los e conseguir não inserir na equação as suas preferências pessoais. 

É nesta parte de "não inserir na equação as preferências pessoais" que a coisa falha.  Há muito quem não o consiga fazer e, nessa modalidade, o campeão é inegavelmente o propriamente dito Trump.

Para além de um "arremessozito", esta re-publicação tem por finalidade ser um auxiliar de memória, sobretudo para os que se sentem tentados a dar credibilidade às afirmações que fez o Bode Maligno ao princípio da madrugada pós-eleitoral na Casa Branca, ainda mal tinha começado a contagem de votos. Uma aberração intencional, uma largada de sangue fresco no aquário dos tubarões

Volto ao tema mais abaixo, após o intercalado re-post 

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A MIRAGEM

 As eleições presidenciais nos EUA decorrerão no dia 3 de Novembro
Conta-se que ao amanhecer do dia 4 se conhecerá o vencedor, certo?
Não, errado.

A razão...

Em 2020, com uma pandemia a assolar o mundo e muito drasticamente os Estados Unidos conta-se que o número de votos pelo correio seja pelo menos o dobro dos que votaram por essa via em 2016, o que corresponde a mais de 40% do eleitorado
Posto isto há que considerar os eleitores que optam por votar presencialmente e os que optam pelo correio.
Presentemente estima-se que 40 a 50% dos eleitores Democratas votarão pelo correio enquanto que apenas 20 a 21% dos Republicanos votarão por essa via;
(o que não é de estranhar face à desenfreada campanha que Trump tem feito contra os votos pelo correio que, na sua douta opinião - embora sem a menor base factual - sejam um meio de fraude eleitoral)

Em termos práticos o que quer isto dizer?

Se os valores percentuais estiverem correctos, e tudo leva a crer que sim, mesmo a existirem variações serão minimamente representativas, isto significa que os votos contados na madrugada de 3 para 4 de Novembro corresponderão a cerca de 80% dos votos Republicanos e a cerca de 50% dos votos Democratas, existindo assim uma "omissão" de cerca de +20% R +45% D., seja qual for a abstenção, obviamente. Isto foi denominado "Miragem Vermelha" (Red Mirage)  paradoxalmente o vermelho é a cor dor Republicanos)
Vai daí...

Tudo indica que ao raiar do dia 4 de Novembro Trump faça o seu discurso de vitória destinado a inflamar - melhor dizendo, a incendiar - os ânimos trumpistas e a "avisar" que os Democratas irão fazer o diabo a sete para corromper os resultados eleitorais. Obviamente que não irá salientar que cerca de 65% dos votos (não dos eleitores) estarão por contar, esse será o papel das "Fake News"

Depois...
Depois haverá que esperar, uns 4 dias intermináveis.
Os EUA estarão a ferro e fogo atravessando o inferno

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White House, 3 para 4 Nov. cerca da 1h30 da manhã, hora local 
(Discurso completo disponível no link acima à excepção do acrescentado "extra tele-ponto" como o inspirado "Stop the count")
«Good evening. I’d like to provide the American people with an update on our efforts to protect the integrity of our very important 2020 election. If you count the legal votes, I easily win. If you count the illegal votes, they can try to steal the election from us. If you count the votes that came in late — we’re looking at them very strongly. But a lot of votes came in late.»
«As everybody saw, we won by historic numbers»

«It’s amazing how those mail-in ballots are so one-sided, too. I know that it’s supposed to be to the advantage of the Democrats, but in all cases, they’re so one-sided.
We were up by nearly 700,000 votes in Pennsylvania. I won Pennsylvania by a lot,* and that gets whittled down to — I think they said now we’re up by 90,000 votes. And they’ll keep coming and coming and coming»
* (que ironia...).../...
«Likewise, in Georgia, I won by a lot — a lot — with a lead of over — getting close to 300,000 votes on Election Night in Georgia.» .../...
«We also had margins of 300,000 in Michigan. We were way up in Michigan; won the state. And in Wisconsin, we did likewise fantastically well.» .../...

«Today, we’re on track to win Arizona. We only need to carry, I guess, 55 percent of the remaining vote — 55 percent margins. And that’s a margin that we’ve significantly exceeded. So we’ll see what happens with that, but we’re on track to do okay in Arizona.»

«Our goal is to defend the integrity of the election. We’ll not allow the corruption to steal such an important election or any election, for that matter. And we can’t allow silence –anybody to silence our voters and manufacture results.»
(E agora uma nota de humor:)
«In Philadelphia, observers have been kept far away — very far away — so far that people are using binoculars to try and see, and there’s been tremendous problems caused.»

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É melhor parar por aqui, o discurso de "Vitória" que Trump fez na Casa Branca na madrugada de 3 para 4 foi uma das coisas mais desonestas e mal intencionadas a acrescentar ao seu interminável rol de mentiras. (Facts First - Fact check link)

Ao longo dos últimos meses tornou-se óbvio que Trump faria uma declaração de vitória eleitoral, que incitaria à não aceitação popular dos resultados eleitorais, que se assumiria como o defensor da integridade nacional... Como qualquer bom ditadorzeco.

Pois, mas a coisa não lhe vai correr bem, a sonhada "Dinastia Trump", com alterações à lei que permitissem o prolongamento dos mandatos - à boa maneira russa ou, ainda melhor, à moda dos chineses - não estará para breve; o Mini-Donald e a loirérrima Ivanka não têm o lugarzinho assegurado por direito hereditário. 

Hoje, final de domingo 8, Biden conta com 290 votos eleitorais, Trump com 214; falta fechar três Estados: 
o Alasca (que será republicano e vale 3 representantes no Colégio Eleitoral), 
a Georgia (provavelmente democrata e vale 16 representantes) 
e a Carolina do Norte ( por certo republicano a valer 15 representantes). 
Ou seja, ainda que os republicanos ganhassem estes três Estados conseguiriam apenas 248 representantes dos 270 necessários, é curto. 
Sem grande futurologia, os resultados finais apontam para 306/232. Ainda que sejam feitas recontagens - e serão - não é credível que haja qualquer alteração dos resultados eleitorais. 
Sobre o Senado falaremos após as segundas voltas a 5 de Janeiro.

O Bode Maligno não quer conceder a vitória eleitoral a Biden, está bem, é um problema dele, como dele será a triste figura. A concessão é apenas uma tradição de gente civilizada, não tem qualquer força legal. 

Outra estratégia falhada é o amontoado de processos que têm dado entrada nos tribunais dos Estados em que venceram os democratas; o objectivo não será por certo a anulação dos resultados, os próprios republicanos confessam não ter indícios de fraude - de algumas falhas sim mas não de fraude; o maquiavelismo doméstico de Trump (provavelmente gerado por mais uma ideia iluminada de Rudy Giuliani) será atrasar a declaração final dos resultados oficiais (pelo decurso dos processos) impedindo assim a votação do Colégio Eleitoral a 14 de Dezembro. Fraca estratégia. 

A 20 de Janeiro Trump terminará o seu mandato por força constitucional, com ou sem votação do Colégio. Se nessa altura Biden não tiver sido eleito colegialmente, a Speaker do Congresso, Nancy Pelosi, tomará a presidência dos EUA. (Digo com um sorrisinho discreto ao canto da boca que, para Trump, seria pior a emenda do que o soneto).

Entretanto, num reino obscuro e vulcânico...

Os advogados de Trump trabalham incansavelmente para inflamar os ânimos; o big-bang do momento é que encontraram 450 votantes que já faleceram
Pergunto eu: 
- Num país que tem tido uma media de 100mil mortes por dia (8Nov 120mil)
- Onde a votação antecipada teve início, em média, 40 dias antes (em alguns Estados mais noutros menos, calendário disponível AQUI)
- Onde o distanciamento social e o uso de máscaras foi fortemente negligenciado e até combatido e as grandes concentrações de pessoas foram uma constante,
Quais são as hipóteses de terem morrido 450 pessoas que votaram?
Adiante...

Os seguidores do culto de Trump podem parecer sossegados... mas não estão.
Organiza-se o inimaginável... Através da rede social "Parler", fundada em 2018, é a plataforma de contacto e divulgação da extrema-direita, consagrada "à liberdade de expressão" - leia-se, teorias de conspiração, discurso anti-semita, reuniões virtuais QAnon e, claro está, apoio militante e militarista a Trump. Ao contrário das outras redes sociais possibilita  a ocultação eliminação de postagens após a sua divulgação e o anonimato do autor. Curiosamente tem uma forte componente saudita...
Indubitavelmente por ali Trump está bem entregue, está com a sua gente

"Quando atravessares o Inferno continua a andar"

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