Ao longo da última década tem vindo a ser constatado e provado que são os partidos da direita, tão radical quanto lhes é permitido assumir perante a maioria dos seus potenciais eleitores, que defendem a política - e agenda - internacional de Putin ou, no mínimo, os que se abstêm de o atacar, de referir o assunto. Lá no fundo nem são "as políticas" que defendem, ainda que haja umas tantas que lhes agradam, no fundo é algo muito pior do que "as políticas", é o vil metal e os meios de desinformação aplicados às suas campanhas, causas e ascensão. Em duas palavras: dinheiro e embuste, as mais valias auferidas pela vénia, elogio ou o mero silêncio no que toca ao rei do Kremlin
Nesta altura, perante a evidência, ainda há quem não reconheça, ou não queira reconhecer, esta implícita relação de compra e venda, de benefícios mútuos advindos da cooperação e da não hostilização.
Alguns são absolutamente evidentes, como os casos de Órban ou de Fico, outros são mais restringidos por razões diversas, como o caso de Trump, porque mais (ainda) não pode, de Le Pen, de Chrupalla/Weidel, porque ainda lá não chegaram. Demais há que primam pela discrição, pelo silêncio que sinala a abertura a propostas sem opor resistência às cintilantes tentações. Um dia virá...
Considerando a história, o back-ground, a cultura intrinsecamente democrática, os valores colectivos inerentemente liberais, à esquerda e à direita, é espantoso como este tipo de convicções - porque nem de ideologia se trata - consegue propagar-se numa sociedade como a britânica.
Outras há, sim, mas o caso britânico é particularmente chocante. Ver ascender um partido que tem nas suas fileiras, com voz activa e propagada, quem defenda que o Reino Unido deveria ter aceite a "oferta de neutralidade" feita por Hitler em vez de o ter enfrentado numa guerra... Isto na terra de Churchill, na terra de Jorge VI, que se viu atirado para uma coroa que nunca quis por devoção à sua pátria, ao seu povo e à Liberdade na Europa. É escandaloso, é revoltante, é ofensivo. E é crescente.
Há razões para que tal suceda...
Claro que há, mas não as evocadas pelos seus propagadores propagandistas. A cartilha é sempre a mesma, o apelo à revolta, à raiva contida e oprimida pelas mais distintas causas, muitas delas meramente pessoais, frustrações, dificuldades, e um desejo de supremacia nem que seja espelhada num líder que represente uma autoridade que cada um não consegue exercer por si mesmo.
Farage teve a sorte de lhe sair ao caminho os 51,9% do Brexit; teve a sorte de ter ascendido ao governo uma senhora bem intencionada mas sem a menor garra para fazer frente às hercúleas tarefas que enfrentava: o brexit de um lado e a traição interna do seu correligionário Boris do outro. Depois... Depois a sorte continuou bafejando Farage: o apoio discreto de Putin e um primeiro-ministro artolas, infantil e insubordinado que fez da rebeldia a sua imagem de marca, do despenteado à governação; os independentes e conservadores moderados refugiaram-se nos Trabalhistas que puseram fim à liderança absurda de Corbin, os conservadores mais radicais engrossaram as fileiras do UK Reform. Farage deu pulos de contentamento. Putin também.
A ameaça, mais do que isso, o perigo que encarna esta situação transpõe as fronteiras do Reino Unido, é uma situação gravíssima para a Europa - para a Ucrânia - particularmente se tivermos em conta, como devemos ter, a instabilidade política de Macron fustigado à extrema-esquerda e à extrema-direita, pelas mesmíssimas razões.
E há pessoas que, de absoluta boa-fé, vão nisto acreditando defender a "sua reclusão nacional", coisa que não existe no mundo actual, o mais próximo que persiste é a Coreia do Norte, tanto quanto a China o permitir, e o Irão, socialmente medieval; Acreditando salvaguardar a sua liberdade individual e identidade cultural não se apercebem de que essas serão as primeiras a ser submergidas e manipuladas por um poder que se sonha imperialista e expansionista. Uma "Nova Ordem Mundial" renovada, uma que deponha todos os princípios cimentados internacionalmente após a segunda guerra mundial
CLICAR PARA AUMENTAR |
Sem comentários:
Enviar um comentário