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RIEN NE VA PLUS!


 O meu sentido de humor está por certo distorcido, como uma fotografia mal amanhada, não consigo deixar de achar graça às expectativas de que possa advir um Acordo de Paz, ou mesmo de um mero cessar-fogo, das programadas conversações entre a Ucrânia e a Rússia na próxima quinta-feira em Istambul

O assunto é sério, não tem a menor graça mas, aqui para nós, parece-me o libreto de uma ópera bufa

Estónia, Museu de Narva,  na fronteira com a Rússia,
durante as comemorações do Dia da Vitória
Acordo de Paz? Sim, claro, com certeza.
Se a Ucrânia  reconhecer a anexação das quatro regiões do sudeste do seu território pela Rússia, jurar a pés juntos que desiste da adesão à NATO e se renunciar ao apoio militar ocidental,  poderá começar-se a falar de um Acordo de Paz. Cessar-fogo? Pois, isso depende do "andamento" das conversações...  um adagio para não ser cansativo e evitar precipitações

Zelensky havia dito que só encetaria conversações se a Rússia se comprometesse previamente com um cessar-fogo de 30 dias. Putin adiou, adiou... Quis 3 dias para fazer a sua parada militar do Dia da Vitória e  receber os amigalhaços, e os outros que não sendo amigalhaços compactuam com aquele criminoso de guerra porque há bons negócios em perspectiva.

No passado fim de semana os líders do Reino Unido, França, Alemanha e Polónia foram, pela primeira vez  juntos,  a Kyiv apresentar um inequívoco reforço do conjunto apelo a um cessar-fogo de 30 dias, ao qual se juntou a voz da União Europeia. Não se tratou apenas de enviar uma mensagem a Putin, nenhum deles admitiu que um cessar-fogo ocorreria na segunda-feira; o principal objectivo da visita de Keir Starmer, Emmanuel Macron, Friedrich Merz e Donald Tusk foi colocar Trump perante a evidência de que Putin está a protelar, a derramar justificações,  e aos EUA não restará facilmente outra opção política senão impor sanções económicas severas à Rússia, chamar o boi pelo nome.

O senador republicano Lindsey Graham, que na madrugada do fatídico 6 de Janeiro para dia 7, não poupou Trump à irrefutável responsabilização mas depois depôs as criticas e foi beijar o anel ao padrinho, tem porém uma qualidade: abomina Putin, dentro das conveniências de um republicano de carreira, mas agora viu a esperada oportunidade e preparou um pacote de sanções à Rússia, com um amplo apoio do Congresso  -  não são precisos muitos republicanos, menos de meia-dúzia bastam  -  para quando esta recusasse a proposta do presidente dos EUA para o cessar-fogo incondicional de 30 dias 

Trump apercebeu-se de que estava a ser encurralado (ou algum russófilo o alertou, diria eu porque tenho mau feitio) e apressou-se a publicar nas redes sociais a sua insistência em que a Ucrânia  iniciasse já esta semana as conversações de paz com a Rússia sem esperar ou exigir cessar-fogo prévio. Os planos cuidadosamente delineados pela Europa para levar os EUA a impor sanções a Moscovo mantêm-se válidos, em compasso de espera, outra vez...

Trump está à beira de uma crise de ansiedade perante o desenrolar da próxima quinta-feira, o homem não cabe em si apesar do largo espaço.
(Lá abaixo, mesmo no fim, deixo uns segundos de vídeo no qual se vê Trump em fuga face aos repórteres que o questionam sobre a implementação de sanções se a Rússia não assinar o cessar-fogo; a pressa é tanta que se esquece do que tinha ido ali fazer face à imprensa: assinar mais uma ordem executiva)
Esta segunda-feira, Trump sugeriu que Putin iria pessoalmente a Istambul e que ele próprio poderá aparecer:

«Podem ter um bom resultado na reunião de quinta-feira na Turquia... e acredito que os dois líderes estarão lá. Estava a pensar voar até lá. Não sei onde estarei na quinta-feira, tenho tantas reuniões... Penso que há uma possibilidade, se achar que as coisas podem acontecer.»

Coitado... Não tem noção do sarilho em que se iria meter...

Mas se Zelensky assentiu, é a atitude mais sensata,  os líders europeus mostraram-se demasiado ocupados para suspender as suas decisões e lerem o que Trump escreve nas redes sociais. A Europa mantém a exigência fundamental de que Putin deixe de prevaricar sobre o cessar-fogo de 30 dias. Os ministros dos Negócios Estrangeiros europeus, reunidos segunda-feira em Londres, ignoraram a intervenção de Trump, continuando a dizer que não pode haver negociações reais sem um cessar-fogo total. Kaja Kallas, responsável pela política externa da UE, deixou claramente transparecer a sombra das novas sanções: «Para iniciar conversações de paz deve haver um cessar-fogo. Devemos pressionar a Rússia porque esta está a fazer um jogo».

Marco Rubio, o volúvel secretário de Estado dos EUA, por acaso também estará na Turquia na quinta-feira para uma cimeira informal sobre os gastos gerais de defesa da NATO. Sim, está bem, mas os ministros europeus pretendem discutir a visão europeia de que os termos da Rússia para um acordo de paz envolvem efectiva e inaceitavelmente o desmembramento da Ucrânia.

E a delegação ucraniana não estará só, autoridades europeias estarão também em Istambul para garantir que a equipa de negociação da Ucrânia está pronta para negociações potencialmente cruciais, para as quais houve relativamente pouca preparação uma vez que se "aguardava" o cessar-fogo russo. Um verdadeiro "Um por todos, todos por um". 

«Faites vos jeux, messieurs !… Rien ne va plus !»


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