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A FÉNIX NEGRA

O 15 de Agosto de 2021 vai ficar na história escrito com palavras escuras, nublosas, trágicas, desesperadas e uns quantos mais adjectivos angustiantes.

Foi uma surpresa? Como assim, uma surpresa?

Dias antes falava-se de três meses até os Talibã entrarem em Cabul. Três meses? Em que sistema espaço-temporal?

Quando ouvi esta projecção comentei "Três meses? O que é que eles sabem que eu nem sonho?"
Não, não me passou pela cabeça que Cabul caísse poucos dias depois, "15 de Agosto", os meus prognósticos atiravam para uns quinze dias, mais Lua menos Lua. Porquê? Porque sou muito esperta? Não, porque era óbvio, metia-se pelos olhos dentro, gritava nas conexões das célulazinhas cinzentas, como diria Poirot. Dez mil guerrilheiros jihadistas aguardavam às portas de Cabul com ordens para não entrarem, mas estavam lá. Estavam lá aguardando novas ordens e aguardando uns quantos milhares que se iriam (e irão) juntar-se-lhes vindos de além fronteiras. Então eu sabia isto e os senhores vaticinadores dos "3 meses" não sabiam? Ora...  Vamos brincar com outra coisa, esta não cola
No dia 1 de Março de 2020, há 1 ano e quase meio antes desta fatalidade, escrevia eu, comum mortal, por aqui neste bloguezito sob o título: O 11º MANDAMENTO - NÃO NEGOCIARÁS COM TERRORISTAS  uma apreciação à laia de desabafo revoltado parte da qual deixarei aí abaixo como epílogo da conversa de hoje, só para não me virem dizer que era imprevisível.
A 29 de Fevereiro de 2020 foi assinado um Acordo de Paz entre os Estados Unidos da América e os Talibã. 
Um ano e meio depois, olhando para trás parece-me ficção, má ficção, demasiado inverosímil para ser credível 
O Governo afegão de Ghani não teve qualquer intervenção nem conhecimento prévio das condições do Acordo

Não é o fim de uma guerra, o que seria desejável, é a entrega de um povo impotente e
de um território além das fronteiras afegãs ao poder terrorista institucionalizado.

É um crime.

Então quero eu dizer que a culpa do que se está a passar é de Trump?
Não, infelizmente não é toda dele. Começa aí, desenvolve-se aí mas não acaba aí.  A palavra dada é para ser honrada mas ab-so-lu-ta-men-te nada prendia o presidente dos EUA, qualquer presidente, a um acordo com os Talibã que, além do mais, foi factual e indiscutivelmente mil vezes desrespeitado e que,tenha-se presente, nunca foi assinado com a finalidade, ou a mera perspectiva, de ser respeitado

Enquanto vice-presidente Biden opôs-se declaradamente a Obama quando, em 2009, este decidiu, e bem,  aumentar o contingente de tropas americanas no Afeganistão; e mais tarde por três vezes (2014/15/16) adiar a saída dos EUA do Afeganistão por considerar que seria "pior a emenda do que o soneto"
Não me passa pela cabeça julgar Biden pela opinião contra que manifestou em 2009:
O seu filho Beau prestava serviço no Iraque, onde esteve e voltou a estar sendo condecorado com a Estrela de Bronze, a Legião de Mérito e, postumamente, com a Delaware Conspicuous Service Cross, que é "concedida por heroísmo, serviço meritório e realizações notáveis"; Como é sabido Beau morreu com cancro e Biden ter-lhe-á prometido, em palavras ou pensamento, acabar com a interminável guerra
Eu tenho um filho. Se estivesse nas minhas mãos acabar com uma guerra onde ele estivesse ou pudesse vir a estar, dificilmente ultrapassaria a possibilidade de equacionar acabar com ela. A guerra não é apenas a morte à espreita, a assombração da dor, a guerra é a travessia do Inferno. Sei que não é assim que uma questão desta magnitude deve ser equacionada mas sei também que não se pode enaltecer a faceta profundamente humana de uma pessoa e exigir-lhe que não a possua quando não é conveniente. Biden é, desde sempre, um acérrimo defensor da manutenção do diálogo e da diplomacia, foi o senador que mais acordos conseguiu com o Partido Republicano pela sua teimosia e perseverança: "keep talking with the other side when it's difficult, that's why you must talk". 
Há situações em que a perseverança já não passa de teimosia. Biden, ao contrário de Trump, não negociou com terroristas mas acreditou que o governo afegão poderia fazê-lo, e vencê-los.
Enquanto vice-presidente a decisão não lhe cabia a ele e, como lhe é habitual, expressou exactamente aquilo que lhe ia na cabeça.

Mas agora a decisão cabe-lhe e as suas decisões afectam o mundo

Que Biden queira que os EUA  saiam  do Afeganistão... pois que saiam, mas há decisões não podem ser tomadas "porque eu quero" nem "porque eu disse que o faria". Para se levarem avante têm de ser conciliadas com a realidade, sem ignorar a realidade.  

O que está em causa não é a retirada do Afeganistão, o que está em causa são as consequências presentes e, sobretudo, as futuras de tal retirada.  A questão é que essa retirada, como está à vista, não poderia ser feita em dias, nem em semanas, nem provavelmente num só mandato presidencial. A planificação da retirada de um território minado de terroristas, que têm como finalidade a fundação de um Emirado Islâmico, tem de envolver a ocupação do vazio criado por essa mesma retirada, e a criação de condições que possibilitem tal preenchimento

Ah e tal, esta guerra não iria ser vencida... A pior das tretas justificativas
Esta guerra não era para ser vencida, nem tão pouco se estava em guerra com o Afeganistão, a permanência naquele território tinha como objectivo servir de travão à re-instalação da al-Qaeda, à fundação do Emirado Islâmico. 
E resultou. E o Afeganistão mudou, não o suficiente mas mudou: construiram-se escolas, universidades, campos agricolas, estradas, as mulheres puderam passar a trabalhar e a ser independentes da presença de um homem, nasceram meios de comunicação, media, internet, surgiram várias ONG's nos domínios da saúde e muitos outros. 
O Afeganistão passou a ser um Estado laico, libertou-se da lei da sharia.  
Mais de 50% da população afegã tem menos de 18 anos!!! Isso é um bom investimento, inegavelmente. 
Resultou até se institucionalizarem as tretas da guerra perdida, até se apresentar o abandono como um facto, sem planeamento, humanidade ou esperança. O tempos medievais bateram à porta e foram entrando a cada dia um pouco mais

Ah e tal mas esse preenchimento do vazio compete ao povo afegão... Estamos outra vez a brincar, por certo, qual povo afegão?
O Afeganistão é um território de 38 milhões de pessoas, das quais apenas cerca de 5 milhões em Cabul, sub-dividido em 34 províncias que se estendem entre montanhas que são muros, culturas e tribos, guerrilheiros e traficantes, pobreza e deserto. 

O presidente Ashraf Ghani foi eleito em 2019 por 50,6% dos votos, dito assim até soa bem mas... Votaram cerca de 2 milhões de eleitores, ou seja 20% dos eleitores inscritos e menos de metade dos que haviam votado em 2014 (7 milhões). 
Ghani, viveu nos EUA, foi professor na Universidade .Johns Hopkins entre outras, trabalhou no Banco Mundial, regressou ao seu país provavelmente cheio de boas intensões, propondo-se combater a galopante corrupção. 
Agora pergunto eu, como pode um homem que se propõe dirigir um Estado laico num país sem qualquer unidade nacional, ocupado por fanáticos religiosos, pobre e largamente medieval, pejado de jihadistas armados e financiados, propor-se  manter o poder se combater a teia de corrupção hierarquicamente tecida, se não fizer vista grossa ao modus vivendi dos saquinhos, sacos e sacões azuis de tudo o que tem uma réstia de um qualquer poderzinho, dos funcionários manga de alpaca ao sargento mais longínquo? 
Não estou a defender Ghani mas há que entender situações e contextos antes de vociferar ataques.

Ah e tal, os militares afegãos fugiram, entregaram-se, não lutaram...
Foi? A responsabilidade é deles?
Os militares afegãos não estavam a ser pagos porque o dinheiro dos seus salários era dividido entre quem lhe punha as garras, não tinham munições pela mesmíssima razão, milhares de armas foram vendidas, tinham de pagar os seus camuflados, muitos caminhavam com sapatos de ténis porque não havia botas. Em 2019/2020 viram os líders dos seus parceiros americanos fecharem uma cortina sobre o governo afegão e sentarem-se à mesa com os Talibã para negociações que culminaram no malfadado Acordo de Paz que estabelecia a retirada de uns e a vigência dos outros; o governo afegão não foi ali metido nem achado. Era esse governo que presidiria ao combate em que arriscavam a vida? Por alma de quem? O poder estaria entregue a quem combatiam dentro de meses. Em 2020 uma lista nominal de 5 000 prisioneiros jihadistas Talibã foi cumprida e os terroristas que os militares haviam prendido foram libertados, ao abrigo do Acordo-do-Tanto-Faz. As suas famílias viviam em risco, muitas foram assassinadas, como vários pilotos da força aérea afegã - alvos particularmente apetecíveis. Muitos militares foram sitiados nos seus quarteis até que a fome os levou a abandonar os seus postos. Ah e tal, os militares afegãos fugiram, entregaram-se, não lutaram...

A embaixada dos EUA em Cabul foi fechada. Porquê? Foi o trauma da fuga da embaixada em Saigon em 1975? Provavelmente. É difícil e requer alguma imaginação o paralelo mas isso será outra novela. Mesmo em Saigon alguns funcionários e outros profissionais resolveram permanecer para garantir condições de e o Presidente Ford assinou e garantiu o plano de evacuação, que foi cumprido. A verdade é que outras embaixadas de aliados da NATO em Cabul permanecem em funcionamento mínimo, o embaixador do Reino Unido foi o primeiro a declarar que permaneceria enquanto possível e necessário.

Estando a retirada prevista até 31 de Agosto por que foi entregue a 1 de Julho ao governo afegão o aeroporto/base militar americana Bagram Airfield com capacidade para receber os maiores aviões militares ? 
Por que não foi estabelecido um corredor de segurança entre o centro de Cabul e o aeroporto comercial uma vez que a entrega de Bagram Airfield o transformou na única saída do país? Para evitar confrontos? Que diabo, obviamente que os Talibã não querem confrontos e seria mais fácil evita-los num corredor de segurança do que na loucura da cidade atravessando múltiplas zonas patrulhadas por guerrilheiros à deriva sem supervisão de chefias até, dificilmente, se chegar e conseguir entrar no aeroporto,  
Porque não foram fornecidos atempadamente vistos ou meros salvo-condutos aos colaboradores afegãos - os ditos "interpretes" - e suas famílias que permanecem em pânico com a espada de informadores, guias e espiões sobre as suas cabeças?


Tudo isto irá passar, quando chegarmos aos primeiros dias frios já o Afeganistão estará mais longe e os olhares desesperados que nos entram em casa pelas janelas dos noticiários estarão esquecidos pela maior parte de nós. Tudo isto ficará como o testemunho de uma situação mal avaliada, mal tratada, mal concebida.

 Quando passar o "agora" virá o "depois". E depois? Depois dos amargos de boca, do pânico, das aflições, o Afeganistão ficará entregue aos Talibã sem terem de se preocupar com confrontos, a atenção do mundo irá diluir-se em outras questões (como aliás tem estado diluída até aqui), as riquezas do país (ópio, heroína, ouro, cobre, lítio, entre outras) correrão directas para os seus cofres e o Emirado Islãmico florescerá numa quase legitimidade libertadora... A Fénix negra levantará vôo
E depois?
Nem vale a pena fingir que não sabemos.

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11 de Setembro de 2019

Durante a última semana de Abril de 2019 Trump reuniu com os seus principais conselheiros na Situation Room para anunciar que queria um Acordo de Paz que lhe permitisse retirar as tropas americanas do Afeganistão; Pompeo advogou a favor do chefe, claro;
Bolton, que assistia à reunião desde Varsóvia por video-conferência, não queria acreditar no que ouvia... Apesar das suas marcadas tendências bélicas, Bolton não é um recém-chegado às polítiquices estratégicas de Washington, nem do Pentágono em particular, tem plena consciência das consequências para o mundo ocidental - já nem falando do Médio Oriente - de uma retirada feita à pressa das forças americanas, sem garantias nem Instituíções fortemente implantadas
.
Não é o fim de uma guerra, o que seria desejável, é a entrega de um povo impotente e de um território além das fronteiras afegãs ao poder terrorista institucionalizado.
É um crime.

Nas palavras de Bolton:
«Mr. Trump could keep his campaign pledge to draw down forces without getting in bed with killers swathed in American blood.»
Ou seja, é possível retirar tropas americanas deixando um contingente anti-terrorista sem assinar qualquer acordo com os Talibã.
Claro que é mas não tem o mesmo impacto nem dá cabeçalhos tão fixes nos jornais; nem nas páginas da história. E há alguma coisa mais importante do que o nome "Trump" na história?

A reunião terminou deixando no ar a mediática hipótese de convidar o presidente  Ashraf Ghani para ir a Washington assinar o tal Acordo de Paz. O facto de Ghani, presidente eleito, ser deixado totalmente fora das conversações com os Talibã seria, para Trump, um pormenor irrelevante, a verdade é que ficaria bem na fotografia.

Dias depois Trump teve uma ideia ainda mais sensacional que só comunicou aos seus mais escolhidos Conselheiros deixando na ignorância o "National Security Council" : Vou convidar os Talibã para virem cá, não a Washington, que já está muito visto, mas para Camp David!!! A jóia da "coroa" americana onde têm sido recebidos apenas presidentes, primeiros-ministros e reis. Sim Senhor! E mais, recebe-se a rapaziada 3 dias antes do 11 de Setembro!!! Se a guerra do Afganistão teve por causa primeira os ataques do "11 de Setembro",  e se por lá morreram cerca de 3 500 americanos, não contando as baixas das forças aliadas, é apenas mais um um pormenor irrelevante.

Mas os Talibã não foram a Camp David. Nem a Washington. Nem assinaram acordo algum.
Porquê?
A oposição nos meios políticos foi maior do que Trump esperava, muitos insuspeitos membros do Partido Republicano mostraram o seus descontentamento ou até indignação.
A 5 de Setembro, menos de uma semana antes da festa, os Talibã reivindicaram um ataque bombista no Afeganistão do qual resultaram 12 mortos entre os quais um americano. Desculpa vagamente careca... No espaço de uma semana esse foi o terceiro ataque bombista. (Aliás durante este mês de Fevereiro 2020 mais dois oficiais americanos foram mortos e as conversações de paz continuaram animadamente)
Que diga quem sabe, eu não sei, a verdade é que "consta" que os Talibã impuseram  condições rígidas aos americanos: a retirada de apoio ao governo afegão e um calendário de saída, a libertação dos prisioneiros Talibã... Pois.

29 de Fevereiro de 2020Doha - Qatar

Após sete dias de compromisso por parte dos Talibã de "Redução de Violência" no território afegão estão criadas as condições para a assinatura de um "Acordo de Paz" entre os EUA e os Talibã, é quanto basta. Não, o governo do Afeganistão não tem nada com isso, não estava lá nem foi informado do teor das conversações durante o processo. Quem por acaso lá estava era um ministro representante do governo do Paquistão...

O vergonhoso acordo foi assinado por Zalmay Khalilzad (US Special Representative for Afghanistan Reconciliation) e o homem de mão de Pompeo que liderou as conversações mantidas até hoje e o líder de conversações por parte dos Talibã Mullah Abdul Ghani Baradar.
Pompeo estava lá, como "testemunha" (sim, que o governo dos EUA não quer legitimar os Talibã, claro esteja) mas foi discursar

Se os Talibã "respeitarem os termos do acordo", que entrará em vigor a 10 de Março, os EUA reduzirão o seu contingente para 8 600 (dos cerca de 13 000 actual)  e fechará as suas 5 bases no prazo de 135 dias.
Todas as suas tropas, contingente anti-terrorista incluído, deixarão o Afeganistão dentro de 14 meses. Fica levantada a hipótese de permanecerem especialistas da Inteligência (o que é uma excelente ideia porque assim ficam todos identificados) e uma presença pontual de combate à ISIS e à al-Qaeda.

A presença aliada britânica que sofreu 454 baixas, tem actualmente de 1 100 militares, reduzirá apenas 200.

De direitos humanos, direitos das mulheres (à educação e ao trabalho p/ex.), minorias religiosas e do comummente designado como "Direitos, Liberdades e Garantias" nada ficou estabelecido ou é exigido

Os Talibã comprometem-se a cortar laços com a al-Qaeda e outros grupos de cariz terrorista internacional e a iniciar conversações com o governo afegão, que nunca reconheceu.

O governo afegão deve libertar 5000 prisioneiros Talibã (tendo os Talibã apresentado uma lista nominal) e 1000 prisioneiros afegãos serão libertados. Complicada esta questão uma vez que o governo afegão não é signatário deste, ou de qualquer outro, acordo e foi sempre ausente de todas as negociações
A delegação Talibã, tudo bons rapazes

Uma vez assinado o acordo os Talibã já declararam a sua "Vitória" sobre os EUA nas redes sociais e comunicaram às suas milícias que se trata de um pacto táctico que pode ser legitimamente quebrado por razões religiosas. 
Trump também já declarou... Diz ele que em breve se irá encontrar com os Talibã
Está tudo dito.

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E a 14 de Setembro 2020 publiquei assim:

Ontem, sábado 12 de Setembro - não consigo engolir esta fixação em torno do "11 de Setembro", nem tão pouco é possível engolir que seja um repetido "mero acaso" - recomeçaram as "Conversações de Paz" entre Talibã e  representantes do governo Afegão, as primeiras entre entes interlocutores, todas as prévias foram entre Talibã e norte-americanos com Pompeu como cabo do seu grupo. 
Um novo capítulo de uma vergonha que tem por fundo a retirada das tropas americanas que, pela vontade de Trump, seria feita ainda antes de 3 de Novembro, data das eleições presidenciais nos EUA, com ou sem "Acordo".

 Prevê o "Acordo" assinado em Fevereiro passado que se este for respeitado as tropas dos EUA se retirariam 14 meses depois, ou seja em Maio de 2021. Do contingente de 13 000 americanos que estavam no Afeganistão em Fevereiro restam 8 600 e está prevista uma nova retirada até ao início de Novembro reduzindo a permanência americana para 4 500.

Entretanto 12 000 civis afegãos foram mortos desde Fevereiro. Respeitado? Uma das alíneas é a cessação total de cooperação entre Talibã e grupos terroristas, nomeadamente a al-Quaeda. Nem comento... Como não comento o facto de os guerrilheiros Talibã terem recebido prémios monetários da Rússia por cada militar americano ou britânico morto. (Trump também não comentou... E Boris Johnson estava ocupado com o virus e o Brexit - que corja!)

Nas palavras do Almirante William McRaven, comandante da Operações Especiais Conjuntas que teve a cargo o planeamento e execução do raid que executou Bin Laden:
“I’m not personally convinced that any deal with the Taliban will be worth the paper that it’s written on. If we were to pull out U.S. troops completely from Afghanistan, it would not take the Taliban more than six months to a year to come back to where they were pre-9/11.” 
Não estou pessoalmente convencido de que qualquer acordo com o Talibã valerá o papel em que está escrito. Se retirássemos completamente as tropas americanas do Afeganistão, não demoraria mais de seis meses a um ano para os Talibã voltarem ao ponto em que estavam antes do 11 de Setembro.


Michael Morell, sub-director da CIA durante a época desse raid, e mais tarde director interino por duas vezes, disse concordar com a opinião de McRaven e partilhar das suas preocupações acerca do "Acordo de Paz":

"If U.S. and coalition troops withdrew from Afghanistan, and then the United States ended financial support to the Afghan government, my assessment is that the Taliban would take over the country again in a matter of months. In addition, despite the terms of the peace deal that explicitly forbid it, my assessment is that they would provide safe haven to al-Qaida.The United States would have to figure out how to collect Intelligence on what was happening in Afghanistan, with a particular focus on whether al-Qaida had reestablished itself there and was preparing any attacks on the U.S. and to find a way militarily to reach in there and deal with that problem”
Se as tropas dos EUA e da coligação se retirassem do Afeganistão e os Estados Unidos encerrassem o apoio financeiro ao governo afegão, a minha avaliação é que o Talibã assumiria o país novamente em questão de meses. Além disso, apesar dos termos do acordo de paz que o proíbem explicitamente,  eles forneceriam um porto seguro para a Al Qaeda. Os Estados Unidos teriam que descobrir como reunir Inteligência sobre o que estava acontecendo no Afeganistão, com um foco particular em se a al-Qaeda se havia  restabelecido e estava preparando qualquer ataque aos EUA, para encontrar uma acção militar de chegar lá e lidar com esse problema ”


Na passada quinta-feira, véspera do 11 de Setembro e dois dias antes do reencontro de conversações no Qatar dizia D. Trump:

We’re getting along very, very well with the Taliban and very well with Afghanistan and its representatives, we’ll see how it all goes. It’s a negotiation.” 

Como é que um presidente dos EUA, em véspera do "11 de Setembro",  diz que se está a dar "muito, muito bem com os Talibã" que - não fora o quase todo o resto - teve (ou tem?) guerrilheiros premiados para matarem os seus militares e dos dos seus aliados? Está a dar "muito, muito bem com os Talibã" que continuam a chacinar civis afegãos e a insultar o governo afegão?

Se, pelo lado do governo afegão existe a visão de um Estado laico regido por um governo eleito, os Talibã não fazem segredo nem pretendem sequer disfarçar, que pretendem fundar um Emirado Islâmico (Estado Islâmico, neste contexto soa mal...).

Conversações de Paz? Sim, está bem, entre eles, mas com um forte e visível apoio de quem tenha força - militar e económica - para bater o pé e dar um murro na mesa. Sem isto é só conversa, chacina e entrega de um povo - e do mundo -  ao terrorismo
Os Curdos que o digam...



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